Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 5
Inimigos


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥!! Eu sei que algumas pessoas devem estar frustradas com a minha demora em atualizar, mas já quero avisar que eu devo demorar em média um mês para atualizar. Isso, porque eu tenho três histórias no total para atualizar e nenhum tempo para fazer isso. Então, peço desculpas e espero que possam continuar a me apoiar, mesmo assim.

Eu quero agradecer a Juliana Lorena, Jade, VacuumCleaner, Josynha, Ally Dawsun, Sweet Princess, Fran e Veh Marano por não terem abandonado a fanfic e terem comentado no capítulo passado. Muito obrigada por todo apoio que vocês me dão! Esse capítulo está um pouco diferente, visto que é narrado pelo vilão e ele tem o foco maior nos pensamentos e sentimentos de Victor. Espero que gostem! Boa Leitura...



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Por favor, venha agora, eu acho que estou caindo
Estou me segurando em tudo que acho ser seguro
Parece que eu achei a estrada para lugar nenhum
E eu estou tentando escapar
Eu gritei quando ouvi o trovão
Mas o que me restou foi um último suspiro.
One Last Breath - Creed

 

Capítulo IV – Inimigos

 

֎

 

A orquestra tocava uma valsa enquanto a procissão de convidados entrava pela galeria leste. Este salão de festas era a maior sala de em toda Elpízoume, e, mesmo agora, entrar naquele espaço enorme me fazia sentir como se estivesse encolhendo, igual Alice no País das Maravilhas.

Edgar e eu descemos a escada principal para dar pessoalmente as boas-vindas aos nossos convidados. Como ditava a tradição, nós dois ficamos no salão principal e sob o teto folheado a ouro, cumprimentando cada rei, rainha, príncipe, princesa e qualquer pessoa de classe alta que havia sido convidado com um sorriso e uma reverência educada.

 Até que finalmente chegou a hora da dança, a tradicional valsa ao som de ‘Waltz of the Flowers’ de Tchaikovsky, como era de se esperar do Baile de Máscara das Flores. Os homens deveriam chamar seus amores secretos para dançar e assim lhes fazer a corte. Ao mesmo tempo, os pais observavam atentamente todos os homens, procurando o melhor partido para suas filhas para futuros casamentos arranjados.

Com cautela, afasto-me de meu irmão e afundo-me graciosamente no sofá branco adamascado ao lado de Lady Abigail Midleford, que era muito velhinha e tinha cochilado com a cabeça apoiada na bengala, e fiquei assistindo Edgar se aproximar de uma garota de máscara prata e longos cabelos castanhos. Ele parecia bastante interessado na dama, o que me chamou bastante atenção.

Ele estendeu sua mão e foi prontamente aceito. Com maestria, os dois deslizaram para o centro da sala. Era agradável observar os movimentos suaves e elegantes de seus corpos. Como em um espetáculo, havia uma espécie de sentimento indescritível e admirável. E assim como a valsa, a conversa do casal fluía em meio a sorrisos e olhares repletos de significados.

Eu não a conhecia e com a máscara cobrindo seu rosto, era ainda mais difícil identificar quem era a jovem que havia roubado a atenção de meu irmão. Ela conseguia brilhar naturalmente com seu vestido negro rodado e luvas de mesma cor. Edgar parecia encantando. Seus olhos estavam vidrados nos olhos da garota e era como se houvesse uma conexão entre eles.

Afrouxo um pouco a minha gravata, que estava me sufocando, imaginando a noite em que meus pais se conheceram e pensando se o amor verdadeiro realmente existe. Olhei para todas as meninas e mulheres na sala, mas não conseguia me ver me apaixonando por nenhuma delas. Ainda que fossem belas e encantadoras, eu não tinha nem mesmo vontade de me aproximar ou chamá-las para dançar.

— Mas por que um rapaz tão belo como você está sentado sozinho nesse baile? – Uma mulher de cabelos e olhos negros sorri docemente. – Poderia me dar a honra dessa dança, príncipe Victor?

 Meus pais me encaravam com seriedade. Havia exigência em seus olhos, como se ordenassem claramente que eu dançasse com aquela bela mulher. Sorrio envergonhado e me levanto apenas para não parecer tão grosseiro. Ela me observava com expectativa, ansiando minha resposta.

— Lamento. Não sou bom de dança e creio que mereça uma companhia muito mais agradável, Condessa Julie. – Recuso, sorrindo o mais gentil que conseguia.

— Não se deprecie tanto, Alteza. Sua companhia é deveras agradável e minha experiência em bailes me diz que está equivocado quanto aos seus dons para com a dança. – Contesta, sorrindo divertida.

Sorrio, dando-me por vencido. A Condessa de La Tróis era conhecida por conseguir tudo o que queria com poucas palavras e um sorriso bonito. Eu sabia que ela não desistiria até que eu concordasse. Além disso, de todas as mulheres presentes no baile, ela era a única com a qual eu conseguia ter uma conversa agradável.

— Depois não diga que não foi avisada, Condessa, caso seus pés acabem machucados. – Respondo e ela ri, pegando em meu braço e me conduzindo para o centro da sala.

Uma nova valsa começou quando eu estendi minha mão para a Condessa Julie de La Tróis. Ela fez uma leve reverência, puxando seu vestido um pouco para cima e sorriu. Sua mão foi posta aberta sobre a minha com maestria e começamos a mexer nossas mãos ao ritmo de ‘Liebesträume nº 3’ de Franz Liszt. Eu a girava para fora e para dentro de novo com delicadeza. Os outros pares passavam rodopiando à nossa volta, com vestido de baile de todas as cores – vermelho, verde, dourado - girando com o um bando de pássaros exóticos.

