Downworlders escrita por Akalia


Capítulo 3
Capítulo 3




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Alaska abriu seus olhos e piscou algumas vezes, tentando se ajustar a luz do sol que brilhava no céu.. Céu? Ela franziu o cenho confusa enquanto se perguntava onde onde estaria, já que seu quarto tinha um teto, até onde ela se lembrava. Não demorou muito até que tomasse ciência de que suas mãos estavam sobre várias tiras lisas, mas que pinicavam quando mexia os dedos. Alarmada, virou a cabeça para o lado e viu um chão verde, gramado e sem nenhuma imperfeição. Era totalmente plano, não haviam nem ervas daninhas e nem flores, apenas a grama de um tom de verde escuro, do tipo que era difícil ver até na primavera. Esse padrão se estendia até o horizonte, onde começava um céu azul claro, sem nenhuma nuvem para manchá-lo, apenas o sol que se posicionava exatamente ao centro.
Agora com os batimentos acelerados, Alaska se sentou rapidamente. Que lugar era aquele? Estaria sonhando ainda? Olhou em volta a procura de alguém a quem pudesse perguntar, mas não viu nada além da vastidão. Tomada por desespero, ela se levantou rapidamente e notou que, apesar de o sol estar à pino, sentia um frio estranho, olhou para seus pés descalços e notou, pela visão parcial que tinha de si mesma naquela posição, que estava com o mesmo pijama com o qual havia se deitado na noite anterior.
Assim que esse pensamento foi concluído, ela observou atônita enquanto algumas folhas murchavam e tornavam-se beges, da cor de papel velho. A grama estava secando, não demorou muito para o fenômeno se espalhar por toda a planície, partindo do ponto entre seus pés. A garota observou, sem poder fazer nada, enquanto isso acontecia e o céu mudava de azul, para cinzento. A medida que esse escurecia, o sol ia sumindo, até que tudo estivesse totalmente escuro. Estranhamente, agora no total breu, o ambiente estava mais quente, em uma temperatura aconchegante. Tomada pela sensação de tranquilidade e conforto, Alaska poderia ter ficado ali para sempre, se o calor não estivesse aumentando gradativamente, fazendo com que ela sentisse uma onda crescente de agonia, que só piorava pelo fato de que ela só conseguia se mexer muito lentamente.
Foi quando o calor se tornou insuportável, que ela acordou ofegante em sua cama. Primeiro viu o teto, depois notou a queda drástica da temperatura, então olhou para o lado e reviu sua pequena mesa de cabeceira, levemente iluminada pela luz que passava pela fresta aberta da janela. Passando os olhos pelo quarto como um todo, viu sua escrivaninha velha e um pouco manchada, cuja a utilidade se resumia a apoiar todos os tipos de coisas. Ao lado dela, estava o armário que se estendia até quase a porta, proximidade que a impedia de ser totalmente aberta. Na mesma parede da porta, a oposta a cabeceira da cama, havia um espelho de corpo todo e uma poltrona de veludo preto, único móvel realmente novo no quarto, já que os outros estavam lá desde que ela se mudara.
Aos poucos, ela foi se acalmando com a familiaridade do local. A falta de iluminação, causada pela janela parcialmente fechada e pela fraca luz da matina, dava ao ambiente um ar ainda mais sereno. Ela poderia ter voltado a dormir, se não estivesse sentindo o lençol grudar em sua pele por conta do suor, provavelmente causado pelo pesadelo.
Um pouco relutante, a garota se levantou da cama de forma lenta e colocou os pés no chão de madeira, que estava frio em comparação com o calor de seu corpo. Andou até seu armário, separou as roupas que usaria no dia, pegou uma toalha e se dirigiu ao banheiro, onde tomou um banho demorado.
No corredor entre os quartos, já depois de sair do banheiro, Alaska esbarrou com o tio. Como ambos estavam andando lentamente, devido a preguiça matinal, que parecia ser genética, o choque não foi tão grande.
– Bom dia. -Murmurou John, com seus olhos azuis claros, inchados pelo sono, indicando que o mesmo havia acabado de acordar. Ele não era muito mais alto do que Alaska, trajava seus tradicionais pijamas de flanela e os pés estavam descalços. Seus cabelos loiros, um pouco compridos, estavam bagunçados e um dos lados estava amassado pelo travesseiro.
–Bom dia. - Respondeu Alaska, forçando um sorriso na direção dele, sem deixar de se sentir incomodada com o fato de que, mesmo depois de anos que os dois viviam juntos, esses encontros repentinos eram sempre tensos. No começo, até pensou que ele sentia o mesmo, mas era muito desligado para se sentir incomodado com coisas como essas.
– Vai sair hoje? - O homem perguntou e abriu a boca para bocejar em seguida.
– Vou sair com Dara. -A garota demorou um pouco para responder. Aquilo não era nem verdade e nem mentira, ainda precisava falar com Dara, mas ela estava sempre a sua disposição, diferentemente do tio.
– Dara? Okay então. Se precisar de dinheiro, sabe onde tem. - O tio acenou para ela com a cabeça e seguiu pelo corredor, até chegar no topo da escada e sair do campo de visão de Alaska. Ela sabia que sempre havia cinquenta dólares debaixo do enfeite de mesa.
Balançando a cabeça para afastar os pensamentos sobre o tio, foi em direção ao seu quarto, onde não demorou a entrar, fechando a porta em seguida. A loira se jogou na cama, de barriga para baixo, usou um dos cotovelos para se apoiar e, com o outro braço, tirou o celular da mesa que cabeceira, passando a trocar mensagens com Dara.
Alaska-Dara 07:03AM
"Dara, já acordou? Vamos ao parque hoje?"
Dara-Alaska 07:03AM
"Você sabe que sim. O que quer fazer no parque? Você nem gosta muito."
Alaska-Dara 07:05AM
"Nao sei, qualquer coisa. Não quero ficar em casa, é estranho quando o tio John está aqui no fim de semana."
Dara-Alaska 07:16AM
"Não posso hoje, aconteceu uma coisa... Me ligue se tiver qualquer problema."
Alaska-Dara 07:17AM
"Okay..."
Alaska se virou, ficando com as costas na cama agora. Apesar de saber que Dara não a deixaria sozinha por nada que não fosse extremamente importante, estava um pouco magoada. Era a primeira vez que isso acontecia, o que fez com que a garota sentisse, outra vez, a sensação de abandono que estava sempre a espreita, apenas esperando a hora certa para atacar.
Pensando em se entregar ao sentimento e voltar a dormir, enfiou a cabeça no travesseiro, mas quando estava prestes a cair no sono, sentiu o celular vibrar em baixo de sua barriga.
Max-Alaska 08:37AM
"Já está acordada, prima?"
Alaska-Max 08:40AM
"Sim"
Max-Alaska 08:41AM
"Tenho uma notícia para você, pode me encontrar?"
Alaska-Max 08:41AM
"Onde e quando?"
Max-Alaska 08:42AM
"Na verdade, eu tinha pensado em você passar aqui para me pegar, vou precisar de um favor depois"
Alaska-Max 08:44AM
"Estou indo"

