Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 16
Aliados e Inimigos


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Demorei, mas estou de volta. Eu tive um super bloqueio criativo enquanto escrevia esse capítulo, então não estou confiante com ele, mas espero que gostem. Obrigada Juliana Lorena, Sweet Princess, Veh Alves e Karen Claudino pelos comentários adoráveis no capítulo passado. Espero realmente não decepcionar com esse capítulo. Boa leitura...



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“Ele é do tipo de amor

que faz um giro em sua mente,

Como a maré e o tempo.

Com apenas um pouquinho de alma

ele luta para encontrar a paz mental

nesses olhos destruídos

Mas algo acontece no coração dela

quando a manhã vem.

Os segredos que ela esconde de mim,

As lágrimas em seu travesseiro

ela não quer que eu veja,

Bem toda coisa pequena que ele faz é para mim

Mas alguém novo está nos partindo em dois”.

 

Roxette - Secrets That She Keeps

 

Capítulo XV – Aliados e Inimigos

 ֎

 

Alguns minutos haviam se passado e eu ainda me questionava se eu realmente poderia confiar. A raiva me consumia intensamente desde que descobri toda a verdade que Ally tem escondido de mim nesses últimos anos. Eu me sentia um idiota por ter me deixado levar pelas palavras doces e envenenadas de Bárbara. Havia acreditado fielmente que ela me entendia e que compreendia o meu desejo por liberdade e o sentimento de inutilidade que me invadia todas as vezes em que minha esposa me deixava de lado.

Minha mente ainda trabalhava intensamente, tentando absorver todas as informações que recebi no dia anterior. Eu estava feliz por Ally estar esperando um filho meu, mas não ter a certeza de que ela sobreviverá até o fim da gestação me deixa inseguro e apreensivo. E ainda havia a questão da bactéria LP que ameaça a vida das crianças de todos os países da Europa. Com tantas coisas acontecendo, eu me sentia sufocado.

Suspiro, cansado. Não havia conseguido dormir, pensando em como deveria colocar meus planos em ação. Não é como se eu conseguisse enganar Bárbara e Elena sozinho. Com um espião entre nós e a certeza de que Taynara está por trás da vingança de Victor, eu também acabo colocando a vida de minha família em perigo se não tiver cuidado com os meus passos. Assim, não posso contar com os meus amigos de longa data. Bárbara, Elena e, consequentemente, Taynara desconfiariam de minhas intenções. No entanto, tenho ciência de que para fazer o que planejo, vou precisar de ajuda. Alguém em quem meus inimigos jamais imaginariam que eu me juntaria para os derrubar e que esteja tão disposto quanto eu a impedir que Victor consiga a sua tão desejada vingança.

Por fim, suspiro e finalmente bato na porta. Sem resposta, bato mais duas vezes. Instantes depois, a porta é aberta. Oliver me encara por algum tempo, analisando minhas expressões. Provavelmente se questionava se algo havia acontecido. Permaneço em silêncio, ainda me perguntando se era mesmo uma boa ideia envolver o cientista.

— Algum problema, Majestade? – Questiona, enquanto cruza os braços.

— Podemos conversar? – Pergunto, engolindo meu orgulho.

— Aconteceu algo com Ally ou alguma novidade sobre a LP? – Indaga o cientista, ainda me encarando com desconfiança.

— Não. Ally está bem e dormindo, e eu não temos nenhuma novidade sobre a LP, mas preciso conversar com você. – Respondo, transmitindo a minha urgência no meu tom de voz. – E em um local seguro.

Oliver me encara por mais um tempo e suspira. Ele então se afasta da porta e dá espaço para que eu entrasse. Confirmo que não estou sendo observado e entro no laboratório do cientista, que estava sentado com uma caneca de café em mãos. Ele me observa em silêncio, parecendo esperar que eu dissesse o motivo de querer conversar com ele às duas horas da manhã.

Tranco a porta e me aproximo do homem, que agora possuía um olhar desconfiado. Eu não sabia bem como começar a conversa e sentia que precisava ser rápido. Ainda havia o fato de não saber se posso confiar no homem, que ainda é um estranho para mim. Suspiro e me sento de frente para ele.

— Você não deveria estar dormindo? – Questiona Oliver, quebrando o silêncio.

— Você também não deveria? – Retruco e ele dá de ombros.

— Preciso descobrir a cura de uma pandemia que está ameaçando matar todas as crianças do nosso continente. Dormir é a última coisa que eu posso fazer nesse momento. Qualquer minuto perdido pode significar a vida de uma criança. – Responde com seriedade, terminando de tomar seu café. – Por outro lado, você precisa estar descansado para poder cuidar do reino e impedir que Ally se esforce demais.

