POV: Hyuuga Neji

Era ela.

Eu sentia todo o meu corpo paralisado pelo choque e surpresa. Como se estivesse desconectado do mundo.

Era ela.

Lümina era Haruno Sakura.

Haruno Sakura era Lümina.

As duas eram a mesma pessoa.

Todas as peças soltas do mistério que Sakura havia se transformado para mim se encaixaram, num piscar de olhos.

Ao observar a linda garota mascarada arrasando em sua apresentação, ninguém diria se tratar de Sakura. A não ser que esse alguém soubesse de tudo que eu sabia.

Lümina e Sakura não eram parecidas. Tirando a cor do cabelo, obviamente.

Mas no resto...

Lümina possuía uma garra e confiança no olhar que Sakura nunca demonstrara.

Lümina se vestia de forma ousada. Do tipo de jeito que ninguém imaginaria Sakura se vestindo.

Ninguém imaginaria também que a Haruno teria aquele corpo escultural.

Os olhos da mascarada eram negros. Os cabelos eram bem longos e ondulados. E ela não usava aparelho, apresentando dentes perfeitos.

Ainda assim... Com todas as diferenças...

Eu apenas sabia.

Lümina era Sakura.

Tudo fazia sentido!

A proximidade com Gaara... A música do avião — que agora eu sei que foi feita para Sakura... As coisas que o Sabaku disse para Sasuke na sala de aula... A necessidade que Sakura teve de inventar uma mentira para se ausentar... A letra da música... O talento que ele tinha para arranjos... E a voz. Não a do seu canto exuberante. E sim a da fala.

As poucas palavras que ela disse aos jurados foi o suficiente para eu reconhecê-la.

Talvez por que desde o segundo em que a garota de cabelos rosas apareceu no palco, parecendo estar mais interessada nos próprios pés do que em qualquer outra coisa, eu desconfiei de sua identidade e fiquei atento a cada detalhe.

Era muita coincidência.

Sakura tinha algum tipo de relação com Gaara. Ela havia ido embora alegando que iria trabalhar no Soul Talent. Dois dias depois uma garota de cabelos rosa, indicada por Gaara, sobe ao palco, escondendo a identidade.

Fala sério!

Eu nem ao menos precisava ser inteligente para ligar os pontos.

Mesmo assim... Como aquilo era possível?

Sakura... Quem no mundo imaginaria?

Eu sentia como se tivesse sido atropelado por toda a verdade que agora estava diante de meus olhos.

Aquela não podia ser a mesma garota com quem eu cresci em Konoha.

Por quê?

Por que Sakura nunca havia demonstrado seu talento antes?

Em que parte eu errei como amigo para ela não confiar em mim?

Aquelas letras na música... Era como se Sakura estivesse segurando aquilo dentro de si há muito tempo.

No começo, quando adentrou no palco, ela parecia bem insegura.

Fechou os olhos, visivelmente nervosa. Mas quando os abriu... Era outra pessoa.

No minuto em que ela começou a cantar, todo mundo ficou paralisado.

Era como se pudéssemos ver sua alma. Suas emoções inundavam a todos.

Seu olhar apresentava confiança e libertação. Cada palavra era como se ela nos contasse sua história.

Agora eu sabia. Os instrumentos do avô de Sakura não estavam sendo desperdiçados todo aquele tempo.

A Haruno tocava com maestria. Provavelmente havia aprendido com o pai.

Outra coisa que ninguém imaginava.

Quantos segredos Sakura carregava?

"Que garota maravilhosa!" Hinata falou, parecendo sair do seu transe, enquanto Sakura — Lümina — caminhava para fora do palco, genuinamente emocionada e surpresa.

"Cara..." Shikamaru começou. "Quando anunciaram que o Gaara iria indicar alguém tão bom, que se não ganhasse ele desistiria de renovar seu contrato com a gravadora... Eu achei que ele estava sendo arrogante e dando um tiro no próprio pé." Shikamaru balançou a cabeça, num pseudo-transe. "Mas agora eu entendo de onde vem toda a confiança dele. Essa garota pode realmente ganhar o Soul Talent."

