As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 22
Primeira Fase: Sai


Notas iniciais do capítulo

[LEIAM AQUI!]

Oi, amores!

Seguinte... Sai e Sakura irão cantar. Então... Para facilitar a minha vida, já que eles cantam frases diferentes na mesma parte da música, usei uma técnica.

Assim... Colchetes [ ] são as partes cantadas da Sakura. Parênteses ( ) são as partes do Sai. Colchetes e parênteses juntos [( )] são os dois cantando juntos.

Se houver mais duetos posteriormente, acho que usarei essa mesma técnica.

Falo sobre capítulos gigantes nas notas finais.

Desculpe, aos que não gostam de caps grandes!

De nada, aos que gostam!

FELIZ ANIVERSÁRIO, DUDA!!!! 15 aninhos é uma idade linda!!! Desejo toda a felicidade do mundo pra vc!!! Esse capítulo é todo dedicado a vc!

Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631907/chapter/22

As minhas pernas tremiam, enquanto meu coração acelerava-se.

Uma pontada dolorosa de medo me atingiu.

Merda! Está tudo acabado!

Sai me encarava como se eu fosse de outro mundo.

Num primeiro momento, fiquei sem reação, sem saber o que fazer.

Provavelmente também tinha prendido a respiração.

Como em um clique, percebi que eu tinha que lidar o mais rápido possível com a situação.

Eu estava em perigo.

Antes que mais alguém pudesse me ver sem a máscara — graças à minha estupidez — puxei Sai para dentro do quarto o mais rápido que pude, e tranquei a porta.

Precisava dar um jeito de contornar a situação.

Os segundos que se seguiram foram torturantes.

O Uchiha me encarava, analisando-me de cima a baixo, totalmente descrente e sem dizer nada.

"Sai..." Comecei. "Sai..." Droga! O que eu diria?

A merda já está feita! Agora lide com isso, Sakura!

"V-você..." Ele balançou a cabeça. "Como isso é possível?"

"Bom... É uma longa história." Disse.

Sai se aproximou de mim. "É você mesmo, Sakura? Isso é uma pegadinha, certo? Cadê a verdadeira Lümina?"

Meu medo e nervosismo começaram a derreter feito gelo, dando lugar à irritação. "O quê?"

"A Lümina! Onde ela está? O que está acontecendo? Por que você está aqui?" Perguntou apressado.

"Você é idiota ou só se faz?" Soltei minha irritação nele. "O que tem de tão absurdo que eu tenha talento para estar nesse concurso? Você também não veio do mesmo lugar que eu? E que eu saiba, você também não saía por aí dizendo que sabia cantar!"

Sai piscou, atordoado. "Mas você é... Sakura."

Meus olhos faiscaram com raiva. "E?"

"E... Você não pode ser a Lümina!" Sai falou, como se fosse óbvio. "Isso vai contra todas as leis da natureza!"

A simpatia que eu nutri por Sai durante anos estava se esvaindo em segundos.

"Não aja como se soubesse tudo sobre mim." Vociferei. "Você não me conhece."

Sai parou por uns segundos, absorvendo minhas palavras, olhando-me nos olhos.

"Isso é..." Balançou a cabeça. "Seus amigos sabem sobre isso?" Perguntou, enfim.

"Eles não fazem ideia." Respondi.

"De nada disso? Que você canta... Compõe... Que você está no Soul Talent como Lümina... Eles sabem?"

"Não. Sobre nada. Ninguém sabe." Afirmei. "É segredo."

"Bom... Então acho que, na verdade, ninguém te conhece." Falou.

"Talvez." Eu disse, seca. Estava com raiva dele. Sai pareceu perceber.

"Desculpa." Pediu. "Desculpa mesmo... Fui grosso. Mas é que... Isso me pegou de surpresa. Eu nunca que iria esperar isso. Nem em um milhão de anos. Nunca nem sequer imaginaria."

Pude ver a sinceridade em seu olhar.

"A imagem que todos têm de mim é tão ruim assim?" Eu quis saber.

Sai deu de ombros. "Um pouco... Pra te ser bem sincero."

Suspirei, chateada.

Isso era tudo culpa minha. O jeito que todos me tratavam era culpa minha!

Haruno Sakura: a bobona de Konoha.

Essa era imagem que todos tinham de mim. E a única responsável por isso ter chegado a esse ponto sou eu mesma.

Mas aquela garota parecia tão distante de quem eu sou hoje. Nem parecia que até pouco tempo atrás eu ainda agia como ela.

Talvez eu tivesse amadurecido um pouco.

Mas se eu tinha tomado uma decisão em minha vida, era que nunca mais deixaria ninguém me rebaixar.

"Bom... Você tinha uma imagem errada de mim." Afirmei.

Sai levantou as sobrancelhas. "Então isso é realmente verdade? Você é mesmo Lümina?"

Estufei meu peito, orgulhosamente. "A própria."

"Uau." Sai balançou a cabeça. "Acho que isso é a coisa mais surpreendente com a qual me deparei na vida."

Receio me atingiu ao me dar conta de que, agora, eu estava nas mãos de Sai.

"Sai... Você poderia... Por favor... Manter segredo sobre isso?" Pedi, em uma quase súplica.

O Uchiha piscou. "Quem sou eu pra revelar o segredo das outras pessoas? Você faz o que quiser da sua vida, Sakura. Se disfarça de quem quiser. Eu não tenho nada haver com isso."

Lentamente, fiquei quase aliviada. Não havia algo que indicasse mentira em suas palavras. A simpatia que nutria por Sai voltava para mim.

"Obrigada, Sai." Agradeci.

"Mas... Se você não se importar... Poderia me explicar essa história?" Pediu. "Porque minha cabeça está prestes a dar nó. Eu não estou conseguindo entender nada. E isso é muito raro pra mim."

