Adeus, Viajante escrita por MogeBear
Notas iniciais do capítulo
Hoje a história será finalizada!
Postarei os últimos seis capítulos (e epílogo) provavelmente antes das oito horas.
Espero que gostem!
Denver, Colorado, 2015 – Lottie
Já fazia uma hora desde a última conversa que tive com Jonny, quando ele falou sobre sua irmã, Erin. Ele parecia bem mais calmo, mas eu ainda tinha receio de começar uma nova conversa.
O silêncio ainda era desconfortável, e agora, quem estava entediado era Jonny. Ele bocejava algumas vezes, mostrando a total chatice que aquela viagem era.
— Me empresta seu celular? — Pedi enquanto tirava meus pés do painel do carro, quebrando o silêncio. Jonny franziu as sobrancelhas.
— Por que, exatamente, eu te emprestaria meu celular?
— Porque eu estou entediada. — Disse. — Por favor!
— Eu não tenho jogos no meu celular. — Ele disse.
— Eu não quero jogar, só quero ver o seu celular. — Ele parecia pensar. Alguns segundos depois, ele tirou o celular do bolso com alguma dificuldade e me entregou.
— Não mexa em nada que pareça particular, por favor. — Ele disse.
— Posso olhar suas fotos, pelo menos?
— Pode. — Ele respondeu.
Peguei o celular, que era leve e fino, como vidro.
— Como eu ligo isso? — Perguntei. Jonny riu e pegou o celular da minha mão. Ele tocou na tela algumas vezes, num ritmo, e a tela se iluminou. Ele devolveu o celular para mim, e eu disse, aborrecida: — Exibido.
Ele riu. Alguns segundos depois, aprendi como mexer naquilo, e procurei a galeria de fotos.
A primeira foto era de uma mulher vestindo um jaleco branco. Seu cabelo era negro e estava amarrado num rabo de cavalo. Um homem estava de costas para a câmera, e a mulher olhava para ele.
— Quem são esses? — Perguntei.
— Essa é a Kim. Esse homem de costas é meu pai. — Ele disse. — Só tirei essa foto porque a acho bonita.
— Ah. — Eu disse. Alguma coisa se agitou dentro de mim, e eu senti um gosto estranho na boca. Será que é a fome se manifestando de novo? Ou será que é um enjoo?
Continuei passando as fotos. Haviam várias fotos de Jonny com outras pessoas, aparentemente com a mesma idade que ele. Provavelmente eram seus amigos.
Uma foto me chamou a atenção: eram três pessoas, uma mulher, sentada numa cadeira de rodas, uma menininha loira, e Jonny, que parecia um pouco mais novo. Presumi que fossem a mãe e a irmã de Jonny.
— Ah, essa foto... — Disse Jonny, olhando de canto para a foto. — Tiramos no aniversário de Erin, uns dias antes do acidente. Meu pai não foi na festa.
Esse homem, o pai de Jonny, parecia uma pessoa genial. Genial, mas totalmente detestável. Devolvi o celular a Jonny, depois de olhar algumas outras fotos.
— Seu pai parece ser uma pessoa horrível. — Eu disse.
— Não só parece, como é. — Ele disse. — Claro, ninguém mais além de mim, acha isso. Bem, ninguém no futuro.
Ele olhou para mim e sorriu, triste. Eu devolvi o sorriso, hesitante.
— Falta muito? — Ele perguntou, desviando o olhar.
— Na verdade, estamos quase chegando. — Respondi, ligando o rádio, que Jonny tinha desligado por estar com dor de cabeça. — Faltam só duas horas.
Jonny gemeu.
— E isso não é faltar muito?
— Não se você acelerar. Você está a cem milhas por hora, se acelerar para cento e cinquenta, diminuímos quarenta e cinco minutos, mais ou menos. — Disse. Jonny me olhou como se eu fosse maluca. — O que foi? Tem poucos carros na estrada, passar um pouquinho do limite de velocidade não vai fazer mal a ninguém!
