A Seleção de Arendelle escrita por Ana Carolina Lattaruli


Capítulo 13
Dark Paradise


Notas iniciais do capítulo

NA MORAL, EU AMO VOCÊS! Eu to com 9 recomendações gente, vcs tão querendo me infartar né??????
Espero que gostem desse capítulo, de verdade!
Boa leitura e quero ver a reação de vcs ♥



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Escadas demais, alto demais. Mais e mais e mais.

—Para onde estamos indo? – Pergunto. Ela não me responde. Fica calada o tempo inteiro.

Está logo na minha frente, vestindo um vestido cinza de cetim que cobre todo o seu corpo, mesmo assim posso imaginar tudo, até porque eu sou um garoto e certos garotos são experts nisso. Deuses, melhor eu parar.

“Se contar para alguém que já me viu de pijama você é um homem morto.”

Eu não contarei, quero guardar essa lembrança só para mim. Eu estou de moletom preto e uma calça, também moletom, como sempre durmo.

Seus cabelos estão soltos e batem na altura do seu umbigo. Onde imagino ser o seu umbigo. Onde imagino sua pele, seu corpo, sua alma.

Ela por completo.

O que há de errado comigo?

Retira um molho de chaves do bolso do pijama e abre a porta na parede no final da escadaria.

—Que lugar é esse? – Digo, já passando pela porta. Daqui, consigo ver todo o reino. Não é o telhado em si, é mais como se fosse um forte aberto. As estrelas estão brilhantes e o céu completamente aberto.

—É o observatório Real, a mais alta torre. – Fala pela primeira vez em quinze minutos. – É como se nós fôssemos guardas do castelo, mas nenhum guarda vem aqui. Só a Realeza. Eu não deveria estar te trazendo para cá, mas foi o único lugar que pensei. – Ela dá algumas voltas, observando todos os detalhes. – Na verdade, é o lugar que mais venho quando me sinto sozinha ou preciso pensar.

—Mas hoje você não está sozinha.

—Não, não estou. – Senta-se no chão, o que acho engraçado pois não é todo dia que eu vejo princesas sentando em algo que não seja feito de ouro. O chão é um carpete vermelho que reveste todo o forte. Sento-me ao seu lado. É um pouco acolchoado, mas não o suficiente para quase cair se estiver em pé. – Obrigada.

—Por que está me agradecendo?

—Por não ficar me obedecendo o tempo inteiro. Por me tratar como uma pessoa de verdade.

—Mas você é uma pessoa de verdade. – Rebato. Ela respira fundo e deita-se no carpete, espalhando seus cabelos como o desenho de um sol. Deito-me também, observando os diamantes mais bonitos do mundo. As estrelas. Ou os olhos dela.

Posso perceber que ela está triste.

—Mas o reino inteiro não acha isso. Meu pai não acha isso. Acham que eu sou superior demais. Me tratam como se eu fosse uma deusa ou algo assim. E na seleção, me tratam como se eu fosse um prêmio a ser ganhado.

Seu suspiro sai doloroso de sua boca curvilínea. Quase posso sentir o peso em cima de seus ombros.

—Você não queria a Seleção, não é? – Encaro-a, seu rosto está tão próximo do meu, mas ela não me olha.

—Não.

—Continua sem querer?

—Eu não sei, Jack. – Mexe-se um pouco, desconfortável com o assunto. – Eu quero fazer meu pai feliz, entende? Ele já sofreu demais.

—Mas é a sua vida em jogo, princesa.

—Elsa. – Ela me encara. Se eu me aproximasse um pouquinho, nossos lábios se juntariam. Mas não me aproximo.

—O que?

—Pode me chamar de Elsa quando estivermos sozinhos. – Meu coração não para no peito, parece estar tocando bateria.

—Elsa. Tudo bem.

Ela fecha os olhos, e os abre. E fecha novamente. E abre. Arranjo coragem e seguro sua mão, um gesto inocente. Meu coração bate. E bate mais. Ela pode ouvi-lo, se quiser. Ela pode saber o efeito que causa em mim apenas por tê-la perto. Não se move. Fica assim por uma eternidade. Eu não me movo. Acho que ela dormiu. Não dormiu. Está ciente de tudo que está acontecendo. Algo está acontecendo.