Sorri de lado.

Não havia muitas opções. Sai havia descoberto a verdade. Só o que me restava era lhe explicar tudo — deixando os detalhes de lado — e rezar para ele ficar do meu lado.

Sentei-me na beirada da cama. "Gaara e eu nos tornamos parceiros de química." Contei. "Um dia ele me viu cantar. Viramos amigos depois disso. Ele quis me indicar no Soul Talent mas eu não tinha coragem de vir como Sakura, então criamos a Lümina e aqui estou." Resumi.

Sai sentou na cadeira da penteadeira. "E seus amigos não sabem?"

"Não." Disse. "Cantar, compor e tocar sempre foi algo que eu guardei para mim mesma. Não tinha coragem de mostrar a ninguém. Até agora. Agora eu estou mais confiante."

"Mas você ainda se esconde atrás da Lümina." Observou.

"Bem... Sim..." Concordei. "Talvez eu ainda não esteja pronta para ser Sakura. Isso tudo é muito novo para mim."

"Mas como os outros não desconfiaram? Quero dizer... Você não está com eles..."

"Eu inventei que iria trabalhar de empregada em uma casa de família por tempo integral." Falei. "Eles estão ocupados demais, trabalhando para conseguir voltar para Konoha. Então... Não é como se tivessem tempo de desconfiar de alguma coisa."

Sai franziu o cenho. "Afinal... O que aconteceu? Por que a Three Pieces não competiu?"

Suspirei. "Sasori os dopou com sonífero. A produção chutou eles para fora, dizendo que não iriam pagar a passagem de volta por que eles quebraram o contrato ao não participarem da competição. Nem os deixaram se defender."

Sai ouvia tudo atentamente. "Sasori fez isso?"

"Sim." Afirmei.

"Como você tem certeza?" Perguntou.

"Quem mais seria?"

Sai pareceu pensar. Por fim, deu de ombros. "É... Soa como algo que Sasori faria."

"Foi ele. Disso eu tenho certeza." Falei.

Sai assentiu. "Eu acho que preciso de um tempo para digerir isso tudo. É muita informação ao mesmo tempo. Eu ainda nem me recuperei do fato de você ser Lümina."

"Bom... Então... Vou te deixar sozinho por um tempo. Vou tomar banho." Avisei. "Fica à vontade."

Precisava ficar sozinha. Também tinha minha parcela de coisas a digerir.

Eu só esperava que Sai ficasse mesmo de boca fechada. Ou então... Não... Não posso nem pensar sobre isso!

Sempre simpatizei com Sai, mas, na verdade, não o conhecia bem. Agora, eu estava nas mãos dele. Porém, estranhamente, isso não me deixava tão nervosa assim. Havia uma grande parte de mim que dizia que eu podia confiar em Sai. Para meu bem-estar emocional, resolvi acreditar.

*

*

*

"Você já digeriu tudo?" Perguntei, saindo do banheiro, de roupa trocada e toalha no cabelo.

"Estou tentando." Sai respondeu. "É difícil, sabe? Eu tinha uma imagem de você por muito tempo que acabou de ser destruída."

Ergui uma sobrancelha, começando a enxugar meu cabelo.

"Descreva essa imagem." Pedi.

Sai hesitou. "Sei lá..." Ele evitou meu olhar. "Você estava sempre correndo atrás do meu primo... Agindo de um jeito... Infantil."

Suspirei. "Eu sei. Mas eu mudei."

"Assim tão rápido?" Questionou.

"Algumas coisas aconteceram, Sai." Falei. "Coisas que me fizeram olhar tudo por uma perspectiva diferente. Bem... Não sei explicar. Coisas aconteceram e eu meio que amadureci um pouco. O fato, é que eu não voltaria a agir daquele jeito."

Sai sorriu, minimamente. "Prazer em te conhecer, Sakura."

Retribuí o sorriso. "Eu, por outro lado, sempre simpatizei com você."

Os olhos de Sai brilharam com surpresa. "Sério?"

"Claro!"

Sai balançou a cabeça, desacreditado. "Eu sempre achei que todos vocês me odiassem."

Franzi o cenho. "Por que odiaríamos?"

"Você sabe... Eu e o Sasuke não nos damos bem por causa das brigas dos nossos pais... E vocês são amigos dele, então..."

"Não é como se você tivesse feito algo pro Sasuke-kun. Então não vejo razão para eu ter raiva de você. Essa briga é da família Uchiha. Mas eu realmente sempre simpatizei com você."

"Obrigado..." Sai coçou a cabeça, desconcertado. "Bom... Eu simpatizei com Lümina."

Ri. "Bom... Já é um começo!"

O moreno me encarou. "Cara... Você é muito talentosa! Muito mesmo!"

Agora foi minha vez de ficar desconcertada. "Obrigada." Sorri.

"Sério. Sério mesmo. Eu fiquei muito impressionado com a Lümina... Quer dizer... Com você." Falou. "Suas letras são poderosas! E a sua voz..." Ele balançou a cabeça. "Uau! Apenas uau!"

Fiquei com vergonha. Era um sentimento estranho ser tão elogiada assim.

Mas era um estranho bom.

"Você também é muito talentoso!" Eu disse. "Fiquei maravilhada com sua música e voz!"

"Obrigado." Agradeceu. "Acho que é uma coisa boa então... Você sabe... Termos que nos apresentar juntos."

Assenti. "Sim! Vai ser divertido!" Parei por um segundo. "Mas, Sai... Você vai mesmo manter segredo, não é?"

Ele olhou em meus olhos. "Com certeza. Pode ficar despreocupada. Da minha boca, ninguém saberá que você é Lümina."

Suspirei aliviada. Não havia uma gota de mentira em suas palavras. "Muito, muito, muito obrigada!"

