O Ritual escrita por Elliot White


Capítulo 10
Enfeitiçada


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo está maior do que os outros, então a leitura ficará mais longa(o que pode agradar alguns)
Boa leitura!



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Percorri todo o terreno do bosque subindo a lomba que levava à escola, alguns dormitórios surgiram como primeiro sinal de civilização em meio à vegetação, entre eles o de Shalia; ao me aproximar dele a marca em meu pulso ardeu como nunca, parecendo queimar, o que era completamente absurdo já que eu nunca me queimava. Parei o meu trajeto, ofegando de cansaço pela corrida soltando um bafo de frio, me situava em frente àquele dormitório, amplo e com dois andares, e tentei afastar a ardência afagando o pulso coberto pelo casaco e a manga da blusa.
Uma porta se abriu, e um vulto deu um passo, aparentemente o único além de mim no local.
– Entre - uma voz masculina ordenou; era Nestor, o garoto nerd que fazia parte da seita, o par de olhos castanhos me fitando por debaixo dos óculos.
O obedeci, depois de hesitar por um segundo, entrando no dormitório obviamente masculino, a lareira estava acesa e posteres de mulheres saradas e seminuas espalhados pelas paredes.
– Por quê você a ajuda? - perguntei, recebendo de volta não uma resposta imediata, mas um olhar sério e duradouro.
– Porque ela me deu uma família. Quando eu entrei na Academia eu estava sozinho como você, e seria um alvo fácil de bullying, aquilo que você fez comigo. Eu não sou filho do diretor, não tinha amigos, e ela me ofereceu tudo isso. Eu só tenho a agradecer. - ele discursou, e tenho que admitir que isso calou a minha boca bonito, mas no fundo isso não era o bastante, ainda estava com dúvidas.
– O que é um íncubo e um súcubo? - questionei depois de um tempo em silêncio.
– Um íncubo é uma espécie de demônio macho que seduz as mulheres e depois se alimenta delas, e um súcubo é basicamente a mesma coisa, mas é uma fêmea. Tecnicamente.
– Eu não entendo, o que esse casal de demônios estaria fazendo aqui perto? Não existem alunos demônios aqui, não faz parte das criaturas admitidas. - indaguei, o encarando e exigindo uma explicação.
– Na verdade, eles podem ser além de um demônio outra criatura mágica, se forem descendentes de outra linhagem. Além disso Shalia tem certeza de que eles estão por perto. - Nestor continuou - íncubos e súcubos podem enganar a nós bruxos facilmente, o que dificulta a busca, além disso eles tem feromônios poderosos para atrair o sexo oposto. - alguém bateu à porta, interrompendo nossa conversa e roubando nossa atenção; o garoto me olhou com uma expressão alterada.
A porta não estava fechada, deveriam ser os colegas que moravam ali também, e a maçaneta já estava girando e a porta se abrindo, eu não queria ser vista em um dormitório de meninos. Avistei a escada e me apressei em subi-la, trocando olhares com Nestor e confirmando, me afastei e fiquei escondida, alcançando o segundo piso.
Ao subir, me deparei com um cômodo escuro, a pouca iluminação da luz da tardinha não facilitava a visão, porém se tratava de um quarto, com duas camas de solteiro dispostas e no fundo uma poltrona no centro do ambiente, tendo um sujeito sentado na mesma. Na hora o identifiquei: mãos atadas e pés presos no assento, olhos e boca vendados; se tratava do mesmo cara que estava sendo feito de refém pela seita, no entanto estava no dormitório dos garotos desta vez.
Dei um passo em frente e ele levantou a cabeça, sem poder ver nem falar, mas se fizesse barulho o pessoal lá embaixo escutaria. Continuei, cautelosa e sorrateiramente embora notasse que ele já percebera a minha presença, e um gemido saiu abafado de sua boca em contato com o trapo que cobria sua boca. A conversa do andar debaixo parou; mais um grunhido surgiu. Apressei-me a chegar até ele e sussurrar em seu ouvido esquerdo "silêncio"; porém a conversa não retomou.