— Antes de dizer o que vim fazer aqui, preciso saber se posso realmente confiar em você. – Digo com seriedade, indo direto ao ponto.

— O que está acontecendo, Majestade? – Questiona Oliver, preocupado.

— Apenas responda à pergunta. Eu posso confiar em você, Oliver? – Indago, deixando claro que o rumo da conversa dependeria da sinceridade de sua resposta.

— Sim. – Responde por fim, encarando-me com intensidade. – Eu serei o mais sincero possível e farei tudo que estiver ao meu alcance atender as suas expectativas como um dos seguidores da coroa krosviana, Majestade.

— Certo. – Sussurro, sem realmente saber por onde começar. – Primeiro, pare com esse Majestade. Já está me irritando.

— Depois de nossa briga, todos me fizeram prometer que me comportaria e o trataria tal como a sua posição, Majestade. E eu cumpro com todas as promessas que faço. Então mesmo sendo incomodo, eu cumprirei minha promessa de manter minha lealdade e respeito pelos reis de Krósvia, especialmente, por você. – Afirma Oliver, dando de ombros. Suspiro, cansado.

— É uma ordem como seu rei, Oliver. Sem Majestade. Apenas Austin. – Imponho minha ordem em desafio. Ele bufa, frustrado. Como um seguidor da coroa, ele não poderia ir contra as minhas ordens. E mesmo eu sabendo que eu estava sendo implicante, era satisfatório ver a expressão inconformada do cientista.

— Como desejar, Austin. -  Respondo, respirando fundo, impaciente. – E então? Vai me dizer o que precisa conversar comigo?

— O que vou te contar agora não deve ser comentado com ninguém. Não quero que essa conversa saia desse laboratório. O futuro de Krósvia e a vida da minha família depende de seu sigilo. – Enfatizo a importância do que conversaríamos.

— Não se preocupe. Não contarei a ninguém. – Afirma Oliver com sinceridade.

E assim passo a contar ao cientista sobre a forma como Ally e eu nos conhecemos, o que passamos em Miami para conseguirmos reunir nossos amigos e lutar contra Edgar e seu exército, contei sobre Taynara e como a mulher havia conseguido nos enganar durante dez anos e, principalmente, sobre as armações de minha tia e prima e como nós nos encontramos de mãos atadas, uma vez que Elohim é um dos nossos principais aliados e não podemos perder essa aliança. Oliver permaneceu em silêncio, apenas absorvendo toda a história, esboçando vez ou outra uma reação de surpresa.

Quando enfim terminei de narrar os últimos acontecimentos, nós permanecemos quietos. Oliver possuía a expressão indecifrável. Eu não conseguia imaginar o que se passava em sua mente. Por fim, ele suspira e bagunça os cabelos, como se tentasse reorganizar todas as ideias em sua mente.

— Eu... uau. – Ele tenta falar, mas parece que assim como eu, não sabe por onde começar. – Você tem um passado e tanto. Eu só... eu apenas não entendi o motivo de estar me contando isso. Quer dizer, foi realmente interessante saber o quanto vocês tiveram que lutar para chegar onde estão. Mas pelo pouco tempo em que nos conhecemos, eu sei que você não confia e muito menos gosta de mim. Então, por que você está me revelando seu passado e as armações de Bárbara e Elena?

— Porque preciso da sua ajuda. – Respondo, surpreendendo ao outro.

— Minha? – Questiona, confuso. – E no que exatamente você precisa da minha ajuda? Eu sou apenas um cientista. Não entendo de guerras, estratégias ou políticas para evitar ataques de reinos inimigos. Quer dizer, eu posso criar venenos e medicamentos que podem matar, se é isso que deseja, mas não sou muito a favor desses métodos.

— Não é isso. Por mais tentador que seja, eu não quero matar meus inimigos de maneira tão baixa. – Afirmo, pensativo. Suspiro e encaro Oliver. – Eu preciso de ajuda para colocar meu plano em ação. Uma estratégia para desmascarar Bárbara e minha tia Elena, além de descobrir a localização de Victor e Taynara antes que eles ataquem Krósvia. E, infelizmente, você é o único que pode me ajudar nesse momento.

— O que está planejando fazer? – Questiona o cientista, curioso.