"Mas eu tenho uma favor para pedir em troca." Falou. Ergui minha sobrancelhas, com receio. "Nós temos que arrasar na apresentação!"

Sorri. "Com certeza! Se depender de mim... Vou me esforçar ao máximo."

Sai assentiu. "Então temos uma acordo."

Ele estendeu a mão minha direção. Apertei-a, prontamente. "Sim. Temos um acordo! Vamos fazer uma apresentação tão boa que nós dois iremos avançar para próxima etapa."

Sai concordou. "Esse é o objetivo."

Desfizemos o aperto.

"Agora..." Comecei. "O que, exatamente, iremos fazer na apresentação?"

Sai pensou por um segundo. "Bom... Somos compositores... Eles provavelmente estão esperando um dueto original, composto por nós dois juntos."

"Sim... E não podemos decepcionar." Concordei. "Mas nós vamos ter tempo de preparar algo?"

"Sakura... Não sei você, mas depois de tudo que eu descobri minha cabeça está pipocando de ideias! Acho melhor começarmos a trabalhar nisso agora mesmo."

"Antes de mais nada, preciso comer." Afirmei. "Sou do tipo que não funciona de barriga vazia!"

Sai sorriu. "Uma ótima ideia. Também não comi nada ainda."

"Como espera escrever algo que preste de barriga vazia?" Brinquei.

Ele riu.

Então, fui até o telefone para pedir a comida.

"Ei, Sakura." Sai chamou. Olhei-o, com o telefone em mãos. "Você até que é bem legal."

Sorri, voltando a discar o número do serviço de quarto e sentindo algo em mim se iluminando.

Era uma sensação muito boa poder mudar para melhor a opinião que Sai tinha de mim.

*

*

*

"Há algum tempo eu compus uma música instrumental no violão. Acho que ficou bem legal." Falei. "Podemos usá-la e só escrever a letra, para não perdermos muito tempo."

"Pode ser uma boa." Sai disse, enquanto terminava de tomar seu suco. "A produção disse que a banda do programa está a disposição, mas agora deve ter muita gente indo conversar com eles. Também há a opção de usar o estúdio e pré-gravar os instrumentos."

"Acho que a pré-gravação é melhor." Opinei. "Pro instrumental que eu compus, imagino uma batida bem forte. Posso pré-gravar violão, guitarra e piano. Mas bateria eu não toco. E tem que ter bateria."

"Não entendo nada de bateria." Sai disse. "Mas podemos conversar com o baterista da banda. A gente mostra a música e pede pra ele gravar a parte das batidas."

"É... Talvez funcione." Eu disse. Mas e a letra? Estou sem ideias."

Sai sorriu. "Já eu estou cheio! Toda essa sua história me deu muita inspiração."

Eu ri. "Então você começa escrevendo a letra e eu tento te ajudar."

"Certo." Assentiu. "Você tem caneta e papel?"

"Tenho." Busquei na gaveta meu caderno e arranquei algumas folhas em branco, entregando-as para Sai, juntamente com a caneta.

"Obrigado." Agradeceu. "Agora... Você pode tocar a parte instrumental que compôs?"

"Claro!"

Fui até minha mala, buscar a folha em que havia escrito os acordes da música.

Havia trazido todas minhas composições — nunca conseguiria me separar delas.

Eram muitas folhas soltas dentro da pasta grande na qual guardava minhas músicas, mas logo encontrei a certa.

"Isso tudo são suas composições?" Sai perguntou.

Fiquei um pouco acuada. "Sim." Disse, envergonhada.

"Uau!" Respondeu, aparentando surpresa.

"Aposto que você deve ter um monte também."

Sai sorriu de lado. "Sim. Isso é verdade."

Fechei a mala e peguei o violão que Gaara havia me dado, sentando-me na cama com a folha em minha frente.

Sai encarava-me em expectativa.

Eu estava um pouco receosa e nervosa por tocar uma composição minha para ele, mas tentei deixar o pensamento de lado. Nós tínhamos que trabalhar juntos. E eu precisava dar o meu melhor se quisesse sobreviver aos cortes.

Então, respirei fundo e comecei a tocar.

*

*

*

"Vocês tem uma obra-prima em mãos." Zack, o baterista oficial do Soul Talent, falou.

Sorri, grata. "Obrigada. A letra foi praticamente toda composta pelo Sai."

"Isso não é verdade." Sai retrucou. "Lümina ajudou muito. Os versos não seriam os mesmos sem ela."

Fiquei um pouco envergonhada. "Bem... A melodia da música não seria a mesma sem você e suas dicas. Sem falar no arranjo que você criou comigo."

Sai coçou a cabeça, levemente constrangido.

Zack riu. "Vocês têm uma ótima sintonia. Isso será maravilhoso para a apresentação. Aliás... Posso dar uma sugestão?"

"Claro! Por favor!" Sai disse.

"Eu gostei muito dos arranjos que vocês criaram, e é notável que a base é o violão." Zack falou. "Bom... Seria legal se vocês deixassem a parte gravada só para os outros instrumentos e tocassem violão ao vivo. Quer dizer... Você também toca, não é, Lümina?"

Sim!" Sai respondeu por mim. "Toca muito bem! Inclusive foi ela que gravou a parte do violão e guitarra."

"Ótimo!" Zack disse. "Então... Vocês podem retirar o instrumental gravado do violão e tocar na hora, deixando só os outros instrumentos pré-gravados."

"É uma boa." Sai assentiu. "Acho até melhor. Assim a gente não tem que pensar muito no que fazer no palco. E eu me sinto mais confortável tocando."

"Eu também!" Concordei. "É muito mais confortável!"

"Valeu, Zack." Sai agradeceu. "Pela dica e por ter feito a parte da bateria."

