Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 18
Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Eu demorei, mas estou de volta. Esse capítulo é em comemoração ao aniversário da nossa amada Cupcake, Feh Freitas. Fefeh, que essa data se repita por muitos e muitos anos. Espero que seja sempre muito feliz. E muito obrigada Princesa Fefeh, Juliana Lorena e Veh Alves pelos comentários no capítulo passado. Espero que gostem desse. Boa leitura...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/637999/chapter/18

"Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer seu coração bater melhor?
S
e eu pelo menos eu soubesse que você tinha uma tempestade para enfrentar
Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer tudo parar de doer?
Me mata saber como sua mente pode fazer você se sentir tão insuficiente
Então, antes que você vá"

Lewis Capaldi - Before You Go

Capítulo XVII – Reencontros

֎

Austin entra no laboratório de maneira desesperada com Enzo em seus braços. Oliver, que estudava um livro complexo e estrangeiro sobre bactérias, desvia o olhar para encarar meu marido e filho. Eu estava deitada, exausta demais para conseguir me mover. Os medicamentos que eu havia sido obrigada a tomar me deixavam fraca e sonolenta. O soro em meu braço parece deixar minha família ainda mais assustada.

— Ally! Você está bem? - Pergunta meu marido, aproximando-se de maneira afobada de mim.

— Mamãe! - Enzo desce do colo do pai e me abraça.

— Eu estou bem. - Afirmo, acariciando a cabeça de Enzo. - O que vocês estão fazendo aqui? Deveria estar na festa de inauguração do orfanato.

— Dez me ligou dizendo que você teve um sangramento e que não estava nada bem. - Responde o loiro, encarando-me preocupado.

— Dez não deveria ter feito isso. Eu já estou bem melhor. Foi apenas um susto. - Afirmo, tentando convencer Austin que meu melhor amigo havia exagerado com a ligação. 

— Eu que pedi para Dez ligar para Austin. - Avisa Oliver, fechando o livro que estudava. Ele retira o óculos que usava para ler e massageia os olhos, dando um suspiro cansado em seguida. O cientista estava há dias trabalhando na cura da bactéria LP e por isso não estava conseguindo descansar. - Você não pode mais continuar nessa rotina desgastante, Ally. Se quer mesmo seguir em frente com essa gravidez, você terá que ter repouso absoluto. Você já entrou no quinto mês de gestação. Eu já te disse antes. A poucas mulheres que passam pela gravidez ectópica tendem a ter a criança no máximo no sétimo mês de gestação. Quanto mais tempo demora para o bebê nascer, maiores são as chances de você não sobreviver ao parto ou morrer antes que você tenha a criança. Eu não posso continuar vendo você se arriscar desse modo. Como cientista e médico, é meu trabalho salvar vidas. Mas eu não posso fazer isso se o paciente não ajuda. 

— A mamãe vai morrer? - Pergunta Enzo, desesperado.

— Não, meu amor. A mamãe não vai morrer. - Respondo, tentando acalmar a criança, enquanto encaro Oliver com repreensão. Tento me levantar e Austin rapidamente se põe a me ajudar. Assim que estou sentada na cama, pego no rosto de meu filho e o acaricio, chamando a atenção dele. - Enzo, a mamãe sempre cumpre com as promessas que ela faz para você, certo?

— Sim. - Responde meu menino de maneira cautelosa.

— Eu prometo que a mamãe não vai morrer. Nada vai me tirar de você, meu herói. Eu e o papai vamos sempre estar com você. Então não se preocupe. - Faço a promessa com determinação e isso parece acalmar Enzo. - Você acredita em mim?

— Sim, mamãe. - Afirma o garoto de olhos brilhantes e eu sorrio por ver a felicidade e alívio da criança. - Eu te amo muito, muito, muito, mamãe.

— Eu também te amo muito, muito e muito, meu amor. - Respondo, dando um beijo demorado em sua testa. 

— Mamãe? - Chama a criança, quando eu me afasto.

