O Ritual escrita por Elliot White


Capítulo 11
Sonho mau


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo começará com um pesadelo, então quem andou sonhando com bodes, reféns e cervos, se prepare.
Boa leitura.



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Um beijo suave tocou minha bochecha, causado por lábios macios e familiares que eu não via há muito tempo, porém nesta noite e neste momento parecia que a última vez que me beijou foi ontem. O quarto estava quentinho, a cama acolhedora e o cobertor me cobrindo escondia o pijama infantil por baixo dele. As estampas girly do travesseiro, do lençol e das paredes, cuidadosamente impressas pelo meu pai, me remetiam a um lugar da vida e da mente que eu não visitava por um longo intervalo, minha infância.
"Boa noite, Becky", mamãe falou fitando-me com seu olhar profundo e oceânico, muito experiente. ''Boa noite, mãe'' respondi com um demorado bocejo enquanto fechava os olhos e via o largo e gentil sorriso da mesma. Ao virar de lado na cama para ficar de bruços, alguém me esperava sentado na beirada do móvel, do mesmo jeito que minha mãe permanecia do lado oposto, mas não era papai. Dirigi lentamente o olhar até a figura, que me encarava de volta com um par de rubis vermelhas e penetrantes como visão; a cabeça maior que o corpo, chamava atenção por sustentar um par de longos e espiralados chifres, acentuando os vastos pelos em tons escuros e assustadores que me deixavam paralisada e sem ação no aposento.


Abri os olhos, encarando o teto sobre mim, madeira de aparência antiga e familiar, o casebre de Wendy e da irmã. O par de joias azuis que eu tinha quase saltaram da órbita devido ao pesadelo, e notei que eu estava levemente suada, no entanto era claro, eu estava segura. Agora eu já sentia meu corpo e podia movimentá-lo, passado o efeito do feitiço, porém minha voz se fora e não parecia que um dia voltaria. Vasculhei o cobertor que me cobria, notando que eu estava sem o casacão e sem o gorro, mas minhas roupas de baixo ainda estavam ali. Um alívio, já que seria muito constrangedor eu ter minhas roupas trocadas por um garoto, ainda mais meu crush, pelo menos eu acho que ele é meu crush; e Olga não poderia trocar minhas roupas sozinha.
A porta do quarto estava aberta para a sala, iluminada pelo fogo que vinha da lareira e aquecida pela mesma, de onde pude ver o mais velho adentrar carregado de lenhas cortadas, ainda agasalhado.
– Continue cortando! Eu vou ver como ela está! - gritou, se dirigindo ao meu aposento, então tratei de levantar logo e ficar sentada na cama, demonstrando que estava acordada.
– Ah, aí está você, está melhor? - respondi com um aceno de cabeça que sim, com um meio sorriso no rosto, seu semblante parecia menos brincalhão do que o normal, estava sério e gentil. - ainda não consegue falar não é mesmo? Eu não sei o que fazer com esses feitiços de bruxo, mas eles devem ter um tempo de validade, então não se preocupe. - o moreno tagarelou, parecendo nervoso e envergonhado. Eu apenas o ouvi atenta.
– Precisa se alimentar, Becky. Eu fiz uma sopa. - indo até o canto do quarto, estava uma pequena panela pairando sobre uma fogueira improvisada. Tomou uma concha e um prato, o enchendo do líquido e me entregando. Aceitei com um sorriso, enquanto Wendy se sentava na beirada da cama.
Ao mesmo tempo em que bebia devagar, lembrei de um detalhe que me fez parar e quase entrar em pânico, e ele acabou percebendo - Então, está boa? O que foi? Você não gostou não é? Eu sabia que estava ruim, eu não sei cozinhar direito! - o rapaz se desesperava enquanto eu lembrava de que acabara de acordar e meu cabelo e rosto deveriam estar horríveis, e eu precisava de um espelho imediatamente! O pior é que eu não tinha como falar isso.
– Ela precisa de um espelho. Toda garota precisa de um pela manhã. - uma voz infantil pronunciou, Olga entrava no quarto com suas cadeiras de rodas.
– Ah, era só isso. Nós temos o do banheiro e este aqui. - Wendy se levantou indo até a base da lareira onde estavam situadas fotos da irmã quando era menor e pegou um espelho do tamanho de um porta-retrato, o mirando em minha direção, e revelando meu reflexo. Ele não estava nada bom. Nada bom mesmo. Tinha olheiras, minha pele não estava tratada, sem falar no tempão que eu não retocava a maquiagem. Os lábios ressecados, o cabelo, parecia uma vassoura loura de pontas duplas. Puxei o travesseiro e escondi meu rosto, com vergonha.
– Tem um espelho maior no meu quarto. Venha - a pequena ruiva conduziu sua cadeira de rodas pela casinha até outro cômodo, e eu a segui. - Garotos - Olga soltou um longo e irônico suspiro enquanto me mostrava o espelho no centro do quarto, sobre uma mesinha onde estavam dispostos estojos de maquiagem, escovas de cabelo e pentes. Comecei a me pintar sem pedir permissão, já que não conseguia falar. A garotinha me observava pelo reflexo do espelho, que também refletia a cama rosa de criança e alguns animais de pelúcia distribuídos por ela.
– Não precisa se maquiar muito, Becky, já é muito bonita - ela continuou, e respondi com um sorriso - meu irmão também pensa assim, e ele vive falando de você - quase passei pó e base demais ao ouvir isso, me desconcentrando.
– Mesmo? - perguntei, me tocando que a voz tinha voltado - minha voz! Voltou! - exclamei sorrindo de felicidade, o feitiço se fora, e meu desejo era abraçar e beijar essa ruivinha mas um som interrompeu nosso momento:
– Quem é você? - Wendy questionou em voz alta.


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Notas finais do capítulo

Comentem dizendo o que estão achando e até amanhã!

Olhem no índice da fic as notas da história, coloquei o link da música-tema que casa perfeitamente com a história♥