O baterista sorriu. "Imagina! Foi uma honra colocar minhas batidas numa música tão foda quanto essa! Bom... Minha parte está terminada... Tenho que conversar com uns participantes ainda."

Zack apertou nossas mãos. Agradeci-o pela milionésima vez.

Ele apenas sorriu gentil e saiu do estúdio.

Uma moça da produção entrou em seguida.

"Vocês têm que se apressar. Outros participantes também precisam usar esse estúdio." A mulher disse.

"Só mais vinte minutos. Nós já estamos terminando." Sai respondeu.

Ela apenas assentiu e saiu, fechando a porta.

Ao todo, cinco quartos do hotel foram transformados em estúdios, estando à nossa disposição. Mas, claro, eram cinquenta duplas preparando suas apresentações. Dez duplas por estúdio. E Sai e eu já estávamos ocupando este há bastante tempo.

"O que falta?" Sai perguntou ao produtor encarregado do estúdio.

"Eu estou juntando os instrumentos. Sincronizando-os." Peter, o produtor, respondeu.

"Deixa o violão de fora, por favor." Sai disse.

"Ok, já estou fazendo isso." Peter falou.

Suspirei, jogando-me na cadeira.

Precisávamos esperar o cd com a gravação ficar pronto e entregá-lo para a produção do programa.

Sai e eu ainda tínhamos que ensaiar tudo direitinho.

O cansaço começava a aparecer, mas eu precisava empurrá-lo para longe.

Ainda havia muito a ser feito.

*

*

*

Eu estava indo para o meu quarto, depois de ensaiar com Sai em seu quarto, exaustivamente, até conseguirmos a melodia perfeita.

Era um pouco mais de dez da noite, no entanto parecia que eu tinha ficado acordada a madrugada inteira.

Estava muito cansada. Só queria me jogar na cama e dormir.

"Lümina!" Ouvi um sussurro no corredor vazio.

Virei-me atrás de quem havia me chamado.

Encontrei Karin encostada na parede do corredor.

Nossa... Eu estava tão absorta que passei por ela sem a notar.

A ruiva olhava para uns papéis em suas mãos.
"Karin?" Chamei.

Ela não me encarou.

"Banheiro da piscina." Sussurrou e saiu rebolando, dando-me as costas.

Hum.

Ela parecia não querer ser vista comigo.

Suspirei, seguindo até a área da piscina.

Algumas duplas estavam ensaiando no local. Mas não havia ninguém na água.

Estavam todos absortos demais para me notarem.

Entrei no enorme banheiro, encontrando Temari e Karin.

A loira saltou, trancando a porta rapidamente.

Ela parecia nervosa.

"Tudo bem com você, Temari?" Perguntei.

"Tudo. Mas nós precisamos ser rápidas. Nem deveríamos ter a chave do banheiro. Karin roubou do pessoal da limpeza." Ela disse.

Arqueei as sobrancelhas. "Vocês não são tradutoras de japonês? Bem... Eu sou japonesa. Qual o problema de vocês serem vistas falando comigo?"

"Nós não somos mais tradutoras." Karin respondeu.

"Não?" Fiquei confusa.

"Por que seríamos? Não há mais necessidade." Temari falou. "Só restaram três japoneses na competição, e os três sabem falar inglês. Nós trocamos de função."

"Sim. Agora estamos na área de organização." Karin completou. "Ajudando na iluminação do palco, preparação de cenário... Essas coisas."

"Ah sim."

"Bom... Como o prometido..." Temari entregou-me um celular e uma folha. "Ligue pra quem tem que ligar. Mas seja rápida."

Eu já havia imaginado que seria para fazer as ligações que Karin havia me chamado.

Fiquei admirada ao olhar a folha e ver toda a minha lista de contatos copiada.

Olhei com surpresa para as duas.

Temari deu de ombros. "Imaginei que você não sabia os números de cor e tomei a liberdade de mexer no seu celular para pegar a lista."

"A Temari quase ferra o próprio pescoço ao invadir a sala dos celulares confiscados." Karin disse.

Fiquei um pouco emocionada e surpresa por ela ter se arriscado por mim.

Eu não esperava.

"O-obrigada." Agradeci, sem saber o que dizer.

Eu sabia o número de Kabuto, Sasuke-kun e Ino de cor. Mas resolvi não comentar e fingi que a lista tinha sido de grande ajuda.

Disquei primeiro para Kabuto.

Com o fuso horário, em Konoha já era manhã.

O médico não demorou a atender.

Ficou muito feliz com a ligação e me pediu para contar como estava sendo a vida em Nova York. Eu lhe disse que estava trabalhando e que as coisas estavam se encaminhando.

Ele se ofereceu, mais uma vez, para pagar minha passagem de volta. Mais uma vez, disse-lhe que não era necessário.

Falando que precisava dormir, despedi-me dele.

"Ligue mais vezes, pequena." Ele falou, antes de desligar.

Com o turbilhão que minha vida tinha se transformado, eu não havia percebido o quanto Kabuto me fazia falta. Por um momento, quis chorar de saudades dele. De fato, cheguei a lagrimar.

"Você está bem?" Temari perguntou.

"Sim." Respondi. "É só saudade."

Tentei ligar para minha mãe, mas ela não atendeu.

Liguei, então, para Neji.

De fato, a lista acabou sendo útil.

Era melhor ligar para o Hyuuga, mas eu não sabia seu número de cor.

Naquele momento, um pensamento incômodo cruzou minha mente. E se Neji tivesse percebido algo?

Meu Deus! Eu disse a ele que viria trabalhar no Soul Talent e a indicada do Gaara era rosada! E se ele tiver percebido?

O Hyuuga não demorou a atender. Eu estava extremamente nervosa.

Mas Neji não demonstrou nenhum comportamento estranho.