— Sim, meu amor. - Digo e ele me encara com curiosidade. 

— Eu vou ganhar um irmãozinho? - Pergunta Enzo, animado. Rio e encaro Austin, que sorri e assente concordando.

— Um irmãozinho ou uma irmãzinha. - Responde Austin, aproximando-se de nós. Enzo ri e volta a me abraçar. 

— Espero que seja um irmãozinho para brincar comigo, assim como Tommy brinca com o Ian. - Afirma Enzo, arrancando de nós algumas risadas.

— E se for uma menina? - Pergunto, curiosa para saber o que ele diria.

— Então eu vou cuidar dela e acho que vou brincar com ela também. - Responde, um pouco desanimado. - Mas tenta ser um menino, mamãe.

— Não é assim que funciona, filho. - Digo, rindo. - Mas não importa se é menino ou menina, eu tenho certeza de que você vai se dar muito bem com esse bebê. Ele será seu companheiro e estará sempre com você. Deverão ser melhores amigos e cuidar sempre um do outro. Você me promete?

— Prometo. - Enzo estende o dedo mindinho e sorrio, cruzando o meu com o dele em uma promessa. Ele então me abraça de novo. - Eu te amo, mamãe. E amo você também, bebê.

— Nós também amamos você, meu menino. - Respondo, acariciando a cabeça de Enzo. - Mas precisa prometer algo para mim.

— O que, mamãe? - Pergunta Enzo com curiosidade.

— Não pode contar para ninguém ainda. A mamãe e o papai só vai contar para seus tios e primos quando descobrirmos o sexo do bebê. - Peço, surpreendendo até mesmo Austin. - Pode fazer isso, meu amor?

— Posso. - Responde, desanimado. - Eu queria contar para Kathy e Tommy que eu também vou ter um irmão.

— Apenas espere mais um pouco. Prometo que não vai demorar muito. Você vai poder contar para todo mundo, filhão. - Fala Austin, sorrindo amável para Enzo. Nosso menino suspira e assente, concordando.

— Agora que tal pedir para um dos guardas que estão do lado de fora do laboratório para te levarem para brincar com o tio Dez, enquanto a mamãe conversa com o papai e o tio Oliver?

— Está bem. - Concorda Enzo, abraçando-me pela última vez. Ele acena para Oliver, que corresponde o gesto sorrindo, e para Austin, que acaricia a cabeça do filho, antes de observá-lo deixar o quarto.

— Você não deveria ter trago Enzo para cá. - Repreendo Austin, assim que a criança fecha a porta do laboratório.

— O que eu deveria ter feito? Eu não podia deixá-lo sozinho no orfanato, enquanto Bárbara está lá. Ela nem mesmo sabe que eu sai com Enzo. Eu planejo voltar para o evento com ele, antes que as pessoas percebam que eu não estou presente na festa. - Explica Austin, sentando-se ao meu lado. Ele troca olhares com Oliver e volta a me encarar. - Você deveria se afastar do trono até o nosso bebê nascer. Oliver tem razão. Não dá para você continuar se estressando e arriscando a sua vida e a de nosso filho dessa forma. 

— Eu não posso me afastar agora, Austin. Krósvia ainda está a salvo da bactéria, mas não sabemos por quanto tempo. Taynara e Victor com certeza vão se aproveitar de nossa fraqueza e atacar. Muita coisa está acontecendo e seria muita pressão para você aguentar sozinho. - Argumento, mas isso não parece convencer meu marido. - Austin, por favor, eu...

— Não, Ally. Quando nos casamos, eu prometi te amar incondicionalmente, ser sua família e te proteger. Você é cabeça dura e nunca pensa em si mesma. Geralmente, eu não me preocupo tanto, porque sei que você é forte e inteligente o bastante para conseguir superar qualquer desafio, mas dessa vez é diferente. Você está esperando um bebê e não é uma gravidez fácil. Qualquer ação sua pode afetar na vida do nosso filho ou filha. Precisa ter repouso absoluto. - Austin estava com aquela expressão que eu sabia que não dava para contrariar.

