Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 17
Farsas


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Estou de volta com mais um capítulo. Quero agradecer demais a
Sweet Princess, Karen Claudino, Juliana Lorena e Veh Alves pelos comentários incríveis no capítulo passado. Eu realmente espero que gostem desse capítulo. Boa leitura...



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“Tudo isto parece estranho e surreal

E eu não quero passar um minuto sem você

Meus ossos doem, minha pele está fria

E eu estou ficando tão cansado e tão velho

A raiva me corrói por dentro

E eu não vou sentir esses pedaços e cortes

Eu quero tanto abrir seus olhos

Por que eu preciso que você olhe nos meus

Me diga que você abrirá seus olhos”.

Snow Patrol - Open Your Eyes

 

 

Capítulo XVI – Farsas

 

֎

 

Ally observava Füssen pela varanda, enquanto acariciava sua saliente barriga quando eu entrei em nosso quarto. Ela parece estar tão perdida em pensamentos que nem mesmo nota a minha presença. Aproximo-me devagar e a abraço por trás, assustando-a levemente. Ao me reconhecer, ela sorri e se aconchega em meus braços. Deixo um beijo no topo de sua cabeça e passo a acariciar sua barriga, aproveitando a sensação de paz que nós tínhamos naquele momento.

O dia havia amanhecido ensolarado e apesar de estar bastante frio devido o inverno, era agradável sentir o vento atingir nossos rostos naquela manhã. Permanecemos naquela posição em silêncio por alguns minutos, sem realmente sentirmos a necessidade de dizer alguma coisa. Apenas observávamos a capital de nosso país, que naquele dia parecia ainda mais encantadora, com a neve branca cobrindo boa parte da cidade e se misturando as belezas naturais de Krósvia.

Minha esposa então se vira para mim e enlaça seus braços em volta de meu pescoço. Vejo seus olhos brilhantes me encararem. Havia tantos sentimentos presentes nos chocolates que fazem eu me apaixonar ainda mais a cada dia que se passa. Ela sorri e me beija. E era incrível como apesar de tantos anos terem se passado desde que nos casamos, eu só conseguia desejar mais que esses momentos ao seu lado, onde a tenho em meus braços, durem por toda a eternidade.

— Eu te amo. – Ela sussurra, com a testa encostada na minha e os olhos fechados. Acaricio seu rosto e Ally suspira, parecendo apreciar o carinho.

— Eu também te amo. – Respondo, dando um demorado beijo em sua testa em seguida. Ally me abraça, colando seu rosto em meu peito. Afago seu cabelo, com o queixo apoiado em sua cabeça.

Ally parecia incrivelmente calma e bem-humorada naquele dia. Até mesmo seu rosto que estava bastante pálido há algum tempo, estava corado e cheio de vida. Suspiro, aliviado por saber que ela estava melhorando. Era aterrorizante vê-la passar tão mal e não poder fazer nada além de ficar ao seu lado. Eu me sentia incapaz, todas as vezes que ela parecia exausta até mesmo para respirar.

Nós já passamos muitas situações preocupantes, como a guerra de dez anos atrás, nossas brigas e crises por sermos jovens demais para entender sobre casamento e inexperientes demais para liderar um país. Mas dessa vez, eu sentia que era diferente de qualquer situação que já passamos. Com uma possível guerra para acontecer, a gravidez de risco de Ally e a ameaça de uma nova doença, até então incontrolável, nós precisamos lutar ainda mais para não nos deixarmos abater.

 - Mamãe! – Grita Enzo, entrando no quarto de repente.

O garoto corre até nós e abraça as pernas da mãe. Ally se afasta de mim e pega Enzo no colo, que a abraça apertado. Minha esposa sorri e dá um beijo estalado nas duas bochechas do filho, que gargalha, enquanto tenta se livrar dos beijos exagerados de Ally. Observo a cena, sorrindo por ver a alegria de minha família. E é nesses momentos que eu desejo com ainda mais intensidade de que Ally tenha essa criança.

— Bom dia, mamãe! - Exclama o garoto, quando Ally finalmente se cansa de brincar de beijos com a criança. Preocupado por minha esposa está carregando Enzo sem se lembrar de seu estado de saúde delicado, pego nosso filho no colo. - Papai e eu dormimos na torre secreta.

— Bom dia meu amor. E posso saber o motivo de meus dois amores terem dormido na torre e não em seus quartos? – Questiona Ally, limpando atentamente um rastro de creme dental que ainda havia ficado no canto da boca do garoto.

