A carta escrita por magalud


Capítulo 3
Primeiro contato




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Harry estava arrumando seu quarto na manhã seguinte quando ouviu uma voz conhecida na porta de seu quarto:

– Harry!

– Rony!

– Cara, o que é que você está fazendo?

– Dando um jeito por aqui! Eu vou passar o resto do verão com Sirius!

– Que legal!

– Quanto tempo você pode ficar?

– O resto do verão também. De alguma maneira, Dumbledore convenceu minha mãe que eu viesse sozinho. Gina só chega uma semana antes das aulas começarem. Você sabe, só falta nós dois para nos formarmos em Hogwarts.

– Fred e Jorge deram notícias da loja?

– A Geminialidades Weasley está entrando no seu segundo ano com um ano promissor adiante. Essa é a época do ano que eles têm maior movimento. Sabe que eles estavam querendo colocar uma foto sua na parede da loja?

– Minha? A troco?

– Ora, afinal, você foi praticamente sócio-fundador do investimento. Se não tivesse doado o prêmio do Torneio Tribruxo...

– Eu disse que eles deveriam fazer as pessoas rirem, e é só isso que eu quero. E pode ir esquecendo essa história de retrato na parede.

– Como você conseguiu vir para cá? E os seus tios?

– Eles devem ter recebido um aviso de que eu iria direto para Hogwarts. Minha tia viu um duende de Gringotts e ficou possessa. Foi bom mesmo eu ter saído de lá. Eles iriam ficar cada vez mais nervosos.

– Um duende de Gringotts? Mas eles não deixam o banco. Meu irmão falou que é raro eles terem uma entrega especial para fazer.

– Pois eles fizeram uma entrega desse tipo na minha casa faz dois dias.

– Por quê?

Em pouco tempo, Harry contou tudo a Rony, inclusive a conversa com Sirius, Lupin e Dumbledore na manhã do dia anterior. A reação do amigo ruivo foi previsível:

– Cara, eu é que não queria estar na sua pele. Filho do Snape? Ew!

– E eu vou ficar parecido com ele! Os feitiços que me deixavam parecido com Thiago Potter vão se dissolver.

Os olhos marrons de Rony se arregalaram:

– Não aquele nariz! Você não pode acabar com aquele nariz!

– Eu juro que mudo aquele nariz com mágica – disse Harry – Mas eu ainda tenho minhas dúvidas.

– Você acha que sua mãe pode ter se enganado?

Harry assentiu:

– É que eu sou tão parecido com Thiago, e não é só fisicamente, entende? Sou Apanhador que nem ele... Tenho esse talento para encontrar problemas que nem ele... Meu Patrono é um veado, e ele era um veado como animago. E o Chapéu Seletor me colocou em Grifinória.

– Mas você falou que ele queria te colocar em Sonserina, e você foi quem escolheu Grifinória.

Harry estava muito inseguro quando abaixou a voz e indagou:

– Rony... Você acha que isso é verdade? Será que eu sou filho do Snape?

O ruivo deu de ombros:

– Eu não sei, cara. Você não parece ser filho dele nem em sonho. Quem sabe você faz um daqueles testes que os trouxas fazem, sabe? Panamá? PMA? RNA?

– DNA – corrigiu Harry – É, isso é uma boa idéia, Rony. Mas a mamãe ia saber direito quem é o meu pai, não é? Você leu a carta.

– Ah, Harry, eu não sei. Você não tem nada em comum com Snape. Ela pode ter se enganado.

– É que eu fico pensando...

– O quê?

– Se fosse diferente, se eu tivesse uma outra mãe ao invés de outro pai, eu não seria parente dos Dursley e nunca mais precisaria voltar para Little Winghing.

– É, mas parece que a única certeza que você tem é que você tem sangue dos... dos... como é mesmo o nome de sua mãe?

– Evans. Eles eram trouxas.

– Isso. Você tem sangue Evans – Rony meneou a cabeça – Deixa eu te dizer, Harry, você realmente tem atração por problemas.