Ele falou comigo como se me visse todos os dias. Claro, pelo simples fato de ele estar com nossos amigos e precisar manter a mentira.

"Tem uma garota com a sua cor de cabelo na competição. Você viu?" Ele perguntou, fazendo-me tremer.

"É disfarce. Gaara resolveu colocar peruca rosa nela se baseando em mim. Conheci a Lümina. Ela é legal."

"Hum." Neji respondeu. "Ela é talentosa. Estou torcendo por ela."

Meu coração palpitou.

Será que Neji sabia?

Merda... Provavelmente!

Mas se sabia, optou por não comentar.

Não... Ele não pensaria que eu e Lümina somos a mesma pessoa. Ele não fazia ideia que eu cantava.

E se soubesse... Provavelmente me confrontaria. Provavelmente já teria falado para os outros.

Ou não.

Meu coração se apertou.

Logo, o viva voz foi ligado e todos me encheram de perguntas.

Aparentemente, Neji dava notícias minhas todos os dias.

Ino até comentou que meus patrões deviam ser pessoas legais, já que o Hyuuga dizia que eu estava feliz no trabalho.

Todos tinham conseguido empregos. E todos pareciam esgotados.

Mas, pelo menos, as horas pagas do trabalho de cada um já estavam rendendo bons resultados. As economias cresciam a cada dia. Pouco, mas cresciam.

"Você faz falta, Sakura." Sasuke-kun falou, ao se despedir.

"Você também." Respondi, com a voz embargada.

Despedi-me antes que eu começasse a chorar feito uma boboca.

"Ligações emocionantes." Karin comentou.

Respirei fundo, contendo meus sentimentos. Era um pouco doloroso falar com Sasuke-kun, e eu não sabia bem o motivo.

E havia Neji...

Deus! E se ele já soubesse?

Preferi não pensar sobre isso.

"Obrigada." Entreguei o celular de volta a Temari.

"Não vai ligar pro meu irmão?" A loira perguntou. "Ele está esperando."

Meu coração pulou ao pensar em falar com Gaara.

Não era justo que eu entrasse em contato com meu mentor, sendo que os outros participantes não podiam.

Mas eu queria falar com ele. E sempre fui egoísta.

Disquei o número, que, obviamente, já estava salvo no celular de Temari.

"Fala, irmãzinha." Ele atendeu.

"Não sou sua irmã." Respondi.

Gaara riu. Ele disse que estava esperando minha ligação.

Perguntou como eu estava lidando com meu parceiro de apresentação.

Resolvi contar de uma vez que Sai já havia descoberto meu segredo.

Gaara ficou louco de raiva. E as meninas, que ouviam a conversa, ficaram bem surpresas.

Por fim, convenci-os de que Sai estava do meu lado.

Gaara ainda estava contrariado, mas desejou-me boa sorte na apresentação e disse que iria torcer muito por mim.

"Tome mais cuidado, Maluquinha." Ele disse. "Mas qualquer coisa... Você sempre pode ser a Sakura."

Sorri. Fiquei feliz por ele me chamar pelo apelido e não aparentar mais estar com raiva.

"Eu acredito em você, Maluquinha." Gaara continuou. "Mantenha a calma e deixe a música falar por você."

"Obrigada." Respondi.

Queria que você estivesse aqui, pensei. Mas não falei. Apenas desliguei.

"Agora temos que ir." Temari disse, quando lhe entreguei o celular.

"Você sai primeiro." Karin falou. "A gente vai ficar por aqui por um tempo ainda.

Assenti, agradecendo as duas.

Guardei a folha com meus contatos no bolso e saí do banheiro.

Novamente, ninguém pareceu me notar.

Segui até meu quarto e arranquei minha máscara assim que tranquei a porta.

Eu não estava me sentindo bem.

Forcei-me a não pensar na possibilidade de Neji ter descoberto a verdade e nem na saudade que eu sentia de todos que eram tão importantes para mim.

Kabuto, mamãe, meus amigos, Sasuke-kun...

E de algum modo, havia o rosto de Gaara saltando em minha mente, mais vívido que o dos outros.

Aquilo me incomodou.

*

*

*

"Vocês já conhecem o esquema." A moça da produção falou, enquanto descíamos das vans, ao chegar no teatro onde ocorreriam as apresentações. "O pessoal da maquiagem está a disposição. Esperem pelo sorteio que determinará a ordem das apresentações."

Suspirei ao adentrar o teatro. Hoje eu teria que me sair muito bem. Metade dos participantes serão cortados ao final do dia.

"Você está muito linda hoje." Sai elogiou.

Olhei-o, lisonjeada. Ele havia falado como se fosse apenas algo a se observar.

Mas para mim era algo grande. Sai era sincero. O que significava que eu estava bonita aos olhos dos outros.

Sorri feito boba.

Havia adotado a bota de cano curto — ankle boot, como Shizune gostava de chamar — como minha nova peça favorita, e, mais uma vez, estava a usando.

Vesti uma calça preta de cintura alta, com alguns rasgos na parte da coxa.

Minha blusa era de manga comprida, cor de vinho, colada e curta — cropped, segundo tinha lido em algumas revistas de moda. Mas minha barriga não ficava à mostra. Quer dizer, apenas uma faixa de pele, entre o fim da blusa e o começo da calça.

Senti-me bem.

"Obrigada." Agradeci, sorrindo. Ele apenas assentiu. "Eu não vou para a maquiagem. Já fiz a minha. Mas você pode ir. A gente se encontra depois."

Sai riu, seco. "Até parece que eu vou me maquiar."

Arqueei as sobrancelhas. "Ué... Isso é comum. Todo homem se maquia pra televisão. Só um pozinho!"

Sai fez uma careta. "Estou fora."

"Hunf! Mas bem que iria te cair bem... Um pouco de cor nessa cara pálida." Provoquei.

