Downworlders escrita por Akalia


Capítulo 4
Capítulo 4




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Desde a partida de Max, Alaska passou a gastar mais tempo com Dara. Isso surtiu um efeito direto em seu treinamento, que deu um salto no quesito evolução. Tudo começou aos sete anos de idade, quando a caída passou a ensinar espanhol e francês para a garota, alegando que o conhecimento seria muito útil para ela no futuro. A medida que o tempo foi passando, mais aulas foram adicionadas. Além de os exercícios de lógica terem se tornado cada vez mais constantes em sua vida, começaram as aulas de esgrima, hipismo, uma gama enorme de lutas orientais e ocidentais, violino e entre outras coisas. Era claro que Dara a estava preparando para algo grande, mas ela não sabia o que era, nem mesmo sabia o que ela mesma era. Episódios como o da rua 37, naquela noite em que ela saiu da festa de madrugada, não voltaram a acontecer, mas isso não impediu que ele saísse de sua mente, ficava como um lembrete constante de que ela não era normal. Isso a reconfortava com relação ao fato de não se encaixar em lugar algum, mas com relação a outras coisas não. Não era de hoje, que pensar nisso causava nela um estranho frio na barriga, aquele do tipo em que você sente quando está ouvindo uma música muito bonita e ela está preste a chegar no ápice.
A cada dia que se passava, ela se sentia mais próxima de saber sua verdadeira natureza. Tinha a certeza, total e absoluta, de que era alguma coisa fora do comum, algo sobrenatural, até por que, se tirasse seu instinto natural gritando isso, Dara já havia deixado bem claro que ela era, de fato, algo a mais do que mundana -como a mulher nomeava humanos comuns-. Além do mais, por qual motivo alguém normal teria que ter alguém como ela tinha a Dara? Está certo que todas as pessoas possuem anjos da guarda, mas eles normalmente não fazem parte do nosso plano, olham e interferem nas coisas de longe. Mas o seu anjo da guarda era diferente, se materializava na terra todas as vezes em que o espírito de Alaska reencarnava, mesmo antes da profecia.
O som de metal batendo contra metal cessou. Frente a frente, estavam Dara e Alasca, ambas ofegantes. Era claro que a intensidade do treino tinha afetado muito mais a loira, que estava vermelha e com os cabelos grudados às têmporas pelo suor, do que a protetora, que estava apenas ofegante, mas ainda assim, não deixava de esbanjar sua graça nos movimentos. A garota foi a primeira a abaixar a espada e caminhar até o sofá da sala de Dara, que normalmente era palco dos treinamentos físicos, e se sentar. A mulher foi logo atrás e, com um sorriso, anunciou:
–Estou orgulhosa de você, Alaska. Anda progredindo bastante nesses últimos dias.
–Obrigada. -Foi tudo o que ela disse antes de se afundar ainda mais no estofado fofo do assento.
As duas pousaram as espadas no chão de mármore preto que se estendia por todo o recinto.
–Nós vamos viajar para a China. -Dara alegou assim, sem mais e nem menos, fitando a garota na tentativa de captar a real reação da mesma, já que, dificilmente a demonstrava.
–Vamos para onde?!- Alaska surpreendeu-se.
Havia ouvido o que fora dito pela boca da outra, mas não conseguiu digerir a informação. Estariam indo com o tio por conta do trabalho? Era permanente ou só uma estada? Quando seria? Será que teria que faltar a muitas aulas? Várias perguntas e suposições começaram a brotar na mente da garota no curto espaço de tempo compreendido entra sua fala e a resposta de Dara.
–Vamos para a China. Tenho assuntos a resolver por lá e não posso te deixar aqui desprotegida, concorda? -Sem esperar pela resposta, ela endireitou a postura e se virou de frente para a menina, logo voltando a falar.- Esses assuntos tem a ver com você e com sua segurança, não pense o contrário. Seu tio irá conosco, assim como o seu professor de história e um amigo meu.
O que a morena dizia era bem claro e fácil de entender, mas não para Alaska, que estava tendo que processar os fatos sobre a viagem e ela em si. Sabia que não adiantava pedir por mais detalhes a respeito dos assuntos, Dara não diria nada sobre isso, nunca dizia. Mas haviam outras coisas que despertavam sua curiosidade e essas, ela podia verbalizar.
– Meu professor de história? E John? O que eles tem com isso tudo? -perguntou o rosto contorcido em uma careta de confusão, também expressa pela exasperação em sua voz.
–John vai conosco por um simples motivo: Não posso te tirar do país sem ele. Quanto ao seu professor de história, Kit, preciso dele para achar o que estou procurando, mas isso não está aberto para você. - A mulher usou praticidade na voz, como se estivesse falando sobre coisas cotidianas.
– Então está usando meu tio? -Alaska disse isso, pois a pergunta que queria fazer era sobre a peça, mas não podia perguntar sobre isso ainda e não receber as respostas só a frustraria mais. A pergunta foi feita com um tom de acusação, acompanhado de uma sobrancelha arqueada.
Dara balançou levemente a cabeça de um lado para o outro, olhando para o teto enquanto deixava os lábios comprimidos por uma linha fina, expressão que a garota conhecia bem e indicava que ela estava pensando em uma resposta.