– É – suspirou Harry, fazendo uma careta – E isso tudo tem que permanecer secreto, Rony. Pelo que Dumbledore falou, se Voldemort – Rony deu uma estremecida de leve – souber disso, vai pensar que todos seus aniversários chegaram ao mesmo tempo.

– Tudo bem, eu não falo nada. Mas e a Hermione?

– Eu vou falar com ela depois, claro. Não teria como esconder isso dela. Ela ia terminar descobrindo de qualquer jeito!

– É, ela é danada. Mas vamos falar de outra coisa. Soube que As Esquisitonas estão para lançar um CD trouxa!

– Puxa, jura?

– Eu vou ter que ouvir num diskwalk.

– É diskman. Um tocador de CD portátil.

– É isso! Puxa, não é à toa que meu pai adora falar com você. Você sabe de tudo que é coisa trouxa!

Durante as próximas horas, os garotos puseram a se comportar como dois rapazes de 17 anos, rindo e brincando, até que Sirius os chamou para ajudar no jantar. E foi durante o jantar que Sirius disse:

– Ouvi Moody dizer que vai haver uma reunião da Ordem da Fênix essa noite.

Harry disse:

– Tudo bem, Rony e eu vamos lá para cima.

– Snape estará presente.

Harry ficou parado um minuto, sem saber direito como reagir.

– Eu posso pedir que ele fique um pouco mais, depois que a reunião acabar – continuou Sirius, olhando para Rony, que tinha arregalado os olhos – Isto é, se você quiser, Harry.

Agora os dois olhavam para Harry, que sentiu uma tonelada de borboletas se alojando repentinamente em seu estômago – e nada disso tinha a ver com o cozido que Sirius preparara para o jantar.

– Bom, eu... Eu acho que vou querer, sim, Sirius.

– Tem certeza, cara? – disse Rony – Ninguém vai dar bronca em você se não quiser.

– É uma coisa que eu tenho que fazer, Rony. E não adianta eu ficar adiando muito.

Sirius abriu um sorriso:

– Esse é meu garoto. Eu posso ficar com você quando você for falar com ele.

– Não, Sirius, obrigado. Eu... acho que tudo ficará melhor se nós ficarmos sozinhos.

– Olhe, Harry, eu ficarei por perto, se ele começar a dificultar sua vida. Você sabe, daquele jeito dele.

– Obrigado.

Sirius arrumou para que eles se encontrassem na biblioteca, o mesmo lugar onde Harry se reunira antes com Lupin, Sirius e Dumbledore. Aquele parecia ser o cômodo da casa onde as revelações eram feitas.

– Seu querido padrinho disse que você tinha um assunto importante para falar comigo – disse Snape, olhando para Harry com ar superior – Eu mal imagino o que possa ser.

Harry olhou para ele, as borboletas no estômago todas alvoroçadas ao mesmo tempo. Ele entregou a carta e disse:

– Eu recebi isso há dois dias. Acho que vai preferir ler.

Com ar de quem estava ali a contragosto, Snape pegou a carta, dizendo:

– Duvido muito.

Mas as feições no rosto de Snape foram se modificando à medida que ele lia a carta. As borboletas no estômago de Harry dançavam tresloucadamente, e ele passou a torcer as mãos uma na outra.

Snape terminou de ler a carta, dobrou-a e entregou-a de volta, indagando cuidadosamente – mas sem aparência hostil:

– Isso é alguma brincadeira, Potter?

– Não é brincadeira coisa nenhuma – disse o rapaz, tentando se controlar – Estava guardada durante todos esses anos no banco Gringotts. Um duende veio entregar. Quase matou minha tia de susto.

– Mesmo? – Snape se ergueu e andou pela biblioteca – Alguma chance dessa carta ser forjada?

– Eu acho que não, senhor. Remo Lupin disse que a letra é de minha mãe.

Snape concedeu:

– A letra é mesmo muito parecida. Ainda que ela tenha sido mesmo escrita por sua mãe, nada assegura que as informações estejam corretas. São informações às quais eu nunca... tive acesso.