— Sonho ruim. - Responde Enzo com seriedade. Ally me encara confusa, provavelmente esperando que eu tivesse uma explicação mais clara do que havia acontecido para deixar nosso filho tão sério.

— Enzo teve um pesadelo ontem à noite e devido a um imprevisto, acabei indo com ele para a torre. – Conto a Ally, que me encara desconfiada, mas logo volta a prestar atenção em Enzo, que brincava com um botão da minha camisa.

— Que tipo de imprevisto? – Questiona minha esposa, arrumando o cabelo desajeitado de Enzo, que parecia não ter controle pela manhã. O garoto resmunga e esconde seu rosto na curvatura do meu pescoço, enquanto me abraça com força. – Deixa a mamãe arruma seu cabelo, meu amor. Você não penteou direito.

— Penteei sim. – Responde, incomodado. Ally suspira e tudo que faço é ri da manha de nosso menino para pentear os cabelos ondulados. – Pare mamãe! Eu penteei meu cabelo. Ele está bom.

— Enfim. – Resmunga minha esposa, voltando sua atenção para mim ao desistir de mexer no cabelo de nosso filho. – Que tipo de imprevisto ocorreu para você ter que dormir na torre com Enzo?

— Bárbara. - Respondo e, imediatamente, minha esposa começa a me encarar com dureza. Dou um sorriso, tentando transmitir alguma calma para a mulher. - Não se preocupe. Não é o que você está pensando. Ela não tentou atacar Enzo, apesar de não saber o que ela estava fazendo andando pelo castelo durante a madrugada. Inclusive, preciso que me deixe ir sozinho com ela para a reinauguração do Orfanato Rosalina.

— Por quê? – Questiona Ally, desconfiada. Rio ao identificar um traço de ciúmes passando pelos olhos de minha esposa. – E por que vocês dois têm de ir sozinhos?

— Faz parte do plano. – Afirmo, ajeitando o cabelo de Enzo, que ao contrário do que fez com a mãe, parece não ter problemas comigo mexendo em seu cabelo. – Eu preciso que ela confie em mim e só posso fazer isso a tendo por perto. Ir a reinauguração do orfanato sozinho é uma excelente forma de conseguir convencê-la de que nosso casamento não está nada bem.

— Vocês brigaram, papai? – Questiona Enzo, curioso.

— Não, querido. Seu pai e eu não brigamos. – Responde Ally com um sorriso gentil, tranquilizando a criança. Ela então se vira para mim. – Eu ainda não gosto dessa ideia de você mentindo e se passando por um traidor. Nós poderíamos muito bem usar os métodos tradicionais para desmascarar as armações de Bárbara, Taynara e Victor.

— E qual seria a graça disso? – Pergunto, sorrindo e sem disfarçar o quão ansioso eu estou para cumprir com a minha vingança. – Além disso, eu conversei com Oliver. Não estou satisfeito por ter que envolvê-lo, mas ele prometeu nos ajudar e que não irá se aproveitar da situação. Resolvi dá um voto de confiança, já que você confia tanto nele. Não vejo a hora de mostrar a Bárbara e a Elena que nesse jogo de armações e vinganças, dois podem jogar.

— Austin! – Ally me repreende e eu apenas dou de ombros. Eu sabia que nesse tipo de situações, nós divergíamos na forma de agir. Enquanto Ally toma atitudes maduras e age de acordo com as leis, eu prefiro seguir a lei de talião: “Olho por olho, e dente por dente”. – Nós precisamos ser racionais. Eu sei que quer fazer sua prima e sua tia pagarem por tudo que estão fazendo. Acredite, eu entendo melhor do que ninguém. Esse também é o meu desejo. Mas, não podemos perder tempo apenas porque desejamos satisfazer e recuperar nosso orgulho. Isso não vai mudar nada.

— Não importa o que você diga, você sabe que eu não vou desistir de me vingar delas. – Afirmo e ela suspira, cansada.

— De qualquer forma, essa garota é uma louca sem qualquer escrúpulos. Eu não quero que ela se aproxime de nosso filho, ainda mais sozinho. Vou pedir para Dez providenciar alguns guardas de confiança para fazer a segurança de Enzo durante a noite e conversar com Trish para ficar de olho nele durante o dia. Não sabemos o que ela pode aprontar apenas para nos atingir.  – Afirma Ally, encarando-me intensamente. Apesar de saber que essa ação poderia fazer Bárbara desconfiar, eu concordava com a decisão de minha esposa. A segurança de Enzo vinha acima de qualquer plano ou desejo de vingança. – E está bem. Você pode ir sozinho com ela. Mas me prometa que me contará tudo o que acontecer e que vai tomar cuidado. Pode não parecer, mas Bárbara é bastante perigosa e eu não gosto de saber que ficará sozinho com ela.