De repente, um caco de vidro caiu no chão, vindo da janela. Depois outro e mais outro – uma sinfonia de vidro quebrado explodindo no ar. A música parou e as pessoas que estavam dançando congelaram. Condessa Julie segurou minha mão com firmeza enquanto olhávamos com um silencio de estupefação para as janelas quebradas lá em cima. Parecia, em um primeiro momento, um artifício fantástico da festa: pedaços de vidros brilhantes como diamantes caíam do céu.

Depois começou o pânico e a gritaria. O chão do salão de festas estava coberto de cacos de vidro, alguns sujos de sangue. Eu sabia que tinha cortado meu braço, mas ignorei. Desviei meu olhar para a Condessa e ela também parecia machucada.

— Você está bem? – Pergunto, sentindo pessoas me empurrarem enquanto corriam assustadas.

— Eu...acho que sim. – Ela respondeu, gaguejando. Seus olhos estavam arregalados e parecia em choque. – O que...aconteceu?

— Eu não sei. Mas vou descobrir agora. – Afirmei, soltando a mão da condessa e ameacei correr entre a multidão para ir atrás de Edgar, mas sou impedido pelo aperto desesperado em meu braço de Julie.

— Não me deixe sozinha! – Exigiu, empalecendo. Ela estava tremendo, assustada. – Não me deixe sozinha nessa multidão, por favor!

— Não deixarei. – Concordo, sem saber o que fazer. Vejo o jovem príncipe George passar ao meu lado e acabo o puxando por instinto. Eu precisava saber o que estava acontecendo, mas não poderia deixar a condessa nas condições em que estava.

— Príncipe Victor? – Questiona o rapaz, surpreso.

— Príncipe George, eu preciso de sua ajuda. – Digo com seriedade. O rapaz engole em seco e balança a cabeça, concordando. – A Condessa de La Tróis está machucada e precisa urgente de cuidados. Leve-a para um lugar seguro e encontre alguém que cuide de seus ferimentos.

— Mas e você, Príncipe Victor? – Questiona a mulher, preocupada.

Os guardas do palácio entram montados em cavalos. Sorrio para Julie, procurando passar a calma e a segurança que não havia dentro de mim. Pego a mão da mulher e a estendo para George com o pedido mudo em meu olhar para que ele cumprisse com o meu pedido. O rapaz coloca a condessa em seus braços e me olha com a mesma intensidade.

— Eu vou ficar bem. Não se preocupe. – Garanto, sorrindo confiante. – Agora, vão.

— Vamos, condessa. – Fala o príncipe George, começando a correr e a tentar abrir espaço em meio ao caos.

Os guardas que deveriam ajudar na proteção dos convidados, passam a revirar as mesas e as cadeiras, e a colocar fogo nas cortinas. Percebi com sobressalto que aqueles não eram os guardas do palácio. Eram impostores. Eles sorriem malignos, observando o fogo se alastrar pelo salão junto aos gritos desesperados das pessoas que ainda tentavam fugir.

 - Edgar! – Grito a procura de meu irmão mais novo, mas minha voz se perdia em meio ao caos.

Os homens de cavalos, que estavam lá do outro lado do salão, partiram em direção aos meus pais, atropelando quem estivesse no caminho. Uma senhora idosa gemia caída no chão, o cabelo branco manchado de sangue manchado de sangue por causa de um corte na têmpora. Coloco-me de frente ao cavalo em disparada que ia em sua direção e tento tomar as rédeas do cavaleiro antes que ele matasse aquela senhora pisoteada.

— Por que vocês estão fazendo isso? – Grito para o salão todo ouvir.

Um guarda subitamente virou o cavalo na minha direção, enquanto eu montava sobre o que a poucos instante estava sob o domínio do cavaleiro inimigo. Eu o encaro e encontro um par de frios olhos azuis. Eu o reconheci imediatamente: o cabelo louro-claro e os dentes brancos e brilhantes – aquele era o rosto que me dava pesadelos. Evan Hollister.

Ele vinha nos observando. Esperando. Eu estava em choque com a presença desse homem no palácio. Minha mente procurava qualquer explicação para a aparição repentina do Imperador do Submundo. Evan sorri debochado. Ele notou o meu medo e as minhas dúvidas.

— O que você disse? - Ele pergunta, sorrindo maldoso.

— Por que você está fazendo isso com a gente? – Questiono cauteloso. Aquele sorriso não era um bom sinal. Ele estava calmo demais. – Por que você está aqui?

Ele se virou, olhando lá para trás, para seu exército, como se procurasse por resposta. A fumaça negra atrapalhava minha visão e respiração, mas Evan não parecia incomodado com o ambiente. Como um demônio, ele parecia bem à vontade em meio ao fogo e a destruição.

— Seus pais fizeram algo bastante feio, príncipe. – Ele responde, descendo de seu cavalo. Esforcei-me para não recuar e repetir suas ações, enquanto ele se aproximava. Então Hollister puxou sua espada e encostou-a no meu peito. – Eu realmente estou irritado, pequeno Victor.

