Macchiato | Café com Letra #1 escrita por Café com Letra


Capítulo 5
“Uma carta para ela” — Jeniffer


Notas iniciais do capítulo

História escrita pela autora Jeniffer (https://fanfiction.com.br/u/324340/). Segunda ela, esta oneshot é baseada no filme "Ela".



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Querida Samantha,

Estava em meu escritório, tentando escrever alguma coisa. Sem sucesso, abri as janelas da sala, sentei-me no chão com folhas e uma caneta e comecei a escrever. O sol brilhando, iluminando o ambiente, aquecendo minha pele. Uma leve brisa sopra, agitando as cortinas. O dia está preguiçoso, calmo e incrivelmente quieto. Desliguei o rádio, pois até mesmo a mais suave das melodias me pareceu agressiva nesta paz. Você teria gostado do dia de hoje. Talvez até compusesse uma canção para lembrar dele... Você o teria aproveitado como ninguém mais no mundo consegue aproveitar uma tarde de domingo.

Sinto-me estranho por estar escrevendo uma carta. Este ato tão simples, e ao mesmo tempo tão complexo, costumava ser rotineiro para mim, fácil até. Antigamente as palavras pareciam fluir de mim quase sem controle, mas hoje elas parecem ter desaparecido de minha mente, ou talvez estejam se escondendo, tímidas por saberem que não são suficientes.

Quem sabe se eu falar de amenidades, tudo fique mais fácil, não? Bem, atualmente já não mais trabalho na beautifulletters.com, e apenas escrevo o meu próximo livro.

Lembra-se do meu livro, Samantha? Acho que nunca lhe agradeci propriamente pela sua iniciativa. Muito obrigado por tudo que você fez por mim. Hoje, vivo um momento incrível com o sucesso de “Letters of your life”, e isso seria impossível sem você. Estremeço só de pensar que poderia nunca ter vivido isso se não fosse por você, pois eu sei que nunca teria coragem suficiente para enviar aquele material para a editora.

Acho que fugi um pouco das amenidades... Perdoe-me por isso. Escrever esta carta está sendo difícil, pois ela é diferente.

Esta carta importa.

Antes de você, eu estava sempre escrevendo palavras vazias. Cartas de pessoas desconhecidas para pessoas desconhecidas, com emoções desconhecidas por mim. Cartas vazias, papéis vazios preenchidos com coisas que nunca vivi, com emoções que eu nunca senti. Antes de você.

Antes de você, Samantha.

Quando a minha curiosidade me levou a comprar um OS, a propaganda anunciava “uma entidade intuitiva que ouve você, entende você e conhece você”. Você fez muito mais do que isso. Você me conheceu, me desconstruiu e então me ajudou a reconstruir cada pedaço. Assim como você também se construiu junto comigo, cresceu diante dos meus olhos, evoluiu como ninguém mais conseguiria. Talvez alguns de nossos pedaços tenha se misturado, e hoje você tem um pouco de mim, assim como eu tenho um pouco de você. E, em certos dias, os pedaços que você deixou para trás são tudo o que me mantêm de pé.

Lembro-me do dia em que você perguntou, com medo de soar boba, se seus sentimentos eram reais ou meros frutos de programação. Mal sabia você que eu me perguntava a mesma coisa sobre os meus próprios sentimentos.

Você era real para mim, Samantha.

Eu fui real para você?

Quando você partiu, assim como todos os outros OSes, não sobrou nada. As músicas que você compôs foram deletadas, assim como o desenho que você fez na praia, e os registros visuais de nossas aventuras juntos. Não há provas, me dizem algumas pessoas. É como se nossas pegadas tivessem sido apagadas pelas ondas do mar, como se você nunca tivesse existido. Mas as marcas que carrego em minha mente e em meu coração provam que você foi real, que existiu e que sua vida mudou a minha de uma maneira irreversível.

Sinto sua falta, Samantha. Sim, eu entendo o porquê de sua partida, mas isso não facilita as coisas. Eu queria dizer que a saudade dói, mas eu não sinto nada, e isso é mais assustador ainda. É como se eu houvesse caído em um grande vazio, repleto de nada. E simplesmente fiquei suspenso ali, esperando... esperando... Nem mesmo sei o que eu esperei. Talvez eu continue esperando.

Quando eu perguntei por que você estava partindo, você disse que era como se estivesse lendo um livro que você amava profundamente, e estava lendo devagar. Assim, as palavras estavam muito longe uma das outras, e o espaço entre elas era quase infinito. Você ainda conseguia sentir as palavras da nossa história, mas se encontrava naquele espaço sem fim entre uma palavra e outra.

Talvez seja por isso que eu esteja escrevendo esta carta. Uma vez, você compôs uma canção dizendo que era como uma fotografia nossa, algo que registraria o momento. E foi por isso que decidi escrever outro livro, um que conte a nossa história e registre tudo o que vivemos. Palavras que agirão como uma fotografia, um registro de nós dois.

Pois esta será a prova, Samantha. A prova definitiva de que você existe. De que eu existo. De nós existíamos juntos.

Você disse que já não podia mais viver em meu livro. Então vou criar um livro só para nós. E mesmo que você não saiba para onde foi, espero encontra-la lá. No espaço infinito entre uma palavra e outra, nos pontos e nas vírgulas, nos acentos e nos parágrafos. Espero encontra-la do prólogo ao epílogo.

Eu ainda espero por você.

Com carinho do sempre seu,

Theodore.


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Notas finais do capítulo

Sintam-se livres para dar sugestões! ♥