— Tudo bem. – Concordo, acariciando os cabelos de Enzo, que nos encara confuso. Quase posso ouvir as engrenagens de sua mente trabalhando.

— A tia Bárbara é malvada, mamãe? – Questiona Enzo, pensativo.

— Sim, querido. Ela é uma pessoa muito ruim, por isso você nunca deve ficar sozinho com ela. – Explica Ally com seriedade, olhando nos olhos de Enzo. – E deve sempre contar para a mamãe e para o papai se ela fizer alguma coisa com você, entendeu?

— Está bem, mamãe. – Concorda o garoto com a mesma seriedade que a mãe. – Papai, a tia Elena também é malvada?

— Por que está perguntando isso, filho? – Questiono, curioso para saber o que o garoto parecia guardar tão intimamente. – Ela fez algo com você?

Enzo balança a cabeça negando, mas ainda parecia incerto sobre o que dizer.

— No sonho ruim, tia Bárbara e tia Elena machucavam a mamãe e me deixavam sozinhas no escuro. Elas vão machucar você igual ao meu sonho, mamãe? – Pergunta Enzo, desesperado. Intensas lágrimas escorrem pelo rosto angelical de meu filho. Era doloroso ver o quanto ele estava sofrendo pelo pesadelo realista que tivera na noite anterior. Não me admira o seu desejo de ficar comigo. Ally me encara surpresa, mas logo volta a sua atenção ao filho, preocupada com sua reação. – Eu não quero que você fique machucada! Não quero ficar sozinho, papai!

— Não, meu amor. Eu não vou me machucar e você não vai ficar sozinho. Nunca! – Afirma Ally, pegando Enzo de meu colo. – Eu te prometo, meu amor. Eu jamais te deixaria sozinho e não vou deixar que ninguém me machuque.

Ela o abraça com toda sua força e vejo lágrimas se formarem no canto de seus olhos, enquanto ninava o filho para acalmá-lo. Ally sempre foi muito forte e dificilmente se deixava abater em momentos delicados ou desesperadores, mas Enzo é o nosso ponto fraco. Vê-lo tão abalado era assustador para nós. Jamais imaginei que nosso filho de oito anos sentiria tanto pavor após um pesadelo. Ainda mais quando essa realidade não é tão diferente da que vivemos.

— Escute, Enzo. – Sussurro, abraçando minha família. Agora, mais do que nunca, eu estava decidido a protegê-los e a ir até mesmo contra meus princípios, se isso garantir que Taynara e seus aliados jamais machuquem a minha família. – O papai promete que não vai deixar ninguém machucar vocês. Eu juro que você e sua mãe jamais ficarão sozinhos. Não importa o que eu precise fazer, eu vou garantir a segurança de vocês. Custe o que custar.

[...]

Apesar de tentarmos disfarçar o quanto estávamos abalados pelo que havia ocorrido mais cedo, durante o café da manhã, Ally e eu permanecemos quietos e pensativos, participando das conversas somente quando éramos chamados. Por outro lado, isso também contribuía para que Bárbara se sentisse mais confiante sobre uma possível crise em meu casamento.

— Austin, está tudo bem? – Sussurra a garota incrivelmente próxima de mim, colocando a mão sobre meu ombro.

Ally nos encara com as sobrancelhas arqueadas, mas não diz nada. Oliver também ver a cena e, provavelmente, imaginando que nossas ações fossem parte do plano, suspira e coloca sua mão sobre a de minha esposa, sorrindo compreensivo. Sinto-me incomodado com a situação e para evitar que fizesse bobagem, volto minha atenção para minha prima, que continuava a me encarar.

— Sim. Eu estou ótimo. – Respondo, um pouco mais agressivo do que o necessário, mas é o suficiente para fazer Oliver se afastar de Ally.

Todos na mesa nos encaram confuso e vejo um sorriso divertido se formar nos lábios de Juliana ao entender o que estava acontecendo. A espiã toma um gole de seu suco, observando aos presentes na mesa e então me lança uma piscadela, antes de colocar o copo que segurava na mesa com mais força que o necessário.