Senti o metal gelado através do tecido de meu colete. Não ousei desviar meus olhos dos dele. Tudo que ele precisava era de um movimento simples e aquela espada me atravessaria. Eu estava desarmado e sabia que seria burrice tentar desafiar o Imperador do Submundo.

— Não precisa sentir medo de mim, criança. – Comenta Evan, rindo com diversão. – Eu realmente gosto de você, Victor. E você é um dos motivos que me fez querer vir pessoalmente.

— Afaste-se dele. – Exige meu irmão, apontando uma arma para Hollister. Arregalo meus olhos, sem acreditar na loucura que Edgar estava cometendo.

— Eu gosto muito de você, Victor, mas não posso dizer o mesmo de seu irmão e de seus pais. – Afirma o homem de frios olhos azuis.

— Eu mandei você se afastar dele! – Grita Edgar mais uma vez, enquanto a espada de Evan continuava repousada em meu peito.

— Abaixe seu tom, garoto. Você não sabe com quem está lidando. – O aviso irritado do Imperador, faz meu corpo se arrepiar em medo.

—  E você não sabe com quem você está lidando. – Repete meu irmão, sem se amedrontar.

— Edgar, pare. – Peço, finalmente recuperando minha voz. – Ele não irá me machucar, mas se afaste, por favor.

— Mas que bobagem é essa que você está dizendo? – Retruca Edgar, incrédulo.

— Ouça seu irmão mais velho, garoto insolente. – Resmunga Evan, abaixando sua espada.

— Vá ajudar nossos pais. – Digo, encarando Evan. – Enquanto isso, eu terei uma conversa com esse senhor. Eu prometo que não irá demorar.

Edgar pareceu querer retrucar minha decisão, mas ao ver meu olhar determinado e o pedido silencioso para que fizesse o que eu havia pedido, ele acaba por ir ao contragosto. Evan sorriu e me encarou por breves instantes, como se tentasse ler a minha mente. Inspiro, profundamente, procurando me acalmar.

— Então seu irmão não sabe quem eu sou. – Supõe o homem, me rodeando. – Interessante.

— Nenhum de nós dois deveríamos saber. – Respondo, suando frio.

— Isso não é verdade. – Evan sorri ainda mais largo e para de frente para mim. – Se fosse, eu não teria permitido que você me conhecesse.

— O que você quer, Imperador? – Questiono, não aguentando mais a enrolação do homem.

— Seu pai encontrou algo que é meu. Eu só vim pegá-lo de volta. – Dita com tranquilidade. – E dá uma lição nele, é claro. Infelizmente, seu pai está perdendo o medo que tem de mim. Começou a me desafiar e eu não gosto disso.

— Pensei que você não queria que tivéssemos medo de você. – Comento, relaxando um pouco mais o meu corpo tenso. Eu sabia que ele não iria me machucar. Se quisesse, ele já teria feito, mas ainda era difícil manter a calma perto do Imperador.

— Eu não quero que você tenha medo de mim. Seu pai ou qualquer governante perder o medo de mim não faz bem para os negócios. Como posso manter o controle se eles começarem a me desafiar? – Explica, guardando sua espada.

— Encontramos! – Grita um dos homens de Evan com dois logo atrás, carregando um quadro que meu pai havia comprado alguns dias antes.

— Bom, eu já tenho o que eu quero. – Afirmou Evan, dando de ombros. Ele, então, sorri novamente e me abraça. – Foi bom encontrar você, criança. Espero que tenhamos mais oportunidade para conversarmos.

— Infelizmente, não posso dizer o mesmo. – Respondo, fazendo Evan rir e balançar a cabeça em compreensão.

— Cuide-se, criança. Você não é valorizado como deveria, mas isso é somente uma questão de tempo. – Fala o loiro, montando em um cavalo que estava próximo. – Ah, e antes que eu me esqueça, fique atento as pessoas que o rodeiam. Nem todos são o que parecem ser.

Evan então partiu junto a seus homens, enquanto o fogo ainda se alastrava pelo lugar. Alguns minutos depois, os bombeiros chegaram para controlar as chamas e eu continuava no mesmo lugar, com as palavras do imperador ecoando em minha mente.

Levanto assustado e me sento na cama, arfando pela falta de ar. A lembrança daquela noite em especial havia voltado a invadir os meus sonhos. Respiro fundo, tentando recuperar a sanidade por completo. Taynara dormia ao meu lado, sem imaginar o caos que estava em minha mente naquele momento. Eu precisava de uma bebida forte.

Com cautela, saio da cama e vou em direção a cozinha do pequeno barraco que estava servindo como um esconderijo. Pego uma garrafa de whisky que estava em um dos armários e não demoro a tomar um gole generoso da bebida. O líquido desce por minha garganta, queimando e, ao mesmo tempo, trazendo o conforto que eu precisava.

Eu não sabia definir se o que mais me incomodava era de ter sonhado com meu irmão, minha falecida esposa ou com Max, o antigo Imperador do Submundo. Desde a minha prisão, eu nunca mais havia tido notícias sobre o homem que, de maneira estranha, possuía um certo tipo de empatia por mim. Tudo o que eu sabia era que ele havia desaparecido e deixado seu legado a Taynara. 

No entanto, apesar de atordoado, aquela lembrança havia feito com que eu me lembrasse do principal item que eu deveria recuperar do castelo Cristal. O quadro que o Imperador pegou de meu pai no dia em que invadiu o meu castelo. Aquele objeto foi o principal culpado pela destruição começar a atingir a minha vida e, como era de se esperar, Lester estava por trás do mistério daquele quadro.

