A Prayer For The Heartless escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 2
Meliorn e os Fairfolk


Notas iniciais do capítulo

Sim, capítulo mais curto. Sim, eu acho que o Sebastian teve um caso com o Meliorn. Sim, "Fairfolk" (uma das formas de chamar as fadas) é o sobrenome dele aqui. Não, a relação do Sebastian com a Rainha Seelie não é desenvolvida aqui. Sim, vai ter um capítulo especialmente para ela.
Espero que gostem...



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All my friends always lie to me

I know they’re thinking:

“You’re too mean, I don’t like you

Fuck you anyway

You make me wanna scream at the top of my lungs”

It hurts, but I won’t fight you

You suck anyway

You make me wanna die

Todos os meus amigos sempre mentem para mim

Eu sei que eles estão pensando:

“Você é muito mau, eu não gosto de você

Vá se foder, de qualquer jeito

Você me faz querer gritar com toda a força dos meus pulmões”

Isso machuca, mas eu não vou discutir com você

Você é uma droga, de qualquer jeito

Você me faz querer morrer

The Neighbourhood – Afraid

Ao se sentar no lugar de sempre no fundo da sala de geometria, sonolento, irritado e com o lábio inchado, Sebastian quase se arrependeu de ter ido tão longe com o pai. Não era uma questão de consciência; era só que, se não o tivesse feito, talvez pudesse correr o risco de matar pelo menos o primeiro tempo para tirar um cochilo. Naquelas condições, se algo sobre cabular aula chegasse aos ouvidos de Valentim, Sebastian imaginou que provavelmente acabaria no hospital. Não que Valentim já o tivesse mandado para lá; o garoto era dramático, às vezes.

Porém, pensar na expressão ferida de Valentim quando ele mencionara Jocelyn apagou qualquer traço de arrependimento que poderia haver dentro de Sebastian, substituindo-o por uma satisfação cruel. Ele se acomodou melhor na carteira, ponderando se poderia cochilar durante a aula mesmo.

Vários alunos olhavam para ele com curiosidade ao entrar na sala; Sebastian resistiu à tentação de cobrir o rosto com o capuz e se ocupou em selecionar quais olhares ignorar e quais encarar de volta em desafio. Isabelle Lightwood passou por ele em direção a seu lugar do outro lado da última fileira, mas, para sua decepção, não comentou nada que pudesse levar a uma troca de alfinetadas.

No fim das contas, Sebastian dormiu na aula de geometria. E na de biologia, depois de ter acordado parcialmente para tropeçar até a sala. E na de química, no terceiro tempo. Ele tinha total intenção de fazer o mesmo na aula seguinte - literatura -, mas a professora, ao vê-lo enterrar a cabeça nos braços, estalou os dedos e disse:

– Nada disso, Sr. Morgenstern. Você pode começar a leitura de onde paramos na última aula.

Sebastian resmungou. A maioria dos professores conhecia Valentim Morgenstern, o que queria dizer que a maioria dos professores deixava que o filho dele fizesse o que queria, fosse por medo da influência de Valentim ou por pena de Sebastian; Theresa Gray, entretanto, com sua crença inabalável na moralidade, se recusava a de deixar intimidar por um homem trinta anos mais novo só porque ele tinha dinheiro. Portanto, Sebastian abriu o livro, sem ter ideia de onde eles haviam parado na aula anterior.

Quando chegou a hora do almoço, a dor no lábio cortado, o sono, a dor de cabeça (possivelmente causada pelos excessos da noite anterior) e a risadinha de Jace Lightwood ao vê-lo ser repreendido haviam deixado Sebastian com um humor pior do que o de costume. Ele se arrastou de cara fechada até o refeitório, pegou o almoço e se jogou na mesa de sempre, com os Fairfolk.

– Devo acreditar que você simplesmente deu de cara com um muro? - perguntou Meliorn, a seu lado, indicando seu rosto com um gesto da mão fina. Sebastian arreganhou um sorriso para ele.

– Digamos que eu dei de cara com outra coisa - respondeu. - E que essa coisa por acaso tinha belos peitos e um namorado de dois metros de altura.

Ele considerou a reação de Meliorn de péssimo gosto: o garoto ergueu uma sobrancelha bem feita, descrente, e voltou a atenção para a comida em sua bandeja. Sebastian esperava pelo menos um indício de ciúmes, considerando o que eles haviam feito alguns meses antes; a indiferença não o magoou - ele não realmente se importava com o que Meliorn sentia por ele -, mas o deixou decepcionado.

