Havia uma semana que Henrique recebera a ligação de Vanessa para terminar com ele. Desde então ele estava tentando parecer forte, mas eu podia escutar seus choros durante a madrugada. E foi durante uma dessas madrugadas que eu resolvi que deveria fazer alguma coisa. Levantei da cama e acendi as luzes, Henrique se virou na cama tentando esconder seu rosto. Sem me importar com o que iria dizer fui até sua parede e comecei a arrancar as fotos da sua namorada.

Eu sabia que ele não gostaria, porém era um mal necessário. Enquanto arrancava a terceira foto Henrique me encarou e percebeu o que eu estava fazendo. Com um olhar de ódio ele começou a gritar comigo:

— O que você acha que está fazendo?

— Pare de gritar ou vai acordar toso o andar, inclusive Alisson, – Alisson é o monitor do dormitório e embora seu quarto fique no primeiro andar ele seria facilmente acordado, embora estejamos no terceiro andar. – E eu só estou tirando essas fotos daqui. Eu sei que você não quer fazer isso, eu sei que você quer as fotos dela aqui, mas isso não e saudável. Você não pode ficar olhando para elas mais, por isso eu vou tirar todas elas daqui e guardar. O dia que você se sentir melhor, que conseguir olhar pra elas eu devolvo.

— Você não pode fazer isso. – Henrique havia enfim reencontrado a voz.

— Não posso, mas estou fazendo.

— Não precisa se preocupar comigo, estou bem. Não vou tentar me matar igual você fez. – Eu sabia que ele estava com raiva e aquilo era verdade, por mais que eu tentasse não poderia apagar meu passado.

— Claro que não vai. Você não tem motivo para fazer isso. E eu também não vou deixar.

— Como assim não vai deixar? Vai ficar me seguindo o tempo todo?

— Não. Não vou te seguir, mas vou ocupar sua mente. Começando agora. – terminei de arrancar a ultima foto e guardei na minha gaveta. – Coloque seu tênis de corrida. Vamos dar quantas voltas no campus forem necessárias por quantas noites precisar, até você se esquecer completamente dela.

Ele me olhou incrédulo enquanto eu ia até meu lado do quarto e calçava meu próprio tênis. Assim que terminei levantei e peguei meu celular. Não estava com roupa de corrida, ainda estava de pijama então teria que ficar com ele na mão.

Henrique vendo que eu estava falando sério também calçou o tênis. Assim que ele terminou de se levantar abri a porta e sai sem fazer barulho. Não gostava de acordar as pessoas. Assim que colocamos os pés para fora do dormitório começamos a correr.

O campus tinha uma estrada que circulava ele todo, o que facilitava a corrida. Henrique e eu mal conversamos, ambos estamos perdidos nos próprios pensamentos. Já tínhamos dado umas cinco voltas quando Henrique parou para descansar. Eu também já estava cansado e parei. Enquanto recuperava o folego mandei uma mensagem para Florença avisando que iria passar no quarto dela. Sabia que ela ainda estaria acordada lendo. Ela sempre fica até tarde lendo e no outro dia se arrepende e diz que nunca mais vai fazer isso, mas sempre faz.

Ela me respondeu a mensagem dizendo que poderíamos passar lá, mas para tomar cuidado com que a Fernanda está de olho esses dias. Fernanda é a chefe do dormitório delas. Entramos sem maiores problemas, e assim que bati na porta ela se abriu revelando uma Florença descabelada. Enquanto entravamos Alana – que agora dividia o quarto com Florença falou:

— Apaga essa luz Florença, está na hora de dormir.

— Desculpa Alana, tivemos uma emergência, - respondi.

— E porque vocês estão suados? – Perguntou Florença.

— Porque esse maníaco me colocou pra correr no meio da noite, - Henrique falou me colocando como o vilão da historia.

— Ele tinha que ocupar a mente, não poderia ficar pensando nela mais, - me defendi.

— Tenha mais paciência com ele. Ela terminou com ele tem uma semana. – Alana chamou minha atenção e foi se sentar perto do Henrique no chão.

— Eu tive paciência demais, aguentei ele por uma semana. Não dava mais para ficar no mesmo quarto que ele, - tentei inutilmente me defender mais uma vez. As duas já estavam do lado do Henrique.

— Você pode passar a noite toda aqui Henrique. – Alana ofereceu.

— Muito obrigado.

Revirei os olhos e já estava saindo quando Florença segurou minha mão e me fez parar.

— Você também pode ficar. — Ela tinha uma expressão decidida no rosto. – Já está tarde para voltar para o seu quarto.

Ela certamente tinha razão, já estava muito tarde para voltar, era melhor dormir aqui do que atravessar todo o campus sozinho – sozinho, pois Henrique já decidiu ficar –, estava também muito cansado.

Voltei para o quarto e fechei a porta. Henrique e Alana estavam do outro lado do quarto conversando aos sussurros. Me sentei no chão ao lado da cama da Florença, encostei minha cabeça e olhei para o teto. Enquanto encarava o teto e imaginava as estrelas acima dele, Florença pegou o livro daquela noite e voltou a ler.

— Você não precisa ficar aí no chão. – Florença falou me tirando da missão de imaginar a lua acima da minha cabeça. – Pode subir aqui na cama se quiser.

— Não quero incomodar, - respondi.

— Não vai. – Ela parou e pensou um pouco. – Na verdade vai sim, mas tudo bem. Deve ser melhor que dormir no chão.

Com aquela frase de incentivo me levantei e a pedido de Florença apaguei as luzes. Demorei um pouco para achar a cama dela na escuridão. Assim que achei me sentei e tirei os tênis. Ainda um pouco constrangido me deitei ao seu lado.

— Boa noite, - sussurrou Florença no meu ouvido.

— Boa noite, - sussurrei de volta.

E ela virou para o outro lado e dormiu. Demorei um tempo, mas finalmente fui dormir.

Quando acordei Florença estava com os braços em cima de mim, estava preso. Olhei para ela e ainda estava dormindo com um leve sorriso no rosto. Não queria acorda-la então encarei o teto.