Elementar escrita por LunaLótus


Capítulo 18
Irônica


Notas iniciais do capítulo

"– Pelo modo mais difícil, então – ela murmura e ativa o bumerangue."



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Há duas horas, Thaís está andando em direção ao sul. Jamais achara que aquilo seria fácil, mas agora que está aqui, está começando a pensar em quão grande é toda essa loucura. Ela toma, em intervalos regulares, pequenas quantidades de água. Precisa arranjar um meio de transporte, e ter, no mínimo, uma pista sobre onde a primeira Elementar que ela precisa encontrar está.

– Uma ajuda seria boa agora – murmura.

Ela se surpreende. Aquilo soou muito... mimado até para ela. O que estava pensando afinal? Sabia que partir para essa guerra não é fácil. Não pode simplesmente desistir e voltar para casa, até porque o governo já sabe quem ela é e com certeza está à sua procura.

Thaís olha em volta. Um pouco mais adiante, há uma estação. Ela precisa de um meio de transporte, só não sabe para onde ir. Mas talvez... Bem, ela pode comprar uma passagem para o sul e tentar descobrir para onde está indo quando já estiver no caminho. Além disso, está precisando de um descanso merecido. Dormir um pouco não deve fazer mal...

A jovem se decide e vai até a estação.

Passam-se quinze minutos e o trem ainda não chegou. Thaís está sentada, ansiosa, apertando o casaco em volta do corpo. Tem a sensação de que alguém a está vigiando. Levanta-se e começa a andar de um lado para o outro. Três homens, ou o que parecem ser três homens, observam-na disfarçadamente. A jovem percebe e se vira encarando cada um deles, mas eles abaixam a cabeça e agem como se nada estivesse acontecendo.

Preciso me livrar deles, preciso de um plano, pensa ela. Precisa sair dali sem chamar a atenção. Mas como, se há três deles lhe vigiando? Thaís olha em volta, procurando o banheiro. Se ela conseguir atraí-los... Pode pelo menos deixá-los desacordados por tempo suficiente para que ela possa fugir. Talvez eles não machuquem as outras pessoas que estão ali.

Ela se aproxima de um androide que está na plataforma de informação, oferece um sorriso e pergunta com a voz mais tranquila que pode apresentar, em alto e bom som:

– Boa tarde. Você poderia me explicar onde fica o banheiro?

O androide sorri também e Thaís não pode deixar de sentir um arrepio na coluna. Ele responde:

– À esquerda, senhorita. Segunda porta.

– Obrigada. Você sabe quanto tempo o trem vai demorar ainda? É que minha tia está me esperando, e não quero chegar tarde, sabe...

– Ah, daqui a uns quinze minutos o trem já estará na plataforma, senhorita.

– Obrigada – diz Thaís e dá as costas.

A jovem olha de relance para os seus vigias. Eles estiveram atentos a todas as palavras, exatamente como ela queria. Thaís se encaminha calmamente até onde o robô a indicara, olhando para o relógio e tentando parecer preocupada com o seu atraso. Os homens que a estão seguindo se levantam também e começam a segui-la distraidamente. Ela para em frente à porta, que se abre automaticamente, e entra.

Os homens olham freneticamente para os lados, mas infelizmente ninguém parece notar o que eles estão prestes a fazer. Lá dentro, Thaís se esconde no boxe mais próximo da entrada do banheiro, sobe no vaso e consegue escalar e se pendurar no teto. Deixa a porta do boxe aberta. Ela calcula que se não a encontrarem logo na entrada, eles irão entrar ainda mais, procurando-a. E assim o plano dela começa.

Os oficiais entram silenciosamente no banheiro. Procuram nos primeiros boxes e, como não encontram a Elementar, continuam caminhando pelo longo corredor, abrindo todas as portas violentamente e urram de raiva cada vez que mais uma tentativa é fracassada.

Thaís, ainda no seu esconderijo, move-se devagar e retira o bumerangue do bracelete. Ela precisa travar a porta para que eles não possam fugir ou chamar reforços. Só não sabe como fará isso. Felizmente não tem que pensar sobre isso. Um dos oficiais se vira para a porta e diz:

– Ela não pode ter saído. – Volta-se para um de seus companheiros. – Você. Tranque-a. Assim a convocada não terá chance.

A jovem ouve passos pesados. Um oficial, ela pode ver, aproxima-se da porta e digita algo no controle ao lado. Thaís escuta um clique surdo. Pronto, agora está presa. Eu penso em como sair depois, diz para si mesma. Primeiro, esses covardes. O aliado volta para perto de seus companheiros.

– Acho melhor vocês irem embora. Ou não sairão vivos daqui – diz ela.

O barulho de armas sendo engatilhadas preenche o ambiente. Ela ri e os homens trincam os dentes, os dedos nos gatilhos. Eles ainda estão de costas para a porta. A jovem manipula o Ar para que sua voz seja projetada por todos os lados. A atmosfera fica mais densa e o espelho fica embaçado. Thaís desce sem fazer ruídos e se posiciona perto da porta, de frente para os oficiais.

