A Prayer For The Heartless escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 3
Simon


Notas iniciais do capítulo

Capítulo rápido porque obviamente escrever sobre o Sebastian é mais importante do que presta atenção na aula de física ou estudar pra prova de matemática. Claramente.
Bem, aqui está: o irmão renegado da Clary x o irmão de alma da Clary. Se rola um ciúme? Sim ou claro?
Eu gostei muito de escrever esse capítulo - aliás, estou gostando muito de escrever sobre o Sebastian de forma geral -, tanto que escrevi praticamente todo de uma vez só, e eu espero que vocês gostem tanto de lê-lo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. Até lá embaixo!



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Everything about you pains my envying

Your soul can't hate anything

Everything about you is so easy to love

Now I watching you from above

Tudo sobre você machuca minha inveja

Sua alma não consegue odiar nada

Tudo sobre você é tão fácil de amar

Agora que eu estou te assistindo de cima

Muse - Bliss

Estava óbvio que Clary não se sentia à vontade tendo aquela conversa. Ela olhava para todo lado, menos para Sebastian, e suas mãos estavam inquietas, brincando com a pulseira em seu pulso.

– Você não precisa ir, claro - Ela acrescentou, ao não receber resposta. - Mas, ahn... O convite está feito, certo?

A voz dela denunciava que, no fundo (talvez não tão fundo assim), ela não queria que ele fosse. Foi mais por isso do que pelo convite em si - passar uma tarde na casa de Jocelyn, grande coisa - que Sebastian decidiu aceitar.

– Tudo bem, eu vou - disse ele. Clary lançou rapidamente um olhar em sua direção antes de voltar a olhar para a pulseira.

– Certo - Ela hesitou, então realmente olhou para ele, e sua voz estava mais suave quando completou: - Ela vai ficar feliz em saber.

Sebastian sabia que ela só estava dizendo aquilo porque Clary, ao contrário dele, tinha uma natureza gentil. Como Jocelyn. Ele apontou para a pulseira.

– Você ainda usa isso?

Clary franziu o cenho.

– Isso...? Ah. - Ela afastou a mão das contas avermelhadas. Era possí­vel que nem tivesse percebido que ainda as estava tocando. - É, uso. - Ela deu uma risada sem graça - Acho que nem Simon lembra mais disso.

Sebastian lembrava, porque ele tendia a guardar rancor.

Clary devia ter uns seis anos, e ele, sete. Naquela época, Sebastian não estava nem próximo de ser quem era agora, exceto por uma ou duas mariposas de asas arrancadas, e seus pais ainda estavam tentando aproximá-los. Eles passavam bastante tempo juntos, sempre na casa de Jocelyn - o pacote não incluí­a reaproximar a menina de Valentim.

Um dia, Clary aparecera toda animada com aquela pulseira, falando animadamente de um menino chamado Simon. Jocelyn não parecera surpresa à menção do nome, mas Sebastian ficara intrigado - e enciumado, também. Quem era aquele Simon, de quem sua irmãzinha parecia gostar mais do que dele?

Sebastian não conseguia lembrar do que acontecera no resto do dia, mas achava que havia tentado fazer uma pulseira para Clary também. Provavelmente com alguma coisa estúpida, como grama. Ele preferiu apagar aquela humilhação da memória e se ater à parte importante. Assentiu, sem acompanhar Clary na risada.

– Tá. Vejo você mais tarde, então, irmãzinha.

Para crédito de Clary, o rosto dela só se franziu um pouquinho com o vocativo enquanto ela acenava e ia embora apressadamente pelo corredor. Sebastian observou-a se juntar a Simon em frente ao laboratório de quí­mica.

Era terça-feira, no intervalo entre a penúltima aula e a última. Sebastian teria de bom grado faltado o último tempo e ido para casa mais cedo, mas não queria lidar com a reação de Valentim quando chegasse para buscá-lo e não o encontrasse; então, se resignou a suspirar e se dirigir ao ginásio.

Eles jogaram queimado, o que amenizou um pouco a dor de ter que ficar na escola. Sebastian gostava de jogos em equipe; eram as únicas atividades em equipe nas quais ele não era escolhido por último (para sua satisfação, Clary havia contado que Simon era). Seu time ganhou dois jogos, e, em ambos, ele foi o último a ser acertado.

