Pov. Anna

O corredor estava tão vazio quanto certos corações.

Eu não devia estar aqui, sozinha, a essa hora da madrugada, mas é a única hora em que eu consigo pensar em um meio de fugir. Ora, vamos, eu não sou egoísta! É só que... eu queria viver uma vida normal.

Minha irmã foi feita para ser rainha, todos sabemos disso. Mas eu não sou e jamais serei digna do trono.

Eu quero viver um amor verdadeiro, comer chocolate a hora que eu bem entender, cavalgar para além de Arendelle. Eu quero conhecer pessoas reais, não pessoas que só sorriem para a câmera.

Essa simplesmente não é quem eu sou.

Olhe bem para a minha irmã, ela teve a chance de ter trinta e cinco garotos aos pés dela, mas ela já me disse seu plano, um plano que não posso contar a ninguém, mas envolve não escolher nenhum deles, apesar do acordo feito com papai. Se eu tivesse trinta e cinco garotos aos meus pés, eu estaria casada com os trinta e cinco. Entendeu agora a diferença?

Eu não sei escolher. Eu não sei dizer não e mandar pessoas chorando de volta para casa.

Minha irmã sabe, e se diverte com isso. Mas eu a entendo. Ela tem medo dos próprios poderes, e, com tais poderes, quem não teria medo dela?

***

Subo as escadas com cuidado. Sempre que tenho problemas para dormir eu venho até aqui.

É um lugar bonito que tem vista para o reino inteiro. De lá, as estrelas parecem diamantes perto demais da terra.

Assim que fico próxima da porta, franzo o cenho. Ela não está fechada como sempre está. A porta entreaberta mostra que alguém já passou por aqui. Há luzes acesas do outro lado. Coloco minha cabeça por entre o vão e deixo meu queixo cair até o pé.

Só consigo enxergar o cabelo e um pouco do pijama cinza, mas sei que é Elsa. Ela está com alguém. Um rapaz. Quem é ele?

Apoio-me um pouco mais na porta, tentando enxergar algo a mais. Meus cabelos caem sobre meu ombro e quase desequilibro ao tentar colocá-los para trás.

Tento escutar, mas eles não estão falando.

Estão perto demais.

Elsa move-se rapidamente, como que se levantando. E eu vejo.

Eu vejo quem é.

É o garoto da casta 6. O garoto que papai odeia. O garoto que Elsa implorou para o pai não colocar na mídia. O garoto que quis se matar. Eu sei que ele quis se matar, eu ouvi os rumores.

O garoto da foto.

Eles levantam. Eles estão vindo. Penso em recuar, mas na hora que faço isso, meus olhos se arregalam ao ver que Elsa o beijou. Eles estão se beijando.

Elsa e o garoto da foto.

Como era mesmo o nome dele?

O garoto que meu pai odeia. O garoto que o Rei odeia.

Jack Frost.

***

Corro escada abaixo, sentindo meu coração pulsar e pulsar e pulsar.

As escadas parecem cada vez mais estreitas.

Papai não pode descobrir sobre eles. Ele machucaria Elsa. Ele machucaria Jack.

O combinado não era Jack, o combinado não era ele. Ah, não. Não! Elsa, o que você está fazendo?

Atravesso o corredor em uma rapidez imensa e acabo esbarrando em um dos guardas. Ele segura-me para que eu não caia de cara no chão.

—Desculpe-me! Desculpe-me de verdade. – Peço, confusa com tudo.

—Está tudo bem. Eu... a culpa foi minha. Desculpe. – Atrapalha-se com as palavras e solta-me na mesma velocidade assim que percebe quem eu sou.

Encaro-o.

Não é um guarda. Paraliso completamente, porque não sei como agir. Seus cabelos loiros caem por sobre seus olhos castanhos. Ele é um pouco estranho, mas nada feio. Suas mãos são fortes e ainda posso senti-las em meus braços apesar de ele já as ter tirado de mim faz um tempão.

Ele percebe o silêncio.

—Meu nome é Kristoff, Alteza. – Faz reverência.

—Anna. – Digo apressada, como se ele não soubesse. E ele ri, baixo.

—É um prazer, princesa.

—Igualmente. – Não paro de olhar para trás, pois sei que a qualquer hora eles podem aparecer. – É melhor você voltar para o quarto, essa hora não é uma boa hora para ficar andando pelo castelo.

Ele parece querer fazer um milhão de perguntas, e eu estou com pressa.

—Tudo bem. – Fala. Acabo ficando confusa.

—Tudo bem? – Pergunto, surpresa.

—É. Irei para o quarto. Você está bem? – Sua expressão me caça.

—Estou. Eu só... eu já vou indo. – Não deixo nem ele dizer mais nada, voo corredor abaixo, subo algumas escadas e encontro meu quarto, trancando-me dentro. Que princesa educada eu sou, minha mãe teria orgulho!

Jack Frost e minha irmã.

Será que estou me preocupando demais sem ter motivo?

Deito-me na cama, jogando-me para trás e me espreguiçando. Minha cabeça gira e gira e gira. Preciso proteger Elsa. Ela é tudo para mim e ver seu coração ser quebrado não é o que eu quero. Papai está contando com ela para o reino conhecer a paz. Ela precisa casar com outro, não Jack. Mas... será que ela está cogitando escolher ele, ou será que está apenas brincando com os sentimentos dos outros?

Eu conheço minha irmã, ela não gostaria de alguém assim tão rápido.

Agora eu consigo entender.

É tudo um jogo. Tudo faz parte da sua estratégia.

Se depender da minha irmã, eu já consigo ver quem vai sair com o coração quebrado e quem não vai, depois de tudo isso.

Tchau, tchau Jack Frost.

***