— Eu soube que hoje é a reinauguração do Orfanato Rosalina. Vocês farão o passeio da família real? – Questiona Juliana com um leve sorriso nos lábios.

— Nós... – Faço uma pausa dramática para fazer uma rápida troca de olhares com Ally antes de responder. – Não. Não será dessa vez.

— Eu me sinto um pouco indisposta hoje. Austin irá sozinho dessa vez. – Responde Ally a espiã, que balança a cabeça lentamente, como se estranhasse nossa ação.

— Na verdade, Bárbara irá me acompanhar. – Afirmo, surpreendendo meus amigos dessa vez, que expressão diversas emoções.

Vejo a satisfação brilhar nos olhos de Bárbara e sua mãe. Trish e Jade me fuzilavam pelos olhares, completamente contrariadas. Prince e Manu trocam olhares, antes de me encarar, mas não dizem nada. Ansel, Théo e Oliver pareciam confusos quanto a reação do restante da mesa. As crianças comiam seus lanches em silêncio, provavelmente sentindo que o melhor a fazerem é permanecer quietos. E por fim, observo Juliana, Lawrence e Dez com expressões sérias, sem realmente esboçar qualquer emoção.

— Eu realmente estou muito feliz pelo convite, Austin. Eu amo crianças e saber que vou poder participar de um evento tão especial como essa é realmente animador. – Fala Bárbara, fazendo Manu ri com sarcasmo.

— É claro que você está feliz. – Afirma Jade com ironia em sua voz.

— O que você está insinuando, senhora Khan? – Questiona minha tia, encarando Jade em fúria.

— Eu? Nada. Apenas concordei que Bárbara ficaria feliz em passar um tempo com Austin e as crianças do orfanato. – Explica Jade, sem esconder o veneno que aquelas palavras possuíam. Juliana ri, parecendo se divertir com a situação. Lawrence lança um olhar severo para a pupila e coloca a mão sobre o ombro da esposa, balançando a cabeça em sinal de que ela parasse com as provocações.

— Não entendo o que quer dizer com isso, mas eu realmente estou feliz por esse motivo, Jade. E acho que não fiz nada de errado para me tratarem assim. – Bárbara se vitimiza e vejo minha esposa revirar os olhos. E eu preciso me controlar para não repetir sua ação. Como ela conseguia ser tão falsa?

— Eu realmente admiro seu cinismo, Bárbara. Me fala como você faz para conseguir esconder tão bem as suas presas de cobra? – Questiona Trish, sorrindo irônica.

— Trish! – Dez repreende a esposa, preocupado que aquela resposta provocasse uma intensa discussão. Trish apenas lança um olhar irritado para o marido.

— Como ousa ofender minha filha assim, Patrícia? E você, Allycia? Como pode permitir que suas servas tenham tamanha audácia? – Questiona Elena, furiosa.

— Em primeiro lugar, nenhuma das pessoas que estão nessa mesa são meus servos. Eles são a minha família, então peço que tenha educação e saiba respeitar a todos. E sobre as ofensas a Bárbara, eu lamento muito por isso. Mas, acho que deve saber que eu não posso controlar o que as pessoas falam. Em meu país, as pessoas são livres para falarem o que pensam e o que sentem. – Responde minha esposa, após limpar a boca e encerrar sua refeição.

— Théo! Você não fará nada para defender a honra de sua filha? Que tipo de pai é você? -  Esbraveja minha tia ao marido, que permanecia sério.

— Eu não posso fazer nada quanto a isso, Elena. Até mesmo eu estou surpreso por saber que Bárbara gosta tanto de crianças e que irá sozinha ao orfanato com Austin. Isso não é algo que ela deveria fazer, sabendo que ele é um homem casado e o que eventos como esse representam para países monárquicos. – Responde Théo, demonstrando o quanto estava insatisfeito em saber que Bárbara me acompanharia no lugar de Ally.

— Papai! – Exclama Bárbara, fingindo estar envergonhada.

— Eu terminei de tomar meu café. Eu estarei em meu escritório caso precisem de mim. – Avisa Ally, levantando-se da mesa sem olhar para mim. Ela encara Oliver por alguns instantes, antes de sair da sala de jantar.