Jonny acelerou o carro lentamente, ainda considerando se aquilo era uma boa ideia.
— Acelera logo, Jonny! — Eu disse. — Pisa fundo!
Alguns (milhares) de minutos depois, estávamos a cento e quarenta milhas por hora, passando alguns poucos carros que antes estavam à nossa frente.
— Viu? Não era uma má ideia! — Coloquei os pés no painel do carro novamente, fazendo Jonny torcer o nariz. — O que foi? Você só está com inveja porque não pode tirar os pés dos pedais e esticar as pernas!
— Você só consegue esticar as pernas porque é muito baixa. — Ele disse. Dei de ombros.
— Que seja. — Eu disse.
Agradeci por Jonny ter se acalmado e pelo clima entre nós dois ter voltado ao normal. Ele esticou a mão e aumentou o volume do rádio.
— Eu conheço essa música. — Ele disse. — A ouvi quando fui te esperar na escola.
— Ah, eu me lembro. — Disse. — Um carro passou, não é? Eu odeio essa gente que coloca o rádio no último volume e fica obrigando as pessoas escutarem o rádio. Se bem que essa música nem é ruim.
— Então, quer dizer que vocês do passado costumam fazer isso?
— Algumas pessoas, sim. Felizmente, ainda existem pessoas que têm bom-senso. — Eu disse.
— Eu disse que vocês do passado são estranhos. — Ele disse, rindo.
— Nem todos são estranhos. — Disse. Jonny virou o rosto para mim, com uma cara incrédula.
— Sim, todos são estranhos. — Ele disse, sorrindo.
— Até eu?
— Claro que sim. Você é uma das mais estranhas! — Ele disse.
— Bem, então ser estranho é legal. — Disse, dando de ombros.
— Me responde uma coisa? — Jonny pediu, depois de alguns segundos.
— O quê? — Perguntei.
— Como vai ser quando eu for embora?
Parei para pensar na resposta. Isso nem tinha passado pela minha cabeça ainda, mas era uma boa pergunta.
— A gente nunca mais vai se ver. — Eu disse.
— Pois é. Mas você vai se lembrar de mim, e eu vou me lembrar de você. — Ele disse. — Vai ser complicado.
— Você pode vir aqui me visitar, se você quiser. — Disse, sem pensar.
— E você quer que eu venha aqui te ver? — Ele perguntou. Meu rosto ficou quente, e em questão de segundos eu estava tão vermelha quanto um tomate.
— Eu disse se você quiser. — Disse, enfatizando o “você”. — Se isso acontecer, para mim, tanto faz.
— Ah, é claro. — Ele disse, assentindo várias vezes com a cabeça enquanto sorria.
— Você não consegue levar nada à sério? — Perguntei.
— Pra quê? A vida é curta.
— Vocês vivem por quatrocentos anos! — Protestei.
— Pois é! É muito pouco tempo! Nem chega à meio milênio! — Ele disse. — Nunca conseguiria fazer tudo que eu quero fazer em quatro séculos. Preciso de, no mínimo, quinhentos anos.
— Os seres humanos não dão valor ao que tem, não é mesmo? — Eu disse. — A gente nem chega a cento e cinquenta, imagina a quatrocentos!
— Mas isso é porque vocês do passado são perdedores. — Ele disse.
— Pode até ser, Senhor Viajante, mas você está preso aqui com os perdedores, o que te torna ainda mais perdedor! — Eu disse.
— Que seja. — Ele disse depois de alguns segundos.
— Ganhei a discussão! — Comemorei.
— Alguém já te disse que você é muito boba? — Jonny disse, rindo da minha cara.
— Não tenho certeza, mas provavelmente sim. — Dei de ombros. — De qualquer forma, isso não importa. Afinal de contas, é essa boba aqui que vai te levar até Gabriel Smith.
Jonny revirou os olhos, e eu sorri.
— Estamos quase chegando em Glenwood Springs. — Eu disse. — Eu adoro aquele lugar, então se prepare para um longo passeio.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Já já posto os próximos!