"Com certeza!" Naruto concordou. "Se ainda estivéssemos participando do concurso, ela seria quem eu mais temeria, provavelmente."

"Talento puro!" Tenten falou. "Ela transborda talento! Sem falar que é uma arraso de linda! Aposto que sem a máscara é ainda mais!"

"Caralho! Que voz!" Ino parecia que não acreditava no que tinha presenciado. "A voz dessa menina é um espetáculo! E as músicas são perfeitas!"

"Será que a Sakura viu a apresentação?" Hinata perguntou. "Caso não, precisamos avisá-la que tem uma super diva no concurso com a mesma cor de cabelo que a dela!"

Ino riu. "Sakura ficará honrada. A Lümina é linda, não é?"

"Maravilhosa." Naruto afirmou.

"Aposto que ela tem algum rolo com o Gaara." Tenten comentou.

"Eu também!" Ino concordou. "A química deles é grande demais pra ser só uma relação de pupila–mentor."

"Eles parecem gostar muito um do outro." Hinata disse. "Aqueles olhares entre eles entregaram o jogo."

"Verdade." Tenten riu. "E o abraço foi lindo! Acho que já estou torcendo por eles."

Ino balançou a cabeça. "Lümina é foda. Uma das melhores. Mas eu ainda prefiro que o Sai ganhe."

"O Sai é incrível também." Shikamaru disse. "Mas não sei não... Lümina é uma forte concorrente. Se fizer em todas as apresentações a mágica que fez nessa... Acho que não vai ter para ninguém. Ela ganha."

"Ela empolgou muito. Mas acho que Sai ainda tem muito a mostrar." Ino afirmou.

Shikamaru deu de ombros.

Foi quando observei Sasuke. Ele estava com os olhos grudados na televisão, paralisado.

"Sasuke." Chamei. Ele permaneceu imóvel. "Sasuke." Tentei novamente. Ele me olhou, lentamente. "O que houve?"

Sasuke balançou a cabeça. "Aquela garota... A Lümina..." Ele tinha o olhar perdido. "Algum de vocês faz a remota ideia do quão maravilhosa ela é?"

"Claro!" Ino assentiu! "Todos nós vimos aquela destruição em forma de apresentação."

"Não." Sasuke balançou a cabeça. Parecia estar em transe. "Vocês não percebem. Não há ninguém como ela! Ela é a pessoa mais talentosa que eu já vi!"

"Realmente... Fenomenal." Naruto concordou.

Sasuke riu sutilmente, sem parecer acreditar no que tinha visto. "Ela vai ganhar esse programa." Afirmou. "Linda, talentosa, com músicas geniais e a voz mais bonita que eu já ouvi. Se ela não ganhar tem algo errado nesse concurso. Essa Lümina é basicamente o sonho de toda gravadora."

Sasuke continuou com os elogios.

Eu ainda não conseguia dizer nada.

O que eu diria?

Que a garota que eles tanto estavam endeusando era, na verdade, a nossa amiga que sempre lhes pareceu boba, fraca e infantil?

Como eu diria isso?

No fundo, sempre soube que Sakura tinha mais do que permitia aos outros verem.

Sempre soube que ela não era boba.

Sempre a achei uma garota forte.

Mas nem em um milhão de anos eu imaginava que escondesse todo esse talento.

Porra!

Nós crescemos juntos!

Eu a via todos os dias! Falava com ela todos os dias. Por anos!

Como era possível que, de repente, ela se tornasse uma completa estranha?

Eu não sabia nada sobre Sakura! Nada!

E pra falar a verdade... Com essa descoberta e enxurrada de informações... Eu não sabia bem o que fazer.

Estava em meio a um misto de sentimentos.

Raiva. Por ela ter nos escondido quem realmente era e por ter mentido a vida inteira pra gente, nunca nos contando a parte mais importante de seu ser. Que tipo de pessoa consegue fingir 24 horas por dia durante anos?

Mas havia também, sentimentos de admiração e surpresa. Porque realmente... Ela ultrapassa qualquer limite existente de talento.