— Ao que tudo indica, o plano de Taynara é usar Bárbara para me fazer ficar contra Ally. E para isso acontecer, minha prima tem tentado me manipular, afirmando que minha esposa está me traindo com você, como já deve ter notado. A nossa última briga deixou claro para ela que o plano dela estava dando certo e acho que ela vai continuar seguindo por esse caminho. – Conto a Oliver, em tom de voz mais baixo. Eu temia que alguém acabasse ouvindo nossa conversa.

— Em outras palavras, você quer que eu trabalhe junto com você para desmascarar sua prima e tia, porque nossa parceria seria um elemento surpresa, uma vez que todos acreditam que somos inimigos. – Supõe o cientista, levantando-se de sua cadeira para pegar mais café.

— Precisamente.

— Mas o que eu devo fazer? – Pergunta Oliver, voltando a se sentar.

— Quero que crie situações que dê a entender que realmente está interessado em ficar com Ally e que deseja me destruir. – Respondo, surpreendendo ao homem. – Quero que se torne um falso aliado de Bárbara e descubra o que puder sobre os planos que estão elaborando para derrotar Krósvia. Enquanto isso, eu serei o trouxa que vai acreditar fielmente nas palavras de Bárbara. Eu quero ver até onde elas são capazes de ir.

— Um espião? Você tem certeza disso? Quer dizer, eu não sei se serei capaz de fingir tão bem que estou do lado delas e eu também não quero deixar Ally desconfortável. – Explica Oliver, incerto. – Tenho a impressão que ela ficou bem chateada comigo depois de nossa briga. Não quero deixá-la ainda mais estressada.

— Eu tenho certeza de que Ally vai entender o que você está fazendo e entrará no jogo. Minha esposa sempre foi mais esperta do que eu e ela sabe que eu estou planejando fazer alguma coisa. Mas, como eu disse, para evitar que mais pessoas descubram, não podemos conversar ou comentar isso com ninguém. Nós temos um espião entre nós e até descobrir quem seja, é melhor sermos cautelosos. Eu tenho certeza de que há várias escutas e aparelhos de espionagem espalhados pelo castelo.

— Então aqui também pode ter, certo? – Questiona Oliver, olhando em todas as direções do laboratório.

— Sim. E é um risco eu estar aqui, mas não podemos perder tempo. Todos já ficarão desconfiados com nossas atitudes, porque eu te defendi no café da manhã. Provavelmente começaram a pensar que nós nos damos bem. Por isso, precisamos começar a mudar essa impressão o mais rápido possível. – Eu explico ao homem, que balança a cabeça, concordando.

— Com certeza elas vão desconfiar. – Comenta, pensativo.

— Oliver, eu realmente posso confiar em você? – Questiono, apenas porque precisava conferir que não estou arriscando ainda mais a vida de minha família confiando em uma pessoa que conheço há tão pouco tempo.

Ele me encara sério. Seus olhos transmitiam convicção e intensidade. Era como se estivesse determinado a me provar algo.

— É verdade que temos nossas diferenças, Austin, e que somos bastante impulsivos, mas eu jamais trairia o trono de Krósvia e Kenedias. Eu garanto minha lealdade e darei a minha vida se for preciso para impedir a queda do reino. -  Afirma e, estranhamente, sinto que posso confiar no cientista.

— Certo. Então o nosso primeiro movimento terá que ser um pouco mais discreto. Bárbara e Elena não sabem que eu já descobri sobre a gravidez da Ally e isso continuará sendo segredo. Então acho que podemos começar com vocês dois de segredos. Elas sabem que isso me irrita e provavelmente vão querer usar isso ao favor delas. – Relembro das vezes que Bárbara se aproveitou desse tipo de situação. – Aos poucos, podemos aumentar suas ações.

— Você realmente está de acordo com a minha aproximação com Ally? – Questiona Oliver com curiosidade.

— Não estou e é por isso que tenho confiança de que elas irão acreditar em mim. Odeio o fato de que tenho que te pedir essa ajuda e mais ainda de que esteja se aproximando de minha esposa. Mas isso vai muito além do meu incomodo. Krósvia corre perigo e eu ainda não consigo mensurar os estragos que essa guerra pode causar, afinal, todos já estão fragilizados com a LP. Uma guerra poderia destruir ainda mais as esperanças do povo de superarmos essa crise. – Respondo, sincero. – Mas quero que se lembre de uma coisa, Oliver.

— O quê?

— Eu posso estar pedindo para que você fique ao lado de Ally, mas não se esqueça que eu ainda sou o marido dela e o pai dos filhos dela. Nada de gracinhas e nem sequer cogite se aproveitar da situação, porque se eu descobrir, você pode ter certeza de que irá se arrepender de ter nascido. Pela primeira vez na vida, eu irei me aproveitar da minha posição como rei para lidar com essa situação e farei questão de te torturar até a morte. Eu fui claro?

