As Crônicas dos Três Reinos: Ciandail escrita por JojoKaestle


Capítulo 35
Cristais e espelhos




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"Guerra é uma coisa feia. Eu sabia disso agora, com ela pesando nos meus ombros. Me fazendo desviar o olhar das crianças caídas na rua. Havia uma meia ensanguentada pequena demais para caber em qualquer criança que aprendera a andar pisoteada no chão coberto de lama. Devíamos ter sido mais rápidos. Disse mais para mim mesma que para Thomas. Ele não ouvia. Ele, diferente de mim, precisava olhar. Sua mão de espada tremia e podia sentir o ódio se alastrando pela sua mente. Nunca tivera que repelir um ataque à sua casa. Agora cada guerreiro que entrava no seu caminho provava um pouco da sua ira. Levaria um tempo para que pudesse se recuperar daquilo, pensei, estudando seu rosto com preocupação. Não acabou ainda. Ele disse finalmente e era verdade. Os últimos barcos tentavam deixar a baía, apenas para encontrar seu caminho bloqueado. Coran havia conseguido seguir o seu plano e agora seu triunfo serviria a morte do inimigo. Seria um massacre. E a morte cantou noite adentro." 

Lyvlin morreria diversas vezes ao longo da sua vida. O sabia, de certa maneira. Morrer para ela sempre pareceu fácil, um alívio para quem agonizara por semanas em uma cama. Acompanhara alguns enterros no seu vilarejo muitos anos atrás, mesmo que Gilbert se sentisse desconfortável com a garotinha ouvindo atentamente às palavras de despedida confiadas aos mortos. Enquanto observava os corpos embalados com cuidado em sacos de linho sendo colocados nas valas, Lyvlin se perguntara como deveria ser morrer, se era como dormir e nunca mais acordar. No norte, despejavam pedras por cima dos cadáveres antes de fechar os buracos na terra fria, para que lobos e outros animais não perturbassem seu descanso. No enterro do velho padeiro, avô de Ezra, Lyv perguntou ao amigo se não ficaria com frio lá embaixo.

— Um manto de neve. - Ezra sussurrara para ela, os respingos de dourado em seus olhos castanhos brilhando com as lágrimas que caíam em seu rosto - Há maneiras piores de descansar.

Ezra, claro, lhe explicou no tom de quem era poucos anos mais velho e por causa disso possuía toda a sabedoria do mundo, que seu avô não ficaria na vala para sempre. Sua alma desceria aos salões de Mavra, a deusa da morte, para depois seguir aonde fosse chamada. Não parecia grande coisa, Lyvlin pensara, e os salões de uma deusa deveriam ser melhores que o frio eterno.

Era apenas uma das maneiras de encarar a morte que era celebrada de maneiras diferentes no norte e no sul. Sabia que em Rattra enterros costumavam ser grandes cortejos banhados de cor e luz, para que o morto chegasse aos salões de Mavra com o coração leve e espírito pleno. Vira longas vigílias acontecendo no Monte do Rei em memória de pessoas que haviam partido, horas dedicadas a lembranças boas e que faziam Lyvlin pensar se aquela cerimônia não era mais para os vivos que para os mortos. Um longo e doloroso adeus. Mas uma vez que passasse, Raoul lhe explicara, não se falaria mais na morte daquela pessoa que seria mantida viva nas conversas como se tivesse viajado para longe sem navio ou cavalo para voltar.

A morte sempre andava de mãos dadas com a vida e para morrer bastava respirar. Lyvlin levou a mão trêmula ao ferimento em sua garganta, numa tentativa de manter o sangue em seu corpo. Seu coração pulsava aceleradamente em seu peito, apavorado com o que se aproximava. Forçou-se a ficar calma, sentindo o gosto de sangue em sua boca até ter que cuspi-lo para respirar. Tudo doía e nada a machucava mais. Estava morrendo.

A primeira coisa que pensou era que morreria tão longe de casa. Tão longe das terras frias e ermas de Faolmagh, longe de algo que lhe fosse familiar. Abriu os olhos e encarou o céu. O mundo amanhecia ao seu redor. Ouviu pássaros cantarolando em algum arbusto próximo, como se nada estivesse errado, mas o som se tornava mais abafado, como se alguém lhe tapasse os ouvidos. Esticou os dedos sobre a terra porque precisava se segurar a algo e percebeu que deveria ter chovido naquela região durante a noite. E então se deu conta de que era seu sangue que encharcava a grama rala. Se engasgou, tentou ficar de lado para liberar a sua garganta, mas o esforço fez a paisagem escurecer perigosamente. Sentiu-se afogando ou talvez estivesse sufocando, cada respiração se tornando mais curta e dolorosa que a anterior. Desejou que alguém segurasse a sua mão, não queria morrer sozinha. Um falcão voava acima dela, fazendo círculos cada vez menores até despencar do céu num mergulho afiado. Estava caçando. Vida estava acontecendo. A imagem da ave de rapina se tornou embaçada através do véu de lágrimas em seus olhos e os dedos de Lyvlin finalmente relaxaram.

