Nascidos das Sombras escrita por Miss B W


Capítulo 2
A verdade dói


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey pessoal! Cá estou eu postando um capítulo neste dia tão especial... E chuvoso (pelo menos aqui em São Paulo haha). Faz exatamente um ano que entrei no Nyah! E é incrível saber como passou tão rápido. Desculpem a demora para dar as caras aqui, mas aconteceram uns probleminhas - tipo o meu celular que "morreu" e levou junto os arquivos sobre a história, mas tirando isso eu apenas espero que vocês gostem!
Boa leitura =D



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Ela estava basicamente perdida em seu próprio mundinho em plenas três da tarde.

Alexandria estava avessa à sociedade enquanto sentia suas pernas doerem pedindo para que parasse de correr sentindo o vento cortar seu rosto e seus cabelos longos e castanhos avermelhados chicotearem seus braços desnudos. Tudo nela pedia para que parasse de esgotar as últimas energias armazenadas em seu corpo que, nas últimas semanas, passou fome, frio e algumas torturas impostas por ela.

Com fones de ouvido pequenos e azuis a menina dos olhos nebulosos de um verde sublime ouvia sua “poluição sonora” da semana, o tema Rap disparando por rimas em uma pronúncia rápida e de difícil articulação. Queria de todas as formas ignorar os sons externos e calar seus pensamentos. Correr e ouvir música eram coisas que mais a faziam se sentir... Disposta após tantos acontecimentos.

Notando que começava a chover, Alexandria, ou melhor, Alex, escorou-se debaixo do teto da igreja de estilo gótico frequentada pela família, odiando-se ao escutar os murmúrios das freiras ao notarem a intrusa, quer dizer, ela havia jurado que nunca mais botaria os pés ali, e no momento já estava quebrando seus próprios dizeres. Bufou revirando os olhos ao notar que a chuva vinha aumentando continuamente, sem dar-lhe tempo de cogitar a ideia de sair correndo pelas ruas e se molhar.

Porém, ao ouvir trovões ela restringiu toda e qualquer ideia absurda. Sentou-se em um dos bancos de madeira escura e desgastada do fundo, fechando os olhos e pondo-se a pensar. Fazia exatamente uma semana desde o enterro de seu pai e hoje seria a leitura do testamento, na verdade, quando ela resolvesse voltar para casa o advogado de seu pai, coincidentemente o pai de Adam - seu melhor amigo -, o Sr. Chandler, estaria a esperando junto de sua tia Amélia, para que juntos soubessem dos desejos de seu pai, Victor.

Alex não queria admitir, no entanto estava sentindo como se um membro seu houvesse sido retirado e não pudesse ser colocado de volta. Tal como seu pai nunca voltaria. Sentiu um leve formigamento em seu olho direito e logo encontrava uma única lágrima descendo por seu rosto, fazendo a área coçar, obrigando-a a enxugar o mais rápido possível.

Quando toda aquela melancolia iria deixar seu corpo? Quando ela poderia olhar para um dia ensolarado novamente e se sentir plenamente contente? Quando ela iria poder olhar para uma foto sua com seu pai sem chorar como ocorre com suas lembranças da mãe?

A Wichmore estava despedaçando, sentindo que havia caído de um precipício, que sua mente havia ficado lá em cima enquanto o corpo se perdera na água e a ensopara.

Não queria se tornar uma deprimida outra vez. Disso ela tinha certeza.

Por volta de meia hora mais tarde a chuva se transformara em uma rala e finíssima garoa, permitindo que ela prosseguisse em seu destino até a casa que dividia anteriormente com o pai.

As ruas estavam vazias, poucos passavam com guarda-chuvas e estes geralmente estavam com pressa, diferentemente dela que andava descoberta em uma lerdeza desconhecida por si.

Tocou a maçaneta dourada da casa, apertando a porta de madeira maciça nos dedos e sentindo a tal "Ação e Reação" de Newton, seria muito contraditório ela afirmar ser amante da física nesta altura do campeonato, ainda que esta também fosse uma das grandes perdições dos adolescentes?

Empurrou a porta que prendia levemente no piso, avistando de princípio a cabeleira negra de corte chanel de sua tia e os cabelos curtos acinzentados do Sr. Chandler, seu "tio" Ian.