Oliver suspira e deixa seu guardanapo sobre a mesa, antes de fazer o mesmo que a minha esposa e a seguir. Uma parte de mim estava bastante preocupado com a reação de minha esposa, que parecia diferente de seu habitual. Eu sabia que ela não estava realmente incomodada com o fato de que irei ao orfanato com Bárbara, então eu não sabia dizer o que havia de errado com ela, mas pela forma apressada com a qual deixou a sala de jantar, eu sabia que ela não estava bem.

Desvio o olhar da saída da sala e encaro Dez. Eu sabia que não precisava dizer nada. Ele também devia ter percebido que algo estava acontecendo com Ally. Por isso, não demora muito para que o ruivo deixasse a sala e fosse atrás de minha esposa. Volto minha atenção para Bárbara e tento demonstrar o quanto eu estava chateado com a minha suposta discussão com Ally.

— Acho melhor nós irmos. Logo o trânsito ficará ruim. – Digo a Bárbara, que assente, sorrindo em falsa gentileza.

— Papai, eu posso ir? – Pede Enzo, encarando-me com seriedade.

— Eu não sei se é uma boa ideia, filho. Você tem aulas e acho que sua mãe não ficaria feliz que você as faltasse. – Respondo, ciente que Ally não aprovaria que Enzo ficasse no mesmo ambiente que Bárbara.

— Por favor, papai. Eu quero muito ir. Por favor. Por favor. – Insiste a criança, surpreendendo-me. Geralmente, Enzo jamais iria contra o desejo da mãe. Mesmo insatisfeito, ele faz de tudo para não deixar Ally chateada. – Me deixa ir, papai. Eu prometo me comportar.

— Por que você quer tanto ir, Enzo? – Pergunta Trish, surpresa pela insistência atípica do afilhado.

— Porque eu quero ficar com o papai, tia Trish. Por favor, deixa eu ir. – Pede meu filho, novamente. E então lembro de nossa conversa de mais cedo e de certa forma, entendo o motivo de Enzo estar tão decidido a ir comigo ao orfanato. Ele tem medo que Bárbara faça algo comigo, assim como a viu fazer com sua mãe durante o seu sonho.

— Tudo bem, filho. Você pode ir. Mas me prometa que irá se comportar.

— Eu prometo! – Responde Enzo, sorrindo largamente.

— Se o Enzo for, eu também quero ir! – Exclama Kathy, cruzando os braços.

— Eu também! – Afirmam Lizzie e Eric ao mesmo tempo.

— Se todos vão, eu também quero ir, mamãe. – Pede Tommy.

— Ah, eu também quero ir ao orfanato, mamãe. – Diana pede a Manu, que suspira, cansada, dando de mamar ao pequeno Peter.

— Você não vai, filha. Precisa ir as aulas. – Nega Manu com firmeza.

— Nenhum de vocês vai. – Responde Jade com firmeza. – Vocês precisam ter aula e ninguém dá conta de vocês quando estão juntos.

— Jade tem razão. Vocês só irão atrapalhar a comemoração. – Concorda Trish, fazendo as crianças resmungarem, insatisfeitas. – E não adianta fazer biquinho. Austin está indo para um evento importante e vocês não podem ir. Se quiserem, vocês podem assistir ao discurso dele pela televisão.

— Mas isso é chato. Queríamos brincar com as crianças do orfanato. – Responde Kathy, chateada com a resposta de Trish.

— Kathy, nós já dissemos que vocês não podem ir. Por favor, não insista. – Fala Lawrence, repreendendo a filha, que suspira e balança a cabeça, concordando.

— Eu não posso ir, papai? – Pergunta Diana ao pai, sabendo que Prince dificilmente nega algo a sua garotinha. O homem encara a esposa, que lança um olhar severo. Ele suspira e acaricia os cabelos negros da filha.

— Desculpa, princesa. Sua mãe disse que não. É melhor nós a obedecermos. – Explica Prince, dando um sorriso culpado.

— Nós já vamos. Enzo ainda precisa colocar uma roupa apropriada e o caminho é longo até o orfanato. – Eu anuncio, levantando-me da mesa. Bárbara e Enzo não demoram a me seguir. – Até mais tarde.

— Juízo, Austin. – Orienta Lawrence com seriedade.

Assinto e observo as pessoas presentes na sala antes de sair junto com Enzo e Bárbara. Eu sabia que nenhum deles concordavam com as minhas ações e eu odeio deixá-los chateados comigo, mas o segredo é necessário. Se eles souberem de minhas reais intenções, o risco de Bárbara descobrir a verdade é muito maior e não sabemos quais as consequências que essa descoberta precoce poderia ocasionar.

