Macchiato | Café com Letra #1 escrita por Café com Letra


Capítulo 8
“The Boss” — Weslley Ngr


Notas iniciais do capítulo

História escrita pelo autor Weslley Ngr (https://fanfiction.com.br/u/391205/).



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As batalhas haviam se encerrado, o grande robô gigante denominado de Peace Walker aparentemente conseguiu uma maneira de pensar por si próprio e com suas próprias pernas mecânicas, fora do comando de segundos, caminhou lentamente para o fundo do mar afim de impedir o lançamento de misseis nucleares. A vontade de uma certa pessoa havia atingido a mais profunda região da consciência daquela máquina e estávamos todos salvos de futuros problemas seríssimos. Perdido em pensamentos eu apenas me ajoelhei, minhas pernas perderam a força e eu levei minhas mãos até o chão pensando comigo mesmo o que acabará de acontecer e combinando isso com todo o nervosismo de combate-lo durante horas e o stress do meu corpo, eu me encontrei exausto e perplexo ao mesmo tempo, como se ambas as minhas partes do corpo, física e mental, precisassem de um descanso imediatamente. Ao meu lado, a doutora responsável pela criação dessa imensa máquina bípede que caminhará lentamente por conta própria para as regiões mais profundas do mar. Sua expressão era de uma mulher cansada porém feliz com o que havia acabado de acontecer, retirou seus óculos gentilmente com sua mão direita e fitou, junto a mim, o grande horizonte enquanto o robô bípede desaparecia aos poucos pelo grande mar.

Alguns dias se passaram, eu fui levado de volta para a base mãe onde meus homens e eu vivemos junto de nosso novo negócio para a economia do mundo, buscando conquistar e tornar realidade o desejo de uma certa pessoa, sua filosofia, seus ideais. Lembro como se fosse ontem, na verdade, todo santo dia eu sinto na pele as mesmas emoções daquele tempo, suas palavras transbordando pela minha mente e fazendo-me pensar cada vez mais sobre mim e todos a minha volta. ‘‘O mundo como uma coisa só’’ ela disse para mim, enquanto se posicionava para me enfrentar, sua última batalha, meu último ensinamento. Sim, batalhei com minha mestra até não conseguirmos respirar mais e somente um de nós deveríamos sair vivos dessa situação. Uma missão fora imposta para mim, falhar não era uma opção mesmo que isso significasse matar a pessoa que me criou durante anos. Minha mãe, minha mestra e minha amada, por mais que nunca tenhamos trocado gestos de amor um pelo outro, ela foi a única mulher que eu amei de verdade e mesmo soldado, senti o verdadeiro sentimento da palavra ‘‘amor’’. Ela era conhecida pelo seguinte codinome.

The Boss.

Eu, e esta mulher que estava ao meu lado de cabelos brancos e curtos com pele sensível cujo era coberta por roupas longas e sociais, acompanhadas de muito estilo e sagacidade, compartilhava desse sentimento de afeto e carinho por ela. Nunca nos encontramos antes além dessa situação que nos levou a brigar entre si. Ela buscava compreender a última ação de sua amada, cujo eu obtive chance primordial e única, mas infelizmente tento compreender até hoje. Por que ela me deixou? Tantas perguntas mesmo agora. Enfim, vamos deixar isso pra trás. Agora, em casa, em nossa querida Mother Base construída sobre o grande mar no meio do nada, dirigia um carro pelas bases afim de checar como estavam meus companheiros e para principalmente encontrar-me com Kazuhira Miller, meu companheiro e braço direito que me ajuda fielmente a manter os negócios firmes. Ao chegar na base R&D, estacionei o carro por perto e levantei-me do veículo, caminhando em direção ao prédio construído no local afim de dar um oi para meus futuros companheiros novos que conquistei durante essa última batalha. Ao adentra-lo, pude ver ao longe meu novo cientista chamado Emmerich, ou como carinhosamente o chamados de ‘Huey’, sentado em sua cadeira de rodas perambulando o grande prédio dando o seu melhor para construir o nosso grande ‘‘Metal Gear ZEKE’’, uma arma bípede capaz de lançar misseis nucleares em qualquer terreno. Apesar disso, esperamos que isso nunca ocorra, mas só por precaução devemos tê-lo. Enquanto perambulava o grande prédio da administração R&D, encontrei uma figura peculiar ao fundo de um dos laboratórios. Ela estava se retirando de lá e caminhando em direção a uma pequena sala de descanso. Era ela, a mulher que estava ao meu lado e compartilhava dos mesmos sentimentos sobre The Boss e acompanhou ao vivo junto de mim o nascimento de uma inteligência própria em um robô.