Adam estava ao lado do pai em uma típica careta entediada folheando uma revista extremamente antiga que ficava sobre a mesinha de centro retangular espelhada enquanto seus cabelos caiam levemente sobre seus olhos, o fazendo vez ou outra ter de afastá-los e pô-los atrás da orelha. Assim que seus olhos âmbar se encontraram aos dela - de uma forma que ela ainda não conseguia compreender - ele leu cada parte de si, fixando mais do que nunca seus olhos e percebendo o rastro de uma antiga lágrima. Adam sabia que a amiga estava deprimida. Mais que o normal. Só não era exatamente o melhor ombro para se chorar. Ele sorriu timidamente a cumprimentando em um harmônico silêncio.

– Oi. - ela murmurou fechando a porta atrás de si e a trancando com a chave prateada que estava presa ao fecho.

– Estávamos te esperando. - Amélia declarou em um sussurro sutilmente gentil.

– Eu sei. - sentou-se ao lado da tia e fitou pai e filho que as observavam. Reparou em seus All Stars sujos de lama, que graciosamente fizeram um caminho até ali, sujando o piso de porcelanato claro. Seus jeans pretos estavam molhados e grudentos. Mas a camiseta do AC/DC sem dúvida era a pior parte, estava toda manchada do esmalte vermelho que tentara passar sozinha no mês passado. Naquela sexta feira seu pai havia pedido uma pizza de seu sabor favorito e de sobra havia a deixado comprar um filme no Pay Per View. Fazia tempo que não passavam um tempo juntos. E aquela foi a última noite realmente feliz que tiveram. Depois tudo desmoronou novamente.

Alex apertou seus dedos na camiseta e abaixou a cabeça, evitando todo tipo de contato visual com os outros presentes. Apenas sentiu após alguns bons minutos o peso da taciturnidade e das mãos cuidadosas de Adam que agora se mantinham acariciando seus fios molhados enquanto este se encontrava sentado ao seu lado a uma distância nula.

– Bom, irei começar a leitura do testamento, apenas peço que não ocorram interrupções até o término, tudo bem? - inquiriu Ian em um erguer da sobrancelha esquerda.

Os demais no recinto assentiram, pondo-se a se endireitarem em seus lugares para escutar. Alex suspirou deitando a cabeça no ombro do amigo.

"Eu, Victor Rosenfeld, declaro a divisão exata de meus bens entre minha amada irmã e meu sobrinho Dylan, e minha amada filha. A casa, que sempre pertenceu a esta família ficará no nome de Amélia, que poderá habitá-la junto de Dylan e minha filha. Porém, caso eu venha a falecer antes da maior idade de Alexandria, desejo a ela outra escolha para si. Quanto aos meus demais bens, todos serão divididos igualmente, desde os valores das contas bancárias até os dois carros. Mas eu quero que saibam, que, independentemente de com quantos anos eu faleça e qual for a situação em que eu me encontre no momento, eu sempre amei vocês de todas as formas. Tenham uma maravilhosa vida." O testamento termina aqui, mas há uma carta para você, Alex. - pronunciou o homem vestido formalmente em seu costumeiro terno preto e gravata azul marinho.

Ian entregou-lhe uma carta levemente encardida, era estranho estar tão amarelada e... Reconfortante. O cheiro era de guardada, típica essência de coisas velhas que provocou um espirro nela que tratou logo de limpar o nariz com a gola da camiseta, dando de ombros.

"Alex, minha querida Alex...

Você tem apenas seis anos e é a criaturinha mais peculiar e interesseira que já conheci. Está sempre correndo, pulando, tentando arrancar dinheiro de mim e bonitas palavras de sua mãe. Seu gênio logo se vê é forte, você será uma linda princesa rebelde. Já te imagino tendo diversos namorados... E me abandonando. A mim e a sua mãe.

Mas veja bem, por trás de seus olhinhos verdinhos e de suas lindas sardas tão diferentes de mim e de sua mãe em todos os aspectos, escondem-se tantas verdades. Gostaria de ter coragem de te contar pessoalmente, mas infelizmente não tenho.

Minha princesinha, meu amor, você infelizmente não é um fruto de meu amor por sua mãe, embora sentirmos que é, pois você é a coisa mais importante em nossas vidas.

Quando tínhamos quatro anos de casados, sua mãe em seus vinte e seis anos e eu em meus trinta descobrimos que sua mãe era estéril, e não conseguiríamos ter filhos, terrível, sua mãe chorou muito naquela época, até que seis meses depois acabamos por decidir fazer uma visita a um orfanato da cidadezinha em que eu estava trabalhando provisoriamente. Foi quando nós colocamos nossos olhos em você. A criaturinha mais linda e singela do mundo inteiro. Era risonha e uma gorduchinha de primeira com enormes bochechas rosadas.