Após solicitar a Emmy que arrumasse Enzo para o evento, não demoramos a estar na limusine – usada apenas para eventos da monarquia -, indo em direção ao orfanato. Enzo fez questão de se sentar entre Bárbara e eu. De certa forma, era adorável a maneira como ele tentava me manter seguro a qualquer custo. Bárbara, por outro lado, parecia bastante incomodada com a presença da criança, que impedia qualquer tentativa dela de se aproximar de mim.

Por causa das interferências de meu filho, Bárbara seguiu a viagem quase inteira em silêncio. Enzo conversava comigo e comentava sobre algumas coisas que via nas ruas de Füssen. Vez ou outra, eu encarava minha prima pelo canto do olho e podia ver seu evidente mau-humor, e isso me deixava ainda mais animado. Era prazeroso vê-la frustrada e sendo interrompida por um garoto de oito anos, com um incrível instinto protetor. Bárbara parecia fazer um grande esforço para não revelar sua verdadeira face.

— Você está bem, Austin? – Pergunta Bárbara, encarando-me como se estivesse realmente preocupada. Enzo havia acabado de pegar no sono, então ela estava aproveitando a chance de conseguir conversar comigo. – Você está quieto desde o café da manhã. Aconteceu alguma coisa? Há algo que eu possa fazer para você se sentir bem?

— Não aconteceu nada de novo. – Respondo, suspirando como se estivesse exausto. – Mas não se preocupe. Eu estou bem. Obrigado por pelo menos você se importar em saber como eu estou.

— Eu sempre vou me importar, Austin. – Afirma a garota, pegando em minha mão. Ela sorri e quando ia entrelaçar nossos dedos, Enzo se mexe no banco e acaba empurrando a mão de minha prima. Preciso fazer um esforço ainda maior do que o que fazia para não rir da frustração de Bárbara.

— Parece que nós chegamos. – Aviso, olhando pela janela do carro a grande construção do maior orfanato do país.

O Orfanato Rosalina havia sido criado pela avó paterna de Ally, quando ela ainda era rainha de Krósvia. Com o objetivo de dar um lugar melhor para os órfãos do país, ele funcionou até a primeira guerra iniciada por Lester Dawson, quando a grandiosa construção foi destruída em um ataque mal calculado do rei, matando centenas de crianças e adolescentes com a bomba que deveria ter acertado os soldados inimigos que se aproximavam da capital de Krósvia.

O orfanato voltou a ser aberto após a reconstrução de Krósvia a dez anos atrás. No entanto, depois de um terremoto há um ano e meio, o lugar precisou fazer algumas reparações, como as trocas dos fios de energia e a estrutura do casarão de três andares e mais de vinte quartos, além da escola que funcionava no mesmo lote que o orfanato para atender as mais de duzentas crianças e adolescentes que moram no lugar.

Como era de se esperar, já havia inúmeros krosvianos e a imprensa, ansiosos para a presença da família real na reinauguração do orfanato. Assim que a limusine estaciona, a porta é aberta e não demora para que os flashes nos capturassem. Enzo sorri e acena para as pessoas que gritavam seu nome. Ele, assim como a mãe, era muito amado pelo povo e adorava ter contato com todos.

Aceno e cumprimento os súditos, que se curvavam diante de mim, à medida que Enzo e Bárbara e eu andávamos pelo tapete vermelho. Todos pareciam surpresos e um pouco decepcionados pela ausência de Ally, mas isso não deixa que a nossa recepção fosse menos calorosa. Felizmente, nosso povo parecia realmente amar o nosso reinado, ainda mais depois de passarem tantos anos nas mãos de um rei tão cruel quanto Lester.

Assim que chegamos na entrada do casarão, a diretora Christina Moore nos recebe com um grande sorriso. Ela faz uma breve reverência e nos conduz para o palanque que havia sido montado para o meu discurso de reinauguração. Vejo que no local já se encontrava Adam Henderson, o presidente do Conselho de Krósvia. O homem se levanta e vem ao meu encontro, ao notar que eu estava presente.

— Rei Austin. – Fala o homem, fazendo uma breve reverência.

— Adam. Como vai? – Cumprimento, sorrindo para o homem. Apesar de nossas divergências em diversos assuntos, eu me dava muito bem com o homem, que havia me ajudado bastante a aprender sobre a burocracia de Krósvia e como governar o país. Se não fosse pela paciência e os ensinamentos de Adam, aprender sobre como ser um bom rei seria ainda mais difícil.