— Não se preocupe. Eu te disse que jamais desrespeitaria Ally. Eu já desisti de meus sentimentos por ela e estou seguindo em frente. E é exatamente como você disse, essa situação vai muito além de nós dois. – Afirma Oliver com seriedade. Ele então suspira e me estende a mão. – É uma promessa e eu jamais descumpro as promessas que faço. Então, por mais difícil que seja, vamos deixar nossas diferenças de lado e trabalhar juntos. Trégua?

Observo a mão do cientista por um tempo. Eu sentia uma onda de adrenalina em meu sangue. Havia muito mais naquela mão estendida do que palavras poderiam descrever. Respiro fundo e aperto sua mão.

— Trégua. – Respondo, encarando-o com intensidade.

E assim, o acordo foi firmado. Ainda que hesitante, eu preciso confiar em Oliver e, ao mesmo tempo, ele precisará demonstrar sua lealdade. Deixo o laboratório, estando ciente de que o destino de Krósvia depende de minhas ações e as de Ally, afinal, somos os alvos de nossos inimigos.

Apesar de conhecermos bem Taynara, ainda há o elemento surpresa que é Victor Dobyne. Um homem com um forte desejo de vingança, mas paciência e cuidado de alguém que tem planejado todos os seus passos há três décadas. Alguém assim com certeza é muito mais perigoso do que posso imaginar, ainda mais tendo tantos motivos para odiar a coroa.

Suspiro e decido conferir se Enzo está bem, uma mania que adquiri desde que ele nasceu. Ao entrar no quarto, observo meu filho em um sono agitado. Aproximo-me aos poucos e ouço alguns múrmuros incompreensivos. Sento-me ao seu lado e pego em sua mão, tentando transmitir alguma segurança.

O garoto tão semelhante a mãe acorda assustado e aperta minha mão com firmeza. Sua respiração estava pesada e ele olhava para todos os lados, desesperado. Comovido por sua reação, abraço a criança, enquanto acaricio suas costas.

— Está tudo bem, campeão. – Digo suavemente. Afasto-me para observar seu rosto marcado e sonolento.

— Papai? – Questiona Enzo, encarando-me confuso. Sorrio para meu pequeno garoto e o trago para o meu colo. Ele me abraça com força e esconde o rosto na curvatura de meu pescoço, como se buscasse alguma segurança. Acaricio seus cabelos macios, apreciando o carinho que recebia.

Velar pelo sono de Enzo sempre conseguia acalmar meu coração. Garantir que aquela pessoa por quem carrego um amor imensurável está bem me deixa mais aliviado. De alguma forma, a pequena criança de braços delicados, sorriso fácil e personalidade forte como a da mãe sempre consegue me fazer esquecer meus problemas e me dá forças para tentar o meu melhor.

— Por que meu herói está acordado tão cedo? – Questiono, acolhendo-o da forma mais confortável possível para o garoto.

— Sonho ruim. – Responde sonolento.  

— Está com medo? – Pergunto, observando-o com atenção.

— Não. O papai está aqui agora. Eu não tenho medo. – Sussurra e a confiança em suas palavras é o bastante para me fazer amar ainda mais aquele ser tão puro.

— Isso mesmo. O papai está aqui e não vai deixar que nada de ruim aconteça com você. – Afirmo e Enzo balança a cabeça, concordando. – Por que você não me conta o que você sonhou?

— Não. – Resmunga, negando veemente.

— Por que você não pode contar para o papai? – Sussurro, preocupado.

Enzo então se afasta de mim e, com suas pequenas mãos, ele aperta meu rosto, algo que Ally fazia muito com a criança, quando queria mostrar para ele que estava falando sério. Não consigo evitar um sorriso. A expressão séria e o olhar determinado eram adoráveis. Eu quase conseguia ver Ally em Enzo.

 - Papai, você nunca vai sair de perto de mim e da mamãe, certo? – Pergunta com seriedade, como se estivesse diante de um assunto de grande urgência. 

— Nunca! Eu sempre estarei com vocês. – Afirmo tentando transmitir segurança a criança. Ele sorri e me abraça com força.

— Eu te amo muito mais que chocolate, papai. – Sussurra, apertando meu pescoço. Rio de sua expressão, algo que também havia aprendido com Ally.

Correspondo ao abraço, sentido o conforto e o carinho em suas palavras. Enzo era a maior prova de amor que Ally havia me dado. Eu jamais havia pensado que seria capaz de amar alguém com a intensidade que eu o amo. E é por ele e pela criança que Ally carrega em seu ventre que eu preciso lutar. Pelo bem e a segurança de minha família.