– De certa forma, sim. Mas não é como se ele não me devesse favores, já que cuido de você praticamente sozinha quando, na verdade, é responsabilidade dele, como tio e como tutor legal, garantir que sua criação seja a melhor. Não é como se cinquenta dólares embaixo de uma fruteira velha pudessem fazer milagres por uma boa educação.- Isso foi dito com cautela, já que era a primeira vez que ela se expressava com relação ao tio da garota.
Alaska olhou para Dara em silêncio por alguns segundos. Tudo o que a mulher havia dito era a mais pura verdade sobre tio John, ela estava mais do que cansada de saber disso, mas ouvir o fato da boca de outros sempre lhe causava uma alfinetada no coração.
– É, você tem razão. - Ela disse com um suspiro. Poderia ter ficado brava com Dara por ter feito parecer que cuidar dela era uma tarefa que ninguém queria, mas sabia que não era isso que mulher quis dizer.- Quando iremos?
Satisfeita com a mudança do rumo da conversa, a morena respondeu sem demoras.
– Amanhã pela tarde. Seu tio estará voltando de Bariloche, então o encontraremos no aeroporto junto com os outros.
– Tudo bem então. Acho que eu deveria ir para a casa e fazer as minhas malas. - A menina já estava mais acostumada com a ideia e não deixou de passar a apreciar a viagem, já que passaria alguns dias longe da escola e sairia do país, coisa que nunca havia feito antes.
– Seria o mais prudente a se fazer, mas eu não creio que vá passar essa noite lá. -Dara olhou para ela com um sorriso conhecido, aquele que dizia que estava planejando algo.
– Ah não, e vou passar a noite onde, aqui?- A pergunta foi feita com ironia, mas por trás disso, a garota escondia a curiosidade. O fato de Dara quase nunca dar respostas diretas a irritava um pouco, porém, não deixava de apreciar o charme de um pouco de mistério.
– Isso mesmo. - a Ofanin confirmou, contente em ver a surpresa de Alaska e sentindo-se vitoriosa por ter feito algo que ela não esperava.- Inclusive, acho que a pizza está chegando.
A loira não conseguiu deixar de sorrir. As noites em que Dara passava em sua casa eram o mais próximo de uma amizade que ela conseguia ter. Max não contava nesse quesito, já que era da família e se recusava a assistir "Diários de uma Paixão". Mas pernoitar na cobertura luxuosa da tutora era novidade para ela, já que nunca tinha passado do hall de entrada, cozinha e sala.
– E... Por um acaso... A pizza é de frango? - A menina perguntou ainda sorrindo um pouco.
– Não. -Dara respondeu e observou a felicidade da garota murchar como um balão furado.- Só a sua metade, a minha é de palmito.- Com uma piscada, conseguiu fazer Alaska rir, mesmo que por um curto período.
O interfone tocou e a mulher foi atendê-lo na cozinha, deixando a garota sentada confortavelmente no sofá. Logo, a morena saiu da cozinha, disse que ia descer para pegar a pizza e assim o fez.
As duas comeram sentadas no sofá mesmo, enquanto ouviam o noticiário da noite. Volta e meia comentavam sobre alguma coisa, mas nada muito relevante e nenhuma delas queria prolongar muito a conversa, já que a comida estava realmente boa. Ao final de tudo, restaram apenas três pedaços pequenos, um deles pela metade.
–Está satisfeita? -Dara perguntou a garota que acabara de se esparramar de uma forma preguiçosa no sofá.
–Estou sim, muito. -Com a sensação de estar empanturrada, Alaska só conseguia sentir sono.
–Já quer ir dormir?- A morena perguntou a menina, que além de estar com a voz sonolenta, parecia ter as pálpebras pesadas sobre os olhos. De fato, já era bem tarde. Demorou um bom tempo para que elas conseguissem comer aquela quantidade de pizza e gora, já passava da uma da manhã.
–Sim, por favor. -Ela começou a se perguntar onde iria dormir e com que vestimenta, já que não havia trazido nada além das roupas do corpo, o celular, fones de ouvido e um casaco. Não tinha a menor possibilidade de dormir com a roupa suada pelo treino.
–Então vamos. -Dara, fazendo jus ao que falou, se levantou do sofá e desligou a TV.- Vou arrumar a sua cama enquanto toma banho, pode ser?- Perguntou ao se virar novamente para a garota, que já estava se levantando.
–Por mim, tudo bem. -Já de pé, ela sorriu na direção da morena, que lhe retribuiu o gesto.
Menos de uma hora mais tarde, Alaska estava devidamente instalada em um dos aconchegantes quartos de hóspedes do apartamento, sentindo o cabelo úmido contra a bochecha. Não havia nele nada que fosse pessoal, o piso era claro, assim como os móveis escassos, mas as cortinas e colchas eram verdes. Nada no apartamento era muito pessoal, tirando os enfeites que pareciam ter sido escolhidos a dedo por uma ótima decoradora, mas não tinham o menor valor sentimental, haviam algumas fotos das duas no quarto de Dara.
Os pijamas da mulher lhe serviram perfeitamente e a loira se sentiu tão confortável naquela cama, que não demorou a pegar no sono.


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Notas finais do capítulo

Como não teve nenhum comentário, eu só postei essa semana.
O próximo capítulo é um retorno, digamos assim, à uma vida passada e veremos o próximo personagem a entrar nessa história.
Espero que vocês gostem.
E comentem, que eu posto rápido.



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