Adeus, Viajante escrita por MogeBear
Notas iniciais do capítulo
Um dos últimos capítulos!
Espero que gostem!
Colorado, 2015 – Lottie
Depois de abrir a porta da minha antiga casa, fiquei chocada com o que vi. Tão chocada que nem ao menos me lembro do que aconteceu depois.
Quando dei por mim, vi que estava no carro, e Jonny o dirigia com a expressão preocupada.
— O que aconteceu? — Perguntei. Minha voz saiu rouca, provavelmente pela falta de uso. Minha garganta e minha cabeça doíam, e eu estava um pouco tonta.
Jonny olhou para mim, um pouco mais aliviado. Sua expressão logo se tornou séria e ele disse:
— Eu te disse para não abrir aquela porta.
— Era minha casa, Jonny. — Eu disse. — Eu tinha que abrir. O que aconteceu depois daquilo?
— Você não se lembra? — Ele perguntou. Balancei a cabeça negativamente, fazendo-o continuar: — Você desabou. Se ajoelhou no chão e começou a berrar.
Então era por isso que minha garganta está doendo e eu estou rouca, pensei.
— Logo em seguida, você desmaiou. — Ele disse. Algumas pessoas tinham ficado assustadas com os gritos, e foram ver o que estava acontecendo. Eles te viram desmaiar e me ajudaram a te trazer para o carro. Eu estava indo para o hospital, mas agora que você já acordou e parece bem melhor, vamos retomar nossa rota.
— Ok. — Eu disse. Estava tentando não falar aquelas três palavrinhas, mas minha barriga me denunciou.
— Você está com fome, não é? — Ele adivinhou.
— Sim. — Respondi baixo.
— Tem uma sacola dentro do porta-luvas. Tem comida dentro dela. — Ele disse. Abri o porta-luvas e vi uma sacolinha de papel. — É cachorro-quente. Comprei há alguns minutos atrás, então ainda deve estar quente.
— Obrigada. — Eu disse.
— Eu sabia que você ia acordar com fome. — Ele deu de ombros. — Eu só comprei para você não encher o saco. E aliás, foi com o seu dinheiro.
— É claro que foi com meu dinheiro. — Eu disse, revirando os olhos.
Eu não sentia vontade de ouvir música nem de fazer mais nada além de comer. Esse sentimento fez com que meu cachorro-quente acabasse em dois minutos. Tinha uma pequena latinha de refrigerante dentro de outra sacola no porta-luvas. A bebida ainda estava gelada, e eu acabei com ela rapidamente.
Suspirei, colocando o papel do cachorro-quente e a latinha dentro de um dos saquinhos de papel.
— Quando eu me casar, eu vou voltar para Glenwood Springs. — Eu disse.
Jonny virou o rosto, de modo que pudesse me observar.
— Eu vou voltar àquela casa e consertá-la. — Eu disse. — Vou deixá-la como ela era, e vou construir minha vida adulta e minha família lá.
Jonny não disse nada, mas parecia querer dizer. Provavelmente queria dizer que não era uma boa ideia, mas sabia que eu não ia escutá-lo.
— Eu quero que meu passado e meu presente estejam conciliados. — Eu continuei. — Como eu te disse, Glenwood Springs é um lugar ótimo. Meus filhos vão adorar morar lá.
Jonny não respondeu, e passamos a hora seguinte completamente calados.
↔
“Você chegou ao seu destino”
Essas cinco palavrinhas me acordaram de meus devaneios.
Com nossa parada em Glenwood Springs, demoramos mais do que deveríamos. Era uma hora da tarde, e tanto eu quanto Jonny estávamos cansados daquela viagem.
— Para onde vamos agora? — Jonny perguntou depois de descermos do carro.
— Vamos comprar equipamentos de escalada. — Eu disse.
— O seu dinheiro não acaba nunca? — Ele perguntou.
— Eu sou rica, meu querido. — Brinquei. Ele sorriu, me fazendo sorrir também. — Vamos logo.
↔
— E agora? — Jonny perguntou.
— Agora? Agora eu percebi que equipamentos de escalada são realmente muito caros e que meu dinheiro acabou. — Eu disse, emburrada.
— Oras, mas você não era rica? — Ele riu.
— Exatamente. Eu era. — Disse, dando ênfase no “era”.
— Quando vamos escalar? — Ele perguntou. — Porque agora já é óbvio que a resposta do enigma é aquela montanha ali.
Jonny apontou para uma montanha ao longe.
— Parabéns! Você decifrou o enigma! — Eu disse, desanimada.
— Eu disse que iria descobrir mais cedo ou mais tarde. — Ele sorriu. Continuei séria, e ele completou: — Não esquenta, Lottie. Não vou contar a resposta para ninguém.
— Claro que não vai. — Eu disse. — Você vai voltar ao futuro, e esse enigma nem vai mais existir. Aliás, você vai voltar para o futuro e não vai nem se lembrar que eu existi algum dia.
Estávamos sentados no meio-fio, com sacolas ao nosso lado. O sol estava quente e eu estava suando.
Jonny tirou o celular do bolso e chegou perto de mim. Esticando a mão, ele tocou na tela e um flash me cegou.
— Pronto, Lottie. Agora eu nunca vou me esquecer de você. — Ele disse, sorrindo.
Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar.
Mas o que é isso?, perguntei à mim mesma. Por que você está corando, Lottie?
Uma menininha que passava do outro lado da rua, segurando a mão de uma mulher que provavelmente era sua mãe, nos observava e gritou:
— Olha, mamãe! Eles são um casal lindo, não é? — Senti meu rosto corar ainda mais. Olhei para Jonny com o canto do olho e o vi sorrindo.
Por que esse idiota está sorrindo?
A mulher olhou para nós dois com um olhar de desculpas. Sorri para ela, mostrando que entendia sua situação. Eu me lembro que quando era criança eu fazia a mesma coisa. A única diferença era que eu não gritava para todos ouvirem.
— Sabe, tem uma coisa no passado que é melhor do que no futuro. — Jonny disse.
— O quê? — Eu perguntei. Minha voz saiu um pouco mais baixa do que deveria, e eu me xinguei mentalmente por isso.
— As crianças. — Ele disse. — Elas são mais divertidas, inocentes e sinceras. As crianças do futuro são iguais aos adultos.
— Que coisa horrível. — Eu disse. — Então, suponho que, no futuro, o melhor período da vida não é a infância.
— Sem chance. — Ele disse, ainda sorrindo. Meu rosto tinha voltado à sua cor normal e eu pude olhar para ele. — É a adolescência.
— Mas... como vocês definem os períodos da vida, se vocês vivem até os quatrocentos anos?
— Nós vivemos até os quatrocentos, mas nossos corpos só envelhecem até os cem. — Ele disse. — Não me pergunte como, porque eu não sei responder à essa pergunta.
Dei de ombros, mostrando que não me importava a razão daquilo.
— Quando vamos escalar? — Jonny perguntou de novo.
— São uma e meia. Vamos esperar o lugar ficar mais vazio antes de começar a escalar a montanha. — Eu disse. — Isso vai ser daqui a, mais ou menos, uma hora e meia.
— Ok. — Ele disse. — E o que faremos até lá?
— Não sei. Alguma ideia? — Perguntei.
— Eu estou aqui há menos de uma semana, como você quer que eu saiba? — Ele perguntou.
— Então vamos ao parque de diversões! — Eu disse me levantando e puxando Jonny comigo.
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