Nós te adotamos rapidamente, não queríamos ter o risco de outras pessoas se apaixonarem por você como aconteceu conosco.

Essa é sua história Alex, desculpe pelas mentiras que lhe contamos. Por dizer que seu nome vinha da paixão de sua mãe por mitologia grega, por dizer que não conseguimos te fotografar após o parto e que sua mãe não gostava de tirar fotos estando grávida. Nós apenas não aceitávamos que você deixasse de nos ver como seus pais verdadeiros.

Mas agora que sei que posso estar morto enquanto lê isso, eu tenho um último pedido a te fazer, ou melhor, é seu dever fazê-lo, a última ordem que lhe darei. Quero que procure seus pais. Os documentos de adoção estão em meu escritório na última gaveta, a chave está colada embaixo da primeira. Abra, encontre os documentos e procure seus pais biológicos. Quero que saiba sua verdadeira história. Quero que tenha pais, quero que os conheça, seja lá quem forem.

E eu... Preciso que passe um tempo com eles. Um ano, um ano é um bom tempo caso se recuse, pode ficar quanto tempo quiser. Mas, se ficar corretamente este ano ao lado deles receberá algo a mais na herança. Receberá uma poupança que está fora do testamento, é o dinheiro guardado para sua faculdade. Caso contrário, vire-se. É isso minha princesa, seja feliz e uma boa menina. Estarei sempre contigo. Lembre-se de mim. Eu te amo."

Ao terminar de ler Alexandria entrou em choque, não acreditava no que havia lido. Era isso? Sua vida era uma grande mentira? Ela não sabia de sua própria história!

Quando deu por si estava sentindo vertigem, sua visão escurecendo, e no segundo seguinte caia para o lado no sofá de camurça, apagada.

Meia hora depois lá estava Alex sendo acordada com a essência tão conhecida de torta de maçã e canela feita por sua excepcional... Tia, se é que ainda podia chamá-la assim.

Manteve-se olhando fixamente para a extensa janela de madeira clara da sala, de onde podia ter a perfeita visão da rua e da chuva fina que ainda se fazia lá fora.

Alex nunca cogitou a ideia de ser adotada, ainda que várias hipóteses para ser diferente dos pais passassem por sua mente. Adotada? Jamais! Seu vínculo ao casal era forte demais para isso. Parecia absurdo dizer isso. A palavra por si só a fazia se sentir quebrada e uma completa estranha.

E agora, mesmo após sua morte, Victor, como sempre, estava brincando com sua sanidade e com a situação que é sua vida. Como ele poderia querer que ela fosse morar com pessoas totalmente desconhecidas? Isso seria uma grandíssima estupidez. E se eles fossem assassinos? Loucos? Ou tudo o que ela odiava nos pais de seus amigos, como o fato de serem controladores? Mas pior que isso, e se tivessem hábitos estranhos como o nudismo? Se fossem drogados? Se fossem... - engoliu em seco - criminosos? Nem pensar que passaria um ano na correndo perigo de vida para voltar a sua vidinha comum no ano seguinte!

Alexandria queria se afundar em um buraco sem fundo e não sair de lá até o novo ano. Quem sabe assim conseguia se convencer de toda essa história que mais se assemelha àquelas típicas novelas mexicanas que às vezes se pegava assistindo quando não tinha nada para fazer.

Avistou Amélia lhe fitar com pesar direto de seus olhos ônix tão escuros quanto o universo, no mínimo deveria estar inteirada do assunto "adotada", se é que ela já não sabia desde o início.

– Acho que você deve ir. - pegou-se escutando o som delicado e potente que era a voz da sua "tia”. Seus olhos irremediavelmente se arregalaram e seus ossos tencionaram. Como assim? Sua tia queria que ela fizesse tamanho erro?

– Mas... Eu posso trabalhar para conseguir o dinheiro. Talvez vender o carro da minha... Mãe.

– Não, mesmo se fizesse tudo isso ainda seria pouco para estar em uma boa faculdade. E nós sempre te quisemos em Yale.

Concordou. Era verdade, desde sempre aquela era sua escolha, afinal seus pais estudaram lá, ela queria fazê-lo também, como que criando uma tradição para a família que antes era sempre graduada em Princeton.

Fechou os olhos por breves instantes, o fator "Você promete que não irá desistir de seus sonhos por obstáculos bobos?" martelando incessantemente. Só não queria se arrepender.

– Eu vou.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Alguma opinião sobre a rebelde sem causa que é a Alex?
Bueno, aguardo algum tipo de opinião de vocês e ansiedade para o próximo hehehe.
Besitos! *-*



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