" O tempo às vezes é alheio à nossa vontade, mas só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível. " 

Mansão da Família Ferreira/São Paulo

Pov Valéria

Entrei na minha casa sorrindo, observei cada canto do jardim e senti meus olhos se enxerem de lágrimas, logo minha mãe apareceu na porta corri até ela e a abracei fortemente, eu estava um pouco molhada e tremendo de frio, porém meu coração estava aquecido e feliz.

— Filha, que saudades, gente mais você está tão diferente, mais linda pessoalmente do que pelas fotos das revistas. – falou minha mãe feliz.

— Não sou tão bonita quanto você minha rainha. – sorri para ela, sempre achei minha mãe a mulher mais linda do mundo.

Entramos para dentro da mansão, era um orgulho para mim ver que meus pais não passavam nenhuma necessidade financeira, sempre fiz de tudo para ajuda-los em tudo, meu pai desceu as escadas praticamente correndo, ele não tinha mais idade para correr muito acelerado.

— Valéria! – gritou meu pai emocionado, senti meu coração acelerar mais forte só em escutar a sua voz emocionada, agora eu entendo tudo o que Jaime perdeu, ele não tem mais mãe nem pai, Jaime perdeu as duas pessoas mais importantes da vida de um ser humano. 

Meu pai me abraçou forte também, percebi que ele estava chorando, mais logo ele enxugou as lágrimas e bagunçou meus cabelos, meu pai sempre quis se fazer de durão, me sentei no sofá e conversei com ele, enquanto minha mãe ia as presas me preparar um chocolate quente, ela estava preocupada comigo, não queria que eu pegasse um resfriado.

— E então, você foi com o Jaime ao túmulo do seu Rafael? – meu pai perguntou meio triste, assenti com a cabeça, ele e Rafael eram amigos.

— O Rafael era um grande homem, assim com o Doutor Miguel, ambos não mereciam as mortes trágicas que tiveram, espero que você continue dando força ao Jaime e a Maria Joaquina. – meu pai falou triste, e pela primeira vez naquele dia senti a culpa tomar conta de mim.

Mansão Rabinovich/Nova York

— E ainda tem a coragem de ficar calado Davi? Vamos, admita que você é um traidor, admita! – ordenou Marian descontrolada.

Davi encarou Duda com um olhar desesperado, ele tinha acabado de perder as duas de uma vez só, o judeu até tentou enrolar a garota, mais Marian não era boba e sabia muito bem quando alguém estava mentindo.

— Eu já disse, você ouviu errado. – insistiu Davi, em resposta a garota gargalhou alto, ele ia continuar, porém Marian o interrompeu.

 - Chega de mentiras! Eu não sou idiota, vou contar tudo para a Maria Joaquina, ainda bem que ela não se casou! – pronunciou Marian brava.

— Por favor, não conta pra ela, eu dou tudo que você quiser, me diga Marian, quanto você quer em troca do seu silêncio? – perguntou Davi.

— Deixa de ser boba, pega o dinheiro e fica calada! – ordenou Duda suspirando, Marian o encarou indignada.

— Vocês dois são uns idiotas mesmo, eu JAMAIS trocaria a amizade da Maria por dinheiro! – disse a garota firme em sua decisão.

— Você realmente acha que se a minha noiva estivesse em seu lugar ela não trocaria? Ah por favor, a Maria Joaquina trocaria a sua amizade até por um par de sapatos novos, ela não te considera uma amiga, você é apenas um capacho. – falou Davi sorrindo maliciosamente.

Marian abaixou a cabeça levemente e encarou o chão, talvez tudo aquilo realmente fosse verdade, a patroa nunca lhe considerou uma amiga de verdade, apenas fingia que gostava dela, porém na frente dos outros Maria Joaquina a tratava como uma empregada qualquer.

— Tenho certeza que ela não trocaria nossa amizade por nada, você só está querendo me envenenar. – disse Marian tentando confiar na amiga

— Então me diga, se vocês são tão amigas assim porque ela escolheu a Valéria para ser a madrinha do casamento? Acorda Marian, você esteve ao lado dela todos esses anos, era você que deveria ser a madrinha, mais ela não quis porque tem vergonha de ser sua amiga. – falou Davi cínico.