Sai me fuzilou com o olhar.

"Retiro o que disse sobre você estar linda hoje." Falou. "Retiro totalmente!"Gargalhei. Eles empurrou meu ombro, com um pequeno sorriso no rosto.

Naquele momento, desejei que pudéssemos levar aquela cumplicidade para o palco.

*

*

*

"Vocês são os próximos." A moça da produção avisou.

Sai e eu nos olhamos, tensos.

Dirigimo-nos para o lado do palco, esperando nossa vez.

"A gente consegue." Sai disse.

Engoli em seco. "Sim. Ensaiamos muito. Vamos nos sair bem." Falei, tentando convencer a mim mesma.

"Estamos prontos." Ele disse. Também parecia falar mais para si próprio do que para mim.

A produção nos entregou os violões que havíamos pedido.

Não demorou para a apresentação de nossos concorrentes terminar.

Fiquei nervosa ao ouvir todos os elogios dos jurados para eles.

Entra na bolha, Sakura!

Fechei meus olhos.

Entra na bolha!

Nada existe.

Só a música.

Só existe a música.

"Preparem-se para entrar." A moça da produção falou.

Olhei para Sai.

Ele segurou minha mão, apertando-a em apoio e a soltando em seguida.

"Estamos prontos." Repeti sua frase.

Ele assentiu.

"Agora..." Ryan Seacrest começou. "Essa é uma das duplas mais aguardadas! Como o esperado, eles se apresentarão com uma música original, composta ontem mesmo pelos dois. Compor uma música em apenas um dia é somente para pessoas extremamente talentosas! Soul Talent, cantando 'Everything burns', recebam Sai Uchiha, dos audicionados e Lümina, dos indicados!"

Meu coração bateu descompassado, e, como havia feito da última vez, forcei minhas pernas a seguirem em frente. Dessa vez, pelo menos, eu tinha Sai me acompanhando.

A multidão gritou animada, enquanto entrávamos juntos no palco.

Aquele frio esquisito na barriga estava de volta.

Os pedestais com os microfones já estavam a postos, mas, como tínhamos combinado antes, reposicionamo-os, de modo que pudéssemos cantar de frente um para o outro e ficássemos de perfil para o público.

Sai me olhou firme, tentando passar confiança. Mas eu sabia que ele estava tão nervoso quanto eu.

Pude vê-lo respirar fundo e resolvi fazer o mesmo.

"Um, dois, três." Sai contou.

Ao fim da contagem, começamos a tocar nossos violões.

Eu cantaria primeiro, então, preparei-me, tentando deixar o nervosismo de lado.

[Ela senta em seu canto

Cantando para ela mesma dormir

Coberta por todas os segredos

Que ninguém parece ver

Ela não chora mais por ela mesma

Não há lágrimas para serem enxugadas

Apenas páginas em branco de um diário

Sentimentos que se perdem

Mas ela cantará]

Sai disse que a letra havia sido inspirada em mim. Também o ajudei em certas partes. Por essas razões, de uma maneira incrível, identificava-me muito com a letra da música.

Olhei nos olhos de Sai que, diferente de antes, não carregavam nem um pingo de nervosismo. A música o dominava, assim como dominava a mim.

[(Até tudo queimar

Enquanto todos gritam

Queimando suas mentiras

Queimando seus sonhos

Toda esta fé

E toda a esta dor

Queimando tudo isso

Enquanto a fúria reina

Até tudo queimar)]

Sai se juntou a mim no refrão, cantando comigo.

A parte instrumental que tínhamos gravado, começou a tocar, acompanhando nossos violões.

Como mágica, já não havia nervosismo em mim.

Aproveitei a sensação inebriante que o palco me trazia.

Deus! Era realmente uma droga.

Nos olhos de Sai, pude ver que ele também sentia o mesmo que eu. Naquele momento, entendíamo-nos melhor do que ninguém.

(Caminhando despercebida pela vida

Sabendo que ninguém se importa

Tão consumida em sua máscara

Ninguém vê quem ela realmente é

E mesmo assim ela canta)

Sai cantou sua parte. Sua voz era maravilhosa. Um agrado sem tamanho aos ouvidos.

Por que ele havia a escondido por tanto tempo?

Aliás... Pensando bem... Sai era muito parecido comigo.

Nós tínhamos mais pontos em comum do que eu gostaria de admitir.

[(Até tudo queimar

Enquanto todos gritam

Queimando suas mentiras

Queimando seus sonhos

Toda esta fé

E toda a esta dor

Irá queimar

Enquanto a fúria reina)]

Juntei-me a Sai no refrão. A sincronia de nossas vozes era perfeita. Resultado de horas de ensaio.

O efeito criado quando cantávamos juntos era maravilhoso. Nossas vozes combinavam.

E então, a música subiu para sua potência máxima.

[(Até tudo queimar)]

(Tudo queimar)

[Tudo queimar]

(Assistindo tudo desaparecer)

[Tudo desaparece]

(Todos gritam)

[Todos gritam]

(Assistindo tudo desaparecer)

As batidas da bateria de Zack soaram poderosas. Sai e eu demos força às nossas vozes para acompanhar o ritmo.

Entregamos tudo de nós. Tanto no canto, quanto no violão.

Os olhos de Sai queimavam. Vívidos. Poderosos.

Eu os refletia com a mesma intensidade.

Estávamos conectados.

[Até tudo queimar

Enquanto todos gritam

Queimando mentiras]

[(Queimando seus sonhos

Toda esta fé

E toda esta dor

Irá queimar

Enquanto a fúria reina

Até tudo queimar)]

[Tudo queimar]

(Assistindo tudo desaparecer)

[Oooh, oh]

[Tudo queimar]

[(Assistindo tudo desaparecer)]

Cantamos os últimos versos, finalizando a música.

