— Essa é uma grande oportunidade — afirmou Finnick. — Trabalhar como colaborada de Haymitch Abernathy em seu laboratório na Suíça, chefiando uma de suas equipes... — repetiu pela centésima vez.  

— Eu sei — disse Katniss.

Aquela realmente era uma oportunidade única. Haymitch Abernathy, pioneiro no campo de pesquisa de novos medicamentos. Uma mente incrível que poderia revolucionar todo o campo de pesquisas. Ele tinha a escolhido para trabalhar com ele. Trabalhar com Haymitch significava que um mundo imenso de possibilidades se abria para ela. Aquilo era incrível.

— Eu já esperava por isso — confessou Finnick. — Você tem uma mente incrível. Seria um desperdício para o mundo se ficasse aqui.

— Ah, não exagere, Finnick! — advertiu seu chefe com sérias tendências ao exagero.

— Não estou exagerando. Aceite um elogio de vez enquanto. Não faz mal! — brincou. — Você realmente é talentosa, inteligente, centrada e irá ter uma carreira admirável! Aposto que em breve irá ganhar o prêmio Nobel...

— Finnick! — às vezes, seu chefe podia se empolgar demais.

— O que foi?

— Menos, Finnick. Menos!

 — Apenas estou fazendo uma constatação aqui. E Haymitch acabou de ganhar um prêmio Nobel... — ele falava animado e sonhador.

— Ele só me convidou para trabalhar com ele!

— Modesta como sempre! — repreendeu seu chefe. — Já disse, aceite um elogio, não faz mal a ninguém.

— Além disso, meu objetivo não é um prêmio Nobel, mas encontrar um medicamento que ajude pessoas que tenham a mesma doença da minha irmã.

— Você vai conseguir — assegurou Finnick, sorrindo para ela.

Ela também sorriu. Trabalhar com Haymitch iria ajudar muito nesse quesito. Iria conhecer pesquisadores importantes. Ter acesso a mais informações, novas técnicas.

— E quando você irá?

— Eu ainda... não dei uma resposta...

— Como? — se surpreendeu Finnick. — Essa é a oportunidade da sua vida!

— Eu sei... Haymitch me deu o prazo de uma semana e dois dias para dar uma resposta a ele...

— E, por que você não respondeu?

— Preciso resolver... alguns assuntos... mas Haymitch não gosta de esperar — os dois riram. — Tenho que me mudar para a Suíça o mais rápido possível, se eu aceitar.

— Melhor, então, acatar as ordens dele — brincou.

Katniss assentiu com uma expressão entre séria e brincalhona.

— O que você está esperando para aceitar? Eu sei que lá fundo — apontou para seu coração e depois para sua cabeça. — Você já tem a resposta, não é mesmo? Sei que você quer isso mais do que tudo no mundo. Você ficou muito animada com essa oportunidade que Haymitch te ofereceu...

— É... mas, primeiro tenho que resolver algo... — disse séria.

— Então, resolva! Haymitch não gosta de esperar! — riu.

É, ela precisava resolver isso rapidamente. Haymitch era alguém que não esperava. Mas, ela precisava antes fazer algo muito importante.

— Vamos sentir sua falta por aqui... — disse Finnick, a acompanhando até a porta.

— Finnick, eu...

— Eu sei, sei, você ainda não aceitou! — brincou. — Você foi a melhor pesquisadora que já tivemos... — seu chefe era mesmo exagerado.

— Sei... E não fale de mim no passado. Eu ainda estou aqui, sabia? — olhou para ele.

Finnick riu como um menino travesso. Seu chefe ficava incrivelmente jovem quando sorria.

— Obrigada por tudo... — disse em voz baixa.

Finnick sorriu e a envolveu em um caloroso abraço. É, seu chefe era também sentimental.

— Finnick... Finnick...

— O quê?

— Você está me apertando!

— Já estou com saudades! — ele ainda continuou a abraçando.

— Mas não precisa me matar, né? Além disso, eu ainda...

— Você ainda não aceitou — completou, fingindo exasperação.

Finnick riu e finalmente a soltou. Seus pulmões agradeceram.

Antes que ele partisse para outro empolgado e sufocante abraço (ele poderia matar alguém com aquela técnica), se esquivou e foi-se da sala de seu chefe.

Finnick tinha recentemente terminado seu relacionamento com sua aluna. Havia vários obstáculos entre os dois, o fato de ela ser mais nova, o fato de ser sua aluna. Ele alegara que estavam em fases diferentes, que por enquanto não poderiam ficar juntos. Isso deixara seu chefe mais sentimental do que já era.

Chegou em seu apartamento mais cedo do que o habitual. Ele estava muito silencioso ultimamente. Suas coisas estavam espalhadas pela sala. Droga, precisava fazer uma faxina naquilo. Mas, estava tão cansada. Talvez, poderia deixar para amanhã. Mas, amanhã teria que estudar algumas coisas... quem sabe na próxima semana... No entanto, havia algo que ela não poderia adiar. Algo que ela já tinha adiado demais. Suspirou.