Bebo mais um gole de meu whisky e suspiro, observando o amanhecer gélido da cidade interiorana de Elohim. O inverno não demoraria a chegar, afinal de contas. Por segurança, Taynara e eu nos encontrávamos isolados, próximos a um lugar quase inabitável de um dos principais aliados de Krósvia. Por enquanto, nós nos mantemos seguros e fora do alcance de Allycia e seus guerreiros.

Desvio meus pensamentos um pouco para a época onde eu experimentei um pouco da felicidade. Nos anos em que tive minha amada Julie em meus braços, as minhas pequenas Olívia e Sofia correndo ao redor do castelo e meu pequeno irmão ao meu lado, apoiando-me na governança de nosso reino. A dor de ter perdido a chance de ver minhas filhas crescerem, construir suas famílias, encontrar em fim a felicidade que tanto lutei para que tivessem era grandiosa.

Mesmo sabendo que jamais terei a minha família de volta, o meu desejo de vingança de tornou cada vez maior ao longo desses mais de trinta anos em que estive preso. O meu ódio pela família Dawson foi o combustível para me manter vivo e superar toda a dor que eles me fizeram sentir. Dia após dia, meses após meses, anos após anos, fora esse sentimento que me fez permanecer lúcido em meio a solidão e as torturas que sofri dentro da prisão, pagando por crimes que nunca cometi.

— Não acha que é cedo demais para estar bebendo whisky? – Questiona Taynara, despertando-me de meus devaneios. – O que aconteceu?

— Eu perdi o sono. – Respondo, desviando o olhar da janela da cozinha para a mulher que estava encostada na parede da entrada do cômodo. – E você? Por que já está acordada?

— Pesadelo. – Fala de maneira monótona, enquanto se encaminha para a cafeteira. Assim como eu, Taynara também era atormentada pelos fantasmas do passado. – Café?

— Não, obrigado. – Digo, voltando a encarar a janela embaçada.

O silêncio se faz presente novamente entre nós, sendo quebrado apenas pelo som da cafeteira. Eu aprendi a viver no silêncio estando preso e Taynara era calada por natureza. Não sentíamos necessidade de conversa e, por estarmos perdidos e nossas próprias dores, apenas permanecíamos quietos, com o olhar distante. É assim em todas as manhãs.

Quando o café fica pronto, Taynara pega uma xícara no armário e começa a preparar torradas. Sento-me na pequena mesa que havia no meio da cozinha e observo a mulher de longos cabelos negros se movimenta suavemente pelo lugar. Acabo por deixar um suspiro discreto escapar pela minha boca, sem conseguir apagar de minha mente as lembranças de minha esposa e filhas.

— Elena entrará em contato conosco ainda hoje. – Comenta Taynara, tomando um gole de seu café em seguida. – Aparentemente, ela tem notícias sobre a nova bactéria.

— Parece que a sorte está a nosso favor. – Respondo, tomando mais um gole de whisky. O olhar repreendedor de Taynara me faz revirar os olhos e acabar por fechar a garrafa. Aquele era o aviso de que eu deveria parar de beber. – Algum avanço quanto a aproximação de Bárbara ao Moon?

— Quem sabe? – Dita a morena, dando de ombros. Ela toma mais um gole de café. Ao ouvir o barulho da torradeira, Taynara pega um prato e coloca as torradas a minha frente. – Come. – Ordena, direta e com seriedade. Reviro os olhos mais uma vez e respiro fundo, pegando uma das torradas. – Não consegui falar com Elena ontem à noite.

— Nós precisamos ser cautelosos com essas duas. – Relembro, pensativo. – Por mais que Elena diga que está do nosso lado, eu não tenho dúvidas de que elas não hesitariam em nos trair na primeira oportunidade. Em especial, Bárbara. Ela é gananciosa e imprevisível.

— Não se preocupe. – Afirma Taynara, sorrindo com malícia. – Eu estou cuidando pessoalmente dessas duas.

— Você parece confiante. – Comento, observando com atenção minha aliada.

— Se Elena ao menos pensar em aprontar alguma conosco, ela sabe que terá problemas comigo. Toda a fortuna que ela possui e deseja possuir irá por água abaixo com o segredo que ela guarda desde antes do nascimento de sua filha. – Responde a morena, despreocupada. – Além disso, nós já lidamos com adolescentes antes. Não é tão difícil assim convencer Bárbara a ficar na linha. Acredito até que ela tenha mais consciência de seu dever que a própria mãe.

— Ainda assim, não abaixe a guarda. Por mais que eu deteste admitir, nós temos muito mais a perder do que elas, caso os Dawson descubram a nossa localização. – Relembro, terminando de comer uma das torradas.

— Esse lugar é apenas temporário. – Fala Taynara, dando de ombros. – Eu darei um jeito de acharmos um lugar seguro e de mais conforto para nós. Eu realmente detesto essa espelunca que chamamos de casa e esse país. Eu apenas preciso convencer Leon a vir para o nosso lado, algo que não deve demorar mais do que alguns dias.

— Leon? Você fala do rei de Domynic? – Pergunto, observando Taynara se tornar um pouco mais cautelosa. – Taynara!