E por fim, compaixão. Pelo fato de ter sido tão difícil para ela esconder algo assim todos esses anos. Sim. Eu tinha certeza que havia sido difícil.

Eu não sabia o que pensar ou sentir.

Sabia apenas que se Sakura nunca quis se revelar para a gente, não sou eu quem vou fazer tal revelação.

Não é da minha conta.

E se Sakura não queria me contar o que realmente estava fazendo no Soul Talent... Bom... Não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.

Eu só sabia que, pela primeira vez, teria que agir como um bom amigo e lhe dar apoio.

Mesmo que ela não soubesse que eu já havia descoberto a verdade.

Mesmo que ela não fosse honesta.

Mesmo que, no momento, ela me parecesse uma estranha.

Mesmo assim... Eu iria apoiá-la.

Por que mesmo com todas as controvérsias, eu sei que ela realmente se importa com a gente, assim como nos importamos com ela.

E todos erramos.

Nós erramos com Sakura, e Sakura errou conosco.

A honestidade nunca foi o ponto forte de ninguém aqui. Muito menos a maturidade para saber tomar as decisões corretas.

Mas tudo bem. Por que somos muito jovens e inexperientes. Estamos apenas engatinhando no caminho da vida. Errando e tentando aprender.

E no final das contas, somos exatamente como uma família. Podemos não contar sempre a verdade e esconder muitas coisas uns dos outros, mas o amor e carinho que temos é real. E mesmo com brigas e desentendimentos, eu sei que se um de nós cair, todos os outros estenderão a mão.

Por que o laço que construímos ao crescermos juntos... É inquebrável.

Sim... Cheio de falhas e imperfeições.

Porém inquebrável.

*

*

*

POV: Haruno Sakura

O mundo estava colorido como nunca antes.

Eu nunca achei que era possível sentir tal felicidade.

Os efeitos de tudo que experimentei no palco ainda estavam em minhas veias. Como droga.

E era algo que não queria que passasse nunca.

Eu sou talentosa.

Muito.

Sou capaz de tocar o coração das pessoas com minha música.

Não havia mais dúvidas sobre isso.

Meu coração parecia a ponto de explodir com tal descoberta.

Sentia-me poderosa. Como se pudesse fazer e alcançar qualquer coisa.

Como eu nunca havia percebido meu talento?

Como havia sido cega ao ponto de não perceber o poder de minha música e voz?

Por quê? Por que eu tinha tanto medo?

Em que ponto da minha vida comecei a me diminuir e subestimar?

As perguntas giravam em minha cabeça.

Era como se, pela primeira vez, eu estivesse encontrando comigo mesma. Conhecendo-me, enfim.

E ao mesmo tempo, criticava-me por minha postura durante todos esses anos. Escondendo-me. Diminuindo-me. Não me valorizando.

Como poderia esperar que ninguém me subestimasse, quando eu era a primeira a fazer isso?

Nunca fui honesta. Com ninguém. Nem comigo mesma.

Lá no fundo, eu sabia que era talentosa. Mas algo em minha mente gritava-me que eu estava errada. Gritava-me dizendo que eu não era tão boa assim, que meu talento era comum e que havia milhões e milhões melhores que eu.

Mas quando estava naquele palco... Quando ouvi minha voz soando tão clara e linda... Quando percebi como tinha afetado todas aquelas pessoas... Quando notei que todos — todos — estavam impressionados comigo e envolvidos no momento que criei... Foi então que eu soube...

Meu talento não é comum.

Sou especial.

Agora eu sei.

"Todos os participantes dirijam-se ao palco!" Uma moça da produção gritou.

Pisquei, tentando me situar.

Sinceramente, não parecia que eu estava na Terra.

Fiquei surpresa ao perceber que todas as apresentações já tinham terminado, que o público já havia votado e que era hora do resultado.

Por quanto tempo eu havia ficado entorpecida?

Desde que saí do palco joguei-me na primeira cadeira que avistei e por lá mesmo fiquei. Cumprimentava mecanicamente quem vinha me parabenizar, sem nunca entender realmente o que me diziam.