– Pelo modo mais difícil, então – ela murmura e ativa o bumerangue.

Os oficiais viram-se rapidamente com o som das lâminas da arma que ela segura. A raiva transparece no rosto deles. Não podem ser humanos, raciocina ela. Aquela expressão... Não existe motivo para um humano odiá-la tanto, ali é somente obrigação. Mas um androide... Ela já vira aquele olhar muitas vezes em Ajax.

– E então? O que vocês são? Humanos? Não... Isso nem pensar.

Ela atira com toda força a arma que tem nas mãos. Visa o braço daquilo que está em sua frente. Ao mesmo tempo, os homens atiram. Os raios parecem vir em câmera lenta até ela, como na luta anterior. O bumerangue atinge o alvo, e sob a pele há... Fios. São androides. Thaís ri novamente e com um movimento de mão, dissolve os disparos no ar.

O robô que foi atingido não parece sentir o ferimento. Eles disparam novamente, mas com outro movimento rápido, a jovem desvia os raios, que atingem um boxe e o explodem. O barulho lá fora deve ser ensurdecedor, mas ela não se importa. O bumerangue volta para a sua mão e ela o lança novamente, dessa vez visando o pescoço de um deles. No último segundo, seu alvo parece perceber o que está acontecendo e Thaís sorri maliciosamente.

– Tarde demais – ela diz e o androide cai sobra a pia, arremessado pela arma, os fios em curto circuito, a cabeça do outro lado do banheiro. – E o próximo?

A raiva é tão grande que ela tende a ser irônica. Ela descobriu, há muito tempo, que esse é um bom jeito de desanuviar seus pensamentos e conseguir se concentrar no que está fazendo.

Os aliados olham para o companheiro caído. Ao invés de sentirem medo, eles ficam ainda mais irados. O olhar dela, no entanto, é ainda mais perigoso que qualquer arma que esteja naquele banheiro. O bumerangue não volta, está ao lado do robô decapitado, no chão.

Os oficiais atacam ao mesmo tempo. Com as duas mãos, ela manipula o Ar e forma um escudo, que suga toda a energia dos disparos. Ela libera os braços e a grande bolha se rompe, arremessando os androides na parede. No entanto, eles não se deixam derrotar tão fácil. Não são humanos. Levantam-se e disparam novamente.

Thaís corre até eles, contra os raios, expulsando-os, e puxa o arpão. Em questão de segundos, a arma se expande e a jovem se põe em movimento. Os aliados ainda estão atirando, mas o ar está tão denso ali que nenhum disparo a atinge. Ela gira o corpo e, com agilidade, corta a cabeça do segundo inimigo.

– Agora só falta um – diz.

Manipulando o Ar, Thaís consegue se pôr nas costas do terceiro robô, que murmura alguma coisa urgentemente. Com toda a força que tem, tira a arma das mãos dele. Ele tenta se debater, mas ela segura em seu pescoço.

– Adeus – sussurra, com uma voz perigosa.

Thaís arranca a cabeça do androide com um movimento brusco. Os fios são energia pura. Ela se desvencilha do resto do corpo e o arrasta. Vai até os outros dois corpos, recolhe e os coloca na parede diretamente oposta à entrada. Olha para a porta e, depois, novamente para as máquinas.

– Talvez... Seria indelicado da minha parte, não acha?

Ela sorri perversamente e corre para pegar sua mochila. Retira dali um caderno e uma caneta e escreve:

Meus cumprimentos.

Thaís dobra o papel e o coloca sobre a cabeça de um dos androides. Abaixa-se e arranca o braço daquele que havia trancado a porta. Não tem piedade, eles não são humanos, afinal. Puxa-o com força e o arranca. Olha no rosto de cada um deles. Aqueles não irão importuná-la, mas haverá muito mais e talvez ainda piores que esses. Ela tem a ligeira impressão de que eles não foram tão cruéis como poderiam ser.

Joga as mochilas no ombro, levanta-se e olha em volta. O banheiro está arruinado. Ignorando os pensamentos de protesto quanto àquela destruição, Thaís anda em direção a saída, mas para no meio do caminho e olha para o chão.

Há duas armas ali, duas armas altamente tecnológicas e que ela jamais poderia pôr as mãos em circunstâncias normais. Uma é de disparo rápido, como a sua, mas muito mais potente e com um poder de devastação muito maior. A outra é de longo alcance, que pode atingir alvos a até cem metros. Aquilo poderia ajudá-la, e muito.

Thaís recolhe as duas armas, o seu bumerangue e o arpão. Então caminha decidida para a saída, destranca a porta e sai, como se nada tivesse acontecido.


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Notas finais do capítulo

Um pouco mais de ação para vocês! O que acharam? Thaís está ficando perversa?! MUAHAHAHA!
Como foi a virada de ano de vocês? Espero que estejam todos bem!
Beijos da Luna.



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