— Eu te amo muito mais que a música. – Declaro e ele me encara surpreso.

— Mais que a música, papai? – Repete Enzo com os olhos arregalados. Sorrio mais uma vez de suas caras e bocas.

 - Sim. Mais que a música. – Concordo e ele sorri largamente.

— Então você me ama um montão assim, não é, papai? – Enzo abre ao máximo os seus braços, simulando o infinito. Ele sabia como eu amava a música. Ally sempre diz a nosso filho que eu amo a música assim como ela e Enzo compartilham do amor pelo chocolate. – Desse tamanhão?

— Ainda mais do que isso. – Respondo rindo, enquanto faço cocegas em sua barriga. As gargalhadas de Enzo ecoam pelo quarto e aquecem meu coração. Aperto-o em um forte abraço e ele para de ri aos poucos, voltando a me abraçar com o rosto apoiado em meu ombro.

Levanto-me da cama de Enzo com ele em meus braços e vou para a varanda, observar a paisagem. Provavelmente, ainda faltava algumas horas para o sol nascer, então tudo o que eu via era as estrelas brilhando intensamente e as luzes ao longe, iluminando belamente a cidade de Füssen. Não importa quantos anos se passe, eu sempre me encanto pela beleza que equilibra perfeitamente a modernidade e a natureza de Krósvia.

Assim que noto que Enzo havia caído no sono novamente, volto para o quarto e tento colocá-lo na cama, mas o garoto só faz agarrar meu pescoço ainda mais forte. Ele não queria se separar de mim. Suspiro, cansado.

— Vamos para a cama, filho. – Digo suavemente, tentando colocar o garoto na cama, mas, mais uma vez, minha tentativa é em vão. – O que houve, Enzo?

— Não vai embora, papai. – Sussurra o garoto, apertando ainda mais o meu pescoço. – Fica comigo, por favor. Você prometeu que não sairia de perto de mim.

Sem alternativas, volto a levantar com a criança em meu colo. Algo me dizia que essa atitude atípica de meu filho tinha ligação com o sonho ruim que ele havia tido. Suspiro, dando-me por vencido. Ally já havia ficado muito tempo sozinha no quarto e com os ataques surpresas de Bárbara e as quedas de pressão de minha esposa, não era seguro me afastar. Assim, decido levar Enzo para meu quarto.

Com cuidado, levanto-me com a criança em meu colo e o aconchego em meus braços. No corredor, o único som audível são os de meus passos ecoando pelo piso, no entanto, sinto que alguém está me observando. Assim que me viro, encontro Bárbara com um falso sorriso inocente.

Ela usava uma camisola de seda e um robe do mesmo material brancos e curtos. Bárbara definitivamente estava tentando usar a beleza dela a seu favor. A garota se aproxima mais de mim e talvez por eu agora saber do seu verdadeiro caráter, sentia cada poro de meu corpo indicando perigo. Por que aquela garota estava próxima do quarto de Enzo a essa hora da madrugada?

— Não consegue dormir? – Sussurra, fingindo se preocupar em não acordar Enzo. Ela leva sua mão para acariciar a cabeça de meu filho, mas ele se encolhe e rejeita o toque. Preciso me segurar para não ri da momentânea expressão de insatisfação da garota. Ele definitivamente não gosta de Bárbara. – O que houve com o pequeno Enzo?

— Pesadelo. – Respondo, dando de ombros. – Eu sempre acordo durante a noite para conferir se ele está bem e quando cheguei no quarto, ele não me deixou mais sair.

— Coitadinho. – Comenta como se estivesse compadecida. – Deve ter sido muito ruim para ele está tão assustado.

Analiso a garota por um tempo e reflito sobre o que deveria fazer. Talvez eu devesse aproveitar a oportunidade e colocar meu plano em ação. Bárbara me encara confusa e me observa em silêncio. Desvio o olhar para o meu filho e relembro de Ally. A raiva em meu peito me incentiva a seguir em frente.

— Sim. Eu... – Digo, suspirando. Faço uma pausa dramática e a encaro como se realmente quisesse falar alguma coisa. Ela me encara com atenção. – Nada. Esquece.

— Está tudo bem, Austin? Aconteceu alguma coisa? – Questiona com fingida preocupação. Quase deixo um sorriso escapar ao perceber que ela estava agindo exatamente como eu queria.