Parecia que eu tinha saído de meu corpo e que estava em algum tipo de dimensão paralela.

O tempo parecia paralisado.

Respirando fundo e me estabilizando, segui meus concorrentes em direção ao palco.

A plateia aplaudiu entusiasmada quando entramos.

Enchemos o palco e nos posicionamos à espera dos resultados.

Fiquei imediatamente nervosa.

O estranho, no entanto, era que eu estava confiante de que avançaria.

Mas minhas pernas tremiam ao pensar que éramos 113 e que apenas 50 passariam.

O palco estava lotado com pessoas talentosíssimas. E mais da metade delas seriam cortadas.

Tudo era possível.

Mas eu gostava de pensar que tinha feito o suficiente.

"O momento que todos vocês estavam aguardando chegou." Ryan Seacrest anunciou. "Nós temos os nomes dos 50 mais votados que avançarão na competição e se juntarão aos 50 audicionados." A plateia fez barulho, empolgada. "Quero lembrar a todos que os nomes serão anunciados sem nenhuma ordem específica. Ou seja, mesmo que você tenha sido o menos votado, seu nome pode ou não ser anunciado primeiro. Sem mais delongas, é hora da decisão."

As luzes do palco piscaram freneticamente e uma música de suspense soou.

Sem demoras, Ryan voltou a falar: "O primeiro a avançar, é..." Ele fez suspense. "Bia Lewis!"

A plateia gritou, enquanto Bia — a indicada de Adele — descia as escadas, emocionada e se posicionava em frente ao palco, em uma área reservada aos aprovados.

E assim se seguiu. Muitos nomes foram chamados. E a cada um deles eu ficava mais nervosa.

Mais de trinta já haviam passado. Eu estava começando a achar que não avançaria.

"O trigésimo sexto aprovado é..." Ryan fez uma pequena pausa. "Lümina!"

Meus coração saltou, instantaneamente. A plateia gritou e aplaudiu em aprovação.

Sorri, emocionada, aliviada e extremamente feliz, dirigindo-me às escadas e ficando em frente do palco, junto aos outros aprovados.

Eles me parabenizaram com tampinhas gentis em meus ombros.

Levei minha mão ao peito.

Só esperava poder sobreviver até o fim do dia. Por que parecia que eu estava a ponto de ter um ataque cardíaco.

Pouco tempo depois, o top 50 de indicados estava formado.

Os que não foram aprovados pareciam devastados.

Eu os compreendia.

Depois de ter me doado por inteira naquele palco, se eu não tivesse passado teria ficado arrasada também.

"Vamos dar adeus aos indicados que não passaram, com dor no coração." Ryan falou. "Todos vocês foram muito bem. Mas, infelizmente, cortes precisam ser feitos. No entanto, nunca duvidem de seus talentos. Com esse dom, tenho certeza que muitas portas ainda se abrirão." O apresentador consolou os não-aprovados. "Soul Talent, aplausos para essas pessoas incrivelmente talentosas."

O público fez barulho, aplaudindo muito os não-aprovados, enquanto eles deixavam o palco.

"Agora..." Ryan sorriu. "Top 50 indicados, por favor, subam aqui!"

Atendendo ao chamado do apresentador, voltamos todos ao palco.

"Por favor, acomodem-se na parte esquerda do palco." Fizemos como ele pediu. "Obrigado." Agradeceu-nos. "Soul Talent, recebam com entusiasmo seus escolhidos para top 50 audicionados!"

E ao dizer isso, os audicionados apareceram pela parte direita do palco, arrancando gritos histéricos da plateia.

Acho que não apenas eu, mas todos os indicados, naquele momento ficamos intimidados com toda a animação direcionada aos audicionados.

Eles, definitivamente, já eram extremamente queridos pelo público.

O grupo se arrumou na parte direita do palco acenando para a plateia, com sorrisos nos rostos.

No entanto, suas expressões mudaram ao nos encararem.

Eles estavam ferozes.

Ryan Seacrest foi para a parte de trás do palco, deixando que nos encarássemos livremente.

Alguns deles nos provocavam com palavras e gestos grosseiros.