— O ideal seria você ficar longe de Bárbara, da bactéria e de toda a agitação do reino. - Afirma Oliver, pensativo. - Mas já que eu sei que não é possível, pelo menos fique quieta em seu quarto. Eu estou perto de encontrar a cura da LP e eu tenho certeza que seu marido dará conta de comandar o reino. Quanto a guerra, acho que Dez, Lawrence, Prince e os outros serão capazes de controlar qualquer problema que venha a aparecer. 

— Por favor, Ally. - Pede Austin em tom de súplica. - Se não quer fazer isso por mim ou por você, faça isso pelos nossos filhos. Enzo e esse bebê que está por vir precisam de você. 

Encaro os olhos castanhos de meu marido e vejo tanto medo neles. Eu odiava me sentir tão frágil. Eu sabia que eles estavam certo, mas é tão difícil ficar parada com tantos problemas acontecendo. No entanto, eu preciso fazer isso pelos meus filhos. Eu nem mesmo estou em condições de lutar ou com saúde o suficiente para ficar horas planejando e cuidando dos compromissos reais. Eu preciso confiar em meus amigos e em meu marido.

— Tudo bem. - Respondo, suspirando. - Eu ficarei quieta. 

— Obrigado. - Agradece Austin, aliviado. Ele me beija rapidamente e acaricia minha barriga, antes de dar um beijo nela. - O papai precisa ir agora, mas logo estarei de volta. Cuide da mamãe e não deixe que ela faça besteira. Estou confiando em você. - No mesmo instante, o chute em minha barriga ilumina o rosto de Austin. Era a primeira vez que o bebê respondia ao chamado de meu marido. Ele beija minha barriga diversas vezes e tudo o que eu consigo fazer é rir de sua animação.  - Obrigado, bebê.

— Você é tão bobo. - Digo, acariciando os cabelos loiros.  - Vai logo. Bárbara logo vai desconfiar que você não está no orfanato.

— Estou indo. - Responde, contrariado. Ele beija minha barriga mais uma vez e deixa um rápido beijo em minha testa. - Eu amo vocês.

— Também te amamos. - Digo, sorrindo para o loiro, que após acenar para Oliver, deixa a sala. Sinto o olhar de Oliver sobre mim, como se desconfiasse de mim. - Eu falei a verdade. Eu vou me comportar. Eu prometo.

— Assim espero. - Fala o cientista, suspirando. Ele se levanta e me encara sério. Por fim, o homem retira o soro de mim. - Vá para o seu quarto e descanse. Eu vou voltar a estudar.  Daqui a pouco eu peço para Emmy dar algo para você comer.

— Tudo bem. - Suspiro e me levanto. Ajeito meu vestido para não mostrar o tamanho da minha barriga e o encaro pela última vez. - Obrigada, Oliver. 

O cientista assente e dá um fraco sorriso, antes de voltar a ler o livro complexo, provavelmente tentando descobrir alguma coisa que pudesse ajudar na descoberta da cura da bactéria que tem nos assombrado tanto. Respiro fundo e deixo o laboratório, indo para o meu quarto. Por sorte, não encontro nenhum de meus amigos a caminho do cômodo. Eu não estava disposta a conversar. Queria ficar um pouco sozinha e colocar a minha mente no lugar.

Assim que chego no quarto e vou para minha cama, encontro um envelope preto em cima dela. Quando eu o pego, surpreendo-me ao ver a marca do brasão da família Dobyne no fecho da carta. Curiosa, abro o envelope e pego a carta que havia dentro dele.  

 

Querida Ally, 

Um novo episódio em nossas vidas se aproxima. Eu sei que já descobriu que estou viva e por perto. Gostaria de aproveitar nosso último momento de calmaria para conversar um pouco. Por isso, quero que venha sozinha a antiga casa da família Santos à meia noite. Não se preocupe. Eu realmente só desejo conversar com você. No entanto, se tentar trazer alguém de fora, eu vou saber e irei embora. 

