Elementar escrita por LunaLótus
Notas iniciais do capítulo
"Pensar desse jeito em alguém que pouco conhece é incomum para ela. Jamais alguém tivera tanta facilidade para se aproximar dela assim. Nunca alguém conseguiu fazer com que ela conversasse tão facilmente sobre um assunto que ela odeia e fazer com que ela fique controlada. Alexandre é o primeiro que a mantém calma em uma situação de estresse. Mas por que ele?"
Mas ele está. E ela simplesmente não consegue acreditar. Tudo estava indo tão bem. Por que ele tinha que aparecer nesse momento? Rapidamente, Thaís revive mentalmente toda a sua despedida com Renato. Nada que a incrimine ou coloque seu namorado em risco, pelo menos. Tenta perceber que roupa está vestindo, sem tocar o braço com a marca. Camisa de mangas compridas, shorts e sandálias confortáveis e ágeis, caso precisasse correr. Mochila no ombro, com o seu revólver. Está tudo ok. Ela toma fôlego e caminha o mais normalmente possível.
Alexandre está parado, as mãos nos bolsos da calça, um sorriso gentil no rosto. Usa uma camiseta vermelha, uma mochila presa nas costas. Thaís sorri também e distraidamente passa a mão pela alça da própria bolsa, que ela leva para todo lugar e onde está escondida a sua arma. Anda em direção a ele. Ele espera calmamente a aproximação dela.
– Olá, tenente – diz ela, sorrindo.
– Olá, senhorita. Como está?
– Muito bem e você?
– Estou indo. – Ele dá de ombros. – Hoje é a minha folga e pensei em dar uma volta por aí, vir vê-la talvez. Se não tiver nenhum compromisso ou problema para você, claro.
Vir vê-la? Do nada?
– Não. Eu estava indo passear pela praça. Vamos?
– Claro.
Eles caminham em silêncio. Alexandre está completamente à vontade, mas Thaís está nervosa, apesar de não transparecer. A cabeça dela está dando mil voltas, pensando em Renato, se o havia colocado em perigo. Se isso tiver acontecido, ela jamais se perdoará. Alexandre também pensa em Renato, mas não da mesma forma que Thaís.
– Aquele rapaz que estava com você... É seu parente? – pergunta o tenente.
– Sim – responde ela. – Um primo. Meus pais tiveram que fazer uma viagem urgente e pediram para que ele fique comigo. Fomos criados como irmãos, na verdade.
– Seus pais viajaram? Uma pena. Eu gostei deles, queria revê-los.
– Você esteve aqui há três ou quatro dias, tenente. Acho que não há muita coisa nova para vocês conversarem. – Ela sorri brandamente. – Mas quando eles voltarem, eu passarei seus cumprimentos.
– Obrigado. – Ele sorri. – E, por favor, me chame de Alexandre. Não estou a trabalho hoje.
– Tudo bem... Alexandre.
Chegam a um lugar amplo do parque, a essa hora, vazio. Há somente algumas crianças brincando mais adiante. Geralmente Thaís só vinha a este lado da praça com Renato. Pensar nisso a deixa desconfortável. Senta-se em um banco e Alexandre senta ao seu lado.
– E então? O que tem feito nesses últimos dias? – pergunta ele.
Treinado, pensa ela, mas diz:
– Nada de especial. Tenho jogado e passeado com meu primo, somente. Não há muito que se fazer por aqui. E você?
– Bem, você sabe, caçando convocados. Geralmente é entediante, mas pode ter suas recompensas.
– Nossa, você fala “caçar” como se eles fossem animais. São pessoas, não é?
– Pessoas que querem destruir gente como eu. No fundo, parecem-se com animais.
Ui, essa doeu, pensa Thaís.
– Eles tentam se proteger. Afinal, o governo também tenta matá-los – ela argumenta.
– Você tem razão, é um ciclo vicioso, nunca vamos saber quem começou ou quando começou.
