45% escrita por SobPoesia


Capítulo 16
Vamos seguir o plano, Violet




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Uma dor grave corroeu meu peito, como um buraco dilacerante e crescente que abria e rasgava toda a minha caixa torácica e era impossível de se conter.

Voltei-me para o corredor e apoiei-me a parede, sem saber se me escondia ou se falava algo, os assustando e culpando, mas a minha consciência me pegou.

Evans tinha acabado de perder a primeira garota pela qual ele se entregou, além de ter apenas um mês de vida, não era justo estragar isso para ele. Já Bruni tinha saído de um relacionamento comigo, perdendo carinho e afeto. Eles precisavam uns dos outros para ser felizes e eu não podia ser a pessoa que acabaria com isso.

Então tomei a única decisão que consegui antes das minhas pernas não terem mais forças e me jogarem no chão. Entrei em qualquer quarto que pude para que os dois não pudessem me ver.

Caí ao chão, assim que consegui entrar naquele cômodo estranho, me escondendo das paredes de vidro.

–É isso que você chama de se esconder? – uma voz grossa, mas feminina saiu do escuro do quarto.

–Desculpe, achei que não tinha ninguém aqui. – apoiei-me em Hazel e tentei me levantar.

–Vem logo aqui, garota. Vão te ver daí! – a voz esbravejou.

Segui a voz e fui para o final do quarto, para o escuro. Esbarrei em cerca de três móveis diferentes. Abaixei-me atrás de uma cama e a garota que se escondia ali puxou Hazel para perto.

–Obrigada. – abri a saída de ar dela, aquele pequeno exercício físico e ter meu coração partido tinham acabado com meu ar.

Olhei para o lado. Poucos minutos atrás estava reclamando de como aquela garota estava roubando a minha atenção do hospital e agora estava ao chão com ela, me escondendo de alguma coisa.

Olhos verdes, castanhos cabelos curtos e uma grande boca eram suas principais características, antes claro, de eu notar seu respirador.

–Não vai me dizer que acha estranho eu respirar por uma máquina? – ela sorriu, com o mesmo tom sarcástico que eu usava.

–E eu poderia? – sorri.

–Abby. – ela estendeu a mão.

–Violet. – apertei a mesma, em um cumprimento – Me diga o que gosta tanto em A Culpa É Das Estrelas que precisou trazer para a sua vida levando de forma tão literal e radical?

–A parte do câncer... Metástase pulmonar, eu tenho semanas de vida. E você, senhorita fugitiva?

–Irônia. – suspirei.

Legal, mas alguém que ficaria extremamente irritado e ofendido com fato de me transformar em uma constante chaminé.

–Também fumaria muito se meu melhor amigo estivesse beijando a minha ex-namorada no corredor do hospital. – juntei as sobrancelhas em resposta, ela não tinha como saber de tudo aquilo – Você é interessante, Violet, gosto de observar.

Era algo estranho e meio psicopata de se dizer, mas eu achei extremamente fofo, então aquele momento constrangedor se tornou mais ainda. Primeiro, porque eu tinha falado mal dela segundos atrás. Segundo, porque ela tinha sido fofa sem nenhuma razão aparente. Terceiro, porque estávamos escondidas em um quarto aleatório no escuro conversando. Mas, não bastou muito, para descobrir que eu não só havia sido traída pelas duas pessoas mais importantes da minha vida, como descoberto uma outra pessoa incrível.

Abby era maravilhosa. Foi diagnosticada com câncer quando tinha 13 anos, mas não pode ser tratada, já que o mesmo é caro e a sua família mal conseguia se manter. Há pouco tempo, descobriu que era terminal, então em uma tentativa desesperada a sua mãe começou a sair com um cara rico e conseguiu colocar a sua filha no hospital. No momento, ela estava se escondendo de alguma garota insana que não entendeu o significado de uma ficada de uma noite.

Ficamos sentadas ao chão, conversando durante muito tempo, até que o sinal do jantar tocou. Levantamo-nos juntas e seguimos conversando até a cafeteria. Falávamos sobre tudo com sarcasmo e segurando nossos cilindros quase idênticos.

Pegamos a comida e nos sentamos em uma mesa separada. Seja por infantilidade ou pela momentânea raiva que tinha de daqueles últimos acontecimentos, queria que eles viessem até a nossa mesa, me pedir para me sentar com eles, que notassem a minha falta, que corressem atrás de mim.

Passei o jantar com ela, com sua voz e seu jeito grosseiro, mas um leve sorriso encantador.

Era a hora para meu último cigarro do dia e Abby não quis me acompanhar até o telhado, então subi para lá sozinha.