— E você ainda vai deixar de conseguir uma boa grana por causa da sua patroa ingrata? – perguntou Duda encarando a garota.

A garota sentiu seus olhos encherem de lágrimas, não seria má ideia conseguir um bom dinheiro, assim ela poderia ir visitar a sua mãe biológica em paris, porém em troca ela abriria mão de sua única amiga, Marian levantou a cabeça e secou as lágrimas, a garota cruzou os braços.

— Eu quero 100.000 euros em troca do meu silêncio! – Marian falou firme, os dois ficaram boquiabertos.

Mansão da Família Ferreira/São Paulo

Valéria assistia TV tranquilamente junto com os pais, os três riam juntos felizes, ultimamente a vocalista tinha se esquecido de como era bom fazer isso, a verdade é que as melhores coisas da vida são as mais simples, puras e verdadeiras.

— E então filha está namorando alguém? – indagou Rosa levando uma cutucada de Ricardo, Valéria riu dos pais.

— Não estou namorando ninguém mãe! – respondeu a Ferreira rindo enquanto devorava um balde de pipocas.

— Pensei que você estava namorando o Jaime... – falou Ricardo confuso, a garota se engasgou com a pipoca.

— Eu e o Jaime? Juntos? Nada haver, isso nem passa pela minha cabeça, somos apenas bons amigos pai. – falou Valéria sorrindo.

Ricardo até perguntou se ele estava namorando com Paulo, afinal, todas as revistas de fofocas falavam da viagem que os dois fizeram juntos, Valéria negou tudo já que Paulo nem se lembra mais do que aconteceu.

— Bom eu vou indo, o Jonas acabou de me mandar uma mensagem falando que o Jaime quis ficar em um hotel, eu vou lá dormir com ele, não posso deixa-lo sozinho nesse momento. – falou Valéria determinada.

— Toma cuidado filha, eu estou de olho em você, gosto muito do Jaime mais ele tem que te respeitar, e também é pra casar logo de uma vez! – falou Ricardo autoritário.

Rosa e Valéria caíram na gargalhada, a garota se despediu dos pais e saiu feliz da vida, pegou um táxi e seguiu rumo ao hotel que Jaime estava hospedado, era época de carnaval e as ruas estavam todas coloridas e enfeitadas apesar de ser a noite, enfim ela estava em paz.

— Apesar de amar o Davi tenho que admitir, ficar longe dele me faz muito bem... – sussurrou Valéria consigo mesmo.

Mansão dos Rivera/Nova York

Carmem assistia TV junto com João, o garotinho não conseguia dormir e tinha ido pro sofá assistir a cobertura ao vivo do show da Rock Forever, Carmem estava concentrada admirando os antigos amigos, Alicia estava tão diferente de antes, aliás todos estavam mudados.

Flasback ON

A turma da professora Helena estava bastante animada, era o primeiro show da bandinha que eles haviam criado, todos já eram pré-adolescentes e iam se apresentar no show de talentos da escola Mundial, até a diretora estava orgulhosa.  

— Seguinte: a Valéria canta junto com o Paulo, a Carmem, a Margarida e a Laura serão nossas dançarinas, o Jaime vai ficar na bateria e Alicia será guitarrista ok? – perguntou Daniel educado, todos assentiram felizes.

— E eu Dani vou fazer o que? – indagou Maria Joaquina.

— Você vai apresentar o programa comigo princesa, a diretora Olívia disse que nós somos os melhores alunos e por isso vamos ficar com esse cargo. – falou Daniel abraçando a namorada.

— Ah não Valéria... para com isso! – berrou Davi impaciente, a Ferreira tentava arrumar o boné do namorado.

— Para de reclamar Davizinho. – berrou Valéria irritada, os amigos riram da garoto, logo o restante da turma chegou.

Jaime, Bia e Janjão entraram correndo junto com Adriano que segurava chulé sua meia falante, o garoto continuava com toda aquela imaginação de sempre mesmo.

— Onde vocês estavam em? quase que o show começa sem vocês, atrasos são tão ante – românticos. – perguntou Laura.

