Adeus, Viajante escrita por MogeBear


Capítulo 16
Capítulo Quinze


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo do dia! Espero que gostem!



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Glenwood Springs, Colorado, 2015 – Lottie

Jonny estacionou o carro quase na entrada da cidade, e eu desci toda animada. Fazia realmente muito tempo que eu não vinha à Glenwood Springs. Estava morrendo de saudades!

Jonny desceu e se posicionou ao meu lado enquanto eu dava pulinhos histéricos e idiotas de animação.

— Por que você gosta desse lugar? — Ele perguntou. — Não tem nada aqui.

Revirei os olhos e comecei a andar.

— Exatamente, Jonny.

— Espera — Ele disse, me seguindo. —, você gosta daqui por não ter nada?

— Sim. É um lugar tranquilo e bonito. Olha as árvores, as casas...

— Mas não tem completamente nada aqui. É um tipo de cidadezinha que ninguém conhece. — Ele disse.

— Você está errado. — Eu disse. — Como você é do futuro, vou dar um desconto, mas não existe ninguém do Colorado que nunca tenha ouvido falar de Glenwood!

— E por quê?

— Existe um parque não muito longe daqui chamado “Glenwood Caverns Adventure Park”. É um lugar muito legal. Se quiser podemos dar uma passadinha lá, mais tarde. — Eu disse.

— Quem sabe. — Ele disse, distraído — Por que você gosta tanto desse lugar?

— Há alguns anos atrás, esse lugar era tudo que eu conhecia. — Disse. Jonny olhou para mim, curioso.

— Cresceu aqui? No meio desse vilarejo?

— Não é um vilarejo, Jonny! — Eu disse, aborrecida. — Pode não ser um capitólio, mas também não chega a ser um vilarejo!

— Ok, ok. — Ele disse, levantando as mãos, se rendendo.

— Respondendo sua pergunta: sim, eu cresci aqui. — Eu disse. — Não volto aqui desde que mamãe descobriu que tinha câncer. Nos mudamos para Denver, para ela fazer o tratamento, e eu conheci Jane e Kile. Kile e minha mãe eram amigos de infância, e alguns dias antes de morrer ela resolveu tudo para que, quando ela morresse, os dois tivessem minha guarda.

— Você não tem avós ou tios? — Jonny perguntou.

— Meu avô abandonou minha avó quando minha mãe, a filha mais velha, nasceu. Alguns anos depois, minha avó morreu, e minha mãe teve que cuidar dos meios-irmãos dela. Ela não é irmã deles, exatamente, então ela sempre me dizia que eu era especial e tinha meios-tios, assim como ela tinha meios-irmãos. — Eu sorri, me lembrando de minha mãe. — Minha avó teve três filhos, minha mãe e mais dois meninos. O mais novo, o único que eu conheci, morreu quando eu tinha sete anos, num acidente. O avião em que ele estava com a mulher e o filho caiu.

— Sua vida é cheia de tragédias. — Jonny disse.

— Algumas pessoas nascem, vivem e morrem felizes. Elas nasceram para a felicidade. — Eu disse. — Outras nascem, sofrem, têm alguns momentos felizes e morrem. Essas são as que têm a vida marcada por tragédia; que nasceram para morrer.

— Apesar de ser verdade, é um jeito triste de pensar. — Ele disse. Assenti, concordando.

— Não conheci o meu tio mais velho. Minha mãe nasceu em Denver, mas veio para cá pouco antes de conhecer meu pai, e os dois perderam o contato, porque ele achava que a decisão dela era imatura. — Eu disse. — Minha mãe era professora de jardim de infância. Meu tio mais velho vivia dizendo que ela deveria se formar em outra coisa, trabalhar mais duro. Ela sempre o ignorava. Um dia, ela ficou realmente chateada com a atitude dele, e decidiu parar de ser um “peso” na vida dele. Então, ela se mudou para cá, onde ela levaria uma vida mais tranquila e mais barata. Ele nunca aceitou essa escolha, e, ao contrário do meu tio mais novo, cortou o contato com ela.

— Qual é o nome dele?

— Do meu tio mais velho? — Perguntei. Jonny assentiu. — Michael. O nome do meu tio mais novo era Ricky.

— E qual era o nome da sua mãe? — Ele perguntou. Abri a boca, mas logo a fechei. Meus olhos lacrimejaram, e Jonny acrescentou, rapidamente: — Não precisa responder. Foi idiotice minha perguntar isso.

— Não faz mal. — Eu disse. — O nome dela era Florence.

— É um nome bonito. — Jonny disse.

— É. É, sim. — Eu sorri. Lágrimas quase saíam dos meus olhos, e eu as enxuguei com as costas da mão, antes mesmo que atrevessem cair. — Quer ver minha antiga casa?

Jonny assentiu. Andei confiante pelas ruas, certa de que eu ainda lembrava o caminho. Ele andava muito atrás de mim, e por essa razão segurei sua mão e o puxei pelas ruas.

Algumas pessoas olhavam para nós dois como se já nos tivessem visto antes. Reconheci alguns rostos, mas não parei para cumprimentá-los. Eu queria ver minha casa; queria olhar para ela e lembrar de todos os momentos felizes que passei ali, lembrar de minha mãe, de meu tio, de meus antigos amigos.

Entramos numa rua um pouco estreita e sem saída. Só paramos de andar quando chegamos em frente à última casa da rua, bem escondida das outras.

— É aqui. — Eu disse, baixo.

A casa ainda continuava a mesma, porém mais velha e suja. Parecia que depois que eu e minha mãe nos mudamos, ninguém mais entrou ali. A cerca, que antes era branca, estava encardida, cheia de buracos feitos por cupins; as paredes, antes amarelas, agora exibiam um estranho tom de marrom; o portão estava enferrujado; as janelas, quebradas; e o jardim, morto.

Empurrei o portão da casa, abrindo-o. Jonny me observava calado enquanto eu andava pelo quintal com um olhar triste.

Era para ser um momento feliz, eu pensei. Era para eu estar contente. Eu finalmente voltei para casa!

Mas as coisas estavam críticas demais. Aquele local tinha sido abandonado, e a culpa era minha. Eu deveria ter voltado antes. Eu deveria ter convencido Jane e Kile a me deixar vir aqui, mas eu não o fiz. Não o fiz, e agora estou enfrentando toda a minha infância de um jeito horrível. Meu passado está completamente apodrecido.

— Lottie, vamos embora. — Jonny disse. — Isso não está te fazendo bem, e você sabe disso.

— Eu preciso ficar aqui só por mais alguns minutos. — Murmurei, meio desorientada.

Subi na varanda da casa e parei de frente para a porta.

— Lottie. — Jonny chamou, preocupado.

O ignorei e coloquei minha mão sobre a maçaneta enferrujada.

— Lottie. — Jonny advertiu novamente. — Não abra a porta.

O ignorei mais uma vez e girei a maçaneta lentamente, de olhos fechados. Quando a porta se escancarou, eu abri os olhos.

Meu coração se contorceu em agonia quando eu vi como a casa estava por dentro.


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