Atenciosamente,
T.

 

Então Taynara havia feito seu primeiro movimento. Observo a carta mais uma vez. Assim como ocorreu um pouco antes da guerra que aconteceu há dez anos, nós nos encontraríamos antes da batalha. Ando até a varanda de meu quarto e observo a linda paisagem de Füssen. Sinto o bebê se mexer mais uma vez, como se estivesse sentindo minha agitação. Respiro fundo e acaricio a barriga, buscando me tranquilizar. Depois de tantos anos, nós finalmente nos encontraríamos e eu nem mesmo sabia o que esperar de Taynara. Mas eu não perderia esse encontro por nada.

[...]

Assim que Austin cai no sono, eu me levanto e vou me arrumar. Para facilitar a minha fuga, coloco uma calça legging preta, tênis e blusa de manga longa. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e pego um dos poucos moletons que Austin guardou para se lembrar de quando ainda era apenas um adolescente normal. 

Pego meu celular e as chaves de um carro que eu escondia na floresta para o caso de emergência. Observo meu marido dormir, totalmente alheio ao que eu iria fazer. Assim como dizia a carta de Taynara, eu não havia contado a ninguém que eu sairia. A antiga casa da família de Manu foi abandonada há muitos anos e felizmente não ficava muito distante do castelo. O grande problema seria atravessar a cidade sem ser vista.

Uso uma das inúmeras passagens que havia pelo castelo e não demoro a chegar no lado de fora dele. Cautelosamente, vou para o lugar onde guardei o carro de emergência. Quando eu o encontro, sigo para o local marcado por Taynara. Pelo horário, não havia muitas pessoas na rua, então consegui chegar com tranquilidade a residência que um dia pertenceu a Manu, seu pai e irmãos. Surpreendo-me ao encontrar um carro preto antigo estacionado de frente a casa, enquanto alguém, que imaginei ser Taynara, estava sentada no guarda-corpo de madeira da varanda. Estava muito escuro para ter certeza de alguma coisa.

Estaciono o carro ao lado do dela e a encontro, sorrindo nostálgica de olhos fechados, parecendo aproveitar a paisagem. Observo-a por alguns instantes e pego um pequeno revólver que havia dentro do porta luvas do carro. Guardo a arma em minha cintura e desço do quarto. Respiro fundo e me aproximo. Ela não havia mudado quase nada desde a última vez que eu a vi. Os cabelos continuavam longos e escuros, o corpo definido, lábios carnudos. Ela usava uma calça de couro preta, uma blusa de manga longa de mesma cor e botas salto alto. 

Quando eu estou de frente para ela, Taynara abre os olhos e me encara. Seus olhos continuavam gélidos, que me causam arrepios pela espinha. Permanecemos nessa mesma posição por alguns instantes, observando uma a outra em silêncio. Eu não sabia como reagir. Durante todos esses anos eu tinha certeza de que ela estava viva, mas agora que estou de frente a Taynara, nem mesmo sei como estou me sentindo.

— Ally Dawson Moon. - Cumprimenta Taynara, dando aquele sorriso presunçoso. - O que foi? Parece que viu um fantasma.

— O que você está fazendo aqui? - Pergunto, finalmente me recuperado do choque de vê-la.

— Eu te disse na carta. Eu vim conversar um pouco com você. - Responde, dando de ombros.

— Como conseguiu colocar essa carta em meu quarto? - Questiono, desconfiada.

— Você faz perguntas demais. - Reclama, suspirando entendiada.

— Responde, Taynara! - Insisto e ela ri, levemente.

— Você sabe a resposta. Não há motivos para responder algo tão óbvio. Eu tenho espiões espalhados por Krósvia e em seu castelo. - Afirma Taynara, aproximando-se de mim. - Anos se passaram, mas você continua com o olhar feroz. É isso que eu gosto de você. Sua determinação.