—x-x-x-

Morrer foi fácil. Mais tarde, Lyvlin se lembraria do momento como o fim dos espetáculos para os nobres que eram apresentados no Monte do Rei. Tudo se tornava mais baixo e mais escuro, até as cortinas azuis se fecharem vagarosamente. Mas sem aplausos dessa vez. Morreu abraçada a solidão, encolhida como um bebê desejando voltar para o ventre da mãe. Por um tempo nada aconteceu, apenas escuridão e silêncio. E então tudo mudou.

Estava em uma caverna iluminada por pequenos pontos que refletiam uma luz azulada, banhando a cavidade rochosa em uma aura misteriosa. Quando Lyvlin chegou mais perto, viu que se tratavam de cristais que floresciam das paredes. Vagalumes em uma noite escura. Revirou-se, erguendo os olhos para o alto. A caverna era alta como um salão, os cristais cobrindo a rocha o suficiente para se sentir encarando o firmamento salpicado de estrelas. A garota sentia que se não prestasse atenção seus pés deixariam o apoio firme do chão debaixo dela e flutuaria para sempre entre os cristais. No lugar disso tocou o corte em sua garganta dilacerada, tentando se lembrar de como havia parado ali. Se lembrar do que acontecera era como tatear através de uma neblina espessa procurando luz sabendo que o sol estava acima de sua cabeça, totalmente encoberto.

— Cecile me matou. - sua própria voz a assustou, ricocheteando nas paredes de pedra. Sua testa se franzia com o esforço de agarrar suas lembranças - Ela dilacerou a minha garganta e me deixou sozinha para sangrar.

Tocou o lugar onde a sua faca de caça rasgara sua pele, mas não sentiu nada. Havia sonhado? Olhou ao redor, encontrando um túnel que parecia descer para onde quer que fosse. Não estava gostando da sensação que a caverna lhe dava, fazendo-a esquecer coisas que eram importantes. Começou a andar em direção ao túnel, cada passo a tornava mais leve e se pegou pensando se não era melhor pairar em vez de andar.

— Cecile me matou. - repetiu, um pouco mais alto - Ela dilacerou a minha garganta  e me deixou sozinha para sangrar.

A pressão em sua cabeça se tornou maior a cada palavra proferida.

— Talvez seria melhor deixar isso pra lá. - sugeriu uma voz diante dela e quando Lyvlin ergueu os olhos uma criança vestida de branco a esperava na entrada do túnel. Sua pele era escura e os cabelos encaracolados, os olhos grandes e expressão reprovadora. Fez um gesto mostrando o caminho que seguiriam - Bem-vinda Lyvlin Tessart. - Lyv precisou de alguns segundos para se reconhecer naquele nome - Você morreu. - disse a criança lentamente - Não se alarme, acontece nas melhores famílias. E em breve não se lembrará da sua.

Lyvlin levou a mão à bainha, puxando uma espada que não lhe era familiar e a apontando para o nariz da criança.

— Não vou a lugar algum. - avisou num desafio.

A criança a olhou com tédio nos olhos. Então seus dedos pequenos envolveram a lâmina da espada, que se esfarelou no seu toque.

— Por favor evite ameaçar os guias. - falou num tom monótono - Com armas ou palavras, porque ambas podem machucar. - pareceu se lembrar de algo no último instante - Não a mim porque não tenho sentimentos, mas o ensinamento persiste. Por favor, me siga.

Lyvlin não se moveu, deixando a criança andar na frente até perceber que não estava sendo seguida.

— Por que não está me seguindo? - fez a pergunta como se não se importasse com a resposta.

— Onde estou? - Lyvlin quis saber.

A criança se aproximou dela e tirou algo de suas vestes, estendendo-o para Lyvlin. Quando tocou o pergaminho teve medo de que se desfizesse no calor dos seus dedos.

— Aí está tudo que precisa saber. - parecia orgulhosa de seu papel - Você sabe ler, imagino?

— Claro que sei ler! - Lyvlin respondeu com raiva e abriu o pergaminho. Não precisaria se dar o esforço de ler perto de um dos cristais luminosos porque a tinta com que fora escrito cintilava diante dos seus olhos.

A criança fechou a mão sobre a blusa de Lyvlin e a arrastou atrás de si enquanto a garota enfiava o nariz no pergaminho, lendo o que parecia ser uma lista de perguntas frequentes. Lá estava escrito em letras grandes e bem desenhadas:

Bem-vindo aos salões de Mavra (seguia-se um desenho dos túneis cobertos de cristais e crianças felizes guiando pessoas através deles) Algumas considerações:

— Você está morto.

— Isto NÃO é reversível. Por favor não insista. Tesouros e poder terreno não nos interessa.

— Andar através dos túneis aos poucos o livrará de pensamentos e lembranças de uma vida que não é mais. Isso é para seu bem e não deve ser combatido.