— Não reaja como se eu estivesse cometendo um crime contra você. – Repreende a mulher, terminando sua segunda xícara de café. – Apesar de um reino pequeno, Domynic possui armamentos e todos os suprimentos que iremos precisar para a guerra. Além disso, é um país bastante menosprezado pelos outros reinos do Norte e Leste europeu. Leon e seu povo guarda muito rancor da Guerra dos Vinte Dias, onde foram atacados por Krósvia e se tornaram um país escravo. Eles querem vingança. Nós também queremos. Por que não unir forças para destruir um inimigo em comum?

— Talvez por que Leon é louco e inconsequente? – Ironizo, fazendo com que Taynara revirasse os olhos mais uma vez.

— De qualquer forma, nós precisamos de mais aliados. – Relembra Taynara, colocando sua xícara sobre a pia. – Com essa bactéria misteriosa atingindo nossos inimigos, eles estão fracos, indefesos e incertos sobre como agir. Talvez, até mesmo um deles possa morrer...Ou todos eles...

— Tudo bem. Se você acredita que Leon possa nos ajudar de alguma forma, eu não irei interferir. Eu confio em você. – Afirmo, dando-me por vencido. Conhecia Taynara o suficiente para saber que ela não faria nada sem ter certeza dos riscos que corria. – Por outro lado, eu estou bastante curioso quanto a essa bactéria. Acha que alguém a criou em laboratório? Nenhum jornal ou outro canal de notícia sabe explicar o que está acontecendo.

— Não sei se foi criada ou não, mas nós precisamos descobrir mais sobre ela. Se formos capazes de manipular essa doença ao nosso favor, será uma arma excepcional que poderemos usar contra Allycia e os outros irritantes. E... – O celular de Taynara começa a tocar, interrompendo a fala da garota. Ela pega o aparelho em seu bolso da calça e sorri, ao visualizar o visor. – Bem na hora. – Comenta a morena, virando o celular para mim. Vejo o nome de Elena brilhar na tela e balanço a cabeça, pedindo para que Taynara atendesse. – Oi Elena.

Bom dia, querida. – A voz de Elena ecoa pela cozinha, assim que o celular é colocado em modo viva-voz. – Espero não ter atrapalhado o seu sono da beleza.

— Não se preocupe. Victor e eu temos o costume de acordar com o nascer do sol. – Responde Taynara, entrando na falsa cordialidade que Elena demonstrava naquele momento. – Você conferiu que não foi seguida e que o seu celular não é alvo de escuta, certo?

Você me ofende com essa desconfiança toda, Taynara. – Elena finge estar magoada, deixando-me impaciente. – É claro que eu conferir. Nesse momento eu estou conversando com a minha dama de companhia.

— Seja direta ao ponto, Elena. – Peço, sabendo que Allycia não havia caído nessa história e não demoraria muito para que ela ou um de seus homens aparecessem para pegar Elena no flagra. – Quais as novidades?

Bom dia, meu caro Victor. Pelo visto, você não dormiu muito bem essa noite. — Suspiro cansado, apenas desejando que tivesse um pouco mais de paciência para lidar com as provocações de minha não aliada assim.

— Não começa, Elena. – Taynara a repreende, sabendo que eu não estava de bom humor para lidar com a mulher. – E então? Como estão os avanços de Bárbara com nosso doce Austin Moon? Descobriu alguma coisa sobre essa bactéria misteriosa?

Ontem à noite, Bárbara conseguiu se aproximar de meu sobrinho e, aparentemente, Allycia apareceu no momento em que eles estavam bem próximos e não gostou nenhum pouco dessa amizade repentina entre primos. – Conta Elena, demonstrando sua animação diante dos avanços de sua filha. – Se tudo der certo, nós teremos Austin em nossas mãos muito antes que Allycia possa agir. – A confiança de Elena me incomoda. Era como se ela já considerasse a vitória garantida e eu sabia, melhor que ninguém, que o jogo poderia mudar em questão de segundos se abaixássemos a guarda. – E sobre a bactéria, eu ouvir uma conversa entre Dezmond e Patrícia sobre ela atingir somente crianças. Eles não sabem o motivo e parecem preocupados com os filhos, então suponho que ainda seja um mistério para Allycia e seus capachos.

— Você parece confiante demais sobre Bárbara e Austin, Elena. – Fala Taynara, expondo a minha opinião. – Não abaixe sua guarda. Apesar de parecer, o rei de Krósvia não é burro. Se Bárbara atacar demais, ele irá se afastar e tudo irá por água abaixo.

Eu sei disso, Taynara. Não seria burra de nos colocar em perigo. Bárbara é cautelosa. Austin jamais irá desconfiar das verdadeiras intenções de minha filha. Eu prometo. ­– Garante Elena com seriedade.

— Espero que sim. – Responde Taynara, olhando-me com evidente desconfiança sobre as palavras de Elena. Dou de ombros e decido mudar de assunto por hora. Não havia muito que pudéssemos fazer, além de confiar em nossa aliada.

— Então a bactéria ataca somente a crianças? Por que será? Agora, eu estou ainda mais curioso sobre essa bactéria. – Digo, verdadeiramente interessado.

— Mas, se pensarmos bem, se todas as crianças do reino morrerem, isso significa que não teremos herdeiros e, automaticamente, Krósvia e seus aliados correm grande perigo. – Fala Taynara, parecendo animada com a ideia de termos a natureza ao nosso lado.

De qualquer forma, eles não estão dispostos a contar o que está acontecendo. Tentei especular alguma coisa, mas como é de se esperar, nenhum dos malditos moradores desse castelo confia em mim. Eles não dizem nada. Como eu detesto essa gente. — Resmunga Elena, demonstrando a sua revolta.