Os gritos da plateia foram ensurdecedores.

Eu poderia apreciar aquilo a minha vida inteira!

Sai deu um sorriso brilhante para mim, que o correspondi.

Seu olhar estava carregado de emoção e felicidade. Trazia também uma cumplicidade amigável dirigida a mim.

Tiramos nossos violões, largando-os no palco.
Levantei uma mão na direção de Sai, e ele prontamente a tocou com a sua.

Ao nos virarmos para frente, pudemos ver os jurados — e toda a multidão atrás deles — aplaudindo de pé.

Olhei emocionada para Sai, que se aproximou de mim em resposta, passando um de seus braços em volta de meus ombros. Sorri, apoiando minha mão em sua cintura.

"Lümina! Sai!" Mariah começou, voltando a se sentar. "Isso foi incrível! Mágico! Eu fiquei extasiada quando anunciaram que vocês seriam uma das duplas. Tive a certeza de que iriam arrebentar com uma música original! E eu estava certa! Se depois disso vocês não seguirem na competição, eu vou ter que rever meus conceitos de talento!"

Sai apertou meu ombro. "Obrigado!" Ele respondeu.

Eu não conseguia mais encontrar minha voz.

Estava sendo, mais uma vez, consumida pela felicidade.

"Sai!" John Mayer chamou. "É impressionante como você fica melhor a cada apresentação! Seu talento não parece ter limites! E o mesmo se aplica à Lümina." Dirigiu-se a mim. "Obviamente, tivemos a possibilidade de ver mais do Sai, do que de você, Lümina. Mas não há dúvidas nenhuma de que não importa o quão maravilhosa você tem sido, ainda há mais para ser visto. E isso é animador! Parabéns pela música incrível e pelo dueto fenomenal!"

"Obrigada!" Falei, com a voz embargada.

"Obrigado!" Sai também agradeceu, tão emocionado quanto eu.

"Uau!" Beyoncé disse. "Uau, uau, uau! Eu esperei o dia todo para ver essa performance e valeu cada segundo! Individualmente, vocês são fenomenais, cada um à sua maneira. Juntos... É magia pura! Essa música é muito forte e envolvente! Vocês tem noção do quão talentosos são por terem a feito em tão pouco tempo? Uau! Estou com um pouco de inveja!" Ela riu. "Parabéns! A melhor dupla da noite!"

A plateia gritou, em uma clara concordância, enquanto eu e Sai agradecíamos.

Será que ele estava sentindo como se fosse explodir de alegria a qualquer momento?

"Sai e Lümina!" Pharrell sorriu. "Que dupla perfeita! Mais uma vez vocês apresentaram técnica vocal impecável, o que é completamente incomum para pessoas tão jovens. Sem falar na música... Eu, honestamente, nem tenho o que julgar. Quero dizer... Vocês fizeram essa obra-prima em um dia! Olha toda essa recepção que vocês estão recebendo do público! Conseguir isso com uma música que eles não conheciam é para poucos! Acho que são vocês que precisam começar a nos ensinar!"

"Obrigada!" Falei, maravilhada.

"Obrigado!" Sai agradeceu, com a voz carregada de emoção.

Acho que eu estava lagrimando. Mas não me importava.

Não havia sensação melhor no mundo do que aquela.

Sai apertou meu ombro mais uma vez e me soltou. Então, caminhamos para fora do palco, sendo ovacionados pela plateia animada.

Quando já estávamos longe das câmeras, Sai e eu nos abraçamos, emocionados com tudo que tinha ocorrido no palco.

"Obrigado!" Ele disse. "Isso não teria sido tão incrível se não fosse por você."

Eu não conseguia encontrar palavras, mas queria lhe dizer que ele teria sido incrível de qualquer jeito.

Era um momento único.

Meu e de Sai.

Nós entendíamos os sentimentos um do outro. Estávamos passando pela mesma experiência. Depois de uma vida inteira sem revelar nossos talentos, esse concurso estava sendo uma verdadeira libertação.

Mesmo que eu usasse uma máscara para ser Lümina, no palco, era o meu coração — o de Haruno Sakura — que comandava.

"Que cena adorável." Uma voz irritantemente conhecida falou, com deboche.

Sai e eu nos separamos, e dirigimos nosso olhar a Sasori.

Minha felicidade lentamente deu lugar à raiva.

Merda! Eu não podia demonstrar!

Não podia ter nenhuma atitude suspeita ao redor do Akasuna.

"Parabéns pela apresentação." O ruivo disse. Eu quase podia ver o veneno escorrendo da sua boca.

"Obrigado." Sai falou, assumindo uma postura fria.

Sasori sorriu debochado. "Aproveitem enquanto podem. Afinal... Vocês não vão demorar a serem eliminados.

Meus olhos faiscaram. "Isso é uma ameaça?"

Sasori se aproximou de mim, com o olhar frio e um sorriso malvado no rosto. "Claro que não, querida Lümina. É só um conselho. Vocês são bons, mas não chegam aos meus pés."

"Ah é?" Falei. "Então por que você parece estar com tanto medo?"

Sasori me fuzilou com o olhar, mas manteve a pose. "Medo?" Riu, seco. "Essa palavra não faz parte do meu dicionário. Mas parece ser a que domina o seu. Afinal, que outra razão você teria para usar uma máscara?"

Ele tocou minha máscara com as pontas dos dedos.

Dei um tapa em sua mão, afastando-o.

Sasori riu. "É brava. Eu gosto."

O ruivo me deu um olhar misturado com divertimento e ódio — uma combinação que eu achava impossível de existir — e então, deu-nos as costas, juntando-se ao seu parceiro de apresentação, o indicado de System of a Down.