— Onde está Victor? - Questiono e Taynara se afasta, voltando a se sentar no guarda-corpo.

— Isso não vem ao caso. Você o verá muito em breve. Como deve saber, estamos nos preparando para a guerra. Não deve demorar muito a acontecer. De qualquer forma, por que não entramos e conversamos melhor? Eu consegui abrir a porta. Nada mudou. É como se eu tivesse voltado a quase trinta anos atrás.

— O que está fazendo aqui? Sabe que eu poderia te matar aqui a qualquer momento. - Digo e ela me encara despreocupada.

— Mas você não vai. Assim como eu não farei nada contra você. Eu apenas tive vontade de termos um encontro amigável antes que o caos recaia. Com a guerra, não sabemos quem morre ou quem vive. E eu também tenho certeza de que essa será a última vez que iremos batalhar, então vim encontrá-la para conversar um pouco. - Responde e eu não sabia o que se passava na mente de Taynara. - Acho que tive vontade de explicar um pouco da minha história. Soube que você tem procurado sobre mim por muitos anos, mas sei que não encontrou muitas informações. Provavelmente, você deve se perguntar o que me levou a me tornar uma inimiga de Krósvia, sendo que nasci aqui e era amiga de Prince, Manu e sua família.

— Mais do que isso, eu gostaria de saber como se tornou imperatriz do submundo e como não perdeu seu posto, mesmo depois de tantos anos. - Digo com curiosidade. Ela estava certa. Eu buscava por respostas, mas Taynara era mesmo como um fantasma.

— Mulheres constantemente são subestimada. Desde que o mundo é mundo, nós somos vistas como seres do sexo frágeis, incrivelmente sensíveis e que tudo o que são capazes de fazer é manter o casa limpa, garantir a educação dos filhos e satisfazer os homens. Por causa desse pensamento retrógrado que eu consegui chegar até aqui. Os homens mais poderosos do submundo nunca pensaram que uma mulher seria capaz de lutar bem, ter uma boa estratégia de ataque e ser uma líder nata. É por isso que estamos sempre à frente dos homens, Ally. Quantas vezes você já foi subestimada pelos seus inimigos? Quantas vezes disseram que você não seria capaz? - Questiona Taynara e infelizmente, eu sabia que ela estava certa. Eu não sabia aonde ela queria chegar, mas me mantenho em alerta. 

— Ainda assim, você é inteligente e talentosa demais para isso, Taynara. Não faz seu estilo matar crianças inocentes. Por que mandou a Bárbara fazer isso? Por que está distribuindo armas por Füssen? - Pergunto, inconformada.

— Bárbara é uma idiota. Acha mesmo que eu chamaria a atenção daquela forma? Ela é tão burra que vocês só precisaram de algumas horas para descobrir que ela e a mãe dela estavam por trás do assassinato daquela criança. Bárbara agiu por conta própria e será punida no momento certo. - Responde Taynara, dando um sorriso perigoso. - Por enquanto, eu ainda preciso dela.

— Por que está me contando isso? Por acaso acha que eu não serei capaz de te destruir, Taynara? - Pergunto, furiosa. Ela então encara minha barriga com um fraco sorriso, antes de seus olhos se encontrarem com o meu. Automaticamente, coloco-me em guarda. Ela poderia me atacar a qualquer momento.

— Pelo contrário, você é a minha maior rival, Ally. Nossas mentes trabalham de forma parecidas. Você é inteligente, perspicaz e uma excelente lutadora. Eu jamais subestimaria você. Apesar de não concordar com os meus métodos, você sabe que eu sempre joguei limpo com você. - Responde Taynara, afastando-se. - Você se lembra de nosso encontro na floresta, logo depois que você voltou de Miami?

— Claro. Você me fez uma maldita proposta, onde eu deveria me entregar a você e me tornar sua prisioneira. Caso contrário, você mataria o meu povo de maneira dolorosa. - Relembro as palavras proferidas pela mulher há dez anos. 

