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17 de junho, 2013

4 vidas

"A escuridão sempre estará ao nosso redor. Não importa a claridade que tenta escondê-la, sempre haverá uma sombra, uma brecha da qual você não pode escapar.

Pois, enquanto você estiver na claridade, a escuridão que jaz dentro de ti cuidará daquilo que a externa não deu conta.

Não há para onde fugir, minha filha.

Pode fechar os olhos para não ver a escuridão, mas quando eles se fecham, a clareza também não poderá mais ser vista;

Pode selar seus lábios para que as palavras que tanto teme não sejam ditas, mas há sempre os pensamentos que consomem sua mente...

...pode ensurdecer-se dos telefones que vê, mas há um do qual você não vê que toca dentro de você.

Minha filha, eu sugiro que comece a pensar. A saída nem sempre é a resposta para seus problemas, mas...

Você realmente sabe qual são, de fato?

Não tente fugir daquilo que já lhe tirou seus meios de fuga.

O tempo escorrega incessantemente de suas mãos, garota. Não o deixe ir.

Ele é tudo o que você tem."

As mãos da garotinha tremiam descontroladamente.

Estava na sala-de-estar, e a carta estava ao lado da televisão.

A letra não era de Frederick, já as lágrimas que manchavam o papel, eram sem dúvidas de Annabeth.

– Ei, acorde! – A voz de Percy a tirou de seus devaneios.

Num sobressalto, empurrou-o para o lado, fazendo-o grunhir de dor. Os ferimentos causados pelo sonho anterior não foram leves. A Chase tinha vários cortes profundos em seus braços e bochecha, enquanto o garoto teve seu abdômen praticamente perfurado.

Como era possível? Um sonho afetar fisicamente um ser humano?

Como era possível, sonhos interligarem mentes?

Percy e Annabeth compartilhavam algo muito maior do que meros e efêmeros sentimentos, e, por mais poético que soasse, aquilo estava longe de ser algo bom.

Em algumas horas, o “julgamento” de Luke Castellan ocorreria. Aparentemente, era uma tradição entre o grupo: julgar os supostos traidores. Basicamente, o obrigavam a dizer a verdade através de torturas.

Talvez, em algo profundo demais para que pudesse perceber, a loira tivesse algum remorso. Mas, querendo ou não, durante toda a sua vida, seu lema fora “não confie em ninguém; se puder, nem em si mesmo.” e Castellan fora aquele que teve a chance de mudar tal pensamento. Uma chance que jogou fora.

Alegou que faria as torturas por ser a mais próxima do garoto, mas sabia que no fundo, seria apenas uma vingança devido à um antigo rancor que vira à tona num momento oportuno demais para ser desperdiçado.

– E então? – Perguntou Jackson. Ambos tomaram uma decisão: apenas dormiriam se o outro estiver de guarda. Dormir seria necessário, porém, perigoso demais para não ter alguém de prontidão para acordá-lo no primeiro sinal de dor ou sofrimento.

– Deixaram uma carta. Eu acho... eu não sei, mas... – Ela suspirou, cansada. – Você não acreditará em mim, mas... parecia a letra de minha mãe.

*

Percy preferiu nada dizer sobre o vídeo na televisão. Annie já tinha problemas demais no presente e futuro, então, inserir novos que apenas influenciam no passado só iria piorar as coisas.

Vagava por seus pensamentos, quando um berro de Luke o acordou.

Annabeth tinha uma faca em suas mãos, e rondava provocantemente a cadeira da qual o garoto estava preso. Parecia se divertir muito, assim como Thalia, que a ajudava.

Até então, havia feito apenas perguntas inúteis, provavelmente para aproveitar e estender o tempo do julgamento. Era uma cena cômica de se ver, afinal: As duas garotas fazendo posições provocantes e dizendo que se ele ficasse excitado, membros seriam cortados. As reações do loiro eram as melhores.

A Chase subiu no colo do mesmo e sussurrou algo nos ouvidos dele. Enquanto isso, Thalia aproveitava a situação para ameaçá-lo.

– Se controle, querido. Eu juro que se tiver um volumezinho nessa sua calça, eu arranco seu pinto e te dou uma surra com ele!

Ninguém se segurou. O local foi inundado por sons estridentes de gargalhadas. Até mesmo Luke abriu um pequeno sorriso, que logo foi tirado por um tapa da loira.

– Certo, vocês já se divertiram demais. Comecem com o interrogatório sério antes que eu mesmo o faça. – A voz de Nico ecoou pelo cômodo, silenciando as risadas.

– Mas eu estava gostando tanto de passar esse tempo com o Loki... – Brincou Thalia, gemendo baixinho ao terminar a frase. Estava realmente adorando provocá-lo, apesar de não se sentir nada atraída pelo mesmo. Ser desejada era sempre bom, afinal.

– Eu também... – Annabeth fez um beicinho, enquanto saía (muito) lentamente do colo de Castellan, esfregando-se nele durante o “percurso”.