Fechei minhas mãos em punhos, enquanto encarava suas costas furiosamente. Eu tinha certeza que ele podia sentir meu olhar o queimando.

"Ei." Sai colocou uma mão em meu braço. "Não deixa ele te abalar. É exatamente isso que ele quer. Desestabilizar você. Não deixa. Ignora. Aproveite o que sentiu no palco e deixa esse imbecil pra lá."

Sai estava certo.

Eu não podia deixar Sasori me atingir desse jeito.

Respirando fundo, tirei meu olhar das costas do Akasuna e virei-me para Sai.

"Tem razão." Falei. "Você tem toda a razão."

Sai assentiu, puxando-me para longe de onde Sasori estava.

Eu tinha que me preocupar com os resultados, não com o Akasuna.

Ele que se fodesse.

*

*

*

Era hora dos resultados.

Sai e eu ficamos lado a lado no palco, em meio a todos nossos concorrentes.

"Já temos os resultados da votação do público." Ryan Seacrets falou. "Anunciaremos um audicionado e em seguida um indicado. Assim se seguirá até termos um top 25 audicionados e top 25 indicados. Lembrando que os nomes dos mais votados serão chamados de forma aleatória. Ou seja, sem nenhuma ordem específica."

Respirei fundo.

"A primeira pessoa a avançar entre os audicionados é..." O apresentador fez seu habitual suspense. "Sai Uchiha!"

A multidão gritou, em aprovação, enquanto eu olhava feliz para Sai.

Ele estava emocionado e, sem pensar muito, abraçou-me.

"Obrigada!" Ele disse em meu ouvido. "Você também vai passar."

Sorri, grata.

Ele me soltou e correu para escadas, sob o aplauso da plateia, posicionando-se enfim, na parte em frente ao palco, destinada aos escolhidos.

"A primeira pessoa dos indicados é..." Ryan continuou. "Bia Lewis!"

Mais gritos. A indicada de Adele seguiu seu caminho até a frente do palco.

E os resultados seguiram.

Eu estava muito nervosa, porém confiante.

"A décima primeira pessoa dos audicionados é..." Ryan fez um curto suspense. "Sasori Akasuna!"

O ruivo levantou os punhos no ar como um verdadeiro vitorioso, e desceu as escadas sendo ovacionado pelo público que, claramente, adorava-o.

Deus! Como eu queria que ele fosse eliminado!

"A décima primeira pessoa dos indicados é..." O apresentador continuou. "Lümina!"

Meu coração perdeu uma batida.

Eu estava ocupada odiando Sasori e fui pega de surpresa com o anúncio.

Sorri, deslumbrada, enquanto a multidão gritava meu nome.

Desci as escada e Sai me recebeu com um grande sorriso.

"Parabéns!" Ele disse.

"Pra você também!" Respondi.

Suspirei aliviada.

Não demorou muito para o top estar completo.

Algumas das eliminações foram chocantes. Como a do indicado de System of a Down, que havia feito parceria com Sasori.

Quando os eliminados deixaram o palco, subimos de volta, chamados por Ryan.

"Soul Talent! Aplaudam seus escolhidos para top 25 audicionados e top 25 indicados." Ryan disse, empolgado.

A multidão gritou, em polvorosa.

"Vamos aos anúncios para próximo programa." O apresentador voltou a falar. "As apresentações serão individuais e daqui a uma semana. Ao final, dezessete de cada grupo serão eliminados, formando um top 8 audicionados e top 8 indicados que irão competir por uma vaga na etapa final."

O público gritou indignado.

Olhamo-nos assustados. Mais da metade irão embora.

"Eu sei... Eu sei..." Ryan falou. "Mas a produção decidiu que quer chegar logo à etapa final, onde todos terão mentores. São as ordens. Então... Sugiro que usem essa semana para se prepararem bem, porque os cortes serão brutais. Boa noite a todos." O apresentador finalizou.

Todos estávamos em choque.

Saímos desnorteados do palco.

"É muito caro manter um programa com tantas horas no ar." Bia Lewis falou, ao meu lado. Eles querem diminuir o tempo do programa, por isso vai ter esse corte absurdo." Falou, em tom revoltado.

Afastei-me dela e pude ver Sai me seguir.

"Estamos fodidos." Ele disse.

"Totalmente." Concordei.

Sim. Estávamos muito — muito — fodidos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

IMPORTANTE: A música do capítulo é 'Everything burns', do Ben Moody com a Anastacia. Olha... A versão que eu me baseei escrevendo o cap foi a da Cornelia Mooswalder com o Jonathan Reiner, pq é a que tem no Spotify. Então eu não sei se tá batendo direitinho com a original. Eu só ouvi a original uma vez, mas achei as duas extremamente parecidas. Inclusive nas vozes. Então... Pra quem usa Spotify, procurem 'Everything burns' da Cornelia.

Pros outros, vou deixar o link na versão do Ben da Anastacia. Não achei no Youtube, só no Vimeo.

Ah! Eu mudei algumas coisas na letra. Pouca coisa, juro!

[Link da música]

https://vimeo.com/30881879

*

É isso. Próximo capítulo, a Sakura provavelmente fará uma visita, mas quem terá a surpresa será ela. Talvez ela se apresente. Não sei... Vou escrever ainda.

E juro, JURO solenemente, aos que não curtem capítulos grandes, que vou tentar me conter. Eu mesma não gosto de capítulos longos. Mas não quero perder o cronograma de tudo que tem que acontecer no cap. Daí sai essas coisas gigantes, só pra não perder o que eu quero q aconteça em cada cap. Os que gostam de capítulos gigantes se dão bem. Já eu e os que não gostam... Hahaha! Você que não gosta de caps grandes pode vir puxar minha orelha, pq até agora não recebi reclamações e fico me empolgando. Vem puxar minha orelha pra ver se eu passo a me controlar.