—Eu sei que não parece, mas eu sempre precisei de alguém, sabe? – Sua voz, quando finalmente sai, sai rouca. Pela primeira vez não é uma voz forte. É uma voz sensível. – De alguém para me ouvir, de alguém para me abraçar, de alguém que estaria lá quando eu precisasse. Eu sempre precisei de alguém que não fosse embora. Mas todos foram. – Deslizo meu dedão por entre os nós de seus dedos. – Todos os beijos e namoros que tive com garotos importantes nos bailes, todos foram errados e feios e rápidos. Minha irmã cresceu e não precisa mais de mim como antes. Minha mãe morreu. Meu pai parece que simplesmente esqueceu que eu também sinto dor, que eu também respiro, que eu também penso. Que eu também tenho direitos.

Eu não deveria estar pensando no beijo dela. Então eu não penso.

—Você já conversou com ele sobre isso?

—Para que? Ele vai continuar agindo da mesma forma.

Eu sei, quero dizer a ela, eu sei muito bem pelo que ela está passando. Sei o quanto dói tentar fazer com o que seu pai entenda e mude de comportamento. Sei o que é fracassar nisso.

—Eu entendo. – Digo.

—Entende?

—Eu também tenho um pai, sabe? – Ela ri, mas de forma triste. – Ele também não é um exemplo de pai.

Ela parece estudar-me.

—Aqueles hematomas, desculpe perguntar, mas tem algo a ver com ele?

Respiro fundo. Eu sabia que essa conversa chegaria aqui.

—Tempos difíceis. Sabe como é.

Ela levanta sua cabeça, ficando de lado e me encarando. Apoia-se com apenas um antebraço. Perto demais.

—Eu sinto muito, Jack. – Posso sentir seu sabor daqui. Morango? Não. Framboesa? Talvez. Gelada. Gelada como a neve.

—Não precisa sentir. Está tudo bem.

Seus olhos são dois cubos de gelo. Frios, e que estranhamente me aquecem. Me abraçam. Me querem? Eu os quero.

Eu não vou embora como os outros fizeram. Eu odeio despedidas.

Eu vou beijá-la. Perto demais.

Tomo coragem e seguro seu rosto, apoiando-me no antebraço. Ela não recua. Não tenho mais mente, não tenho mais consciência. Não sei quem eu sou. Só sei quem ela é, e o que quero fazer nesse exato momento. Seu queixo treme, suas pálpebras caem por cima de seu olhar, todas as estrelas do céu estão em seus olhos agora.

Perto demais.

Eu vou beijá-la.

Ela balança a cabeça e se afasta, ficando sentada. Eu franzo o cenho, um pouco desapontado. Observa um ponto aleatório no horizonte.

—Eu não devia ter me aproximado tanto, desculpe. – Ela pede, balançando a cabeça. Eu sento também, muito desapontado, porém compreendido de tudo que aconteceu. Eu entendo que ela não queira me beijar, seria pedir muito. Eu fui longe demais.

—Eu que peço desculpas, eu encostei em você de um jeito que não devia ter encostado..., mas... – Caço seu olhar. – Você é de verdade, princesa. Não importa sua casta. Você é de carne e osso. Eu só quero que saiba que o que sinto por você, seja lá o que for, também é verdadeiro, apesar de eu relutar muito. Proibido, pelo que me parece, mas verdadeiro. Desculpe-me, é melhor voltarmos, está bem?

Ela afirma com a cabeça, e eu levanto oferecendo minha mão para que ela levantasse. Ela segura minha mão e levanta-se, um pouco desequilibrada. Andamos sem falar nada até chegarmos perto da porta que nos levaria andares e mais andares abaixo. Afundando lentamente nas águas escuras e geladas da mente. Morrendo devagar.

Eu não devia ter feito nada. Eu devia apenas ter ficado calado e escutado tudo o que ela quisesse falar. Estraguei tudo. Eu me envolvi e esse não era o plano.

Ela para, de repente, e por um momento não se move, mas esse momento se vai. Vira devagar e me encara, há um resquício de preocupação em seu rosto. A única iluminação que temos é a lua cheia e as luzes do reino ao nosso redor.