Quando finalmente o sinal tocou, liberando-os do inferno institucional para o inferno das ruas, o Volvo de Valentim já estava esperando em frente à porta da escola. Sebastian rejeitou seu lugar costumeiro no banco se trás e se acomodou no assento do carona, compondo uma expressão cuidadosamente neutra.

– Clary me chamou para ir à casa dela depois da aula - comunicou. Valentim ergueu as sobrancelhas.

– Clary?

A pergunta implí­cita era: Clary, aquela que não quer ter nada a ver com você? Sebastian cerrou os dentes por alguns instantes, então sorriu agradavelmente.

– Ela estava só passando um recado da Jocelyn.

Sabe a Jocelyn, aquela que não quer ter nada a ver com você? Valentim captou a mensagem e deu meia-volta com o carro sem falar mais nada.

Minutos depois, Sebastian estava tocando a campainha da residência dos Fray. O nome na caixa de correio o fazia sentir uma ligação estranha com o pai: o garoto sabia que aquele nome machucava a ambos, lembrando-os de que eles eram tudo que restava dos Morgenstern, renegados por todos, exceto um pelo outro. Talvez. Nos dias bons.

Foi Luke quem abriu a porta, o que não surpreendeu Sebastian completamente. Em breve, pensou ele irritado, vão ter que mudar o nome na caixa de correio para Garroway. Talvez seu pai não sobrevivesse àquilo. Não importava.

– Luke - cumprimentou Sebastian, sentindo a dureza na própria voz.

Luke sorriu, hesitante. Era preciso admitir que ele se esforçava.

– Sebastian. Entre.

Sebastian entrou. Jocelyn estava sentada no sofá da sala, mas se levantou para cumrpimentá-lo. Ela era boa em esconder que estava sem jeito, mas Sebastian passara a vida inteira escondendo coisas; ele sentiu na forma como o corpo dela estava rígido ao abraçá-lo.

– A Clary está lá em cima - informou Luke.

Sem dizer nada, Sebastian anuiu e subiu as escadas. Entrou no quarto da irmã sem bater, uma vez que a porta estava aberta.

Ao contrário de seu próprio quatro, o lugar não tinha mudado muito ao longo dos anos: mesmas paredes verdes, os mesmos pôsteres de desenhos animados japoneses que Sebastian tentara assistir, os mesmos livros de Harry Potter que ela comprara usados aos dez anos. Apenas as fotos e desenhos espalhados pelas paredes pareciam mudar para acompanhar sua vida.

Clary estava sentada de pernas cruzadas na cama, com uma revista em quadrinhos no colo e Simon estirado ao seu lado, devorando um bolinho. Era uma coisa que nunca mudava, também. Clary e Simon. Simon e Clary. Sebastian parou junto ao batente da porta. A intimidade óbvia entre os dois o deixou subitamente inseguro e irritado.

– Espero não estar interrompendo a noite do pijama das garotas - disse. Clary ergueu os olhos e suspirou ao ver a expressão do irmão, mas tentou sorrir ainda assim.

– Oi, Sebastian - Ela indicou a cadeira da escrivaninha. - Senta aí­.

– Tecnicamente, ainda é de tarde - comentou Simon pensativamente, enquanto Sebastian se jogava na cadeira. - Então, você não teria como estar interrompendo a noite do pijama de ninguém.

Sebastian encarou-o como se ele fosse um inseto rastejando sobre sua perna antes de voltar a atenção para Clary.

– Jace sabe que você traz outros meninos para a sua cama? - perguntou a ela.

Simon engasgou com o bolinho. Clary demorou alguns instantes para processar as palavras, então riu.

– Simon não conta, eu acho.

– Ei!

– Ah, vamos lá - Ela cutucou o amigo. - Você entendeu o que eu quis dizer. Você é tipo, sei lá, meu irmão.

O queixo de Sebastian enrijeceu.

– Irmãos tipo Game of Thrones? - Ele disparou, antes que conseguisse evitar.

Havia alguma coisa de Luke na forma de Clary de tentar agir como se fosse uma brincadeira, mais do que havia de Valentim em qualquer ação dela.

– Meu Deus, não - Ela soltou um riso obviamente forçado. – Só irmãos, Seb. Que nem eu e você.

