Adeus, Viajante escrita por MogeBear


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis


Notas iniciais do capítulo

Um dos últimos capítulos!
Espero que gostem!



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Colorado, 2015 – Lottie

Depois de abrir a porta da minha antiga casa, fiquei chocada com o que vi. Tão chocada que nem ao menos me lembro do que aconteceu depois.

Quando dei por mim, vi que estava no carro, e Jonny o dirigia com a expressão preocupada.

— O que aconteceu? — Perguntei. Minha voz saiu rouca, provavelmente pela falta de uso. Minha garganta e minha cabeça doíam, e eu estava um pouco tonta.

Jonny olhou para mim, um pouco mais aliviado. Sua expressão logo se tornou séria e ele disse:

— Eu te disse para não abrir aquela porta.

— Era minha casa, Jonny. — Eu disse. — Eu tinha que abrir. O que aconteceu depois daquilo?

— Você não se lembra? — Ele perguntou. Balancei a cabeça negativamente, fazendo-o continuar: — Você desabou. Se ajoelhou no chão e começou a berrar.

Então era por isso que minha garganta está doendo e eu estou rouca, pensei.

— Logo em seguida, você desmaiou. — Ele disse. Algumas pessoas tinham ficado assustadas com os gritos, e foram ver o que estava acontecendo. Eles te viram desmaiar e me ajudaram a te trazer para o carro. Eu estava indo para o hospital, mas agora que você já acordou e parece bem melhor, vamos retomar nossa rota.

— Ok. — Eu disse. Estava tentando não falar aquelas três palavrinhas, mas minha barriga me denunciou.

— Você está com fome, não é? — Ele adivinhou.

— Sim. — Respondi baixo.

— Tem uma sacola dentro do porta-luvas. Tem comida dentro dela. — Ele disse. Abri o porta-luvas e vi uma sacolinha de papel. — É cachorro-quente. Comprei há alguns minutos atrás, então ainda deve estar quente.

— Obrigada. — Eu disse.

— Eu sabia que você ia acordar com fome. — Ele deu de ombros. — Eu só comprei para você não encher o saco. E aliás, foi com o seu dinheiro.

— É claro que foi com meu dinheiro. — Eu disse, revirando os olhos.

Eu não sentia vontade de ouvir música nem de fazer mais nada além de comer. Esse sentimento fez com que meu cachorro-quente acabasse em dois minutos. Tinha uma pequena latinha de refrigerante dentro de outra sacola no porta-luvas. A bebida ainda estava gelada, e eu acabei com ela rapidamente.

Suspirei, colocando o papel do cachorro-quente e a latinha dentro de um dos saquinhos de papel.

— Quando eu me casar, eu vou voltar para Glenwood Springs. — Eu disse.

Jonny virou o rosto, de modo que pudesse me observar.

— Eu vou voltar àquela casa e consertá-la. — Eu disse. — Vou deixá-la como ela era, e vou construir minha vida adulta e minha família lá.

Jonny não disse nada, mas parecia querer dizer. Provavelmente queria dizer que não era uma boa ideia, mas sabia que eu não ia escutá-lo.

— Eu quero que meu passado e meu presente estejam conciliados. — Eu continuei. — Como eu te disse, Glenwood Springs é um lugar ótimo. Meus filhos vão adorar morar lá.

Jonny não respondeu, e passamos a hora seguinte completamente calados.

“Você chegou ao seu destino”

Essas cinco palavrinhas me acordaram de meus devaneios.

Com nossa parada em Glenwood Springs, demoramos mais do que deveríamos. Era uma hora da tarde, e tanto eu quanto Jonny estávamos cansados daquela viagem.

— Para onde vamos agora? — Jonny perguntou depois de descermos do carro.

— Vamos comprar equipamentos de escalada. — Eu disse.

— O seu dinheiro não acaba nunca? — Ele perguntou.

— Eu sou rica, meu querido. — Brinquei. Ele sorriu, me fazendo sorrir também. — Vamos logo.

— E agora? — Jonny perguntou.

— Agora? Agora eu percebi que equipamentos de escalada são realmente muito caros e que meu dinheiro acabou. — Eu disse, emburrada.

— Oras, mas você não era rica? — Ele riu.

— Exatamente. Eu era. — Disse, dando ênfase no “era”.

— Quando vamos escalar? — Ele perguntou. — Porque agora já é óbvio que a resposta do enigma é aquela montanha ali.

Jonny apontou para uma montanha ao longe.

— Parabéns! Você decifrou o enigma! — Eu disse, desanimada.

— Eu disse que iria descobrir mais cedo ou mais tarde. — Ele sorriu. Continuei séria, e ele completou: — Não esquenta, Lottie. Não vou contar a resposta para ninguém.

— Claro que não vai. — Eu disse. — Você vai voltar ao futuro, e esse enigma nem vai mais existir. Aliás, você vai voltar para o futuro e não vai nem se lembrar que eu existi algum dia.

Estávamos sentados no meio-fio, com sacolas ao nosso lado. O sol estava quente e eu estava suando.

Jonny tirou o celular do bolso e chegou perto de mim. Esticando a mão, ele tocou na tela e um flash me cegou.

— Pronto, Lottie. Agora eu nunca vou me esquecer de você. — Ele disse, sorrindo.

Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar.

Mas o que é isso?, perguntei à mim mesma. Por que você está corando, Lottie?

Uma menininha que passava do outro lado da rua, segurando a mão de uma mulher que provavelmente era sua mãe, nos observava e gritou:

— Olha, mamãe! Eles são um casal lindo, não é? — Senti meu rosto corar ainda mais. Olhei para Jonny com o canto do olho e o vi sorrindo.

Por que esse idiota está sorrindo?

A mulher olhou para nós dois com um olhar de desculpas. Sorri para ela, mostrando que entendia sua situação. Eu me lembro que quando era criança eu fazia a mesma coisa. A única diferença era que eu não gritava para todos ouvirem.

— Sabe, tem uma coisa no passado que é melhor do que no futuro. — Jonny disse.

— O quê? — Eu perguntei. Minha voz saiu um pouco mais baixa do que deveria, e eu me xinguei mentalmente por isso.

— As crianças. — Ele disse. — Elas são mais divertidas, inocentes e sinceras. As crianças do futuro são iguais aos adultos.

— Que coisa horrível. — Eu disse. — Então, suponho que, no futuro, o melhor período da vida não é a infância.

— Sem chance. — Ele disse, ainda sorrindo. Meu rosto tinha voltado à sua cor normal e eu pude olhar para ele. — É a adolescência.

— Mas... como vocês definem os períodos da vida, se vocês vivem até os quatrocentos anos?

— Nós vivemos até os quatrocentos, mas nossos corpos só envelhecem até os cem. — Ele disse. — Não me pergunte como, porque eu não sei responder à essa pergunta.

Dei de ombros, mostrando que não me importava a razão daquilo.

— Quando vamos escalar? — Jonny perguntou de novo.

— São uma e meia. Vamos esperar o lugar ficar mais vazio antes de começar a escalar a montanha. — Eu disse. — Isso vai ser daqui a, mais ou menos, uma hora e meia.

— Ok. — Ele disse. — E o que faremos até lá?

— Não sei. Alguma ideia? — Perguntei.

— Eu estou aqui há menos de uma semana, como você quer que eu saiba? — Ele perguntou.

— Então vamos ao parque de diversões! — Eu disse me levantando e puxando Jonny comigo.


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