Ela não diz nada. Ela faz muito mais que isso.

Ela me beija, se desfazendo de todas as correntes que a estavam prendendo por dentro. Intenso. É intenso e preocupado. Todos os seus medos estão dentro do seu beijo, e posso senti-los.

No começo, fico surpreso, e então algo dentro de mim se destranca. Um cadeado, talvez.

Perco-me em sua cintura. Seus braços ao redor do meu pescoço. Sua boca na minha. Sinto cada toque dela como se fosse mágica. Sua mão é gelada, muito gelada. Sua boca é gelada. Ela é gelada por dentro e por fora.

Ela é verdadeira, é de carne e osso, e ninguém deveria tratá-la como um prêmio a ser ganhado. Ninguém deveria tratá-la como um objeto.

Minha respiração falha, afasto-me por um segundo.

—Princesa, escute. – Ela para e me olha, há poucos centímetros de distância entre nós. – Você está bem?

Ela balança a cabeça. Percebo que pode chorar a qualquer momento. Frágil. Eu não sabia que ela poderia ser frágil.

—Eu só... eu não sei o que está acontecendo comigo. – Não há sorriso algum em seu rosto. Na verdade, ela poderia chorar a qualquer momento. Meu coração escapa uma batida. – Jack, acho melhor entrarmos.

—Você quer conversar?

—Não, de verdade. Preciso voltar. – Seus movimentos são agitados.

Encaro-a por dois ou três segundos antes de acompanhá-la pelo caminho de volta.

Estamos chegando perto da porta quando o vejo, ali, parado e brilhando com a luz da lua refletida. Tão pequeno, do tamanho de um brinco.

—Olhe! – Eu sorrio, pegando o floco de neve na mão.

—Deixe aí. – Diz, impaciente. – Sério, é só um floco de neve.

Abro a palma da mão na sua frente, indo mais para perto dela.

—É o floco de neve mais bonito que eu já vi.

Ela encara-o com desdenho.

—É apenas um floco.

—Olhe ao redor, princesa. É o único floco de neve do reino inteiro.

—Como pode ter tanta certeza? Pode muito bem ter caído mais um, sei lá, nas montanhas.

—Não nevou, Elsa. Caiu apenas um floco de neve.

Ela passa por mim.

—Acho melhor irmos embora.

Seguro sua mão, mas ela desvencilha-se.

—Você está bem?

Ela retira um par de luvas do bolso do pijama e as coloca. O floco de neve já derreteu.

—Sim. Só estou com um pouco de frio.

Não pergunto mais nada e, ao me oferecer para aquecê-la, ela não quis. Está distante de mim, não encosta e nem me olha, apenas anda no mesmo passo calmo e decidido.

Quando chegamos lá embaixo, o local em que nos despediríamos e cada um iria para um lado, ela encosta seus lábios de leve na minha bochecha.

—Obrigada por hoje, Jack. – Seus olhos estão apagados, não há emoção alguma para ser vista. Há paredes demais ao redor dela.

Sorri, por incrível que pareça é um sorriso verdadeiro, e se vai gradativamente, desaparecendo na escuridão.

Abro a porta do meu quarto e me jogo na cama. Astrid sumiu, claro.

Penso em tudo o que aconteceu hoje. Penso em todos os seus toques, todos os seus jeitos e todos os seus defeitos.

Penso em tudo, e adoro tudo.

Eu sei que, pela manhã, ela não vai nem demonstrar qualquer sentimento que seja. Ela vai fingir que nada aconteceu. Eu vou fingir que nada aconteceu.

Porque, pelo menos isso, eu descobri:

De noite seu coração é cheio, e, pela manhã, vazio.

***


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Notas finais do capítulo

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEITA MUNDO BÃO.
E AGORA MADRE TERESA DAS BATATINHA CHIPS??????
Mereço recomendação? ehehehehheheehehe
Olha, deixa eu explicar uma coisinha antes: Pode ter sido o 1 beijo deles, mas juro que não foi o melhor de propósito! VÃO TER MELHORES SIM! Espero vcs nos reviews!