"Droga", pensei, ouvindo os passos subindo a escada. Os urros do prisioneiro prosseguiram, provavelmente associando os passos à tortura que sofreria. "Fica quieto!" falei em tom baixo, por estar do seu lado e tentando manter o ambiente mudo, mas precisei pensar rápido. Eu não poderia escapar depois que eles entrassem no quarto. Olhando para a janela, lancei um feitiço que a abriu rapidamente, e uma nevasca adentrou o local, a fazendo bater na parede com violência. Visualizei a distância até o chão, e como se tratava apenas do segundo andar, a minha queda seria segura. Lancei-me, tentando amenizar o pulo com magia para suavizar a queda; no entanto o vento estava muito forte e eu acabei caindo com força na neve, que mesmo macia causou muita dor, tirando de mim um lamento.
Dirigi o olhar pra cima e percebi dois pares de olhos em mim, dois rapazes altos membros da seita. Beleza, eles perceberam que eu visitei seu refém, eu não poderia esconder isso, mas isso não me impediria de fugir. Levantei com dificuldade e dei o primeiro passo, sendo parada por algo. Não consegui me mexer, fiquei imóvel onde estava como um bonequinho sem vida, e mesmo protestando e lutando eu não saía do lugar. Aqueles malditos me enfeitiçaram.
A porta do dormitório se abriu, e eu apenas pude ouvir as vozes masculinas atrás de mim:
– Não pode se mexer agora não é safada? Assim aprende a não bisbilhotar mais! - um dos garotos falou, em tom de zombaria e o outro mais sério continuou:
– Nestor, deixe-a muda! Lance um feitiço nela agora! - ordenou, autoritário, e o próprio apareceu no meu campo de visão.
O olhei nos olhos, castanhos por debaixo das lentes dos óculos, com uma expressão desesperada no rosto, tudo bem que ele era o garoto nerd que eu maltratei no primeiro dia, mas se tinha um membro da seita que poderia me salvar agora, era ele. Nestor é bom.
– Por favor, não faça isso! - soltei as palavras em dificuldade com o feitiço de paralisação que também atingia minha face e boca.
– Cale-se! Nestor, cale a boca dela agora, ou eu mesmo faço isso! - o zombador ordenou pelas minhas costas, eu sabia que se tratava do moreninho alto.
Meus olhos azuis marinhos já estavam marejados e eu sem esperança quando ele surgiu pela neve, suas pernas longas vestidas em preto; Wendy!
– Deixem ela agora! - ele gritou, roubando a atenção de todos e os deixando em alerta, queria dizer pra ele ir embora e correr, porém meus lábios estavam petrificados.
– Quem é você? - uma voz mais grave pronunciou por trás de mim, agora foi o outro rapaz.
– Isso não te interessa - respondeu Wendy, seguido de um estrondo, seu casacão se rasgou em pedaços e algo se moveu atrás dele, se abrindo como se estivesse dobrado, longas asas de morcego em tons escuros; as mesmas que ele usara quando eu voei com ele, e eram de encher os olhos.
Os meninos obviamente estavam prontos para atacar, enquanto eu lutava tentando me livrar do feitiço, em vão, apenas conseguindo lançar negações em uma voz rouca que não era minha - neste momento me agarraram em meus dois membros dianteiros, ordenando Nestor a me amaldiçoar mais.
– Agora! - o bruxo negro mandou, e os dedos brancos e gélidos nus do outro seguraram meu queixo; deixei escapar um gemido.
– Desculpe, Becky. Pro spiritus ego tibi praecipio ut tacerent. Magicis creaturis et mysticum entia, da mihi virtutem ut furetur vocem tuam!– ele pronunciou, atingindo-me enquanto meus sentidos escapavam de mim, levando consigo algo que era meu junto. Wendy se lançou com suas asas batendo no ar congelante de inverno, ninguém me segurava mais e eu recuperava os movimentos, no entanto não tinha mais força para usá-los, então apenas caí na neve. Os bruxos jogavam rajadas e encantos no meu salvador, que se adiantava em agarrar-me e fugir voando, e por fim eu me apago por completo.


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Notas finais do capítulo

O feitiço que Nestor lançou está em latim e quer dizer:
"Em nome dos espíritos eu ordeno que se cale. Magia das criaturas e dos seres místicos, me dê força para roubar-te a voz!"
Bem, eu voltei de férias e alguns transtornos de começo de ano estão acontecendo. Mesmo assim eu pretendo continuar com a fic, não será abandonada!
Até amanhã!