— Cecile me matou. - Lyvlin disse quando leu aquela frase - Ela dilacerou a minha garganta e me deixou sozinha para sangrar.

— Se prender a mágoas terrenas não lhe fará bem aqui. - a criança disse reprovando de soslaio.

— Ela me matou! - retrucou indignada - Eu não estou magoada, estou morta!

— Sim sim, agora por favor leia o restante do contrato. Não quero ouvir sua voz por alguns segundos. Me dá dor de cabeça.

Lyvlin abriu a boca e então a fechou antes de falar mais alguma coisa. Voltou sua atenção para o pergaminho em suas mãos, onde a lista interminável continuava.

— Quando chegar a câmera principal e encontrar Mavra, sua mente deve estar livre de lembranças e pronta para aceitar a morte, como deve ser.

— Mavra revelará o destino da sua alma, que depende em parte do tratamento dado aos seus guias como também da pureza da sua força vital. (a frase a seguir parecia ter sido escrita depois de todo o restante da lista) Mas a maior parte se deve a como você trata seus guias mesmo.

— Isso é besteira - Lyvlin ergueu o olhar do pergaminho - Você inventou a última parte.

A criança simplesmente deu de ombros.

Lyvlin correu os olhos pelo restante da lista. Havia menção a um lago que parecia especial de alguma forma. Mais regras de como não se devia ameaçar os guias e como eram filhos de Mavra e dessa forma, deveriam ser respeitados como tal.

— Eu não sabia que a morte tinha filhos. - Lyvlin disse, mais para si mesma. E então, mais baixinho - Cecile me matou. Ela dilacerou a minha garganta e me deixou sozinha para sangrar.

— Ah, ela tem uma ninhada inteira. - a criança retrucou levianamente sem parar de andar - Uma para cada pessoa viva. Ou melhor, uma para cada alma. Levamos a alma até Mavra e então esperamos até ela morrer novamente. O tempo entre suas vidas e mortes é meu descanso. - e então a encarou ofendida - Eu planejava descansar por mais algumas décadas. Estou decepcionada.

Lyvlin a ignorou, enrolando o pergaminho e o oferecendo de volta.

— E eu planejava viver.

— Não vai ler o resto?

— Pra quê? Prefiro me surpreender. - na verdade estava se sentindo cada vez mais triste. Havia chegado ao fim e tinha tantas coisas que queria fazer ainda. Coisas bobas como rir com pessoas que faziam seu coração mais leve, descobrir mais sobre sua magia. Construir uma família. O pensamento lhe pareceu tão estranho que a fez pensar que os túneis finalmente a estavam dobrando. E então levou a mão ao ombro, onde Vaus a marcara e arregalou os olhos. Como poderia ter demorado tanto para lembrar disso?

— Eu não posso morrer. - sussurrou apavorada e parou de andar, se desvencilhando do aperto da criança.

— Não essa besteira megalomaníaca de novo. Todos morrem.

— Não posso morrer! - Lyvlin repetiu, o pânico trazendo todas as lembranças de volta - Sou a linair de Vaus, se eu morrer ele receberá seu poder de volta! - se encolheu por um segundo, depois andou para cima e para baixo, olhando ao redor. Procurando sombras nas paredes - Ele está aqui?! Ele já sabe?

O pensamento fez o nó em sua garganta apertar.

— Ela sabia disso! Como pôde me matar - encarou a criança e girou nos calcanhares - Eu não posso ficar, não posso! - e então pensou em Raoul e em como cairia em uma armadilha. Em como a força de Kwasir superava a da comitiva em quatro para um.

— Lyvlin... - a criança começou, mas Lyvlin já estava correndo. Não sabia bem para onde, apenas para longe de onde a guia queria levá-la e para mais perto dos amigos. Havia dado talvez quinze passos até pedras cobertas de cristais lhe barrarem o caminho.

— Eu não posso ficar! - Lyvlin gritou para a criança que a seguira calmamente. Sentia lágrimas se formando em seus olhos e ameaçando escorregar pelas suas bochechas - Você não entende! Não por mim, pelos outros! - e então se forçou a se manter no caminho que era esperado de uma linair - O que Vaus vai fazer -

— Não é da sua conta, Lyvlin. - a voz da criança se tornara quase gentil - Não é da minha conta. O mundo dos vivos não se mistura com o dos mortos. Não há nada que possamos fazer.

— Por favor! - Lyvlin implorou - Era minha responsabilidade -

— O que era sua responsabilidade?! - a criança imitou em voz afetada - Destruir Vaus quando estivesse forte o suficiente?!

Lyvlin estava confusa.

— Eu não sei, talvez! - insistiu, sem força.

— Não seja ridícula, Lyvlin. Você nem ao menos conseguiu manter-se viva contra alguém que já estava com um pé aqui. - a acusação fervia em sua voz  - O que você vai fazer contra um deus?

— Não sei ainda, me ajude e podemos descobrir. - sabia que gastava sua energia para nada. A expressão no rosto da criança se suavizou.