— Não se preocupem quanto a isso. Eu darei um jeito de conseguir mais informações sobre essa bactéria. – Afirmo, fazendo Taynara me olhar com desconfiança.

— No que você está pensando? – Questiona a morena ao meu lado, olhando-me com repreensão. – Nem pense em pisar em Krósvia sem ter um exército ao seu lado.

— Eu não farei isso. – Concordo, pegando um pouco de água da geladeira. Tomo um gole do líquido e massageio meu pescoço, sentindo-me cansado. – Elena, nós precisamos desligar. Mantenha-se em alerta quanto a Austin e, principalmente, Allycia. Essa garota consegue ser muito mais perigosa e esperta do que aparenta ser. E continue a nos informar sobre qualquer coisa que descobrir.

Tudo bem. — Fala a mulher do outro lado da linha. – Não tenho certeza se conseguirei ligar à noite, mas irei tentar. Até breve.

 Após a singela despedida de Elena, Taynara e eu permanecemos em silêncio, encarando o aparelho que estava nas mãos de minha aliada. O ambiente estava levemente tenso e eu sabia que não demoraria muito a ser questionado sobre o que eu faria para descobrir sobre a misteriosa bactéria. Termino de beber minha água e encaro Taynara, esperando por sua palavra.

— O que pretende fazer? – Pergunta, por fim, encarando-me com seriedade.

— Eu preciso viajar por três ou quatro dias. – Respondo, fazendo com que Taynara ficasse alarmada. – No entanto, eu não irei para Krósvia ou qualquer país aliado deles, se é isso que te preocupa.

— Para onde nós vamos? – Questiona Taynara. Ao ver que em meus planos ela não estava incluída, a garota me encara, inconformada. - O que você vai fazer, Victor?

— Durante esse tempo em que eu estiver fora, preciso que continue a coordenar os nossos preparativos. Você é a única pessoa em quem eu confio para comandar nossos aliados. – Digo, ignorando a pergunta de Taynara.

— Para onde você vai, Victor? – Insiste a garota, demonstrando que não desistiria até que eu a respondesse.

— Eu irei a Elpízoume. – Respondo, surpreendendo Taynara. – Retornarei ao meu país de origem e reencontrarei a peça chave para a nossa infiltração total a Krósvia.

[...]

Um vento forte me atinge assim que coloco meus pés para fora da pequena casa que eu estou dividindo com Taynara. Arrumo minha touca e o cachecol para que conseguisse esconder minha identidade por completo. A garota se encontrava atrás de mim, ainda relutante sobre a minha viagem. Eu a entendia, afinal, eu estou me colocando em exposição e indo para um lugar repleto de homens da guarda de Allycia, mas eu precisava me apressar e encontrar a pessoa que aguarda meu retorno com ansiedade.

Pego minha mochila, que era segurada por minha aliada, e a coloco em minhas costas. Viro-me para Taynara e a abraço, em despedida. Com os braços cruzados, ela tenta se afastar no primeiro momento. Segundos depois, ela corresponde ao gesto e suspira, dando-se por vencida.

— Tome cuidado. – Pede, afastando-se de mim. – Não morra antes que tenhamos conquistado a nossa vitória.

— Não irei. – Afirmo, sorrindo. Beijo sua testa e bagunço seu cabelo, fazendo-a resmunga. – Juízo, criança!

— Você não é meu pai. – Responde, revirando os olhos. - Para com isso! – Ela empurra minha mão que continuava no topo de sua cabeça. Rio de sua atitude semelhante a de uma adolescente.  

— Tudo bem. Eu preciso ir agora. – Digo, observando a neve que começava a cair com suavidade. – Mantenha-me informado sobre todas as notícias tanto em Krósvia e seus países aliados, quanto a Domynic e Bélgica.

Taynara balança a cabeça, concordando e coloca o punho sobre o peito, batendo no local três vezes. Repito o gesto, relembrando do dia em que eu o ensinei a adolescente impulsiva que Max havia adotado para o substituir em seu reinado no submundo. Despeço-me com um aceno e dirijo-me para o carro estacionado em frente à casa.

Sem olhar para trás, ligo e carro e dou início a viagem de um dia até o interior de Elpízoume. Ao som de uma música qualquer que passa no rádio, observo a camada branca que cobria toda a vegetação de Elohim. O cenário me trazia lembranças do passado ao lado de minhas filhas e esposa que jamais voltariam. Os dias em que Olívia se divertia jogando bolas de neve em mim, enquanto Sofia chorava assustada, quando eu caia no chão, fingindo ter morrido pelo ataque de sua irmã.

O inverno também era a estação preferida de Julie. Ela amava observar a neve cair da varanda de nosso quarto, tomando chocolate quente e ouvindo os clássicos do rock e jazz americano. Quem visse sua imagem recatada, séria e madura, jamais imaginaria o quanto ela gostava de cantar Elvis Presley, Frank Sinatra e Bill Haley & His Comets no chuveiro e dançar sobre a cama com uma escova de cabelo em mãos, interpretando um de seus cantores favoritos.

Apesar de ter se passado mais de trinta anos desde sua morte, eu ainda carregava um amor incondicional pela minha esposa. Julie havia sido o meu maior e mais verdadeiro amor. A única mulher que havia despertado o meu melhor. Ainda que doloroso em inúmeros aspectos, pensar em minha esposa me traz paz e mais ódio à Krósvia, uma combinação perfeita que me inspira a continuar a minha vingança.