Dr. Strangelove.

— Strangelove! – falei surpreso, nome este proferido em um tom de voz alto sem qualquer intenção de minha parte.

— Snake. Olá. – Responderá a albina que apenas acenou com suas mãos enquanto continuará caminhando até seu destino.

— Você realmente veio. – Não pude resistir e caminhei atrás desta. Após todos os problemas que agora devem estar no passado, Miller e eu... Quem sabe até mesmo a ‘Paz’, pedimos que está se juntasse a nós após a prisão de um sujeitinho que estava por trás dos panos cujo ela trabalhava. Nunca pensei que ela fosse aceitar mesmo vir para cá. — Por que você concordou em vir para a Mother Base?

— Porque, você pergunta... Você me intrigou. – Responderá a moça após chegarmos a sala de descanso do prédio de administração do Time R&D.

— Eu te intriguei? – Pensei por um segundo, confuso, buscando entender o motivo de tal coisa. Eis que algo me vem em mente. — Espere um segundo, você não está planejando em modelar sua próxima IA em mim, está?

— Não é uma ideia ruim. Mas eu não tenho intenções de voltar a transplantar pensamentos humanos em uma máquina novamente.

— Uff, isso é gratificante. – Essa senhorita foi capaz de fazer algo devidamente assustador ali atrás, não gostaria de ter que encarar frente a frente algo daquele nível novamente.

— Você é o homem que herdou a vontade daquela mulher, a The Boss. Você continua juntando pessoas ao seu redor até mesmo agora, unindo eles, construindo uma nova organização. Eu quero ver no que isso irá se tornar.

— Você não tem planos de voltar as pesquisas de IA?

— Eu nunca disse tal coisa. – Nesse momento, não pude me conter em realizar uma expressão de surpreso. Ela em resposta ao notar isso, sorriu de canto. — Claro que meu trabalho irá continuar.

— Aqui?

— Ao meu ver, o crescimento da MSF é em uma organização análoga ao desenvolvimento do sistema nervoso. A maneira que vocês ficam interlaçados, estimulando um ao outro, irá leva-los a uma nova direção... É de certa forma inspirador.

— Interessante a sua interpretação e maneira de colocar a MSF.

— É claro, eu pretendo retornar o favor por sua hospitalidade. Os frutos das minhas pesquisas estarão a sua disposição. – Balancei a cabeça positivamente acompanhado de um sorriso de canto. Ela continuou. — Por que não me designa para o Time R&D? Eu prometo que não irei decepciona-lo.

— Farei isso. – Confirmei para a mesma, estendendo minha mão direita para um aperto amigável o qual fui correspondido — Caso eu esqueça de mais alguma coisa, pedirei ajuda ao Miller para designa-la corretamente e deixa-la a par de tudo por aqui.

— Estarei esperando ansiosamente.

— Enquanto isso...

— Hm? Diga.

— Strangelove, quando você e a The Boss se encontraram pela primeira vez? – Essa pergunta estava presa em minha garganta desde a primeira vez que nos encontramos em um esconderijo em uma das minhas missões. Foi quando eu descobri a existência de seu experimento sobre colocar os pensamentos da The Boss em um robô. Momento esse que fizeram minhas pernas tremerem, lembro do sentimento de esperança que mesmo minúsculo, batia forte no fundo de minha mente. Eu sentia estar próximo dela novamente, sentimento esse que eu não consigo colocar bem em palavras.

