A carta escrita por magalud


Capítulo 2
A Ordem da Fênix




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O dia mal tinha amanhecido quando ele ouviu um farfalhar de asas na janela. Virou-se, e viu não Edwiges, mas sim Fawkes, todo glorioso e magnífico em suas penas douradas e vermelhas, pousado no parapeito da janela. Bem se via que ele tinha renascido há poucas semanas.

– Fawkes! Vamos, entre! Quer um pouco d'água?

A fênix voou para junto de Harry e ele viu um bilhetinho preso na perna. Mas quando ele foi pegar, a porta se abriu e tia Petúnia disse:

– Pode acordar, ande – ela se deteve ao ver a fênix – Que bicho é esse? Onde está a coruja?

Harry disse:

– Ele só está de passagem.

– Não quero você conversando com seus amigos anormais! – disse ela, com os lábios repuxados – Nós estamos de saída e só devemos voltar de noite. Procure se comportar e não sair do seu quarto.

– Então devo ir ao banheiro agora?

– Insolente! Eu não quero você andando por toda a casa, fazendo bagunça. Eu sei que vou pedir muito de você, mas comporte-se!

E saiu, batendo a porta. Harry não sabia para onde os Dursley estavam indo, mas ouviu com alívio quando eles tomaram seu café, empacotaram o carro e saíram da vista dele. Ele finalmente teve uma chance de abrir o bilhete trazido por Fawkes, que ainda estava no seu quarto.

Era ainda mais curto do o que Haryr tinha enviado.

"Prepare-se. Estamos a caminho", era só o que dizia, na letra característica de Alvo Dumbledore, reconheceu Harry. O conteúdo do bilhete o fez arrumar seu malão e esperar pelo que chegou em apenas alguns minutos: um destacamento da Ordem da Fênix para levá-lo a Largo Grimmauld. Dessa vez eram apenas três bruxos: Tonks, Remo Lupin e Olho-Tonto Moody.

Este último, aliás, não estava nada satisfeito com a missão:

– É muito arriscado, digo eu. Mover o garoto só por causa de um boato. Ou talvez tudo seja imaginação do menino.

Harry se irritou:

– Não é um boato! Eu não estou imaginando nada disso!

– Bom, mas nós vamos saber tudo sobre ele mais tarde, eu suponho. Vamos, garoto, fique quieto para que eu possa aplicar o Feitiço Desilusório.

E lá se foram todos voando, como da primeira vez que Harry foi até o Largo Grimmauld, só que dessa vez em plena luz do dia. Foi difícil se esconder dos trouxas com o sol a pino, mas os quatro finalmente chegaram a seu destino. Harry entrou na casa pé ante pé, mas Tonks informou, sabendo por que ele fazia isso:

– Não precisa se preocupar com a Sra. Black. Moody conseguiu desfazer o feitiço que prendia o quadro dela na parede.

Harry olhou para a parede e viu uma mancha amarelada no lugar onde o grande quadro estava pendurado. Ele não sentia nenhum remorso: a Sra. Black gostava de lançar os piores insultos a todos que entravam na sua casa para tramar contra Voldemort, a quem toda sua família dava apoio – exceto Sirius e Andrômeda, é claro.

Lupin levou as bagagens de Harry para cima, quando Tonks explicava, levando-o para a biblioteca:

– Dumbledore ficou de providenciar a vinda dos Weasley se possível. Por enquanto você e Sirius estão sozinhos na casa.

– Harry! – Sirius abriu os braços e um sorriso ao ver o afilhado entrando na biblioteca – Que bom que você veio!

Os dois se abraçaram, e Harry sentiu-se genuinamente feliz em ver Sirius. Ele parecia um pouco mais gordo, os cabelos mais curtos. Estava na cara que ele passara um bom ano desde a Batalha do Departamento dos Mistérios. Harry não tinha engordado coisa alguma, nem crescido. Ele ainda tinha uma carinha de adolescente, apesar de todos os apertos que tinha passado em sua jovem vida.

– É bom ver você também, Sirius.

– Dumbledore está terminando uma reunião da Ordem da Fênix ali e logo vai se juntar a nós para discutirmos essas suas notícias. Por que não escreveu para mim?

Harry sentiu suas faces se avermelhando:

– Eu achei que... não quisesse mais falar comigo.