Segurou a mão de Lyvlin e começou a andar na direção que as levaria até a deusa da morte.

— Já te levei por esse caminho muitas vezes. - falou finalmente - Você não lembra, mas eu sim. Faço um jogo comigo mesma. Será que vai me ameaçar com uma espada dessa vez? Ou vai implorar com lágrimas nos olhos para que lhe dê mais tempo? Dessa vez eu perdi, porque você fez as duas coisas. - o túnel de repente se abriu numa câmera rochosa alta onde um lago cristalino deitava-se em seu leito. Como as rochas dezenas de metros acima, o fundo do lago era coberto pelos pequenos cristais. Lyvlin podia ver uma espécie de ilha no horizonte.

— Posso levá-la até Mavra. - a criança disse, soltando a mão de Lyvlin - É o melhor que posso fazer.

Pingos de água caíam do teto da caverna, tamborilando sobre o espelho d'água suavemente. Criava ondulações que se alastravam pela superfície em direção ao centro do lago, onde a pequena ilha se levantava das águas. Algo ali chamava por Lyvlin murmurando palavras conhecidas, convidando-a para se aproximar.

— O que é isso? - quis saber, tinha que fazer muito esforço para se lembrar de quem era agora. Sentia-se escapando entre seus próprios dedos.

A criança se agachara na beira do lago e olhava para seu reflexo, sem responder.

Lyvlin se abaixou ao seu lado, encarando o leito cristalino até se sentir cansada. Havia pequenas pedras no fundo cuja imagem tremeluzia com o movimento da água. Estava prestes a reclamar de tédio quando um feixe de luz cortou a água diante dos seus olhos, dançando como um cardume que fugia de um predador. Quando olhou melhor, reconheceu rostos na superfície.  

— Aza'Haya. - a criança lhe explicou, como se aquilo estivesse óbvio - O espelho da vida. É aqui que tudo que você foi está guardado. - com um toque gentil apagou a imagem de uma garota ruiva que se desenhava na água, sorrindo um sorriso banguelo. Talvez fosse Lyvlin.

— Eu te observo daqui. - a criança continuou e depois tratou de acrescentar - só as partes importantes. Odiei te ver morrendo tão cedo. Ninguém esperava que uma linair morresse tão pateticamente.

Aquilo fez Lyvlin se sentir com raiva, mas era uma raiva que não conseguia determinar de onde vinha.

— Desculpe se não foi muito empolgante de assistir. Sentir foi ainda pior. - garantiu e então a frase surgiu em sua mente de novo - Cecile -

A criança revirou os olhos.

— Vamos logo, em breve não se lembrará do próprio nome. - e então pisou no lago como se fosse uma continuação do chão em que estavam. E simplesmente foi andando na frente, tornando-se menor à medida que se afastava. Olhou para trás e fez um gesto impaciente para que Lyvlin se apressasse.

— Vou afundar. - balbuciou encarando o fundo do lago com desconfiança. Um risco de lembranças passou correndo por ela desabrochando na água, como se achasse graça.

— Você está morta. - veio a voz da criança lá da frente - Vamos logo!

Teve medo da água simplesmente se abrir ao seu redor e que caísse  como alguma forma de piada. Encontrar a deusa da morte ensopada não estava em seus planos. O lago não cedeu embaixo dos seus pés. No lugar disso sentiu que andava sobre uma poça extraordinariamente grande, molhando a sola dos pés na água em que tudo que ela fora nadava sem lhe dar atenção. Sentiu-se com pouca importância, tentada a afrouxar os punhos e deixar quem ela era partir. O som abafado de gargalhadas a fez olhar para baixo. Lá estava ela (teve certeza porque Ezra também estava naquela memória). Correndo de pés descalços com um pedaço de galho na mão, perseguindo o garoto com pernas longas que corria muito na frente, segurando a barriga de tanto rir. Aquilo lhe daria câimbras, Lyvlin se lembrou bem a tempo de Ezra parar e colocar as mãos nos joelhos.

Ergueu os olhos daquela cena e se sentiu desolada. Apressou o passo para alcançar a criança, evitando encarar o lago o máximo que podia. Mas as memórias continuavam passando. Risos, gritos e choros, palavras sussurradas em segredo. Uma confusão de sons que pareciam cada vez mais distantes para Lyvlin. Quando a alcançou, a criança estava encarando os próprios pés, onde uma cena muito diferente se alastrava pelo espelho. Balançava a cabeça negativamente, o que fez Lyvlin se aproximar com curiosidade. O que poderia ser ainda mais desconcertante que morrer sozinha?