Os dois passaram o dia juntos. De manhã, andando pela cidade e rindo enquanto um fazia piadas sobre o outro ou sobre as pessoas que passavam. Max, que já era um pouco mais velho, tinha 20 anos, levou a garota para almoçar em seu restaurante preferido. Durante a tarde, os dois foram para um parque de diversões, andaram na montanha russa 7 vezes seguidas apenas porque a loira quis. Com certeza, eles teriam andado mais vezes, se ela não tivesse passado mal a ponto de vomitar em um lixeira que estava perto da fila, na qual eles estavam pela oitava vez. Preocupado com a saúde da prima, o garoto decidiu que era hora de ir para casa.
Alaska deixou de sentir sozinha, mas continuava com uma ponta de angústia no peito, pois todas as vezes que perguntava a seu primo o que ele tinha de tão importante para dizer, ele desviava o assunto, atitude que ela tomava como um mau sinal.
Foi já no carro, com o carro ligado, que ele anunciou que estava partindo para uma viajem com seus dois amigos e não sabia quando -nem se- voltaria. A menina os conhecia apenas por fotos, mas era o suficiente para que se sentisse enciumada, principalmente agora que ele estava a largando para ir ficar com eles. Ela não disse nada sobre o assunto, apenas ligou o carro e dirigiu até o aeroporto, afinal, era esse o favor que ele queria. Observou seu primo, alto, com cabelos escuros e curtos, mas levemente ondulados, passar pelas portas automáticas do saguão com uma única mochila preta, contrastando com a camisa xadrez vermelha. Assim que a porta se fechou, ela abriu a boca pela primeira vez desde que ele dera a notícia.
–Tchau, Max, vou sentir sua falta. - Foi tudo o que disse, pois ele já havia ido e ela estava sozinha outra vez. Respirando fundo, ela ignorou a vontade de chorar e seguiu caminho para a sua casa.
Alaska chegaria a encontrar seu primo outra vez, alguns meses mais tarde, mas o destino, cruel e traiçoeiro, não quis que fosse uma ocasião programada e, muito menos, feliz.


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Notas finais do capítulo

Está aí gente, o terceiro capítulo.
Se tiver um comentário, eu posto o próximo assim que o ver.
Se não tiver, só semana que vem.



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