Sirius parecia preocupado:

– Harry, que bobagem. Se você tem um problema, você pode falar comigo. Você sabe disso, não sabe?

– É, mas... eu sei lá.

– Eu sei, você estava confuso.

Uma voz diferente disse da porta:

– E não era para menos. Qualquer um ficaria confuso diante dessas notícias.

Os dois se viraram e viram o Prof. Dumbledore parado na entrada, enquanto atrás dele algumas pessoas iam em direção à porta, muitas delas pessoas que Harry jamais parecia ter visto. Todos eram bruxos, ele sabia, mas alguns estavam vestidos em roupas de trouxa, talvez para não chamar a atenção.

– Prof. Dumbledore – cumprimentou Harry – O senhor respondeu mesmo rapidamente.

– Não posso negar que você chamou minha atenção com aquele bilhete, Harry. Vamos, sente-se. É ainda bem cedo, quem sabe você gostaria de tomar uma xícara de chá?

– Eu aceito, obrigada.

Tonks, que estava atrás deles, ofereceu-se:

– Eu faço!

E saiu. Sirius fechou a porta e os três sentaram-se nas poltronas antigas de couro que cercavam a biblioteca. Dumbledore disse:

– Agora diga, Harry: como você tropeçou naquela informação extraordinária?

– Minha mãe me deixou uma carta que eu só deveria ler no meu 17º aniversário. Ela contou tudo que aconteceu. Por que ninguém nunca me disse nada? Por que me mentiram nesses anos todos?

Tudo que Dumbledore disse foi:

– Você tem essa carta com você? Será que eu poderia vê-la, por favor?

Harry a tirou de dentro do bolso e entregou-a a Dumbledore. Sirius foi vê-la também, e os dois pareciam admirados.

– É a letra de Lílian, sim – confirmou ele – A carta é autêntica.

– Extraordinário – repetiu Dumbledore, admirado – Vocês conseguiram esconder muitas coisas de mim.

Sirius disse:

– Dessa vez eu não tenho nada a ver com isso. Thiago e Lílian esconderam isso de todos nós.

Sentindo-se negligenciado, Harry quis saber:

– Então vocês não sabiam? Mas como não sabiam de uma coisa dessas?

– Eles simplesmente não contaram para ninguém, Harry – disse Sirius – Provavelmente para proteger você.

– Para me proteger?

Dumbledore explicou:

– Se Voldemort soubesse que o menino da profecia era filho de um de seus Comensais, ele teria pedido sua cabeça numa bandeja de prata. Seu verdadeiro pai teria sido obrigado a arrancar você de Lílian e entregado a Voldemort para ser sacrificado.

Harry indagou:

– Ele faria isso?

– Sim – disse Dumbledore pesadamente – Há algumas coisas sobre Severo que você não sabe. Uma delas é que ele já estava pensando em deixar Voldemort quando os Potter foram mortos. Foi ele que deu o alarme de que Voldemort estava atrás deles. Ele sempre protegeu você, Harry, mesmo quando você ainda era um bebê.

Aquilo não arrefeceu a raiva de Harry, que se sentia traído até o último fio de cabelo:

– Ele nunca gostou de mim! Isso não é verdade, nada disso! Mamãe estava errada! Meu pai é Thiago Potter!

A porta se abriu e Lupin entrou:

– Queria falar comigo, Dumbledore?

– Sim, Remo. Acho que você pode esclarecer muito as coisas, já que aparentemente todos gostavam de me deixar de fora sobre o que estava acontecendo. Eu gostaria que você contasse a Harry a respeito de Lílian.

O ex-professor de DCAT franziu o cenho:

– Mas eu já falei a ele bastante no quinto ano.

– As coisas mudaram, Remo. Harry quer saber sobre Lílian e Severo.

– Oh – fez Lupin – Oh, bem. Claro que ele um dia ia saber. Mas isso não tem nada a ver, Harry, não houve nenhuma conseqüência desse namoro.

Sirius fez um ruído de gozação e disse:

– Remo, tem uma conseqüência de 17 anos na sua frente que está muito ansioso por informações.

– Do que está falando? O que é que você – interrompeu-se – Oh! Não! Não pode ser verdade!

Dumbledore disse:

– Lílian deixou uma carta explicando tudo.