— Ela alguma vez já te disse sobre o que ela viu no espaço? – Perguntou a albina apoiando suas costas na pequena pia que havia na sala.

— Sim. – Afirmei.

— Eu vi a mesma coisa ao lado dela. Eu tomei parte do projeto... como uma cientista.

— Você estava com ela? – Perguntei, surpreso com a resposta.

— Sim. – A mesma abrirá uma das pequenas portas do armário da pia e de lá retirou uma panela e mais algumas coisas que não vi bem por esta se encontrar na minha frente, mas pude notar em seguida que estaria prestes a fazer algo para tomar. — Algumas pessoas aqui dentro da Mother Base dizem que você é uma boa pessoa para se matar o tempo.

— Miller deve ter contado algumas mentiras.

— Até que não veio dele. – Afirmava a doutora. — Deixa eu te perguntar, Snake. Está afim de ouvir uma história?

— Sobre?

— Meu passado com a The Boss.

— Bem... se não for incomodo.

— De maneira alguma. – Disse, logo continuando. —Irei preparar um café para me acompanhar na longa história. Aceita?

— Não, obrigado.

.

Desde a minha infância, eu amava olhar para os céus noturnos. Eu saia após o pôr do sol e bebia algo no ar frio. A lua, Vênus, tantas estrelas flutuando na borda do infinito. Em Manchester, não era comum você ver o céu noturno em toda a sua glória repleto de estrelas. Mas foi o suficiente para agitar um profundo desejo dentro de mim. Mesmo enquanto outros se encolhiam sob ataques aéreos nazistas, eu estava lá assistindo os céus, sonhando que um dia eu os alcançaria. Haviam, naturalmente, preocupações irritantes. Minha pele era incrivelmente sensível. Mesmo que levemente um pouco de sol entrasse em contato com ela, logo se transformava em um tom irritado de vermelho. Brincar fora de casa durante o dia estava completamente fora de questão. Naturalmente, eu dificilmente tive a chance de brincar com outras crianças da minha idade. Mas... eu nunca me senti sozinha por isso. A maneira deles pensarem era irracional, fazendo deles simples, fácil de prever. Os meninos falariam sobre tanques, aeronaves e insetos rastejantes assustadores. Enquanto as garotas com seus lindos vestidos e conchas de vidro acompanhadas de chás e biscoitos, falariam de meninos que gostavam. Eu nunca tinha muito a dizer desses assuntos. O curiosa disso é que adultos não são realmente diferentes disso. Eles são simples, caprichosos. Especialmente homens. Assim que vão ficando mais velhos, suas cabeças são preenchidas com pensamentos de mulheres e mais mulheres.

Felizmente, eu sempre tive a cabeça para matemática. Quando eu tinha dez anos, visitei Dr. Alan Turing, que vivia perto. Sentamos e discutimos lógicas matemáticas. As luzes sempre estavam em sua casa, mesmo no calar da noite. ''Teoricamente'', dizia ele, ''Não existe nenhum algoritmo que um computador não possa reproduzir''. O doutor não era idiota como os outros homens, apesar de que eu não descobri o porquê até ser tarde... após ele morrer. ''A hora está chegando'', disse ele, ''Quando computadores irão ser capazes de pensar por si próprios''. Essa ideia tocou o meu mais profundo núcleo do cérebro. Minha aptidão para a matemática me trouxe mais perto das estrelas.

Eu terminei os estudos, então viajei à América para ir em uma universidade. Enquanto eu estudava na Caltech, NASA foi estabelecida. Eu me inscrevi em um piscar de olhos. Eu era uma engenheira de computador muito boa na época, e a NASA precisava de habilidades como as minhas. O trabalho foi gratificante. E mesmo que eu tenha desistido de ir para o espaço eu mesma, era um prazer só de fazer parte de tudo aquilo. Eu fui designada para o ''Projeto Mercury'', esforço americano em competir com os Soviéticos em voo espacial tripulado. Sete homens foram escolhidos como candidatos a pilotos para o programa, se tornando os heróis da noite. As pessoas os chamaram de ''Mercury Seven''. O projeto fez um bom progresso, mais ou menos. Nós tínhamos todos os fundos e materiais que precisávamos. Após incontáveis horas de analises, nós até mesmo tínhamos planos para alguma coisa com pé de igualdade com Sputnik. Pensávamos que era apenas questão de tempo antes que nós alcançássemos os Russos.