— Culpa do Jaime, ele disse que ia no banheiro e demorou um tempão lá dentro. – explicou Janjão suspirando.

— Deve ser o resultado da feijoada que ele comeu ontem, acho que se alguém entrar no banheiro vai morrer asfixiado. – falou Valéria com suas piadinhas, todos riram.

— Que engraçado né Valéria? Tô morrendo de rir. – respondeu Jaime revirando os olhos, a Ferreira sorriu para ele, apesar de serem melhores amigos, Jaime era a vítima preferida de Valéria.

— Que tal colocarmos a Suzana lá dentro do banheiro? – disse Paulo fazendo todos gargalharem alto.

— Essa ideia tosca só podia vim de uma pessoa sem classe que nem você Paulo. – falou Jorge em tom de desprezo.

— Não fala assim do meu irmão! – berrou Marcelina totalmente irritada com Jorge, ela odiava o metidinho.

— Caramba parem de brigar tão parecendo até a Valéria e o Paulo viu. – berrou Mário rindo e recebendo um olhar mortal de Paulo e Valéria.

— Alicia já se maquiou? – indagou Carmem ajeitando seus óculos de uma maneira atrapalhada.

— Me maquiar? Jamais, eca! – berrou Alicia arrumando o boné que usava na cabeça, ela continuava sem ligar pra essas frescuras.

— Maria Joaquina você nem precisa se maquiar, porque você é tão linda que se fosse um peido eu não soltava. – elogiou Cirilo com um olhar de cachorro abandonado.

— Deus me livre, só podia ser você mesmo né Cirilo? Essa é a cantada mais ridícula que eu já ouvi. – respondeu Maria Joaquina.

— Já imaginou o que aconteceria se a gente se transformasse na banda de Rock mais famosa do mundo? – perguntou Adriano.

— UUUUUOOOOUUUU! – gritaram todos surpresos e pensando como seria se isso acontecesse.

— Será que isso vai acontecer? – indagou Cirilo com os olhos brilhando de tanta felicidade, ele era tão inocente e puro.

— AAAAAAAAAI CIRILOOOOOOO! – falaram todos batendo a mão na testa, afinal era óbvio que isso nunca ia acontecer. “

Flasback Off

Carmem sentiu uma lágrima solitária descer de seus olhos, seria tão bom poder voltar no tempo, nada era mais como antes, e no fim nem era tão maravilhoso a fama, a maioria ganhou muito dinheiro, mais em compensação perderam aquelas coisas que nunca terão preço.

— Seria tão bom se o tempo nunca passasse, crescer e amadurecer não é tão bom quanto eu pensei que seria... – falou Carmem arrumando seus óculos de uma maneira desajeitada.

Hotel Sonhos/São Paulo/Brasil

Jaime já tinha quebrado metade dos objetos, ele não conseguia mais se segurar, as lágrimas descontroláveis desciam do seu rosto, Jaime se jogou no chão da sala e chorou como nunca antes, era difícil saber que ele não tinha mais as duas pessoas mais importantes da sua vida, ele ouviu alguém tocar a campainha e com dificuldade abriu a porta.

— Jaime? Oh Meu Deus, o que está acontecendo? – gritou Valéria o abraçando com força, a mesma se assustou ao ver os objetos quebrados.

— Me deixa sozinho, eu não quero que você me veja assim nesse estado. – falou o garoto virando as costas e sentando no sofá.

Valéria trancou a porta e se aproximou do garoto, a mesma sentou no sofá ao lado dele, a janela estava aberta revelando um céu cheio de estrelas, e o vento frio da noite invadiam o local, a garota encarou o rosto do amigo e vagamente se aproximou.

( Coloquem: https://youtu.be/kUWQCWRef5Y ) 

“Ela tocou vagamente a mão do garoto, um toque simples e delicado, como se ela dissesse: eu estou com você “

A garota se aproximou e encostou sua cabeça no ombro de Jaime fazendo ele se acalmar, Valéria sentia necessidade de cuidar dele, pelo menos durante aquela noite, era como se a felicidade dela dependesse da felicidade dele, porque durante tantos anos de cumplicidade eles haviam criado um laço eterno, sempre se ajudando em cada momento ruim.