— É. A minha busca por vingança me deixou mais violenta do que eu gostaria. - Comenta, nostálgica. - Mas eu realmente acabaria com a guerra se tivesse concordado. Eu não queria guerra. Queria que seu pai sofresse e pagasse por tudo o que ele fez contra mim.

— O que ele fez contra você, Taynara? - Pergunto finalmente, vendo tanta dor e ódio nos olhos da mulher de olhos azuis gélidos. Taynara então dá um sorriso fraco mais uma vez e volta a encarar minha barriga. Coloco a mão sobre ela, mesmo meus instintos me dizendo que eu e o bebê não corríamos perigo.

— Sabe, eu acompanhei cada momento de sua vida. Quando você nasceu e o reino de Krósvia comemorou a chegada de uma nova herdeira, quando você se rebelou contra seu pai pela primeira vez e mostrou que era capaz de lutar como qualquer outro soldado dele. Eu vi você sair de Füssen, conhecer Austin e descobrir que ele era o grande amor de sua vida. Estive presente na sua coroação e casamento. Observei você se tornar uma rainha justa e leal ao seu povo. Eu vi quando você descobriu que estava grávida de Enzo, acompanhei sua gravidez complicada e vi você se emocionar com o nascimento dele. Você e Austin se tornaram bons pais para o garoto e sei que também serão para essa garotinha que está por vir. - Responde Taynara, com um sorriso diferente de qualquer outro que eu já tinha visto da mulher. - Você tem uma família muito bonita, Ally.

— Espere um pouco. Garotinha? Não sabemos qual é o sexo do bebê. Como pode ter tanta certeza e que é uma menina? - Pergunto, mesmo sabendo que isso era o que menos importava naquela situação. Eu realmente só podia estar perdendo a cabeça. Taynara me fala sobre me observar a minha vida inteira e a única coisa que presto atenção é em seu palpite?

— Intuição feminina. Eu também sabia que você esperava um menino na sua primeira gravidez. - Responde, dando de ombros. Vejo um brilho sombrio em seus olhos. - Você está passando por uma gravidez bastante conturbada. Gravidez Ectópica. Isso realmente não é fácil. Está sendo muito corajosa por aceitar prosseguir com uma gravidez como essa. Mas de certa forma, eu entendo.  Assim como você, sempre foi um sonho de infância ter muitos filhos. Quem sabe três meninas e três meninos. Acho que seria divertido ter uma grande família. Mas nunca consegui realizar esse sonho.

— Você... queria ter uma família? Então por que continua nesse mundo de crimes e violência? Você é jovem e bonita. Poderia muito bem ter encontrado o seu verdadeiro amor e formado uma família se quisesse. - Digo e Taynara ri, sarcástica. - O quê? Eu estou dizendo a verdade.

— Não. Isso não seria possível. - Afirma Taynara, encarando o céu estrelado com melancolia.

— Não me diga que você ainda ama o Prince. - Suponho e ela me encara como se eu tivesse dito a maior besteira do mundo.

— Eu nunca amei o Prince. De onde você tirou essa idiotice? Eu só falava isso para provocar a Emanuelle. Achei que você fosse um pouco mais esperta que isso. - Retruca, bufando. 

— Se você não o ama e eu tenho quase certeza de que você e Lawrence tiveram apenas um caso passageiro. Então o que te impediu de sair e encontrar o amor da sua vida? Eu não acho que você seja do tipo que não acredita no amor, já que disse que me viu descobrir que Austin era o amor da minha vida. Por acaso você já conheceu o amor da sua vida? Espera! Era o Gavin! É por isso! - Digo, provavelmente parecendo uma criança por estar dando uma de detetive. Dessa vez, eu colocaria a culpa nos hormônios da gravidez. Taynara ri e nega novamente.

— Você está certa. Eu já encontrei o amor da minha vida...