Eles mandaram um cachorro em órbita e trouxeram de volta para a terra a salvo. Mas o braço superior da NASA negou provimento ao sucesso com um acaso. Os americanos recuperaram suas capsulas de reentrada no mar. Mas o único oceano na fronteira com a União Soviética é o Ártico, então suas capsulas de reentrada teve que fazer impacto em terra. Um cachorro era uma coisa, mas uma viagem no espaço com humano ainda levaria algum tempo. Ou era o que pensávamos. No final de janeiro de 1961, nós obtivemos sucesso em colocar um chipanzé nomeado Ham em órbita e ele retornou a terra mais saudável do que nunca. NASA estava tonta de sucesso. Foi então, em seguida, que uma nova mulher apareceu para o trabalho. Ela era uma piloto de backup e conselheira. Ela era linda, com cabelos loiros, uma boca forte e um olhar de aço. Mas havia algo mais naqueles olhos, um brilho de alguma coisa aquecedora... de afeição.

Era a The Boss.

Ela deu uma olhada para nós em nossa empolgação e murmurou: ''Saboreie essa alegria hoje. Porque amanhã você terá que encarar a verdade''. E ela estava certa. No dia seguinte, nosso cronograma do projeto estava acelerado. Nós recebemos novas informações de que os Soviéticos estavam meros meses próximos de colocarem um homem no espaço. O brass havia julgado mal os russos. Não podíamos dar ao luxo de permitir o choque de outro Sputnik. De alguma forma, nós tínhamos que colocar um homem no espaço antes que os Russos conseguissem. Era absolutamente uma tarefa impossível. Nós só tínhamos acabado de colocar o nosso primeiro chipanzé. Com um humano abordo, falhar não era uma opção. Especialmente se fosse um dos ''Mercury Seven'', garotos de ouro. E acima de tudo, o brass queria colocar uma janela de vidro na espaçonave. ''O piloto não será mais um teste animal dessa vez'' eles disseram. E quando esse herói voltar vivo e bem, eles vão querer que ele descreva o que ele viu.

Era loucura! Adicionar uma janela na nossa espaçonave existente seria deixar incapaz de lidar com o estresse. Sem mencionar o problema de proteger o ocupante da radiação. Mas a The Boss subiu para o desafio, e esplendidamente. Ela alegou ser leiga quando se tratava de espaço, mas pegou profundamente as novas ideias e conceitos. Ela era exigente - consigo mesma e com os outros. Ela parecia ter um coração frio as vezes. Mas eu estava apaixonada. Ela era bonita, sim, porém mais do que isso. Sua mente era completamente sábia, e não importava o quanto eu tentasse, eu nunca era capaz de prever suas ações. Foi fácil para eu assumir que seus julgamentos foram retirados de uma enorme base de conhecimento. Bem simples, suas experiências de vida eram mais diversas - mais intensas - do que qualquer um. Para mim, eles pareciam sem limites em sua amplitude. Nela, eu vi o reflexo do céu noturno. Talvez porque eu também era uma mulher, ela e eu ficamos próximas. Eu não poderia sair para o sol, mas ela acendeu minha vida. A luz dela era suave, como aquela da lua. Eu estava tão feliz.

