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Capítulo 22
A primeira morte




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—Por quê? O que está acontecendo?

Meu coração disparou, houve um chiado em minha cabeça, tudo se passou tão rapidamente e tão lentamente.

—É a hora. – Abby continuava a olhar para o vazio, com seus olhos parados no nada.

—Não, não está! – apertei a sua mão.

A mesma saiu de dentro da minha e foi ao seu peito e eu gritei para que alguém chamasse os médicos, mesmo sabendo que não havia saída. Ela tentou se levantar, mas caiu no chão quase que imediatamente. Em um pulo, segurei seu corpo.

Senti suas mãos ficarem frias, então as segurei junto ao seu peito, as esquentando, mesmo que isso não fosse funcionar. A ouvi sufocar, seu pulmão não conseguia se encher de ar, não importasse o quanto ela puxasse. A abracei, a sentando em meu colo.

Uma eternidade se passou antes que as enfermeiras chegassem e a entubassem na própria cafeteria. Seu corpo cheio de gás carbônico foi levado para alguma sala de cirurgia, enquanto eu fiquei largada no chão, onde ela estava, chorando.

Com a cabeça abaixada entre as pernas, segurando meus cabelos, chorava copiosamente em uma posição quase fetal, estava comigo e com meu próprio desespero.

Evans chegou a minha frente, o reconheci pelos seus sapatos. Sua mão tocou a minha nuca, então as minhas mãos, as retirando dos meus cabelos. Com cuidado e calma, ele se sentou a minha frente. Seus braços se passaram por mim e o meu choro começou a diminuir. Se passou muito tempo até que ele me carregasse até meu quarto, me colocando em minha cama e retirando as minhas pantufas, enquanto Bruni carregou várias mochilas e entrou atrás de nós.

A pior coisa sobre se chorar quando se tem tubos dentro do seu nariz, são os tubos dentro do seu nariz. Uma mistura de lágrimas e meleca faziam com que a saída de oxigênio se obstruísse, assim como, as minhas vias aéreas. Normalmente, os limparia e passaria a respirar normalmente, mas naquele momento eu não estava em condições de tentar.

Não conseguia me segurar firme sobre meus pés para sair da cafeteria e chorar em algum lugar privado como sempre fazia, esse não seria o momento para forçar meus pulmões enquanto passava um palito pelos meus tubos e soava meu nariz com força.

A nossa enfermeira veio e me deu um calmante, na veia. Hazel foi desligada e minha máscara de dormir foi ligada. Meu ar fraco, a diminuição dos meus batimentos, drogas grátis de hospital, tudo me fez desmaiar rapidamente me perdendo em um sono forçado, mas que me salvou de uma histeria completa.

Quando voltei para mim, já estava escuro. Fiquei deitada olhando pela janela, esperando que algo viesse de lá e mudaria toda a minha realidade, mas, infelizmente, essas coisas não acontecem nem em histórias clichês sobre câncer.

A fraca luz do lado de fora fazia com que as estrelas do céu se apagassem e tudo que eu conseguia pensar era na noite em que ela me tocou pela primeira vez.

As lágrimas caiam fracas, mas me abraçava, em uma carência inexplicável.

Depois de algum tempo impossível de ser contado por mim, Evans chegou ao quarto. Ele colocou sua mão em meu ombro e suspirou. Virei-me devagar para sua cama, então funguei e limpei meu rosto, abrindo um sorriso triste.

—A metástase dela subiu a garganta. Alguma coisa com o esôfago. O câncer a sufocou. – seus olhos preocupados pararam nos meus.

—Obrigada. – mordi meus lábios, estavam inchados e provavelmente vermelhos do choro.

—Já está quase na hora do jantar.

—Não quero comer, muito menos ir lá.

—Você vai comer, vou trazer seu prato para cá. Nunca te deixaria fazer isso, otária. – o loiro se levantou.

Sorri novamente. Era errado. A sua forma de cuidar de mim, sendo que quando ele precisava, eu tinha ido embora.

—Você não tem que fazer isso. – suspirei.

—Tenho, Violet. O seu jeito de tomar conta de mim é diferente. Se afastando você me recolocou de volta nos trilhos... Mas eu te conheço. Você precisa de carinho. Não se culpe por ter feito a coisa certa. Eu vou buscar a sua comida e você vai tomar um banho.

Evans saiu do quarto. Sentei-me em minha cama. A mochila de Abby estava jogada ao pé da minha escrivaninha e eu senti como se ela ainda estivesse ali. Suspirei.

“Você já fez isso antes, Violet, vai dar conta”.

Levantei-me e fui ao banheiro. Retirei todas as minhas roupas e coloquei direto no cesto de roupa suja. Tomei uma ducha rápida, prendendo meus cabelos. Coloquei a roupa que tinha separado para mim mesma aquela manhã e observei a mochila, tinha de levá-la embora.

Abby não podia mais olhar por mim.

Caminhei até seu quarto segurando aquela velha, surrada e preta mochila. Conseguiria fazer isso sem desabar. Era muito mais forte do que isso.

Chegando lá, havia uma mulher mais velha sentada e sua cama, com as mãos sobre a cabeça. Bati à porta de vidro por educação, não sabia o que era aquilo e, com certeza, não queria interromper.

A mulher levantou a cabeça e me olhou fundo nos olhos. Ela tinha os mesmos olhos de Abby.

—Violet?


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