Uma grande escadaria branca era formada pelos feixes de memória e com um lampejo Lyvlin soube que se tratava dos longos degraus que levavam ao Monte do Rei. Darian estava em pé sobre eles, espadas em punho, gritando ordens e afastando um atacante com um empurrão. Viu medo e determinação flamejarem em seus olhos. Até uma outra figura surgir ao seu lado. O borrão da lâmina brilhou por um instante e então foi enfiada no príncipe com força. Quando a figura torceu a espada no interior do príncipe, Lyvlin sentiu suas próprias mãos encharcadas de sangue. Se esquentando no calor do seu corpo. A Lyvlin que observava estreitou os olhos enquanto a assassina de Darian removia Arcturus com um movimento bruto, deixando o príncipe cair de joelhos.

— Isso está errado. - se pegou dizendo, incapaz de afastar os olhos da lembrança que não lhe pertencia. Uma flecha se cravara no peito da Lyvlin do lago, sendo logo acompanhada por mais uma. E outra. A imagem se dissolveu.

Lyvlin desviou os olhos para a criança.

— Está errado. - repetiu - Isso não aconteceu.

 Tinha certeza.

— O espelho abriga memórias que foram e coisas que poderiam ser. - a criança lhe explicou - Do contrário seria bem pequeno, não? - não esperou uma resposta - Se iria acontecer ou não, pouco importa.

 - Importa. - Lyvlin lhe assegurou - Não pretendo ficar aqui e não posso voltar sabendo que matarei um amigo.

Aquilo fez a criança rir.

— Olhe para você, falando sobre não ficar. Sobre voltar. Você não sabe o que está pedindo.

— Matarei Darian? - a névoa em sua mente se dissipara. Apressou o passo quando a criança começou a se afastar novamente - O matarei?

— Posso continuar perguntando pelo resto da eternidade. - lembrou à criança.

— Não matará porque você está morta. - ela respondeu finalmente.

— Mas se eu voltar?

— Você não vai voltar.

— Mas e se eu voltasse? - parou porque a criança dera meia volta e a encarava como se avaliasse se estaria com muitos problemas se destruísse sua alma antes de Mavra vê-la. Deve ter se decidido pelo sim, porque deu um suspiro derrotado.

— Não sei. Os murmúrios no espelho se formam de palavras ditas no mundo dos vivos. Aquela visão estava bastante clara, você a viu também, não é? Significa que muitas pessoas acreditam que vá se tornar realidade. Algumas delas podem até saber que se tornará realidade.

 Lyvlin parou por alguns segundos.

— As videntes do povo de Wodan. - fazia sentido. A queriam perto porque tinham visto a ruína que causaria no seu inimigo. A queriam por perto porque haviam visto a morte de Darian sobre ela. Seus punhos finalmente se afrouxaram - Cecile sabia. - talvez ouvira sobre a profecia enquanto fora torturada ou juntara as peças sozinha - Ela me matou para protegê-lo. Eu era a ameaça.

— A vida de uma linair de Vaus pela de um príncipe. - a criança balançou a cabeça e recomeçou a andar - Quase merecem o que está por vir.

— Eu não posso deixar isso acontecer. - Lyvlin repetiu - Vaus não vai vencer, seja qual for seu plano. É minha responsabilidade.

O rosto da criança se fixou em um sorriso por alguns segundos.

— Parece bastante convencida disso. Se tivesse essa convicção enquanto vivia talvez as coisas teriam sido diferentes. 

Lyvlin permaneceu em silêncio pelo restante do caminho até a pequena ilha. Seus pensamentos eram uma confusão de perguntas, sentia-se como ela mesma. O véu que tentava reprimir suas lembranças havia caído e quando pisou na elevação de rocha que se erguia no meio do espelho podia estar explorando uma caverna qualquer. Os pequenos cristais luminosos cobriam as pedras debaixo dos seus pés, jogando luz e sombra sobre seu rosto. Seguiu a criança até o meio do lugar e de repente teve dúvidas.

— Quantas vezes pedem mais tempo para Mavra? - quis saber de soslaio.

A criança estava acocorada, brincando com um cristal especialmente grande que brotava do chão.

— O tempo inteiro.

— E quantas vezes conseguiram o que queriam?

Se levantou, dando sua atenção a Lyvlin.

— Duas vezes desde o começo de tudo. - e então se ajoelhou diante de Lyvlin, abaixando a cabeça.

A garota franziu o cenho.

— Você não precisa fazer isso. Sou só eu, Lyvlin.

— Sua estúpida. - a criança sibilou sem erguer o olhar - Ela está aqui.

— Você lembra do seu nome. - uma voz a alcançou de todos os lugares. E quando Lyvlin se virou viu a senhora da morte pela primeira vez.

Podia ter visto aquele rosto milhares de vezes sem perceber. Mavra se mostrava uma jovem sem qualquer característica que a tornasse inesquecível. Seu cabelo era curto e tinha o tom de marrom de ratos do campo. Os olhos a encaravam com curiosidade e na luz dos cristais eram da cor mais entediante de azul que Lyvlin já vira. Tentou não parecer muito decepcionada.

— Sim. Sou Lyvlin. - conseguiu balbuciar. Não podia esperar para contar a Ezra que a morte poderia ser qualquer garota que já havia visto. Ou todas elas.