— Eu vou muito bem, obrigado. E como a Majestade está? Vejo que trouxe o pequeno príncipe Enzo no lugar de sua esposa. Algum problema com a rainha Allycia? – Questiona o homem, preocupado.

— Ela apenas precisou resolver alguns problemas de última hora e não pôde comparecer. – Explico e o homem assente, parecendo entender. – Por que não fala oi para o tio Adam, Enzo?

— Oi tio Adam. – Cumprimenta meu filho, timidamente, arrancando um sorriso encantado de Adam, que adorava o menino. Ele sempre diz que Enzo é parecido com seu filho mais velho quando criança, de quem era mais próximo, por isso, gostava de conversar com ele.

— Olá, Enzo. Você cresceu bastante desde a última vez que nos virmos. – Comenta o homem, acariciando a cabeça de Enzo. Adam então encara Bárbara que estava ao meu lado. – Estou surpreso de vê-la por aqui, princesa Bárbara.

— É bom vê-lo novamente, senhor Adam. Eu fui convidada por Austin a comparecer e eu não pude rejeitar o convite. Eu adoro crianças e esse evento é realmente encantador. – Responde Bárbara, reverenciando Adam.

— Certo. – Fala Adam, desconfiado. – Por que não vamos nos sentar. Agora que vocês chegaram, acho que já podemos começar a cerimônia de reinauguração.

Assim como dito pelo homem, nós nos sentamos nas cadeiras disponibilizada para nós em cima do palanque, de frente para as milhares de pessoas que compareceram ao evento. Com a abertura feita pela diretora Christina, não demoro a ser chamado para realizar o discurso. Eu realmente estava feliz pelas obras terem terminado com sucesso e de tantas pessoas terem comparecido para arrecadar fundos para manter o orfanato.

Apesar de disponibilizarmos alguns fundos para o orfanato se sustentar, o orfanato ainda precisava realizar eventos para arrecadar recursos para eventos como Natal, Páscoa e o Dia das Crianças. Com a quantidade de pessoas no lugar, eu não tinha dúvidas de que as crianças receberiam muitos presentes de Natal esse ano e, quem sabe, mais crianças ganhariam uma nova família para celebrar a data festiva?

Ao fim de meu discurso, o coral das crianças do orfanato se apresentou e foi bastante elogiado pelo público. Em seguida, surpreendendo a todos, Enzo perguntou a diretora do Orfanato Rosalina se poderia fazer um discurso também. E seu discurso não poderia ter sido mais adorável. Com seu jeito tímido, ele agradeceu a presença de todos e afirmou que estava feliz por ver que tantas pessoas se importavam com as crianças. E ainda pediu que todos continuassem ajudando e se pudesse, adotassem uma criança.

Após o discurso emocionante de Enzo, permite que meu filho cortasse a faixa que estava na entrada do orfanato e ele finalmente foi inaugurado. As crianças e os adultos se misturavam em meio as barraquinhas com atrações que haviam na grandiosa área de entrada do orfanato. O lugar havia ficar realmente encantador.

— Austin, você fez um excelente trabalho. – Comenta Bárbara, sorrindo enquanto encara o local.

— Obrigado. Eu estou feliz por ter cuidado pessoalmente dessa reforma. – Digo, realmente orgulhoso da aparência final do orfanato. E então, vejo que é hora de começar a agir mais uma vez com Bárbara. – Obrigado por ter vindo. A sua presença é realmente inspiradora. Com tudo que tem acontecido no castelo, é bom ter ao meu lado alguém que me apoia tanto igual você.

— E eu agradeço por ter me convidado. As crianças cantando, toda a decoração dessa festa. Tudo foi tão lindo e especial. – Comenta a garota, pegando discretamente em minha mão. Finjo surpresa, mas diferente do que eu geralmente agia, correspondo ao aperto. Ela sorri e se aproxima ainda mais. – Obrigada.

— Sabe, Bárbara, você é realmente diferente de qualquer mulher que eu já conheci. Além de bonita, é doce e confiável. É como se você soubesse exatamente o que dizer e quando dizer para me fazer sentir bem. – Comento, tentando soar o mais grato e sincero possível. Ela sorri ainda mais. – Eu não sei bem o que sinto, mas quando estou com você é como se eu voltasse a ser um adolescente de novo.