— Eu sabia! - Interrompo Taynara e ela revira os olhos.

— Mas não era o Gavin. - Responde a mulher com tristeza. - Gavy era o meu melhor amigo. Ele ficou ao meu lado quando todos me deram as costas. - Taynara encara as próprias mãos e suspira. - Eu já tive sonhos e uma quase família. Tudo escapou pelas minhas mãos sem que eu tivesse qualquer controle. 

— Quem era a pessoa que você amava? - Pergunto e Taynara levanta o olhar, encarando-me com seriedade. - Se não era o Gavin, quem foi o grande amor da sua vida?

— Henrique Santos. - Responde Taynara, com lágrimas descendo pelo rosto. Prendo minha respiração ao ver a reação da mulher. O choro discreto e silencioso possuía uma dor inexplicável. E eu me sentia confusa. Era como se toda a história que eu havia escutado de Manu, Prince e Tyler durante anos fosse uma mentira. Aquela mulher, que chorava com tanta dor jamais seria capaz de matar o irmão de Manu. Então o que de fato havia acontecido?

— O irmão... de Manu? - Pergunto, apenas para ter certeza de que estávamos falando da mesma pessoa. 

— Sabe quais foram as últimas palavras dele? - Questiona a mulher, limpando o rosto. Nego, completamente perdida. - "Sobreviva, Tay". É o que eu tenho feito nos últimos vinte e oito anos. Quase trinta anos se passaram desde a última vez que o vi e a dor nunca, nunca... em momento algum, diminuiu. Eu o amei com todo o meu ser e continuo a amar. Ele continua sendo o meu primeiro e último pensamento do dia. 

— Então... você não... não o matou? - Eu estava sem palavras, atordoada demais com essa nova informação. Surpreendentemente, eu acreditava nela. 

— Stefan o matou! - Grita Taynara, expondo a sua raiva. 

— Mas era o pai dele. - Sussurro, inconformada.

— E também o braço direito de seu pai. - Responde, aproximando-se de mim. Seus olhos demonstravam tanto ódio que quase me sufocavam. - Stefan e Lester destruíram a minha vida. Eles mataram a minha família e os meus sonhos. 

— Mas... - Antes que eu continuasse a falar, Taynara levanta a blusa e expõe a cicatriz de um enorme corte em seu abdome. - O que... o que foi isso?

— Isso? Isso é uma demonstração da covardia e crueldade que seu pai e o de Emanuelle eram capazes de fazer. Meu sonho sempre foi construir uma grande família. E sabe o que eles fizeram? Eles tiraram o meu útero sem anestesia, depois de terem me torturado por dias quando eu tinha apenas catorze anos! - Revela Taynara e aquilo me faz levar as mãos a boca, sem acreditar na maldade que fizeram a mulher passar. Ela suspira e continua. - Havia uma criança que eu salvei na guerra antes do seu nascimento. Ele tinha cinco anos e o nome dele era Sean. Eu o amava como um filho. Stefan sabia disso e o matou na minha frente. Todas as pessoas que eu amava morreram por causa de seu pai, Ally. Primeiro foi o meu pai, depois Sean, Henry, Tony, Dandara. Eu não me arrependo de ter atirado na cabeça de Stefan e nem de ter ajudado a matar o seu pai. Eles eram pessoas horríveis e mereciam ir para o inferno. Gavin também não merecia ter morrido. Ele foi um amigo leal e me amou o bastante por nós dois. Mesmo eu me odiando, ele nunca deixou de me amar.

— Taynara, eu... eu... - Balbucio, mas nada coerente sai de minha boca.