Mavra usava um vestido de pano fino que não havia sido tingido e por isso permanecia no tom cru do linho. Era muito magra e passou por Lyvlin, saltando de pedra em pedra até parar diante da criança ajoelhada. Colocou os braços atrás das costas e se inclinou sobre ela, murmurando palavras que Lyvlin não ouviu. A criança assentiu, erguendo o rosto para Lyvlin em dúvida.

— Nos veremos de novo. - disse em despedida e então andou em direção ao caminho que haviam feito juntas. Lyvlin a observou se afastar com uma sensação ruim se espalhando dentro de si. Não queria ficar sozinha com a morte.

— Uma das melhores. - Mavra comentou dando de ombros - Você leu o pergaminho?

— Sim.

— Ah - pareceu aliviada - Bom, isso nos poupa algum tempo. 

— Sobre isso -

— Eu estive me perguntando - sua voz era suave e melodiosa -  como conseguiu permanecer você depois de andar sobre Aza'Haya?

— Ainda não terminei. - Lyvlin respondeu teimosa e aquilo fez Mavra se calar por um tempo.  

— Sente-se comigo. - ela convidou, deitando-se sobre as pedras e cruzando os braços atrás da cabeça. Encarou o teto da caverna - É exaustivo permanecer nessa forma. Mas humanos parecem ficar mais confortáveis assim. A idéia de que a morte está em todos os lugares os deixa inquietos. Então estou aqui com você, Lyvlin Tessart. Sente-se comigo. - ordenou em tom leve.

O fez, hesitante.

— O que você não terminou ainda? - a deusa perguntou, ainda que já soubesse a resposta. Tinha que saber.

— Eu sou uma linair. - Lyvlin sentia que estava sendo testada.

— Sim. O olhar petulante te entregou. - não falou aquilo como se fosse algo ruim - Ali. - apontou para um grupo de cristais no canto esquerdo do teto - A constelação de Alzir.  

— A linair de Vaus. - correu os olhos pelos cristais que a deusa apontava e continuou - Eu não posso ficar aqui.

Mavra não parecia ter ouvido.

— Não é uma constelação no mundo dos vivos. Faz parte da minha casa. Imagino que seja a sua agora também.

— Deixe-me ir. - Lyvlin disse - Estou com pressa.

— Vocês humanos sempre estão com pressa.

Lyvlin se levantou.

— Por favor, eu tenho que ir. Se Vaus -

— Esse não é um nome que é bem-vindo aqui. - Mavra avisou, mas não se levantou - E pare de fingir que esse é o motivo pelo qual quer sair do meu reino que tão bem te acolheu.

— É, também. É meu dever. - insistiu teimosamente.

— E não tem nada a ver com seus amigos caindo em uma armadilha que você não pode mais impedir? - Mavra ergueu os olhos para ela - Não sou tão alheia ao mundo dos vivos, Lyvlin. Não me insulte com suas mentiras. Você é a linair de Vaus, isso é verdade. Talvez a única. Mas no fundo não é isso que te deixa inquieta aqui. O destino dos seus amigos paira na sua mente como um pesadelo maior que a imagem daquele ser desprezível recebendo todo seu poder de volta. Isso é inadmissível e te torna a pior linair que já vi. - falava aquelas palavras de maneira quase entediada - E eu vi todos.

Se era possível corar estando morta Lyvlin não sabia, mas suas bochechas ardiam furiosamente.

— Vai me deixar partir? - conseguiu dizer, sentia lágrimas se formando em seus olhos. Mavra estava certa. Ela queria ajudar Raoul e os outros. Tinha que avisá-los. Cecile não sabia que os batedores de Kwasir já haviam farejado os rastros da comitiva, tampouco que se preparavam para partir em seu encalço. O medo de Vaus e do que faria com todo seu poder era grande, mas perto da idéia de seus amigos sendo pegos de surpresa por um ataque perdia sua força.

— Não. Que você tenha a coragem de me pedir me deixa intrigada. - balançava um pé no ar, fazendo círculos preguiçosos com a ponta dos dedos.

Lyvlin abaixou-se ao seu lado para ter certeza de que ouviria o que tinha a dizer.

— Eu não me importo com o que você pensa de mim. - disse com as lágrimas de raiva rolando pelo seu rosto - Acredite, eu sei o que é ser uma linair de Vaus. - teve certeza de deixar o nome ecoar pela caverna - Ele marcou, me perseguiu, mandou seus lacaios atrás de mim. Me cortou, dilacerou, esmagou. Eu não poderia esquecer disso nem se tentasse. E tudo que suas ações fizeram foi me deixar com raiva. - e apavorada, mas morreria dez vezes antes de admitir aquilo - Pelos meus amigos ou para garantir que Vaus não tenha seus poderes à sua disposição, não importa. As duas coisas começam comigo. Deixe-me voltar.

Mavra surgiu ao seu lado e pousou a mão em seu ombro. E imediatamente a tirou como se tivesse se queimado. Tocara a marca de Vaus.