— Eu não consigo fazer mais nada Valéria, eu estou sozinho no mundo entende? – disse Jaime chorando e encarando a garota.

— Você tem que ser forte! – falou a garota segurando o rosto de Jaime com as mãos, e mesmo sem entender o coração dela bateu mais forte.

Jaime limpou as lágrimas e sorriu fraco, o garoto caminhou em direção ao pequeno banheiro do local, ele precisava se recompor, Valéria ficou sentada no sofá pensativa, ela resolveu arrumar os objetos que estavam espalhados pelo chão.

— E aí você já está melhor? – perguntou a Ferreira vendo o amigo sai do banheiro, o garoto assentiu com a cabeça.

— Que bom que você está melhor, pensei que ia ter que arrumar essa bagunça sozinha. – respondeu Valéria, Jaime riu baixo.

— Eu vou te ajudar fica tranquila. – respondeu Jaime sorrindo para a amiga e arrumando os objetos.

— Olha só, eu consegui fazer você rir. – falou Valéria fazendo uma dancinha maluca em comemoração. – Vamos dormir?

— Nossa, já são duas da manhã, pode dormir naquela cama de casal Val, eu vou dormir aqui no sofá mesmo. – respondeu Jaime sendo gentil.

— Nada disso, vamos dormir na mesma cama né? Nunca tivemos frescuras um com o outro Jaime. – disse Valéria dando de ombros.

— É mesmo, só que antes a gente nunca tinha dormido na mesma cama pequena... – falou Jaime com as bochechas vermelhas.

— Eu não te entendendo Jaime, que foi? Você já dormiu com um milhão de mulheres garoto, e vai ficar com vergonha de mim? – indagou Valéria fingindo decepção.

Depois de um tempo os dois deitaram na cama juntos e começaram a conversar animadamente, Valéria sentiu seu corpo estremecer ao ver Jaime sem camisa, aquele garoto parecia um Deus Grego.

— A Bia acabou de me mandar uma mensagem contando que a Alicia está arrasando como vocalista, porém ela não é melhor que você. – comentou Jaime para a amiga.

— Você e a Bia estão namorando? – perguntou Valéria em tom de reprovação, enquanto encarava o teto.

— Não, só estamos nos conhecendo melhor, a Bia é diferente das outras, ela é especial pra mim. – respondeu Jaime sorrindo.

— Hum... – respondeu Valéria virando de costas e se afastando do amigo, mesmo sem entender Jaime se afastou também.

— Legal a decoração desse quarto né? – perguntou Jaime tentando mudar de assunto, a Ferreira nada respondeu.

— Eu beijei o Paulo. – Valéria soltou na lata, Jaime sentiu um nó em sua garganta, ela não conseguia acreditar no que tinha ouvido.

— Quando? – perguntou Jaime fingindo que não estava incomodado.

— No dia que a gente viajou juntos, ou seja, no mesmo dia que você se “apaixonou” pela Bia. – respondeu Valéria fazendo aspas com os dedos.

— E como foi isso? – perguntou Jaime curioso e incomodado, agora não era mais o Davi, era o Paulo Guerra.

— Rolou um clima e a gente se beijou, mais só foi beijo e pronto, eu acho que eu nunca terei coragem de me entregar a alguém sem ser o Davi, acho que nunca vou deixar de amar ele. – desabafou Valéria.

— Hum... – respondeu Jaime apenas virando de costas também, ela apagou o abajur e deu um beijo na bochecha do amigo.

Durante a madrugada, Valéria tremia de frio, Jaime não conseguia dormir de jeito nenhum, ele apenas sorria imaginando como era bom sentir o perfume de Valéria inalando todo o quarto, ele tinha que tentar fazer alguma coisa, ele queria tanto abraça-la.

Jaime se aproximou levemente e a abraçou com delicadeza, Valéria apenas se aconchegou nos braços do garoto e dormiu tranquila, os dois dormiram de conchinha naquela noite, seria tão bom se ela percebesse o quanto ele amava, porque nunca haveria espaço para mais ninguém no coração de Jaime, ninguém além de: Valéria Ferreira.