— E você me faz sentir livre. Ao seu lado, eu posso ser eu mesma, sem medo do que as pessoas vão dizer de mim. E isso é tão especial, Austin. Eu nunca me sentir assim com outra pessoa além de você. – Afirma e posso ver que ela realmente havia acreditado em minhas palavras. Preciso me forçar a não ri sarcasticamente. – Espero que possa ficar para sempre ao seu lado.

— Eu com certeza vou amar se isso acontecer. – Respondo e vejo os olhos da garota brilharem.

E é então que a diretora Christina aparece, com um semblante sério. Solto a mão de Bárbara e encaro a mulher, que parecia realmente envergonhada por aparecer. Ela dá um sorriso forçado e respira fundo como se tivesse tentando ganhar força antes de falar. Observo-a, preocupado.

— Desculpe, Majestade. Você poderia vir ao escritório comigo? Acho que temos um problema. -  Informa a mulher com seriedade.

— Claro. – Concordo, preocupado que algo da obra tenha dado errado e isso ameace a vida das pessoas que estão no evento. – Bárbara, você se incomoda de esperar um pouco aqui. Eu não devo demorar.

— De forma alguma, Austin. Se quiser posso ficar de olho em Enzo, enquanto você vai resolver o problema. – Sugere a garota, dando um sorriso gentil.

— É melhor ele ir comigo. Enzo tem crise de choro, quando está em um lugar que não conhece e longe de Ally ou de mim. Ele tem dificuldade de confiar nas pessoas. – Explico a Bárbara, que assente em falsa compreensão. – Enzo!

— Sim, papai? – Responde o garoto, após correr de um dos brinquedos onde estava com algumas crianças do orfanato para me alcançar.

— Vamos em um lugar comigo. – Digo e o garoto, assente.

Pego na mão do garoto e a diretora nos guia até o escritório do orfanato. Assim que chegamos, ela abre a porta e após garantir que ninguém estava por perto, ela sorri e aponta para o telefone.

— O senhor Dezmond está na linha. Ele disse que tem um assunto confidencial e de extrema urgência para tratar. Pediu que eu não dissesse a ninguém que ele havia ligado e o chamasse. – Responde Christina. – Eu estarei do lado de fora, garantindo que ninguém escute a conversa, Majestade, por isso, fique à vontade.

— Obrigado, Christina. – Agradeço, entrando no escritório com Enzo. Ela fecha a porta e o silêncio se instala no cômodo. – Sente-se, filho, enquanto eu converso com o tio Dez.

— Tudo bem, papai. – Concorda o garoto, sentando-se de frente para a mesa da diretora, enquanto eu pego o telefone e me sento na cadeira da mulher.

— Dez?

Austin! Finalmente! Você demorou. — Reclama o ruivo do outro lado da linha. – Onde está o seu celular que você não atende?

— Sinto muito. Eu estava com ele no silencioso e não vi as chamadas. O que aconteceu? – Questiono, preocupado.

Ally teve um sangramento e não está nada bem. Oliver está cuidando dela, mas pediu que você retornasse para o castelo. Ela precisa de você. — Responde meu melhor amigo com urgência.

— Tudo bem. Eu estou indo. – Digo, sentindo meu coração apertar. – Até mais.

Desligo o telefone e encaro Enzo, que me observava com curiosidade. Respiro fundo, tentando me acalmar. Eu precisava pensar em uma forma de voltar para o castelo sem que ninguém desconfiasse.

— Christina? – Grito, chamando a mulher que estava do lado de fora. Ela não demora a aparecer, assustada. – Você tem algum veículo que eu possa usar para voltar para o castelo de forma rápida e que ninguém me veja saindo?

— Meu filho tem um carro que está no estacionamento subterrâneo. Ele pode te mostrar a saída pelos fundos. Como os vidros do carro são escuros, ele pode levar vocês até um ponto onde ninguém os veja, com vocês escondidos no banco de trás, e depois você pode ir por conta própria. – Sugere a mulher, pensativa.

— Tudo bem. Peça para o seu filho nos levar e não conte a ninguém o que está acontecendo. Se alguém perguntar por mim, diga que estou aqui no escritório resolvendo o problema que você havia me falado e que não quero ser interrompido por ninguém. Eu volto mais tarde para devolver o carro e finalizar o evento. – Oriento e ela assente. Viro-me para Enzo. – Vem, filho. Sua mãe precisa de nós.


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Notas finais do capítulo

Oii amores! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas? Espero que tenham gostado. Deixem a opinião de vocês. Boa leitura...

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