Na verdade, Sebastian preferiria mil vezes almoçar na lanchonete em frente ao colégio. O problema não era a comida - uma das vantagens de estudar em um colégio para gente rica era a comida de gente rica -, mas sim o ambiente. Não era exatamente legal ouvir todo aquele blá blá blá adolescente e ver sua irmã sentada com os Lightwood e o maldito Lewis, fingindo que eles não tinham parentesco.

Mas os Fairfolk, como as boas crianças ricas e mimadas que eram, pareciam gostar de observar os outros com ar de superioridade e fofocar sobre quem tinha dormido com quem e quem se vestia como uma vadia. Antigamente, Isabelle Lightwood costumava integrar o tópico "vadia", mas eles a haviam deixado em paz depois de ela ter se envolvido com Meliorn, que era, pensou Sebastian com ironia, a verdadeira puta da história.

Para ser sincero, Sebastian não gostava muito dos Fairfolk. Ele não lembrava o nome da maioria, nem conseguia entender exatamente os graus de parentesco entre eles. Porém, a maldade implícita nas conversas daquela mesa o agradavam, e Jocelyn, Clary & Companhia também não gostavam dos Fairfolk, o que era sempre um bônus. Além disso, Sebastian imaginou que seria educado ao menos fingir ser amigo de Meliorn, já que estava transando com a mãe dele.

– Vocês sabiam - começou Sebastian. Todos à mesa se viraram para ele e pararam o que faziam para ouvi-lo. Ele gostou disso. - que a Lightwood está trepando com Simon Lewis?

Os olhares rapidamente se voltaram para Meliorn, que teve menos de dois segundos para recompor a expressão. Nem mesmo ele conseguiu substituir o espanto pela frieza tão rápido; Sebastian observou, satisfeito, enquanto o burburinho de conversas ressurgia ao redor da mesa. Uma parte dos Fairfolk devia estar falando mal de Isabelle; outra, de Simon, e uma terceira, de Meliorn. Alguns haviam simplesmente descartado a informação, fosse porque já soubessem ou porque era irrelevante.

– Sua irmã ainda está com Jace Lightwood? - perguntou Meliorn a Sebastian, com interesse educado.

Sebastian franziu o cenho.

– Está.

– Eles formam um bom casal - Meliorn espetou um pedaço de frango com o garfo, delicadamente. Quase tudo que ele fazia era delicado. Provavelmente um traço de família, pensou Sebastian, quase sorrindo ao lembrar de como Seelie Fairfolk o tocara na semana anterior. - Seu pai ainda gosta mais dele do que de você?

As feições de Sebastian endureceram. A pergunta fora feita no tom de quem pergunta algo corriqueiro sobre o clima, mas os olhos de Meliorn eram os de quem apunhala alguém pelas costas.

– O meu pai - disse Sebastian, escolhendo as palavras com cuidado. Parecia o tipo de pergunta cuja resposta Meliorn não esqueceria. - acha que tem o mundo inteiro aos pés dele.

Meliorn franziu os lábios, o que o deixou com aparência ainda mais arrogante.

– E o que isso tem a ver com Jace?

Sebastian falou devagar, com condescendência, como se estivesse falando com uma criança pequena. Era um tom que havia absorvido, inconscientemente, das milhares de vezes em que fizera Valentim repreendê-lo. Ele odiava aquele tom, mas, naquele momento, também odiava Meliorn.

Eu, ao contrário do Jace, não estou aos pés dele.

– Não? - Meliorn manteve o tom agradável, fitando Sebastian nos olhos. Sebastian retribuiu o olhar.

– Nunca.

Foi Meliorn quem desviou o olhar primeiro. Sebastian sentiu com clareza aguda que os Fairfolk também não gostavam realmente dele. Não era a primeira vez que ele percebia isso, mas foi a primeira vez que a constatação o fez sentir um tanto oco por dentro.

Quem gostava realmente dele, afinal?

Ele não conseguiu pensar em uma resposta.


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Notas finais do capítulo

Então? Eu gosto da ideia do Sebastian sendo sofrido mesmo sem sangue de demônio ;)
Os próximos capítulos vão ser mais "intensos", eu acho. Tô tentando revezar: um "importante", um mais leve. O próximo é o do Simon ;)
Até!



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