Com sua orientação infalível, o projeto de forma recuperou seus passos. Mas um problema continuava - a salvação do piloto. Quando o dia para a escolha do piloto chegou, os Mercury Seven apenas saíram silenciosamente. Quem culparia eles? Era um risco muito grande a se tomar. Mesmo que eles se voluntariassem, NASA jamais deixaria eles irem. Eles eram heróis nacionais, cada dia aquecendo mais os holofotes da mídia. Não tinha como eles serem mandados em tal missão. A sala de conferência estava silenciosa. Então, vagamente, ela levanta sua mão - quase como se estivesse atuando fora de uma cena de filme. Eu fui contra a ida dela, a apresentação de um relatório indicando a blindagem radioativa era inadequada. Eis que o Brass disse bruscamente: ''Ela já fora exposta a um teste nuclear em Nevada. Ela é o candidato perfeito.'' era completamente irracional. Repetir a exposição à radiação somente aumentaria o perigo. Mas o governo ainda estava se recuperando do sucesso dos soviéticos com Sputnik. Não havia esperanças de conseguir uma resposta racional. Eles estavam simplesmente tomados pelo pânico. As pessoas podem ser tão obtusas quando chegam a coisas que eles não conseguem ver. Eu, no entanto, entedia tudo perfeitamente. Assim como uma invisível radiação ultravioleta chamuscava minha pele, partículas de radiação pesada do espaço poderiam causar danos irreparáveis ao tecido humano. Com outras palavras, ela era dispensável.

Durante a checagem de pre-voo da The Boss eu notei alguma coisa estranha no Raio-X de seu esqueleto. Parte do hemisfério direito de seu cérebro foi danificado. Parecia inexplicável dada a sua inteligência aguda e surpreendente destreza física. Mas lá estava, e eu decidi reportar. Eu esperava que talvez minha descoberta de um defeito físico o resultado poderia ser de um voo cancelado. Mas enquanto eu tomava meu caminho para reportar, ela me parou.

''Por que?'' Eu perguntei. ''Como você pode deixar se tornar a cobaia deles?!'' Ignorando meus protestos, ela me levou até a varanda do laboratório. O céu noturno estava em chamas de estrelas. Foi ali que eu aprendi como ela danificou sua cabeça. Durante uma missão que lhe foi dada para assassinar um espião que estava secretamente recolhendo informações de seu pais. Durante esta missão, ela descobriu que seu amável homem que jurou ficar ao seu lado independente dos motivos que ocorressem no futuro, apontou uma arma para ela, dizendo ser capaz de tudo para ver uma missão ser concluída. Ela estava aterrorizada, e em meio a um movimento inesperado, levou um tiro. A bala apenas roçou a superfície do cérebro, mas o tecido em volta do ferimento foi destruído, deixando ela em coma. Algumas semanas depois, ela acordou em um hospital sem saber o que havia acontecido e em volta de diversas pessoas engravatadas que a premiaram por uma missão bem concluída. Ela não entendia, mas logo tudo fora colocado em mesa e as lagrimas caíram após total compreensão da situação. Fora a primeira e única vez que ela chorará após a vida adulta e principalmente como sendo uma 'soldada'. Seu homem, aparentemente havia levado um tiro certeiro na cabeça e ela fora encontrada por companheiros mais tarde. Entenderam que vários tiroteios haviam ocorrido no local, e só restavam eles, ela com ferimentos que a levaram ao coma, e ele caído com um ferimento mortal na cabeça com seu corpo morto. Não era preciso palavras para ela compreender o que realmente aconteceu, pois seus sentimentos por ele a fizeram entender. Ele se sacrificou por ela, desistiu de sua missão para que a missão dela fosse bem sucedida, forjando até mesmo uma cena de tentativa de matá-la ao atirar em sua cabeça sem a intenção de matá-la... assim como fora ensinado a eles: ''Um deve morrer, outro deve sobreviver. Uma missão será concluída, outra irá falhar'' ela disse. ''Mas precisa ser realmente assim?'' eu nunca entrei no campo de batalha, mas coisas assim eu não conseguia compreender. ''Eu entendo sua preocupação, obrigada. Mas um soldado... deve ser leal até o fim.'' e junto de suas palavras, estava uma feição de remorso. Sim, remorso. ''Leal ao que?'' eu perguntei, mas ela não respondeu.

Os próximos dias seguiram com treinamentos cansativos para nosso primeiro voo espacial. A The Boss suportou as condições que foram testadas das limitações da capacidade humana, e eu ajudei ela. Aqueles foram dias felizes. Em 12 de abril, a nave espacial que transportava The Boss deixou a atmosfera da terra. Apesar de ter sido apenas 20 minutos de voo balístico, não era nada menos que um milagre, considerando o pouco tempo que tivemos. O primeiro humano no espaço. Nós estávamos em êxtase.