E após as longas vinte e seis horas de viagem de carro, com as memórias como minha única companhia, eu finalmente entro em Elpízoume. Como era de se esperar, a cidade de Lemonstreet, a primeira entre a divisa de Elpízoume e Polônia, estava repleta de soldados krosvianos. Por sorte, eles não pareceram me reconhecer por debaixo do cachecol que cobria uma parte do meu rosto.

 Após notar que eu estava fora de perigo, suspiro aliviado, e finalmente posso prestar atenção nas mudanças que meu país sofreu desde que eu estive fora. Tudo estava diferente. A tecnologia havia chegado com força total e nem mesmo parecia com a pequena cidade do interior que Lemonstreet era há mais de trinta anos atrás. Esse fato me fazia imaginar em como a capital estaria, se a menor das cidades do país havia se tornado um grande centro comercial.

Temendo ser seguido por um dos homens de Allycia, eu apenas continuo meu caminho em direção a minha cidade destino, a bela Wunder. Mais três horas se passaram até que eu finalmente estivesse em frente à porta da casa que eu não via há muitos anos. Desligo o carro e ajeito minha proteção mais uma vez. Ainda que a rua estivesse deserta, eu não poderia arriscar ser reconhecido por algum morador.

Observando a movimentação, saio do carro e me aproximo da porta. O lugar parecia abandonado, algo já esperado, afinal, aquela casa carregava as lembranças de uma família que vem sendo odiada há décadas. Pego uma pedra que estava próxima a porta de entrada e a viro, encontrando a chave reserva que eu sabia que eu costumava guardar.

A casa a minha frente era diferente de toda as outras ao seu redor, antiga, pequena e desgastada pelo tempo, ela era única que ainda era protegida por uma porta de ferro com o brasão da família Dobyne estampado, ainda que estivesse arranhado e quase ilegível, o que deveria ser obra de um dos seguidores de meus inimigos. Com cuidado, abro a porta e sinto o forte cheiro de mofo agredir meu olfato.

Ao entrar, fecho a porta e observo a entrada da casa, iluminada apenas pelos raios solares que entravam pelas fretas das janelas e da porta do lugar. Nada havia sido mudado desde a última vez em que eu estive naquela casa. As fotos de minha família continuavam espalhadas pelas paredes e móveis da sala de estar. Era como se eu tivesse voltado no tempo em que eu passava as férias com Julie, Olivia e Sofia naquela casa.

— Quem é você e o que pensa que está fazendo aqui? – Fala uma voz masculina, com uma adaga afiada em meu pescoço.

Por estar tão distraído, acabei por não perceber a presença de uma segunda pessoa naquela casa. Ele estava atrás de mim e segurava a armar com firmeza, como se esperasse apenas um movimento em falso meu para acabar com a minha vida. Sorrio. Eu havia o encontrado, finalmente!

— Eu contarei até três. Se não responder as minhas perguntas, eu te matarei. – Afirma friamente, demonstrando que estava falando sério quanto a sua ameaça. – Um. Dois...

Julie e eu nos encontrávamos sentados sobre uma toalha de piquenique, observando as crianças brincarem próximo ao lago a nossa frente. O dia estava bastante agradável. O sol brilhava intensamente, enquanto o vento gélido típico de Elpízoume agitava as flores e as folhas das árvores.

Eu finalmente havia conseguido um dia de folga para aproveitar o tempo com a minha família. Edgar e Penny passeavam pelo jardim e conversavam como um casal de apaixonados. Eu realmente gostava de como meu irmão sorria tão radiante na presença da garota.

De repente, vejo Ansel correndo em nossa direção, sendo acompanhado por Olívia e a pequena Sofia. O garoto parecia animado e balançava uma folha para cima, enquanto gritava nossos nomes. Olho brevemente para Julie, que sorri, imaginando o que nosso afilhado tinha descoberto ou aprontado dessa vez.

— Tia Julie! Tio Victor! – Grita Ansel, novamente, quando finalmente nos alcança. Ele respirava ofegante e tinha um grande sorriso no rosto. Os cabelos dourados e encaracolados do menino de seis anos estavam bagunçados e embaraçados. As roupas, antes brancas, agora carregavam manchas de terra e giz de cera.

— Calma, querido. – Pede minha esposa, sorrindo diante da agitação do afilhado. – O que houve?

Ansel então pega o papel que estava em sua mão e me entrega, parecendo ansioso pela minha reação. Assumindo uma postura sério, como se eu fosse um crítico de arte, encaro o desenho feito pelo garoto. Ele então passa a me observar, sério e tenta imitar as minhas feições. Tenho que me segurar para não ri do comportamento do garoto.

— Impressionante! – Afirmo, encarando com atenção cada elemento presente no desenho. Ele havia desenhado Julie, Olívia, Sofia, ele e eu brincando no castelo. Apesar de um desenho infantil, era possível identificar cada um de nós pelas roupas que vestíamos. Sorrio, achando adorável a sinceridade do garoto. – Um verdadeiro artista! Eu adorei!

— Verdade, tio Victor? – Pergunta com felicidade. – Você jura?

— Claro que sim, Ansel. Acha que eu mentiria para você? Quem você acha que eu sou? – Pergunto, arrancando risadas animadas de Ansel, Sofia e Olívia.