"*Ou seja, em língua de Snape, isso quer dizer que ele não sabia de nada*", pensou Harry. Em voz alta, ele disse apenas:

– Eu estive pensando: os trouxas têm um teste chamado exame de DNA que é certo em quase 100% dos –

– Trouxas? – Snape rosnou, com desprezo – Besteira. Nós, bruxos, temos um Feitiço de Paternidade que não deixa dúvidas. Normalmente não há necessidade de se aplicar esse teste, porque um elo como uma gravidez geralmente implica casamento. A sociedade bruxa é extremamente conservadora nesse aspecto. Há também as conseqüências da execução do feitiço.

– Ótimo! – Harry ficou aliviado – Podemos fazer esse teste de paternidade e –

– Não tão depressa, Potter – interrompeu Snape – Feitiços de Paternidade são realizado por curandeiros de St. Mungos com credenciais do Ministério da Magia. A realização de um feitiço desses é questão pública, por afetar a linhagem de famílias bruxas.

– Oh – fez Harry – E isso sai publicado em algum lugar ou coisa assim?

– No Profeta Diário.

– Não tem jeito de se fazer isso em segredo?

– Não. A exemplo do Veritaserum, o Feitiço da Paternidade também requer uma poção e uma autorização do Ministério da Magia para sua execução. Mas a princípio isso pode ser arranjado. Eu... possuo certos contatos no Ministério. Mas é importante você saber que uma vez executado o feitiço, a decisão é final. Você passa a ser reconhecido como filho para todos os propósitos práticos, mágicos e legais.

– Como assim?

Com um suspiro alto que pareceu muito próximo de estar falando "idiota", Snape explicou como se estivesse em sala de aula:

– Deixe-me explicar devagar, Potter, e quem sabe se você apreende da primeira vez: uma vez executado o feitiço, se o resultado for positivo, você deixa toda e qualquer ligação com seu pai Thiago Potter. Você passa a ser meu herdeiro para todos os propósitos legais. Serei seu guardião e certamente poderei apontar um novo padrinho para você. Além disso, você passa a desfrutar de um elo comigo de tal intensidade que qualquer mágica feita contra mim pode afetá-lo e vice-versa. Claro, não estou falando de uma mera azaração entre adolescentes, mas sim de uma maldição Inominável ou coisa desse calibre.

O menino quis saber:

– E isso acontece com todos os pais e filhos?

– Não, só com aqueles que fizeram o Feitiço da Paternidade. Por isso pense bem antes de sugerir que esse feitiço seja feito, Potter.

– Mas o senhor vai querer fazer o feitiço, não vai? Digo, para ter certeza.

– Potter – disse ele, mais uma vez dirigindo-se a ele como se estivesse explicando uma poção bem complicada –, as repercussões do que você acaba de me dizer vão muito além da mera necessidade de confirmação. Isso pode afetar o equilíbrio das forças da Luz e das Trevas na batalha final contra o Lord das Trevas. Espero que você tenha ao menos se dado conta disso.

– Claro que eu sei que Vold –

– Não diga o nome dele!

Harry se corrigiu:

– Eu sei que Você-Sabe-Quem vai adorar saber disso. Mas fora isso o que mais pode...?

Snape o interrompeu:

– Se você ainda não sabe, eu sugiro que pense nisso com afinco, Potter. Infelizmente, essa conversa deve se encerrar nesse momento. Eu tenho uma missão a cumprir e estou premido pelo tempo.

– Sim, senhor.

– Vou pensar numa solução para o Feitiço da Paternidade – anunciou – Aguarde notícias minhas. Acredito que você vai permanecer com seu padrinho, estou certo?

– Sim, senhor.

– Ótimo. Procure manter-se seguro.

Snape virou-se, as capas esvoaçando, e deixou a biblioteca. Sirius estava perto da porta e os dois se olharam por alguns segundos. Mas havia alguma coisa diferente. Eles sempre se odiaram, mas naquela hora, havia algo acima do ódio. Sirius estava com medo – medo de perder Harry. Snape não disse coisa alguma e saiu pela porta afora.


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