— Nada. Só... só mais uma briga com Ally. Não quero voltar para o quarto e Enzo parece estar com medo de ficar no dele. Acho que vou passar a noite em claro no meu esconderijo. – Comento, buscando soar o mais chateado possível.

— Você... eu... – Ela para de falar e desvia o olhar para os pés, como se realmente estivesse envergonhada. Por fim, Bárbara me encara e sorri levemente. – Se não for muito incomodo, eu posso te acompanhar.

— Você não está cansada? Ainda falta muitas horas para o sol nascer. Deveria aproveitar para descansar. – Digo, sorrindo para minha prima, fingindo estar realmente preocupado com o bem-estar da garota.

—  Não se preocupe comigo. Eu sofro de insônia desde que era criança. E nós somos primos, certo? Devemos nos ajudar. E pelo visto, você não está bem e acho que já provei que sou uma excelente ouvinte. Talvez, conversar comigo te ajude a acalmar seu coração. – Responde, colocando a mão em meu ombro. – Que tal?

Eu a encaro como se estivesse ponderando sobre a ideia e após alguns instantes, fingindo ter me dado por vencido e balanço a cabeça, concordando. Eu apenas esperava que Enzo continuasse a dormir e que Elena não aprontasse nada com Ally no tempo em que eu estivesse afastado.

Bárbara sorri e comemora. Tento dar o meu melhor sorriso e passamos a andar em direção a torre que há anos é o meu lugar de paz. Por sorte, minha prima permanece em silêncio enquanto andávamos. Eu precisava preparar a minha mente para que eu fosse capaz de atuar, ainda mais tendo tanta fúria dentro de mim.

Assim que chegamos à torre, Bárbara me ajuda a abrir a porta e, com cuidado, coloco Enzo no sofá. Ele resmunga um pouco, mas logo volta a dormir. A garota então me entrega uma manta para cobrir a criança. Agradeço e ajeito meu filho da forma mais confortável possível. Observo sua expressão tranquila por um tempo. Eu estava um pouco mais aliviado por saber que ele havia conseguido voltar a dormir, depois do preocupante pesadelo que o deixou tão assustado.

— Austin? – Ouço Bárbara me chamar, despertando-me de meus devaneios.

— Sim? – Respondo, encarando a garota. Ela me encara confusa. – Ah, desculpe. Eu tenho um péssimo hábito de ficar observando Enzo dormir, enquanto minha mente viaja. Perdão.

— Não se preocupe. – Afirma, sorrindo. – Você realmente é um excelente pai. É quase palpável o amor que você sente pelo Enzo.

— Obrigado. – Agradeço, olhando de soslaio para o garoto deitado ao meu lado. – Eu realmente tento ser o pai que ele merece. Enzo é a criança mais doce, inteligente e divertida que eu conheço. Às vezes eu sou incapaz de acompanhar o raciocínio dele.

— Viu? Você é o exato sinônimo de pai babão. – Comenta a garota, rindo.

Sorrio e me afasto de Enzo, indo em direção a varanda da torre. Bárbara não demora a me acompanhar, ajeitando seu robe no corpo. Um vento gélido toca nossas peles, enquanto observávamos a paisagem deslumbrante de Füssen. Apoio-me sobre o parapeito da varanda e fecho meus olhos momentaneamente, aproveitando o silêncio.

— Desculpa se estou sendo muito invasiva, mas qual foi o motivo de você e Ally terem brigado? – Pergunta Bárbara soando cautelosa.

Abro meus olhos e respiro fundo antes de me virar para a garota e sorri fracamente. É aqui onde eu precisava convencer Bárbara de que meu casamento estava indo de mal a pior e que há muitas coisas que me incomodam. Se ela realmente acreditar em minhas palavras, não tenho dúvidas de que tentará obter domínio sobre mim.

 

— É só que... Austin, a Ally e o Oliver se conhecem há muito tempo? – Pergunta a garota, encarando-me com curiosidade.

— O quê? Não. Por que a pergunta? – Questiono, desconfiado.

— Bom, é que eu tenho visto a Ally e o Oliver conversando de forma estranha. Minha mãe até mesmo foi perguntar para Ally se ele estava ameaçando-a ou se estava forçando alguma coisa e o que recebeu como resposta foi uma agressão. É difícil acreditar que ela tenha batido na minha mãe por tão pouco, mas eu lembrei das vezes que os vi sozinhos. Era sempre tão estranho. É como se eles se conhecessem há muitos anos e tivessem um passado juntos. Quer dizer, imaginei que eles tivessem se conhecido através do rei Enrique, quando houve a reunião para conversar sobre a mortal LP, mas é tão estranho como eles sempre estão se abraçando e ele está sempre rodeando a Ally.