— "Eu sei que somos jovens, que nos conhecemos há pouco tempo e que inclusive nosso namoro é bastante recente, mas eu não consigo imaginar minha vida com outra pessoa além de você. Porque no meio dessas guerras e de todo o inferno que estamos passando você é a única pessoa que me faz sentir como se eu estivesse no paraíso. Eu te amo muito, Tay. Nunca se esqueça disso." - Declara Taynara, encarando o céu com os olhos repletos de lágrimas. - E eu nunca esqueci das palavras de Henry quando se declarou para mim e quando estava morrendo em meus braços, depois de lutar para me salvar. Você me disse que eu poderia ter encontrado o amor da minha vida e construído uma família se eu quisesse, Ally, mas você está errada. A única pessoa que amei e permaneço amando é Henry. Seu pai tirou de mim a chance de um dia realizar o meu sonho de ser mãe. 

— Olha, eu sinto muito mesmo pelo que aconteceu com você. Eu sei que isso não muda nada e entendo os motivos que te levaram a querer se vingar de Krósvia. Mas meu pai já está morto. Stefan também. Manu, Prince e Tyler não têm culpa do que aconteceu. Por que continua a nos atacar? Fazer isso não vai trazer as pessoas que você ama de volta. Não vai mudar o que aconteceu. Então, por quê? - Pergunto, tentando entender o que se passa na mente da mulher. 

— Eu tive a vingança que tanto desejei, mas isso não fez eu me sentir melhor. Não diminuiu a dor. Não me fez feliz. - Comenta, sorrindo amargurada.

— Você é inteligente e uma guerreira fabulosa. Depois que achamos que você morreu, podia ter seguido em frente e...

— Seguir em frente? - Taynara questiona, rindo incrédula. - É tarde demais. Eu matei o meu irmão e pessoas inocentes. Não há salvação para mim. Eu fiquei sozinha, sem lar. A única pessoa que me estendeu a mão depois de tudo o que aconteceu foi Victor. E eu não vou traí-lo. É verdade que a guerra não me interessa, mas eu preciso de motivos para sobreviver. Por menores que sejam esses motivos, eu preciso manter minha promessa por Henry. 

— Taynara... - Eu sabia a dor que ela sentia. Mas diferente de Taynara, eu tinha Austin, meu irmão, meus amigos e um reino ao meu lado depois da morte de Dallas, Cassidy e dos meus pais. Agora eu conseguia ver que a bela mulher a minha frente, estava se agarrando a um frágil fio de esperança pelo amor de sua vida. 

— Esse foi o nosso último encontro antes da guerra. Assim como dez anos atrás. - Responde Taynara, limpando os restos das lágrimas em seu rosto. - Proteja a sua família com todas as suas garras. Não importa o que tenha que fazer. Eu não fui capaz de proteger a minha e isso me assombra até hoje. 

— Taynara! - Chamo a mulher, no momento em que ela se vira para ir embora. Ela para de andar e me encara. - De que lado você está, afinal? Eu realmente não consigo te entender. Você teve a sua vingança, mas continua a lutar ao lado de Victor. Ainda assim, você aparece aqui me contando sobre seu passado e me deixando ir embora, mesmo com a chance de me matar. O que está pensando?

— Quem sabe? - Responde, dando de ombros. - Eu apenas estou sobrevivendo. 

— Mas...

— Sobreviva, Ally. - Deseja Taynara, voltando a andar sem olhar para trás. Ela entra no carro e vai embora, deixando-me completamente perdida. 

Sozinha, acaricio minha barriga, tentando me acalmar. O que Taynara disse me explica muitas coisas sobre o que aconteceu no passado e suas ações. Respiro fundo e encaro o céu estrelado. Uma nova guerra está para acontecer em meio a uma pandemia, enquanto eu enfrento a minha  própria batalha com essa criança que está prestes a nascer. Levo a mão ao colar em meu pescoço e penso em como irei sobreviver. Independentemente do que aconteça, a única coisa que eu sei é que não importa o que aconteça, eu defenderei a minha família.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oii amores! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas? Espero que tenham gostado. Deixem a opinião de vocês. Boa leitura...

Grupo WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/5BLSlXTV4yE2Qfd8YqeBPC
Grupo do Facebook: https://www.facebook.com/groups/677328449023646/