Passei algum tempo com a minha fumaça, minhas lágrimas e minhas músicas. Não tinha outra forma de colocar todos aqueles sentimentos em ordem ou para fora. Quando me considerei suficientemente bem e forte para seguir em frente, levantei-me com convicção e fui ao quarto. Todas as paredes de defesa tinham sido erguidas, mas eu conseguiria olhar nos castanhos olhos do loiro e conversar com a heterocromia de 45%.

Cheguei com meu maço na mão. Bruni estava deitada na cama de Evans enquanto o mesmo estava sentado à nossa escrivaninha.

–Sentimos a sua falta no jantar... – sua voz trincou algo dentro de mim.

–Namorada nova? – ela se sentou na cama com uma postura digna que sempre tinha.

–Não sou tão rápida assim. – guardei meu maço em minha escrivaninha e me joguei em minha cama.

–Se não foi por mulher, porque largou a gente? – Evans virou a sua cadeira e me olhou desconfiado.

–Não sei... – suspirei, o loiro foi para a sua cama, ficando lado a lado de Bruni. Seus olhos próximos uns dos outros, suas mãos se tocando, um arrepio gelado subiu a minha espinha com uma velocidade degradante – Arrumem um quarto... Mas não esse!

–Eu acho que vou para o meu quarto, sozinha. Não quero interromper alguma crise emocional hoje ou algum romance amanhã, não é Violet? – ela se levantou.

Minha mente foi direto para o fato de que quem estava interrompendo um romance errado era, na verdade, eu.

–Não sei, me digam vocês. – sentei-me em minha cama, irritada.

O plano era deixar ambos serem felizes, mesmo que isso custasse a minha felicidade. Eles mereciam, só para começar tinham me aguentado todo esse tempo. Eram as pessoas mais importantes da minha vida e iam morrer logo, não podia me dar o direito de ser egoísta.

Respirei fundo, senti as lágrimas sendo formadas em meus olhos, e respirei fundo novamente, as apagando.

“Violet, você vai seguir o plano.”

Olhei para os dois, suas faces mostravam estranheza, mas eram rostos que tinham feito meu pequeno e falho peito se encher com uma felicidade inimaginável, com sorrisos e respostas a altura pelas minhas brincadeiras sarcásticas. Era mais do que amor o que eu sentia por eles. E quando se ama de verdade, se quer a pessoa feliz, mesmo que não seja ao seu lado.

Sorri, tristemente.

–Me desculpem.

45% se sentou ao meu lado e pegou e a minha mão.

–Não seja uma pessoa de merda por causa de uma namorada nova.

–Bruni, eu nunca faria isso com você, eu te amo demais para estar com outra pessoa. – arredei para o canto, tomando distância.

Seus olhos se tomaram em uma culpa grandiosa e ela abaixou a cabeça. E eu acho que aquela foi a primeira vez que disse que a amava. Ela se levantou e saiu.

Seguiria o plano, mesmo que estar próximo deles fosse difícil.

Evans caminhou pelo quarto inquieto e se sentou em minha frente. Se apoiando sobre seus joelhos, me olhou nos olhos. Havia algo de muito errado.

–Precisamos conversar?

Não, seria doloroso demais.

–É sobre Julieta? – respondi, calma.

–Não.

–Então não, Evans. Não precisamos conversar. A menos que você esteja realmente triste ou mal por alguma coisa que lhe aconteceu e a minha ajuda seja necessária, nós não precisamos conversar. – segurei sua mão.

–Você viu, não viu?

Sorri, levantei-me. Beijei sua testa.

–Eu te amo, loiro, você não tem a menor ideia do quanto.

Fui até o armário e peguei meus pijamas, então segui ao banheiro para me trocar, mas assim que a porta se fechou, sentei-me no chão para chorar, sem conseguir segurar tudo aquilo dentro de mim. Peguei meu telefone e lá estava uma mensagem de Abby: “É difícil, não é, garota? Mentir para quem você ama e fingir que tudo está bem quando na verdade, não está. Imagine para eles então... Mas eu estou aqui por você, quer conversar?”.

Então digitei uma resposta falando que queria. Ela me pediu para contar tudo e eu contei. Abby não disse muito, mas me ouviu e saber que havia alguém se importando me fez sentir mais leve e com menos coisas para carregar.

Voltei para o quarto e o mesmo estava apagado, Evans já estava em sua diálise. Liguei o abajur e desliguei Hazel. Coloquei a máscara e liguei a minha máquina de dormir. Apaguei a luz e coloquei meus fones de ouvido, sem conseguir conter as lágrimas.

Minha mente correu rapidamente para o fato de que aquele era o fim de um relacionamento lindo e de anos, além de o fim do que seria uma história de amor de filme. Não haviam lugares para se esconder.


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