– Pode ser um ciclo agora, mas quem iniciou tudo é muito óbvio de se ver, Alexandre. Se não fosse a ganância do governo, talvez os convocados não existissem.
– O governo não é o culpado de tudo. Mas de uma grande parte, admito. Mas e por que os convocados criaram essa organização, então? Se não é para tentar tomar o poder e instituir uma ditadura mundial, para que seria?
– Existem coisas muito mais valiosas que o ouro ou o poder, Alexandre. E somente quem tem o coração puro consegue entendê-las e obtê-las, porque não querem para si, mas para todos. Não acredito que os convocados tenham criado essa organização.
– Por que não? Quem você acha que seria então?
– Quem seria, não faço a mínima ideia. Mas não foram os convocados, porque, como o próprio nome diz, eles são convocados, são alistados. E, além disso, o regime sob o qual vivemos hoje é muito diferente de uma ditadura?
– É, faz sentido.
Thaís se cala por um momento. Tem que tomar cuidado para não falar demais e se entregar. Ela precisa lembrar a si mesma que, por mais que não pareça, Alexandre faz parte do governo. Apesar de parecer quase em dúvida daquele regime, ele era um inimigo em potencial, e um inimigo muito perigoso.
Ela se surpreende. Pensar desse jeito em alguém que pouco conhece é incomum para ela. Jamais alguém tivera tanta facilidade para se aproximar dela assim. Nunca alguém conseguiu fazer com que ela conversasse tão facilmente sobre um assunto que ela odeia e fazer com que ela fique controlada. Alexandre é o primeiro que a mantém calma em uma situação de estresse. Mas por que ele?
– Alexandre, você disse que esse trabalho poderia ser entediante, mas que tinha suas recompensas. O que você queria dizer? Vocês encontraram algum convocado?
– Não, e é justamente por isso que ele é entediante. Nunca encontramos nenhum. Se encontrássemos... Seria uma festa e tanto em nossa homenagem.
Thaís estremece por dentro. Se ele souber que ali está uma, uma convocada, bem na frente dele, conversando normalmente. O que seria dela?!
– E as recompensas...? – insiste ela.
Alexandre demora para responder. Está indeciso, surpreso, um pouco envergonhado. Não deveria ter vindo assim, sem avisar. O que seus superiores acharão daquilo? Logo com uma suposta convocada! Logo com uma ex-suspeita! Por fim, ele pigarreia e diz o que lhe parece inocente:
– Às vezes fazemos amigos... Ou encontramos pessoas especiais. – Ele olha nos olhos dela e Thaís abaixa o rosto.
– E você... Você já encontrou alguém especial nas suas buscas? Tem muitos amigos nesses lugares onde existiriam supostos convocados?
– Alguns amigos e, recentemente, talvez eu tenha encontrado alguém especial.
Thaís olha para o lado. Uma menininha brinca de bonecas a alguns metros deles. A jovem sorri com a visão e volta a pensar no que Alexandre acabara de dizer. Não entende como uma pessoa tão boa pode fazer parte do governo. Pergunta-se se, talvez, não seja puro preconceito dela achar que todos os aliados do regime são perigosos. Alexandre não parece ser perigoso, pensa. Ele parece ser capaz de amar, rir e ser normal, como qualquer outro ser humano.
– No dia em que você esteve na minha casa... Quando estava indo embora, você disse que foi criado pelo governo. Seu pai trabalha para eles? – pergunta ela, tentando mudar de assunto.
– Não. - Ela o encara. - Meu pai é o líder deles.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Tchan, tchan, tchan! Mais um capítulo! Promessa é dívida, apesar de ter somente um comentário no capítulo anterior... Ainda assim, obrigada, Gabriel!
AVISO IMPORTANTE: Não me responsabilizo por novos shipps e por indecisões.
Bem, o que acharam deste capítulo? Será que Alexandre é tão mau assim!? MEU DEUS, se vocês soubessem a verdadeira história de Alexandre... *-* Enfim, é isso! Espero que tenham gostado! Beijos