Alguns de nós, respondiam-nos com a mesma intensidade.

A plateia foi à loucura com a clara promessa de guerra entre os dois grupos.

Em minha opinião, eu me preocupava mais com os concorrentes de meu grupo, já que era contra eles que eu disputaria as vagas até a final, quando quatro audicionados e quatro indicados competiriam pela vitória.

Mas eu entendia toda essa rixa.

Para eles era difícil aceitar que nós temos um forte suporte de artistas já consagrados, que não fizemos audição e que não passamos por tantos cortes quanto eles.

E para nós, era intimidante o fato de eles terem tido muito mais espaço que a gente, consequentemente, fazendo o público já estar apegado a eles.

Isso seria mais difícil do que eu imaginava.

E foi então que eu o vi.

Akasuna no Sasori.

Meu sangue ferveu com sua presença.

Seu olhar já estava em mim antes de eu notá-lo.

Ele me encarava com o rosto mais sério do que nunca, porém em seus olhos havia... O que não poderia ser descrito como algo além de ódio.

Ódio.

Sasori me encarava com ódio.

Ele, então, deu um pequeno sorriso carregado de maldade.

Apertei meus punhos.

Provavelmente nunca o odiei tanto.

Lentamente, ele levou sua mão em direção ao seu pescoço e imitou um gesto de corte.

Uma ameaça que para qualquer um soaria apenas como provocação, do mesmo jeito que os outros concorrentes faziam.

Para qualquer um que não conhecesse Sasori.

Apenas o encarei, refletindo seu ódio.

Por que ele estava agindo assim comigo?

Ele não podia ter me reconhecido.

Sasori nem ao menos tinha muitos contato comigo para suspeitar de qualquer coisa. Em sua opinião eu não passava de uma idiota.

Então... Só podia significar que algo em Lümina o desagradou.

Talvez o fato de eu ser a única japonesa entre os indicados.

E Sasori era o tipo de cara que precisava ter sempre alguém para importunar.

Mas eu não estava com medo.

Ele queria briga?

Pois que viesse!

"Uau!" Ryan Seacrest voltou ao centro do palco. "Esse lugar está pegando fogo!" Ele riu. "Acalmem os ânimos que temos um anúncio a fazer."

O apresentador fez mais uma de suas pausas dramáticas.

"Amanhã não terá programa." Disse. "Vocês se prepararão para se apresentarem depois de amanhã." Mais uma pausa. "Em duplas."

A plateia foi à loucura.

Olhamo-nos assustados.

Alguns concorrentes já davam as mãos, na promessa de uma parceria.

"As apresentações serão feitas em duplas, mas, obviamente, os resultados serão individuais. 25 audicionados e 25 indicados avançarão. Vocês serão cortados à metade." Ryan anunciou.

Bom... Disso já sabíamos. Já havia sido anunciado. A única surpresa eram as duplas.

Comecei a olhar em volta, analisando com quem eu poderia cantar.

Talvez a indicada da Adele... A menina é fenomenal.

"Mas há um porém." Ryan disse. "Cada dupla será formada por um indicado e um audicionado."

O quê?

Todos os concorrentes foram pegos de surpresas, apresentando expressões de desagrado nos rostos.

"E..." Ryan continuou. "As duplas já foram escolhidas pela produção."

Não!

Não!

Meu Deus!

Qualquer um menos o Sasori!

O medo de ter que cantar com ele me dominou.

Se ele for meu par, eu juro — juro! — que deixo o programa nesse momento!

"Agora..." Ryan começou. "Vamos ao anúncio das duplas."

E eles começou a juntar os pares, seguindo o que dizia em um papel que a produção lhe entregou.

Conforme as duplas eram formadas, meu medo crescia.

Sasori e eu não éramos chamados. E cada vez havia menos pessoas.

Merda!

Eu vou deixar o programa!

"A próxima é, segundo a produção, uma perfeita combinação." Ryan falou. "Ambos são japoneses." Merda! Eu era a única japonesa dos indicados! E o japonês dos audicionados era Sasori! Merda! Ferrou! "E os dois compõem! Lümina e Sai!"