Sebastian ficou sinceramente tocado pela mentira descarada. Não sobre ela e Simon - ele sabia que Clary só tinha olhos para Jace -, mas sobre ela ter a mesma relação com os dois meninos presentes.

Não me chame de Seb - retrucou automaticamente. Em seguida, olhou para Simon, que havia se sentado, e abriu um sorriso que pingava veneno. - Sabe, acho que, depois dessa, você devia desistir dessa ideia de comer a minha irmã, Lewis.

Simon pareceu apenas vagamente ofendido, talvez porque aquilo era de se esperar, vindo de Sebastian. Foi o semblante de Clary que se fechou, e também foi ela que se pronunciou em defesa do amigo:

– Sebastian, pare com isso.

– Com o quê? - rebateu Sebastian. - Só estou tentando proteger a sua honra e a dignidade dele, irmãzinha.

Não me chame de irmãzinha.

Eles se encararam. Mesmo quando estava com raiva, Clary não se parecia com o pai; a teimosia em seu rosto era claramente uma herança de Jocelyn.

Aquilo poderia ter gerado uma discussão, se Luke não tivesse chamado a enteada, lá do andar de baixo. Clary lançou um último olhar irritado para o irmão antes de se levantar.

– Volto em um minuto - disse para Simon, correndo os dedos levemente pelo cabelo dele.

Então, Clary saiu do quarto, deixando para trás Sebastian, Simon e um silêncio constrangedor.

Sebastian sentia o sangue ferver, em parte por frustração, em parte por vergonha, mas principalmente por inveja daquele último toque í­ntimo. Ele não pretendia dar ataque assim, ele não pretendia irritar Clary, e, na maior parte do tempo, ele não pretendia externar seus sentimentos reais. Mesmo assim, disse, fitando as próprias mãos:

– Você é que é irmão dela de verdade, sabe.

Ele pensou em como Valentim odiaria aquele tom vulnerável, magoado. Pelo menos isso ele tinha em comum com o pai.

– O que você quer dizer? - perguntou Simon cautelosamente. Sebastian ergueu o queixo ao encará-lo, impassí­vel. Apenas sua voz o denunciava.

– Você cresceu com ela. Você tem uma ligação com ela que eu nunca vou conseguir alcançar - Seus lábios se retorceram, e ele engoliu em seco. - Nos desenhos que fazia da família, ela sempre desenhava você. Sabia disso?

Simon piscou, perplexo.

– Ela desenhava você, também - Ele se apressou em acrescentar. Aparentemente, ele era como Luke: não importava quão detestável Sebastian fosse, ele se recusava a agir do mesmo jeito. - Eu lembro. Eu sempre perguntava a ela quem era.

Sebastian sabia que era verdade. E também sabia que a resposta nunca era só "meu irmão”, porque as coisas nunca eram tão simples assim. Ele deu de ombros, tentando parecer indiferente.

– Em alguns desenhos, talvez. Mas você estava em todos - Por algum motivo, parecia importante frisar aquilo. - Que diabos, Lewis, você também sabe do que eu estou falando. É você... - As palavras custaram a sair, e dessa vez a expressão neutra se desfez, revelando a raiva e a mágoa por trás. – É você quem ela ama como a um irmão. Não eu.

Simon apenas sacudiu a cabeça, parecendo confuso. Sebastian se levantou bruscamente. Ele lembrou que, por muito tempo, Simon se sentira incomodado com aquele amor fraterno, por querer algo mais. Era tão injusto. Ele não conseguia ver que, no fundo, o tipo de amor não importava? Todos eram a mesma coisa, no final. E qualquer tipo de amor era melhor do que amor nenhum.

Sebastian parou a poucos passos da porta, e, sem se virar, completou:

– E você deveria ficar feliz com isso, Lewis. Realmente deveria.

Ele saiu do quarto e desceu as escadas antes que Simon tivesse tempo de responder.


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Notas finais do capítulo

Então?
O próximo capítulo pode demorar mais, se não por questões de tempo, por questões emocionais - o próximo é o da Jocelyn, então a carga emocional é um pouquinho maior e um tanto mais complexa, e posso levar mais tempo para desenvolver. Por favor, peço encarecidamente que me digam se eu tiver deixado passar algum erro, porque eu só estou podendo escrever pelo celular e, mesmo revisando, algumas coisas podem ter me escapado. Até!



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