– Eu disse chega. – Nico irritou-se repentinamente.

Suspirando, Thalia se aproximou do loiro e sussurrou:

– Me chame da próxima vez que fizer merda e precisar ser julgado. – Piscou e se pôs ao lado de Jason, que ria em silêncio da situação.

– Annabeth, me empreste essa faca quando terminar. – Murmurou o di Angelo, caminhando ao lado de Thalia.

– Certo. – Começou a loira. – Sem mais brincadeiras. Luke, como você conseguiu o frasco da droga de meu... de Frederick?

– Você está falando sério? Eu... – As palavras foram interrompidas por um berro.

Sangue escorria da coxa do garoto. A garota enfincara a faca não muito profundamente, mas o suficiente para atravessar algumas camadas de pele.

– Não me responda com outra pergunta. Eu quero que seja direto aqui. Quando eu pedir explicações, você as dirá. Quando eu perguntar algo, quero apenas a resposta daquilo que perguntei. – Ela retirou a faca indelicadamente, arrastando-a um pouco para o lado para rasgar mais a pele propositalmente. Ele berrou de novo. – Como você conseguiu o frasco da droga de Frederick?

– Ele me deu um endereço para buscá-la. Disse que se não fosse, ele me mataria. – Grunhiu.

Todos pareceram surpresos. Já Annabeth optara por manter a postura.

– Como ele te deu o endereço? – Perguntou logo em seguida, posicionando a lâmina levemente na bochecha dele, perfurando-a levemente. Uma pequena gota de sangue escorreu, caindo na camisa de Luke.

– Num sonho.

Agarrou o cabo da faca firmemente, até os dedos ficarem brancos.

– Não minta pra mim. Eu posso perguntar para ele quando eu quiser. – Encarou-o nos olhos azuis. – Eu sei que você se lembra do telefone. Você sabe que eu posso atendê-lo quando eu quiser. Você sabe que é ele quem está do outro lado da linha, então, não minta pra mim.

Arrastou a faca para o lado, abrindo o corte superficial na bochecha.

– Eu não menti, porra! – Irritou-se.

Um som estalado invadiu o local e a outra bochecha adquiria uma coloração rosada.

– Não levante a voz para mim, caralho. – Virou-se de costas para ele, a raiva fazia suas mãos tremerem, entretanto, também aumentava a firmeza da qual ela segurava a faca. – Por que você mentiu, me dizendo que era heroína? E por que a coloração estava diferente das minhas doses?

– Eu menti por que sabia que você desconfiaria de mim na hora, e seria ruim considerando a situação da qual estávamos. Eu a mudei caso algum colega de trabalho encontrasse a maleta.

O som da faca caindo ruidosamente das mãos de Annabeth ecoou juntamente com seus passos.

– Isso é tudo o que preciso. Agora, se me dão licença. – Deixou a sala. Algo parecia a ter incomodado, e ninguém ousou incomodá-la.

Quando deixou a sala, deu de cara com um Percy emburrado.

– Aonde você vai? – Perguntou, bloqueando a passagem da loira, esta que olhou para cima para encará-lo com seu melhor olhar de ódio.

– Não gosto que tirem satisfações comigo. – Disse, desviando e seguindo seu caminho. Percy, ágil, conseguiu se colocar no caminho mais uma vez.

– Não gosto que ignorem minhas perguntas. – Retrucou.

– Quem faz as perguntas aqui sou eu, como acabou de ver. – Sorriu, sarcástica. – Se quiser ter a mesma sorte de Luke, estarei esperando alguma merda sua. – Completou, com um tom sedutor.

– E o que te faz pensar que vão te escolher para o interrogatório? Só conseguiu esse por que conhece melhor o Castellan. Ou você acha que é próxima de mim? – Respondeu, com uma leve risada.

– Vou entender isso como uma indireta para dizer que vai tentar se aproximar de mim. Mas, fique sabendo, antes que se arrependa, – ela aproximou os lábios dos ouvidos de Percy. – eu não me importo se não é legal não ser abraçado de volta.

Afastou-se, aproveitando a demora de uma reação do garoto, e se dirigiu ao quarto.

– Entra logo. – Continuou, impaciente. – Eu vou falar com Frederick. Sabe, ainda conto com você pra me acordar caso eu me foda.

– Você sabe que vai se foder com isso, não sabe? – Comentou o moreno, seguindo-a.

– Se não soubesse, não teria te chamado. – Pensou um pouco, antes de dar continuidade. – A menos que fosse outro foder. Aí, quem sabe eu não chamasse...

Quando viu um sorriso vitorioso se formar nos lábios de Jackson, completou:

– ...a Thalia, uh? Ela não é nada mal. Jason também não, mas não tenho vontade de enfrentar a fúria de Piper...

Soltou uma gargalhada ao ver a expressão do garoto se fechar, enquanto adentrava o cômodo.

As risadas não durariam muito, afinal.