Uma onda de surpresa e alívio me atingiu, enquanto o público aprovava nossa dupla, com gritos empolgados.

Eu iria cantar com Sai.

Sai.

Procurei-o com o olhar e o encontrei ao fundo, quase que escondido.

Quando nossos olhares se cruzaram, ele curvou levemente a cabeça, em cumprimento.

Correspondi ao aceno, imediatamente sendo atingida por receio.

Ficar perto de Sai seria perigoso para meu disfarce.

Eu não poderia falar muito, para não correr o risco de ele reconhecer minha voz.

Droga! Isso não era nada bom!

Ao final dos anúncios, o programa foi encerrado.

Ryan nos cumprimentou e deixou o palco.

A produção nos avisou que iríamos imediatamente para uma sessão de fotos.

Eu estava em um misto de emoções.

Ansiosa, animada, feliz... Preocupada...

Deus!

E esse era só o começo do concurso.

*

*

*

Era a minha vez de fotografar.

Eu não sabia como me portar diante da câmera.

Deveria fazer alguma pose?

"Lümina!" O fotógrafo chamou. "Como você é linda, menina! Aposto que por baixo dessa máscara é mais ainda."

Sorri, timidamente. "Obrigada."

Ele riu. "Agora... Sabe todo aquele poder que você mostrou no palco? Pois é! Preciso que o mostre para essa câmera!"

Pisquei, sem saber o que fazer.

Muitos ainda iriam fotografar. Eu devia ser rápida.

Incerta, coloquei minha mão na cintura e sorri, fracamente.

"Que horror!" O fotógrafo disse, balançando a cabeça. "Eu sei que você pode fazer melhor. Ponha as mãos na sua máscara, segurando-a, e olhe para a câmera sedutoramente. Sem sorrir."

"O-ok." Assenti.

Tentei fazer o que ele me pediu.

O homem fez alguns cliques com a máquina.

"Ainda não está bom." Falou, suspirando. "Olha... Imagina que essa câmera é o cara que você quer ter para si e dê o seu melhor olhar."

Eu não era boa com olhares, mas tentei imaginar que era Sasuke-kun quem segurava a máquina. Não estava funcionando.

Após alguns cliques, o fotógrafo disse. "Eu quero mais, Lümina. Vamos lá, você consegue."

Suspirei.

Se Gaara estivesse aqui ele saberia o que fazer.

Ele sempre sabia.

Talvez, se ele estivesse aqui, eu não estaria tão perdida nessa história de tirar fotos.

Antes que pudesse me policiar, imaginei que o fotógrafo era Gaara, com toda sua aparência demoniacamente atraente, fazendo-me desejar ser como ele.

Muitos cliques foram feitos.

"Agora sim!" O cara gritou, sorrindo. "Isso é que eu chamo de olhar poderoso."

Desfiz minha pose, ficando tímida.

"Pode ir." Ele disse.

"Obrigada." Agradeci, pronta para me retirar.

"E Lümina?" O fotógrafo chamou. Olhei-o. "Ele é um cara de sorte."

"O quê?" Perguntei, sem entender.

"O cara que você imaginou." Respondeu, simplesmente. "Espero que ele saiba o quão sortudo é, por ter o coração de uma garota tão linda e talentosa como você."

Olhei-o surpresa, mas o fotógrafo já não prestava mais atenção em mim e foi cumprimentar outro participante.

Queria dizer-lhe que ele estava errado.

Gaara não tinha meu coração.

Ele apenas era um bom amigo que sempre sabia como me ajudar em horas como essa.

Gaara não tinha meu coração, pois ele já pertencia a Sasuke-kun há muito tempo. E sempre pertenceria.

Mas então... Por que eu estava com essa sensação tão incômoda?

*

*

*

Finalmente poderia dormir.

Com o tanto de coisa que me aconteceu, estava obrigando-me a desligar meus pensamentos e dormir em paz.

Amanhã seria um longo dia e eu precisaria encontrar Sai para combinar nossa apresentação.

Após um rápido jantar pude, finalmente, tirar minha máscara e tomar um bom banho.

