Enquanto Samael me beijava, minha cabeça dava voltas e uma dor se espalhava, dando a impressão de que iria explodir, eu fechava meus olhos tentando não olhar para o seu rosto e sentir o seu cheiro sem poder impedi-lo de continuar. Poucos segundos depois, eu não sentia mais seu odor demoníaco nem o sabor de seus lábios, eu estava em outro lugar. Um lugar escuro, eu não conseguia ver onde, eu não conseguia nem me ver.

            Não tardou muito alguém entrou na sala (era uma sala, mas não a mesma onde eu estava): cabelos claros e platinados, beirando ao pescoço da figura feminina, corpo esguio e magro, porém não alto; se tratava de Shalia, a líder da seita.

            Ela ligou as luzes do ambiente, me possibilitando ter uma visão melhor, havia muitos espelhos, e o seu reflexo estava fixo em todos pelas paredes do cômodo, no entanto eu não estava refletida em nenhum.

            A bruxa começou a se despir de suas roupas de inverno, estando só no local, e a cena a seguir não foi nada agradável, não por eu odiá-la nem por ser uma garota nua na minha frente, mas por seu corpo ser extremamente branco e magro; ela é anoréxica, magérrima.

            Em seguida ela subiu em algo que estava no chão e eu não percebera antes: uma balança. Não consegui ver que valor aparecera no visor da máquina, mas a expressão que surgiu em seu rosto não foi das melhores. Ela se olhou no reflexo do espelho e pareceu que iria chorar incontrolavelmente, ignorando o fato de eu estar a seu lado na sala, Shalia parecia não me ver. Porém o que ela fez foi uma surpresa: a loira se abaixou e pegou a balança, e então a jogou com tudo no espelho, o quebrando em mil pedaços. O estrondo do vidro se partindo só não foi maior que o barulho do grito agudo e monstruoso que veio dela a seguir. Lágrimas caíram de seu rosto, a bruxa aparentava estar acabada.

            - Você é fraca. Patética. – A situação que eu estava vendo, provavelmente uma visão, não um sonho, mas real, não poderia ficar mais estranha até eu ouvir esta frase. Ele disse exatamente o que eu estava pensando. Sim, era um homem, a voz era masculina e surgiu do outro lado da sala, do mesmo lugar de que a líder da seita viera. Ela direcionou o olhar até ele.

            O mesmo deu um passo em frente. Longos cabelos loiros claros, alto e olhar maligno – Samael.

            - Não acredito que alguém como você pensou que poderia trazer meu irmão de volta. Amadora. Você é inútil, não tem serventia nenhuma para mim, não mais. – Enquanto ele a humilhava verbalmente, ela chorava ainda mais do que antes, parecia tão frágil para alguém que queimou o lar de alguém. Shalia se agarrou no blusão que o demônio usava, o puxando e implorando por seu perdão.

            - Por favor, eu... – sua voz saiu roca e baixa.

            - Não, não precisa falar mais nada. É uma vergonha para os bruxos, nem se fosse uma bruxa boa seria útil. – ele disse por fim segurando no rosto da garota, que aparentemente não se importava de estar nua na frente dele, e a olhando fez sua cabeça girar até se encontrar com sua nuca, seu rosto vazio mostrava que sua vida se fora e que seus olhos ficariam sem cor.

            Tentei gritar, mas minha voz não saía e a visão que eu tive sumiu e a minha dor de cabeça voltou, mais forte enquanto a marca desenhada em meu pulso ardia e borbulhava; o bruxo estava à minha frente me encarando, porém não mais me beijando, agora eu poderia me mexer. Dei um tapa em seu rosto, deixando uma marca e me afastei dirigindo-me à porta, agora de volta à diretoria, onde estava e saí, podendo sentir seu olhar em mim enquanto deixava o escritório.