Então, algo deu errado.

O ângulo de reentrada foi um pouco para fora, deformando o casco exterior. A causa era clara - era a janela construída às pressas que nós tínhamos instalado. Sua cápsula perdeu o respingo projetado para o ponto baixo por um tiro longo. A médica que corríamos até a capsula, um noticiário chocante veio ao rádio. Foi a notícia do lançamento bem sucedido do foguete Vostok, pilotado pelo cosmonauta Yuri Gagarin. Eles nos derrotaram no espaço por questão de segundos. Quando nós chegamos, a capsula já havia desaparecido entre as ondas. The Boss estava boiando na superfície. Eu... nem consigo me lembrar direito o que aconteceu depois. Me disseram mais tarde que eu dei um grito estranho e saltei em direção ao mar, sem se importar se minha pele iria queimar ou não.

Ela não acordou.

Seu corpo todo estava machucado, queimado pelos raios cósmicos. Era um milagre que que ela ainda estava viva. Todo dia, propagandas da realização brilhando fluía pela União Soviética. A pior parte foi ler o relatório na manhã seguinte da Izvestia, O papel do governo soviético. Escrito lá depois do relatório foram essas palavras lendárias do Major Gargarin - ''A terra é azul''. A pessoa que deveria ter dito essas palavras, no entanto, estava incapacitada, confinada a uma cama. A NASA optou em divulgar que o voou nunca nem mesmo aconteceu. Os soviéticos conseguiram orbitar um homem em volta da terra e retorna-lo são e salvo. Nós mal conseguimos escapar da atmosfera e conquistar um voo balístico. E o pior, o piloto estava terrivelmente machucado e a nave espacial completamente perdida. Assim sendo, cobri-la era a única alternativa para não ver o orgulho da nação levando mais um forte golpe. Me disseram que os registros militares mostraram que The Boss esteve participando do incidente 'Baía de suínos' no momento. Foram ações desesperadas para apagar toda a falha.

No fim, o voo balístico de Alan Shepard um mês depois se tornou conhecido como o primeiro voo espacial americano. O voo de Shepard conseguiu sucesso através do conhecimento ganho pelo sacrifício de The Boss. Mas para mim, nada daquilo importava. Eu rezada todo dia e toda noite pela recuperação dela, nunca deixando ela de lado, nem por um momento. Então, no final do verão e no parecer do inverno, ela falou.

''Me dê um pouco d'agua...''. Eu me joguei em seu peito, e ela me abraçou. Era tudo que eu precisava. Eu achei que ela iria me contar sobre o espaço. O verdadeiro céu, onde as estrelas não brilham. Mas a única coisa que ela me falava era a terra. Nossa casa - como ela viu do espaço. Tão passageira, tão insubstituível. Eu estava envergonhada. Eu estive sonhando por tanto tempo com aquele céu que eu nunca pensei em olhar abaixo dos meus pés... sobre o chão cujo eu fico de pé.

Assim que sua reabilitação acabou, ela se foi. Aconteceu sem aviso. Ninguém me informou, e os meus superiores não disseram uma única palavra. Não era tão estranho ou surpreendente, na real. Eu simplesmente assumi que ela havia se retirado para completar sua próxima missão. Porque ela era leal, até o fim. Desde então, me devotei em pesquisar sobre inteligência artificial, então ninguém deverá ser capaz de fazer o sacrifício similar ao dela de novo. Nenhum ser humano deveria ser pedido para realizar uma missão tão perigosa. Na próxima vez, eu serei a luz que brilhará em outra pessoa.

Eu ainda me pergunto por que ela se abriu para mim naquela calma noite em Florida? Aquela operação era muito secreta, por mais que houvesse ficado tudo no passado. Eu gosto de pensar que é por causa da confiança dela em mim... mas esse provavelmente não foi o caso. Ela queria uma pessoa para ouvi-la. E eu não acho que essa pessoa fosse eu. Aqueles olhos distantes, o tom de sua voz - como se ela estivesse falando com sua própria cria - aquelas coisas deixaram claro que ela estava falando com outra pessoa. Eu me peguei invejando essa ''outra pessoa''.