Quando guardei o aplique e as lentes na gaveta, notei o outro cd que Gaara havia me mandado — o que ainda não tinha escutado.

Agora que eu estava livre, poderia ouvir com calma.

No cd estava escrito em letras pequenas 'Start of something good' — provavelmente o nome da música.

Curiosa, coloquei-o para tocar.

"Oi, Sakura." A voz de Gaara soou na gravação. "Então... Meu amigo me pediu pra escrever uma música para uma garota que ele conheceu... Como se fosse do ponto de vista dele. Enfim..." Sua voz soava nervosa. "Só estou te mandando para ter uma segunda opinião sobre a canção mesmo. Por nada mais." Falou, apressado. "Espero que goste."

A música começou, e eu me deitei, esperando para ouvir mais uma das composições magníficas de Gaara.

Você nunca sabe quando você vai conhecer alguém

E seu mundo inteiro, em um momento, se desfaz

Você está apenas andando por aí e de repente tudo o que você pensou que sabia sobre a vida se vai

Você descobre que tudo estava errado

A voz de Gaara, como sempre, estava linda e grave. Fechei meus olhos imaginando que ele estava cantando para mim.

E todas as meus erros parecem não importar mais

Porque eles me guiaram até aqui, para você

Sorri. Eu podia me identificar com essa letra.

Afinal, por mais que eu não gostasse de admitir, parte de mim acreditava que Gaara havia sido mandado para Konoha por alguma obra divina do destino. Só para que pudéssemos nos conhecer.

Loucura, eu sei.

Mas é um pensamento legal de se ter.

Eu sei que vai levar algum tempo

Mas tenho que admitir que o pensamento passou pela minha cabeça

Que isto pode acabar como deveria

E eu vou dizer o que preciso dizer

E espero que isso não te afaste de mim

Não quero ser mal interpretado

Mas estou começando a acreditar...

Que isto poderia ser o começo de algo bom

Comecei a imaginar qual era a história do amigo de Gaara.

Em minha mente, o cara conheceu uma garota e os dois se tornaram amigos.

Mas ela tinha seu coração voltado para outra pessoa e ele tinha medo de assustá-la com seus sentimentos crescentes e acabar com a amizade entre eles.

A minha mente vagava formulando uma história para o casal para o qual Gaara escreveu a canção.

Todo mundo sabe que a vida tem seus altos e baixos

Um dia você está no topo do mundo

E então um dia você é o palhaço

Bem, eu já estive dos dois lados o suficiente para saber que você não quer atrapalhar quando está dando certo

Da maneira que nossa amizade está dando agora

Você vê meu coração?

Estou de peito aberto para você

Suspirei. Provavelmente era uma situação difícil para o garoto... Isso de não querer estragar a amizade, mas estar começando a gostar da menina.

Eu sei que vai levar algum tempo

Mas te tenho que admitir que o pensamento passou pela minha cabeça

Que isto pode acabar como deveria

E eu vou dizer o que preciso dizer

E espero que isso não te afaste de mim

Não quero ser mal interpretado

Mas eu estou começando a acreditar...

Que isto poderia ser o começo...

A música tocou meu coração de uma maneira estranha, subitamente emocionando-me.

Com meus olhos fechados, imaginei Gaara cantando-a para mim. Como se estivesse sido escrita para mim.

Meus pensamentos loucos estavam cada vez mais descontrolados.

Porque eu não sei onde isto está indo

Há uma parte de mim que ama não saber

Só não deixe acabar antes de começarmos

Essa música... Se Gaara a tivesse escrito para mim...

Combinaria com nossa história.

Claro... Em um mundo distorcido no qual houvesse alguma chance de sermos mais que amigos.

O que não existia, obviamente! Tanto da minha parte quanto da parte dele.

Você nunca sabe quando você vai conhecer alguém

E seu mundo inteiro, em um momento, se desfaz

Sorri, lembrando-me de como Gaara entrou em minha vida. Completamente inesperado. Chegou balançando todo o meu mundo.