— O que quer dizer com isso? – Indago, ainda que conseguisse ver claramente aonde ela queria chegar.

— Como eu disse, estou apenas preocupada com a Ally. Confesso que fiquei chateada por ela ter batido em minha mãe, mas temo que Ally esteja agindo por influência de Oliver. Ally é sempre tão misteriosa. É como se ela guardasse um universo de segredos para si. E se ela tiver um passado com Oliver e ele estiver chantageando-a? E se ela estiver... bem...

— Estiver me traindo? – Completo a sentença de minha prima e ela balança a cabeça, timidamente, concordando.

— Eu posso estar enganada, mas não acha que eles parecem ter uma ligação? Quer dizer, ela nem mesmo hesitou em trazê-lo para o castelo no mesmo dia em que eles supostamente se conheceram. Logo a Ally que é sempre tão desconfiada. Ela nem mesmo confia em mim, que sou da família. Por que ela confia em um desconhecido? Eu não estou querendo fazer sua cabeça, nem nada disso, mas estou preocupada com vocês. Krósvia está passando por um momento tão nebuloso. – Explica Bárbara, ansiosa. – Está tão claro que eles estão escondendo alguma coisa.

“Pode ser só impressão minha, mas eu não consigo confiar no Oliver, Austin. Ele age como se fosse o dono da razão. Ele nem é mesmo médico, mas age como se fosse. Do pouco que eu pude ver, ele nem mesmo te respeita, sendo você um rei. A sorte dele é que você é muito bonzinho. Se fosse outra pessoa, ele já teria sido preso por traição a coroa. E juntando todas as peças soltas, não acha estranho que ele também parece guardar segredos demais? – Continua Bárbara, aproximando-se de mim. Ela pega em minha mão mais uma vez e me encara séria. – Eu estou preocupada com você. Temo pela sua segurança e ainda mais por sua honra. Você é uma pessoa maravilhosa. Um rei magnifico. Eu te admiro mais do que qualquer pessoa. E é por isso que estou te contando tudo que eu sei. Porque diferente de todos, eu confio em você e sei que você é capaz. Eu também sei que você não vai permitir que esse cientista falso destrua sua família.”

 

Relembro de como Bárbara havia se aproveitado da minha confiança para me manipular e me fazer brigar com Oliver. Ela sabia exatamente o que falar para amaciar meu ego e me fazer ficar contra minha esposa e Oliver. E é para restaurar meu orgulho que eu preciso ser tão convincente quanto a garota. Se ela realmente acha que sairá impune de suas armações e todas as maldades que aprontou com Ally, ela está muito enganada. Nesse jogo de mentiras e manipulações, dois podem jogar.

— Oliver Hughes. – Respondo, suspirando frustrado. – Na verdade, acho que há inúmeras coisas que nos fizeram brigar. Os segredos, a falta de confiança e o comportamento estranho da Ally. Mas, sem dúvidas, ele é o que mais me incomoda. Essa aproximação repentina deles... Ally confia muito mais nele do que em mim, que sou marido dela! E o pior de tudo, acho que você tinha razão sobre eles já se conhecerem. Quanto eu a coloquei contra a parede, ela me chamou de louco e falou que eu estava sendo infantil. Eu perguntei sobre o motivo dela ficar de sussurros com Oliver e ela apenas desconversou. Tenho a impressão de que ela me ver como uma criança e não como um homem com quem ela é casada há dez anos! E é então que eu começo a me questionar sobre o que eu estou fazendo de errado. Por que ela... ela... – Suspiro mais uma vez. – Desculpa, Bárbara. Sem perceber, acabei jogando meus problemas sobre você. Mas é que todas as vezes que eu tento conversar com os meus amigos, eles sempre me veem como vilão, falam que eu estou vendo coisas. Eu não sei. Eu só...

— Austin, não se preocupe. Eu realmente fico feliz que confie em mim para desabafar. – Afirma a garota, abraçando-me de lateral, enquanto encosta sua cabeça em meu braço. – Você não fez nada de errado. É um homem integro e confiável. Ally é que está errada em esconder as coisas de você. Eu vejo melhor do que ninguém o quanto você se dedica a Krósvia e a sua família. Eu já te disse diversas vezes, mas você é uma das pessoas que mais admiro e respeito. Você não merece ser tratado dessa forma, Austin. Não quando está claro que parece ser o único que está lutado pelo casamento de vocês.