Quatro anos depois eu soube de sua morte. Morte de uma traidora, sem menos. Aparentemente ela dissertou para a União Soviética e foi morta por seu aprendiz... ou fora isso que me foi dito. Eu me recusei em acreditar. Ela nunca faria tal coisa. Eu pude pensar em somente duas possibilidades: Ou ela realmente estava tentando juntar sul e leste ou ela realmente queria ser morta. Ela acreditava que o mundo estava trilhando um caminho que não deveria. Que estava se tornando desbalanceado pela tênue de paz oferecida pela dissuasão nuclear... E que ela era a culpada... Talvez sua morte fora um ato de expiação. Ela foi leal até o fim - o nosso mundo. E eu perdi a luz da minha vida.

.

— Bem... é isso. – Dizia a moça, dando seu último gole de café enquanto cerrava os olhos e saboreava o sabor.

— Eu total desconhecia sobre você, ela nunca me falou isso. – Ao dizer isso, pude notar que através de seu óculos uma expressão quase assassina veio em minha direção. Acho que eu disse algo que não deveria. — Vocês devem ter, sabe, passado por momentos felizes juntas.

— Sim, de fato passamos.

— Eu... sinto muito.

— Não sinta. – Disse. — Ela não gostaria que ficássemos choramingando por ela.

— Entendo agora sua motivação sobre criar a IA da The Boss. Entendo também o motivo daquelas boas vindas que você me deu quando me capturou. – Falei enquanto observava a mesma rindo de canto.

— Me desculpe por aquilo. Eu precisava saber de algo.

— Sei bem o que é. Está tudo bem. – Aliás, tocar no assunto de eu ter sido torturado por ela não irá me trazer boas coisas. Já não basta essa história.

— Snake, você sabe o que é uma IA? – Perguntou a moça, de repente.

— Hm? Por que essa pergunta de repente? – O rapaz levou as mãos à cabeça e pensou um pouco, respondendo de sua maneira. — Bem... Er, robô inteligente... não é?

— IA é uma abreviação de inteligência artificial. Se refere a uma criação humana de uma máquina que possui intelecto a par com o de um ser humano.

— Isso é ao menos possível? – Perguntei.

— Possível? Você viu com seus próprios olhos. O que armas IA são capazes de fazer e como o 'Peace Walker' carregou a vontade da The Boss no fim. Nenhuma máquina poderia escolher se sacrificar daquele jeito. – Falou a senhorita, levantando-se da cadeira da qual estava sentada durante toda a história, apoiando-se na pia ao guardar colocar sua xicara lá.

— Eu só não consigo ver como um monte de circuitos e botões poderia pensar por si próprio.

— Se chama 'O Fantasma na Máquina', Snake. E isso existe.

— O que você quer dizer com 'O Fantasma na Máquina'? – Perguntei, confuso sobre as palavras e seu significado em relação a conversa.

— Oh, isso... É um livro criado pelo filosofo Gilbert Ryle. Você já ouviu falar de Descartes, sim?

— ''I think therefore I am...''

— Esse mesmo. Descartes expos a dualidade teórica entre a mente e o corpo. Ele acreditava que nossas mentes pensantes existiam em uma dimensão separada de nossos corpos, qual era governado pelas leis da física. MAS, se isso era verdade, você não poderia dizer que um 'corpo mecânico' habitado por uma 'mente fantasma' não seria um ser humano? Ryle criticou Descartez por esses motivos, dizendo que tal coisa com certeza não seria humana.

— Por que trazer a frase?

— Eu não estava pensando em Ryle em particular quando eu disse. Eu apenas pensei que se uma pessoa é composta de uma máquina e um fantasma, talvez o oposto seja verdade também. Talvez colocando um fantasma dentro de uma máquina, nós possamos causar o efeito de um nascimento para uma nova pessoa.