Eu sei que vai levar algum tempo

Mas tenho que admitir que o pensamento passou pela minha cabeça

Que isto pode acabar como deveria

E eu vou dizer o que preciso dizer

E espero que isso não te afaste de mim

Não quero ser mal interpretado

Mas eu estou começando a acreditar que...

Oh, eu estou começando a acreditar...

Que isto poderia ser o começo de algo bom

Pela primeira vez, deixei o pensamento de que eu e Gaara pudéssemos ter alguma coisa no futuro me alcançar.

Não é como se nunca tivesse passado pela minha cabeça. Eu apenas não me permitia pensar sobre isso. Era errado.

Eu e Gaara não fazíamos o menor sentido juntos.

Quero dizer... Olha pra ele e olha pra mim.

Não que eu estivesse me diminuindo novamente... Mas algumas verdades precisam ser vistas.

Gaara era um superstar lindo, talentoso e amado.

E eu... Bem... Sou alguém que nem ao menos sabe ao certo quem é.

Fora o fato de que ele nunca olharia para mim de outra forma.

Fala sério! Ele podia ter qualquer garota no mundo.

E também... Meu coração pertence à Sasuke-kun.

Sim, sim... O começo de algo bom

Sim, sim... O começo de algo bom

Gaara finalizou a música.

Suspirei, com raiva de mim mesma.

Fiquei pensando coisas sem sentido feito uma idiota.

Desejei que o garoto que havia pedido para Gaara escrever a música conseguisse se acertar com a menina que está entrando em seu coração.

Mas minha raiva por mim mesma só aumentava.

Era ridículo estar imaginando a história do casal para o qual a canção foi escrita e, de repente, ter meus pensamentos conduzidos para meu próprio amigo.

Amigo.

Gaara é apenas meu amigo.

Um amigo gostoso pra caralh—

Não!

Droga!

Droga de pensamentos estúpidos!

Que merda está acontecendo comigo?

Obriguei-me a pensar em qualquer coisa que não fosse a voz sexy de Gaara... Ou seus cabelos de fogo... Ou seus maravilhosos olhos verdes... Ou seu jeito de sempre estar ao meu lado...

E aquele abraço... Ele poderia me abraçar para semp—

DROGA!

O alfabeto grego.

Comecei a recitar o alfabeto grego, apagando a luz e cobrindo-me com o edredom.

Proibi-me de pensar sobre Gaara ou sobre o concurso.

Só precisava dormir.

Apenas dormir.

Amanhã é outro dia e esses pensamentos não vão estar mais comigo.

Dormir.

Precisava dormir.

Anteontem eu dormi com Gaara!

GREGO!

Qual é mesmo o alfabeto grego?

Alpha... Beta... Gama... Delta... Épsilon... Dzeta...

*

*

*

Batidas insistentes na porta me acordaram.

Já estava virando mania!

Por que as pessoas tinham que bater na porta das outras justo quando estávamos na melhor parte do sonho?

E agora eu nem lembro com o que estava sonhando. Só sei que era bom.

Merda!

Resolvi ignorar.

Talvez a pessoa vá embora.

E talvez tivesse mesmo ido.

Depois de algum tempo em silêncio, estava voltando a cair no sono.

E então... Mais batidas!

Argh!

Quem é o filho da puta?!

Levantei-me tropeçando e abri a porta em um rompante, pronta para xingar seja lá quem fosse.

E então, vi Sai parado em minha frente.

Sai?

O que Sai estava fazendo em minha porta?

Os olhos dele cresceram imensamente, quase saltando de seu rosto.

Pisquei confusa.

Meus pensamentos lentamente começaram a clarear, deixando a neblina do sono para trás.

O concurso!

A parceria!

Eu e Sai cantaríamos juntos!

Provavelmente por isso ele estava em minha porta. Tínhamos que preparar a apresentação.

Mas por que ele parecia tão surpreso?

Como em um clique, a resposta veio até mim, fazendo meu coração bombear fortemente, enchendo-se de medo.

OH. NÃO.

Minha máscara!

Eu estava sem máscara!

"Sa-sa..." Sai balbuciou, incrédulo. "S-Sakura!"