— Você é o meu pai e rei de Elpízoume. – Responde e eu acabo por encarar Julie, surpreso com a resposta do garotinho.

— Querido, tio Victor não é o seu pai. Ele é seu padrinho. – Explica Julie, preocupada com que o filho de seu primo acabasse por dar essa mesma resposta aos pais e criasse um grande mal-entendido. – Eu sou sua madrinha e tio Victor, seu padrinho.

— Mas eu quero ser filho da tia Julie e do tio Victor. – Responde Ansel, parecendo magoado com a resposta de sua madrinha. – Por favor, tia Julie. Eu quero ser filho de vocês.

— Papai, mamãe. O Ansel não pode ser nosso irmão? – Pergunta Olívia, também chateada com a resposta de Julie.

— Sel não pode, papa? – Sofia tenta repetir a pergunta de sua irmã, com o máximo que uma criança de um ano e oito meses conseguia falar.

— Se Ansel virar nosso filho, tia Claire vai ficar muito triste por ficar sem o filho amado dela. Por isso, Ansel não pode ser irmão de vocês, meninas. – Digo, sem saber bem como explicar para crianças de seis e quatro anos o motivo de Ansel não poder ser nosso filho.

— Então eu nunca poderei ser um Dobyne? – Pergunta o garoto, cruzando os braços finos e olhando-me com os olhos verdes brilhando em tristeza.

— Como assim, Ansel? Quem te disse isso? – Pergunta Julie, preocupada.

— Eu ouvi as tias da escola dizendo que eu pareço ser filho de vocês, mas não adianta nada, porque eu sou só um de La Tróis e não um Dobyne. – Ansel suspira e encara a tia com um misto em curiosidade e tristeza. – Isso é verdade, tia Julie? Por eu ser um de La Tróis, eu nunca vou poder ser um Dobyne? É por isso que não posso ser filho de vocês? Ser um de La Tróis é algo ruim?

— Claro que não, Ansel! Você deve ter orgulho de ser um herdeiro de La Tróis. É algo muito bom. – Afirma Julie, sorrindo nervosa. Os escândalos envolvendo a família de La Tróis estavam se tornando cada vez mais conhecidos e despertando o ódio de muitas pessoas. Infelizmente, nosso pequeno afilhado acabava por sofrer em nome de seus pais e avós. – Não ligue para o que os outros dizem sobre nossa família.

— Ansel, olhe para mim. – Peço, vendo que a resposta de minha esposa não havia agradado ao garoto. E eu entendia o desejo de meu afilhado. Ainda que ele não soubesse explicar com clareza. Ele me encara, sem animação. – Você é um Dobyne.

— Eu sou? – Os olhos de Ansel brilham diante da afirmação.

— Sim, você é. Independente do que digam, você é nosso afilhado. Um filho de coração. Por isso, nunca se esqueça disso. Nós somos uma família. Você é um Dobyne.

— Você promete, tio Victor? – Pergunta, receoso.

— Eu prometo! – Digo, ficando de pé. Pego Ansel no colo e coloco minha mão diante dele, pronto para fazer uma promessa de dedinho. – Agora, repita comigo: Eu sou um Dobyne.

— Eu sou um Dobyne. – Ele repete e me abraça apertado. Obrigado, tio Victor. Eu amo você.

— Eu também amo você, Ansel. – Respondo, correspondendo ao abraço.

 

— Eu estou de volta, Ansel. – Respondo, fazendo com que o homem se afastasse no mesmo instante de mim. Viro-me para o loiro e sorrio, nostálgico. Os traços infantis que existiam em sua face, quando o vi pela última vez, haviam desaparecido por completo, dando lugar aos de um homem forte e atraente.

— Tio Victor? – Pergunta Ansel, encarando-me com surpresa. Ele parecia não acreditar no que via diante de seus olhos. – É você...é você mesmo?

— Eu sinto muito por ter feito você esperar por tanto tempo, Ansel. – Digo e sou surpreendido pelo abraço apertado de meu afilhado. Naquele momento, ele não parecia ser um homem de quase quarenta anos. Enquanto me abraçava apertado, ele me lembrava o garotinho de seis anos que tive que deixar para trás sem qualquer alternativa.

— Bem-vindo de volta, tio Victor. – Responde Ansel, apertando-me ainda mais contra si.

— É muito bom estar de volta. – Digo, correspondendo ao abraço.

O reencontro com a minha única família viva finalmente aconteceu. Com ele ao meu lado, eu não tenho dúvidas que conseguiremos conquistar a nossa vitória tão merecida. Como um negócio de família, nós iremos lutar com todas as nossas forças para conquistar cada centavo que a família Dawson roubou de mim e os farei provar da dor que é perder a sua família.


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Notas finais do capítulo

Oii de novo! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas? Eu realmente estou ansiosa pela opinião de vocês. Como eu disse no início, esse capítulo foi um pouco diferente dos outros que eu escrevi ou irei escrever. Isso, porque quero que vejam o que move Victor a lutar e o motivo dele ser alguém que não vai desistir tão fácil da vingança. Agora, mudando de assunto, gostaria de falar que eu atualizei Fire Scars. Deem uma passadinha lá e deixem a opinião de vocês. Eu também criei um grupo no whatsapp! Quem quiser participar, irei deixar o link do grupo aqui, junto com o link do grupo do Facebook. Espero vocês por lá! Beijocas ♥!

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