— Dói. - sussurrou mais para ela mesma que para Lyvlin - Mas você está errada. Importa sim. É a única coisa que importa na vida de um linair. Não posso te deixar ir. Seus amigos e o resto do mundo vão ter que aprender a se virarem sem você. - suspirou, como se apenas agora entendesse a dimensão que aquilo tinha - Todos vão ter que se acostumar a um mundo em que você não existe.

— Não há nada que eu possa fazer? - Lyvlin quis saber - Eu faria qualquer coisa.

— Por mais tentadora que seja sua oferta, receio que a resposta ainda seja não. - Mavra a encarou com olhos pesados - Há regras. Nem todas criadas por mim. Sinto muito.

— Então não há nada a fazer. - Lyvlin sentou-se, abraçando as pernas.

— Há coisas boas aqui. - Mavra a lembrou - Você não ficará para sempre nessa caverna. Essa é apenas a parte do meu reino que diz respeito a quem você era. O que você será daqui para frente é um livro em branco.

Lyvlin não tinha nada a dizer. Estava pensando. Talvez conseguisse convencer Mavra se usasse as palavras corretas. Se fosse pelo caminho que a levaria até algo com o que a deusa se importava, ela teria que agir.

— Poderia ver sua mãe de novo.

Aquilo a fez erguer a cabeça.

— Minha mãe? - repetiu, a palavra lhe soando estranha sobre a língua. Não havia pensado nisso.

Mavra assentiu.

— Ela não está longe.

Layil não estava longe. Pela primeira vez desde que chegara sentiu o conflito envolver sua mente. Queria vê-la. Queria abraçá-la.

— Ainda não. - disse finalmente - Tenho coisas para fazer antes.

Se a visse agora apenas a decepcionaria. Teria que alcançar coisas que a fizessem olhar para Layil de igual para igual. Estava pensando em como fazer isso dos salões da morte quando ouviu o barulho.

Começou com um som distante que se aproximava muito rapidamente. O som de centenas de aves alçando vôo de uma vez. E então viu uma pequena faísca de luz se aproximar pelo túnel, iluminando tudo ao seu redor e deixando sombras por onde passava. Os cristais agora eram  brasas cansadas diante da lua. Lyvlin ergueu-se de sobressalto quando a esfera varreu sobre o espelho de memórias, fazendo ondas baterem contra a ilha. Olhou assustada para Mavra, que permanecia impassível. A faísca de luz se tornou maior e maior, até machucar os olhos de Lyvlin com sua intensidade. Usou a mão direita para se proteger, erguendo-a diante da sua vista. Quando a intensidade da luz diminuiu novamente, sentiu que era seguro abaixar os dedos e quando os tirou diante dos seus olhos viu a mulher mais bonita que deveria ter existido.

Sentiu que tudo ficaria bem agora. A sua pele era escura como a de Desmera e como sua amiga, longos cabelos brancos lhe caíam na cintura. Era radiante, como o vestido prateado que se arrastava pelo chão, deixando as pedras que tocava incandescentes. Seu rosto era redondo e seu corpo também, os cantos da boca levantados em um sorriso gentil. Quando seus olhos se encontraram Lyvlin foi tomada por uma sensação agradável no peito que se espalhou pelo restante do seu corpo em ondas suaves. Sentiu-se limpa de tudo que a havia machucado e maculado seu corpo. Pela primeira vez desde que a recebera, a marca de Vaus parou de doer. A agonia foi mergulhada em um torpor.

— Mavra, minha querida. - a recém-chegada se aproximou da deusa e lhe deu um abraço, tudo em um movimento fluido de dança - Não a vejo há tanto tempo!

Foi a primeira vez que viu a deusa da morte sorrir.

— Você não me visita com frequência e não sou bem-vinda lá em cima. - Mavra conseguiu dizer contra os seios da recém-chegada que finalmente a soltou.

— Isso não é verdade! Você sempre será bem-vinda à minha casa, recebeu os meus presentes de aniversário? Eu estive em seus salões e não os vi lá. - aquela última frase fora dita em tom ferido.

Mavra fez um gesto vago com os dedos, fingindo que Lyvlin não estava ali.

— Estão todos em um quarto onde coloco tudo que você me deu, não combinam muito com o restante da decoração. - e logo acrescentou - São belos demais. E a coruja é a grande atração entre os que esperam, a adoram e acredito que ela goste deles também.

Aquilo fez a deusa rir satisfeita. Tinha que ser uma deusa, Lyvlin pensou.

— É de uma das minhas melhores matriarcas . - falou deliciada. E então seu sorriso se desmanchou lentamente - Sinto muito ser tão rude e vir sem aviso, mas o momento é urgente.

Mavra olhou para Lyvlin.

— Você veio buscá-la. - e Lyvlin não sabia se em sua voz era pena ou reprovação.