A loja de quadrinhos estava cheia de pessoas. Katnisss precisava esperar até que o movimento diminuísse. Sentou-se em uma das poltronas de leitura com algumas revistas de quadrinhos. Porém, não se concentrou na leitura. Ela ficou o observando. Ele nem havia notado sua presença, estava ocupado demais atendendo seus clientes. Era bom vê-lo falando sobre quadrinhos. Sua grande paixão. Era possível identificar um sorriso no canto de seus lábios.

Somente, quando o movimento diminuiu um pouco, ele a notou e sorriu para ela.

— Você está aí! — disse, se aproximando dela. — Por que não me avisou?

— Porque você está ocupado — apontou com a cabeça os clientes. — Vá atender seus clientes, eu espero.

Peeta assentiu e foi terminar de atendê-los.

Ele andava bem ocupado com a loja, o blog e a faculdade. Estava em seu primeiro semestre de Artes visuais. Concordara em entrar para a faculdade, mas com a condição de que faria o que gostava. E o curso estava sendo bom para ele. Gostava dos professores e dos colegas. O blog estava até que fazendo sucesso para um iniciante. Até entrara em contato com outros desenhistas em quadrinhos por causa do blog. E trocar experiências com outras pessoas que desenhavam, estava sendo de grande ajuda para ele. Aquele emprego em uma loja de quadrinhos o deixara muito feliz, fora indicação de um de seus colegas de faculdade. Agora podia estar sempre em contanto com o que amava. Peeta estava bem e era isso que importava.

O último cliente deixou a loja. Ele se jogou na poltrona perto de Katniss.

— Cansado?

— Exausto! — afirmou com um sorriso imenso no rosto. — E ainda tenho que fazer um trabalho para a faculdade!

Ela riu.

— É assim mesmo. No último ano, então... você estará aos pedaços! — brincou.

— Não sei se vou sobreviver!

Riram.

— E como está sua mãe?

— Bem... ela está pensando em voltar para nossa cidade. Reabrir o restaurante. Não fala de outra coisa!

— Ah.

Melinda estava terminando o tratamento. Foram longos e exaustivos meses. Meses de agonia e tristeza. Meses de escuridão e incertezas. Mas, no final tudo dera certo.

Peeta alugara um pequeno apartamento para viver com a mãe, perto do hospital onde ela realizava o tratamento. Ele fazia questão de sempre estar com a mãe em todas as sessões de quimioterapia, a acompanhar em todas as consultas. Os dois tinham se aproximado bastante. Mesmo nas situações mais nebulosas era possível tirar um raio de luz. A reaproximação de Peeta e Melinda fora este raio de luz.

Katniss se levantou da poltrona e mexeu nas prateleiras ao acaso. Apenas ganhava tempo. Peeta tagarelava sobre diversos assuntos, a faculdade, o blog e a loja eram seus assuntos prediletos. E ela o escutava.

— Katniss, aconteceu alguma coisa? — indagou após um curto silêncio.

— Não... — mas sua negação não era lá muito convincente.

— Katniss, o que há? Você está... — ele a analisou. — Diferente.

Ela suspirou e largou a revista que olhava. Precisava falar, precisava deixar aquilo sair.

— Peeta... — disse, após algum tempo. — Eu fui convidada para ser colaboradora de Haymitch Abernathy...

— Mesmo? Isso é ótimo! — envolveu suas costas em um abraço. — Esse não é aquele pesquisador que vive na Suíça?

— Sim, é ele...

Pode sentir os braços de Peeta envolver seu corpo de maneira mais forte.

— Eu fui convidada para chefiar uma de suas equipes no laboratório na Suíça...

— Você vai... — esperou que ele prosseguisse, mas ele se deteve.

— Foi tudo muito repentino... eu não esperava receber esse convite... ainda estou um pouco atordoada com isso. Mas... isso é incrível.

Peeta a abraçou ainda mais forte.

— Quando você irá? — ele indagou.

— Eu ainda não aceitei... Haymitch me deu um prazo... uma semana e dois dias. Ele não gosta muito de esperar... — acariciou o braço de Peeta e voltou-se para ele.

— Eu... — ele hesitou um pouco antes de prosseguir. — Por quanto tempo?

— Não sei... um ano, dois... Haymitch é imprevisível... — tentou falar animadamente.

Peeta ficou em silêncio.

— Você está bem com isso? Se eu aceitar o convite... você ficará bem? — percorreu com as pontas dos dedos o seu belo rosto.

Peeta não a respondeu.

— Você vai aceitar, não é?

— Eu não sei... Eu realmente... É uma decisão, difícil, sabe?

— Katniss, eu te conheço, sei que você quer isso... — sua voz tinha algo diferente. Mas ele não prosseguiu.

Como ele se calara, Katniss envolveu seus lábios em um longo beijo. Um beijo necessitado. Os dois não estavam se vendo com muita frequência. Somente nos finais de semana. Peeta precisava se focar em seus estudos. Mas, os momentos que passavam juntos eram todos especiais. Sabiam que a quantidade não era tão importante assim. O que importava era os sentimentos.

Peeta estava ainda mais maduro. A doença de sua mãe fizera o crescer muito. E recentemente, ele tinha feito 19 anos.