— E essa era a sua ideia para a IA da The Boss? – Lancei minha pergunta para a senhorita, até mesmo como forma de faze-la ser mais objetiva, pois apesar de estar acompanhando a conversa de certa forma, era difícil. Sou um soldado, não um super conhecedor da cultura de inteligências artificiais e teóricas malucas.

— No momento que você retirou a placa de memória dela enquanto lutavam, a máquina mamífera cessou o funcionamento. Ele deveria estar morto. E mesmo assim, o 'Peace Walker' pensou por si próprio cantarolando um som de paz. — A mesma cerrou seus olhos e respirou fundo, que após isso se tornou um sorriso sincero e gentil de certa forma. — Eu não pude fazer nada, somente sentir que... a alma dela habitou o Peace Walker.

— Entendi. Vamos dizer que, hipoteticamente, realmente exista uma máquina inteligente. Como você provaria? Qual a diferença entre um computador de alto nível e uma IA?

— Depende do que você escolhe para definir uma inteligência. – A mesma, não de onde, talvez tenha sobrado um pouco do que ela fez, colocou mais café em sua xicara enquanto sentava-se novamente. Talvez venha uma longa explicação pela frente. — Por exemplo, Snake, escute a minha voz agora. Suponha que fosse uma IA?

— Como é que é?

— E se eu, vivinha aqui, respirando, sentada a sua frente tomando esse café Macchiatto e falando com você fosse na verdade uma IA, programada para simular meus pensamentos e vozes? – Essa pergunta certamente me arrepiou, pois assim que ela prosseguia com as descrições eu imaginava seriamente em minha cabeça que a pessoa a minha frente era de fato um robô.

— Você é louca.

— Não, não sou. Você não poderia provar que eu fosse um ser humano, poderia?

— Isso seria... Ah, não.

— Hm. Então se uma IA for tão avançada você não pode distinguir da verdadeira coisa, você não chamaria isso de inteligência?

— Eu não sei não, viu.

— Mas isso é só uma maneira de ver isso. É complicado como Dr. Turing explicou inteligência artificial. O teste que eu descrevi é chamado de ''Turing Test'' em sua memória, foi com ele que eu consegui desenvolver outros modos de criação do Peace Walker. – Dizia a albina.

— É, bem, parece mais como uma piada ruim para mim. Aquele monstro cantor seu me colocou em um inferno. – Falei, logo terminando. — Se eu nunca encontrar um novo, que vai ser muito em breve.

— Pena. E eu estava prestes a deixar uma IA no meu lugar para nossa conversa.

— Nem mesmo pense nisso, mocinha. – Após isso, nossa conversa se encerrou. Ela se levantou e se preparou para se retirar da sala, eu fiz a mesma coisa pois precisava dar continuidade aos treinamentos dos soldados e do meu também. Quem sabe até, Miller poderia aparecer a qualquer momento aprontando uma. Assim que eu me retirava, olhei para Strangelove levemente e a chamei. — Hey.

— O que? Vai me dar ‘Tchauzinho’? – Disse a moça, ironizando.

— Bem... Quer saber, deixa pra lá. Até mais. – Não era bem isso que eu tinha em mente, eu pretendia fazer mais uma pergunta a ela mas decidi que deveríamos encerrar por aqui. De certa forma, me sentia mais próximo a ela, e também a The Boss.

— Acho que eu aceitaria o Tchauzinho depois dessa. Até logo. – E assim, cada um foi para o seu lado.

Eu estive esperando por esse momento, Jack.

Eu não tenho mais nada para lhe ensinar ou dar. Exceto, agora, minha vida. Nas suas próprias mãos. Um deve morrer, outro deve viver. Sem vitória, sem derrota. O sobrevivente irá carregar a luta. Aquele que sobreviver irá herdar o título de Boss.

Me mate... Me mate agora. Só há um lugar no mundo para um Boss, e um ‘Snake’.

Cumpra seu papel, Jack.


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Notas finais do capítulo

Sintam-se livres para dar sugestões! ♥