— Não lhe pediria se não fosse crucial. - presenteou Lyvlin com um sorriso encorajador - Eu sou Sydril, é um prazer te conhecer pessoalmente, Lyvlin. Queria que fosse em circunstâncias melhores.

—Sydril, a deusa de Rattra? - imaginou que fosse a senhora de Laoviah. De repente se lembrou de como havia sido malcriada com a loba algumas vezes e torceu para que não tivesse passado aquilo adiante. Se queria tirá-la dali era tudo que importava para Lyvlin.

— Das terras de Rattra e de muitas outras coisas. Nenhuma delas importa agora. Só você. - a maneira como a olhava fez Lyvlin se sentir a pessoa mais especial do mundo. Sabia que aquilo deveria significar que as coisas estavam piores que imaginara. Estendeu uma mão para Lyvlin, convidando-a a se aproximar - Deixe-me olhar para você.

— Ela é fraca e não possui senso de prioridades. - Mavra começou a ralhar - Quer voltar para ajudar seus amigos. Amigos.

— Você fala como se isso fosse algo ruim. - Sydril não tirava o olhar de Lyvlin. Estudando, analisando - Todas as coisas boas construídas nesse mundo têm a amizade como fundamento. É sólida, capaz de suportar a pior das tempestades. O mais terrível dos pesadelos se torna suportável quando temos um amigo segurando a nossa mão. O calor de seu aperto se torna nosso alento. Me sentiria honrada de ter uma amiga que se prende tão teimosamente ao meu destino. - seus olhos castanhos se viraram para Mavra - Preciso da sua ajuda. As fronteiras foram violadas.

— Impossível.

— Os Esquecidos andam em minhas terras. Caçando, matando. Ele as mandou atrás de Lyvlin. Agnessa viu, ele estava com ela.

Mavra soltou um muxoxo.

— Agnessa diz muitas coisas. Ele é um enganador e um mentiroso.

— Um grupo de Nirnailas me atacou e sua solução foi correr para longe o mais rápido possível. - Lyvlin concordou, usando o nome que os humanos haviam dado ao seres de sombra cheios de garras - Ele pode ser um covarde, mas suas palavras foram verdadeiras.

— As fronteiras foram violadas. - Sydril repetiu em tom urgente - Você sabe o que aconteceu da última vez em que servos do meu irmão andaram livremente sobre a terra. Precisamos dela. Viva.

Mavra deu de ombros.

— Muito bem, mas ela deve saber o que isso significa. - e então se voltou para Lyvlin - Se voltar, não será mais uma pessoa livre.

— Eu já não sou uma pessoa livre. - Lyvlin a lembrou - Sou comandada pelo rei e pela Academia de Magia para onde bem quiserem. Estou acostumada. - não estava, mas diria qualquer coisa para sair dali.

— Essa ligação seria de uma natureza diferente. Uma deusa está interferindo pela sua vida. Você permanecerá em dívida com ela para sempre. - Mavra lhe explicou - Quando Sydril chamar, você virá correndo como um cachorrinho. Deixará tudo para trás. Sua casa, seus amigos. Tudo. Não é uma escolha e não poderá ser barganhada.

— Também não poderei dizer por quanto tempo precisarei da sua ajuda no que está por vir. - Sydril disse a Lyvlin e então segurou o seu rosto com carinho entre suas mãos. Estavam quentes e aconchegantes - O que lhe ofereço é um fardo pesado que não desejaria sobre nenhum dos meus filhos. Não vou lhe enganar, Lyvlin. Caso aceite, sua vida poderá mudar completamente e sem aviso.

— Eu aceito. - Lyvlin disse com firmeza - Eu aceito, só me deixe voltar e ajudá-los.

— Eu disse. - Mavra falou para Sydril - Tudo que dissemos provavelmente entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

— Minha vida pertence a Sydril. Quando ela falar, obedeço. - Lyvlin enumerou com pressa - Não é tão difícil. Vamos!

Mavra se virou para Sydril.

— Isso também lhe custará. - lembrou a deusa - Dolorosamente.

— Eu conheço o custo. 

As duas deusas se entreolharam por alguns segundos. Então Mavra suspirou, derrotada.

— Espero que valha a pena. - disse, aproximando-se de Lyvlin - Eu não quero ver você aqui tão cedo, pois a próxima vez será escrita na eternidade.  É uma ordem.

Lyvlin assentiu impaciente. Mavra lhe afastou os cabelos da testa e a beijou.

— Viva, Lyvlin Tessart. - mandou, sua voz ecoando pela caverna e se tornando mais alta - A morte te rejeita.


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Notas finais do capítulo

- volta meio ano depois como se nada tivesse acontecido -
Eu vou terminar essa história nem que tenha que arrancar palavra por palavra dessa minha cabeça oca. Sei que alguns erros de edição escaparam, mas estou na vibe de terminar tudo pra depois passar dois meses editando e reescrevendo sem parar. Espero postar mais um capítulo até o final do ano. Segurem na minha mão e não desistam de mim. Beijos!



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