 A forma dissimulada que ela falava me causava embrulho no estômago. Como ela conseguia atuar tão bem? Suas palavras ferinas mascaradas por gentileza e doçura eram absurdas. Eu me sentia cada vez mais um idiota por ter me deixado ser influenciado por ela. Por outro lado, estava claro que ela havia acreditado em meu falso desabafo. Se Oliver e Ally conseguirem agir da forma como desejo, a possibilidade de Bárbara e Elena caírem em minha armadilha se torna ainda maior.

— Obrigado, Bárbara. Talvez eu esteja sendo infantil mesmo, mas é tão frustrante ver que ninguém confia em mim. Você... eu acho que estou ficando velho mesmo. – Rio, como se tivesse envergonhado. – Acho que você é a única pessoa nesses dez anos de reinado que realmente acredita em mim. São dez anos de diferença, mas quando eu converso com você, nem mesmo parece ser tudo isso. Obrigado por estar me ouvindo e me apoiando tanto.

Bárbara se afasta e me encara como se tivesse realmente surpresa e feliz por ouvir minha declaração. Observo suas reações, curioso para saber como ela se aproveitaria da discreta abertura que eu havia dado. Se ela for tão cínica e manipuladora como eu imagino, não deixará essa chance passar.

Ela então me faz virar para ela e pega nas minhas mãos, sorrindo amável. Seus olhos brilhavam intensamente. Bárbara estava tão satisfeita com a minha resposta que nem mesmo conseguia disfarçar. De certa forma, eu me sentia muito bem, sabendo que muito em breve serei o responsável por tirar essa satisfação de seus olhos.

— Austin, diferença de idade é apenas um detalhe. E sempre me disseram que eu sou bastante madura para a minha idade, então saiba que pode conversar comigo sobre qualquer coisa. Eu sempre, sempre mesmo, estarei do seu lado. Você não está sendo infantil. Passou a sua vida inteira se sacrificando pelos outros, então tem todo o direito de se sentir assim. – Responde, encarando-me com intensidade. – Mesmo que todos fiquem contra você, eu serei o seu ombro amigo e ouvinte.

— Obrigado, Bárbara. – Agradeço e ela me puxa para um abraço.

Eu sentia como se estivesse em um filme de terror, onde o vilão podia me esfaquear a qualquer momento pelas costas. Correspondo ao abraço, segurando-me para não ri, porque na verdade, era o que eu gostaria de fazer nesse momento. Poder descontar toda a minha fúria na maldita manipuladora, que havia tido a coragem de machucar minha esposa. Eu realmente não via a hora de destruí-la e fazê-la pagar por tudo que fez.

— Não precisa agradecer. – Afirma, apertando ainda mais o abraço, fazendo questão de roçar sua perna da minha. – Eu realmente fico feliz em poder te ajudar em um momento tão difícil.

Afasto a garota, incomodado. Ainda que Ally saiba de meu objetivo e do que pretendo fazer, qualquer contato mais íntimo com Bárbara parece ser uma traição a minha esposa. Sorrio para disfarça meu desconforto, enquanto coloco as mãos sobre os ombros de Bárbara. Ela me encara levemente desconfiada e eu percebo que havia agido da forma errada. Minha mente então começa a trabalhar em uma estratégia para contornar a situação. Olho para Enzo e relembro de algo que poderia ajudar a nos aproximar.

— Bárbara. – Começo, sorrindo amável. Ela me encara curiosa. – O que acha de ir comigo ao Orfanato Rosalina pela manhã? Eu preciso estar presente para a reinauguração da escola presente no orfanato e eu ficaria muito feliz de ter você ao meu lado. Será um evento divertido e acho que você realmente vai gostar do lugar.

— Austin! É claro que eu vou. Eu amo crianças! – Bárbara sorri, animada. E eu preciso desviar o olhar para não ri com ironia.

Ela havia atirado contra uma criança inocente. Bárbara matou um ser tão puro quanto aquele garoto apenas por prazer. Sem demonstrar qualquer arrependimento, ela vive sua vida como se não houvesse feito nada de errado. Ao pensar que aquela criança poderia ser meu filho, meu corpo inteiro gelar. Observando a garota com mais atenção, eu não tenho dúvidas de que ela faria isso sem pensar duas vezes. Procuro esquecer esses pensamentos e volto a me concentrar em Bárbara.

— Fico feliz por ouvir isso. – Digo, tentando soar o mais animado possível. – Então vamos transformar essa visita ao orfanato em um passeio inesquecível.


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Notas finais do capítulo

Oii amores! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas? Espero que tenham gostado. Deixem a opinião de vocês. Boa leitura...

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