Lupin ainda estava boquiaberto:

– Mas... e Thiago? Ele era doido por Harry. No primeiro Natal, ele comprou uma vassourinha de brinquedo para você, Harry, e vocês dois ficavam fazendo a vassourinha voar pela casa inteira. Lílian tentava ficar brava com a bagunça que vocês aprontavam, mas quando ela via a carinha que você fazia ao ver a vassourinha voando... – Ele saiu do momento do passado – Está querendo me dizer que Thiago não é... não é...

– Não é meu pai – completou Harry – Isso segundo minha mãe disse nessa carta que eu recebi ontem.

– E seu verdadeiro pai é... Severo? Isso seria... extraordinário.

Dumbledore insistiu:

– Mas não de todo impossível, quero crer?

Lupin ainda estava chocado, mas disse, olhando diretamente para Harry:

– Lílian me ajudou muito num momento de necessidade. Sua mãe tinha o dom de ver o melhor que as pessoas tinham dentro de si, mesmo que elas mesmas não conseguissem ver isso.

– Você já me disse isso – disse Harry.

– E você pensou que eu estivesse falando de mim mesmo, mas o mesmo se aplicou a Severo. Ela não hesitou em dar ao jovem Severo um ombro amigo e muito conforto diante de tudo que Thiago e Sirius o faziam passar. No começo, ele a xingava, mas algo nela o fez amolecer, e eles se tornaram amigos no sexto ano. Essa amizade só se aprofundou, mas Lílian só contou isso para mim. Thiago e Sirius jamais deixariam Severo em paz se soubessem. Então eles namoraram às escondidas. Eu mesmo não posso lhe dizer muita coisa sobre esse tempo, Harry, porque Lílian só me contou fazendo-me prometer que eu jamais diria nada para Sirius ou Thiago, ou eles iriam implicar com Severo. Eu não sei como é hoje em dia, mas naquele tempo, havia muita rivalidade entre as casas, especialmente entre Grifinória e Sonserina – especialmente devido à ascensão de Voldemort.

– E foi isso que os separou – Voldemort?

Lupin assentiu, continuando:

– Lílian sofreu muito quando Severo se juntou a Voldemort. Eu soube que eles terminaram, mas logo Thiago começou a namorá-la. Ela engravidou e eles se casaram, mas eu nunca poderia supor que o filho não era de Thiago. Na verdade, eu me lembro de ter ficado feliz porque Lílian parecia ter esquecido Severo e seguido adiante com sua vida. Você me pareceu uma bênção, Harry, pois assim ela definitivamente deixaria Severo para trás. Sem contar que agora ela era mulher de um de meus melhores amigos, e isso tudo me pareceu um final perfeito.

Harry se virou para Sirius:

– Então você não sabia que eles namoraram?

– Eu só soube mais tarde, Harry – disse Sirius – E eu me lembro de ter ficado furioso com Snape. Quase fui tomar satisfações com ele, mas Thiago me fez desistir, dizendo que não valia a pena. Agora pensando bem, acho que Lílian estava grávida, e Thiago disse que não queria aborrecê-la com coisas que tinham ficado no passado. Mas eu não perdi a oportunidade de enchê-lo de desaforos quando ele me... procurou, muito tempo depois.

– Ele procurou você?

– Para avisar que Voldemort estava atrás de seus pais. Eu disse coisas horríveis para ele.

– Coisas horríveis?

– Eu disse para ele se afastar de Lílian, e que ela agora era mulher de Thiago e tinha um filho para se preocupar. Claro, eu disse outras coisas também – sabendo que ele era um Comensal. Ele também me disse coisas horríveis.

– Snape?

Sirius assentiu:

– Ele xingou sua mãe de... você sabe, de... sangue-ruim.

Harry já tinha visto Snape fazendo isso, quando ele viu a memória na penseira, no quinto ano. Mas outra coisa o preocupava naquele momento:

– Ele... não sabia.

Dumbledore disse:

– Está claro que não sabia, Harry, e eu tenho certeza de que ele não sabe até hoje. Como todos nós. Foi um segredo que Lílian e Thiago levaram com eles.

Harry abaixou a cabeça. Ele não sabia o que pensar. Dumbledore chegou perto dele e disse:

– Harry, você é livre para fazer o que quiser com essa informação. Você pode escolher ignorá-la, mas eu não acho que isso será justo com um homem que sequer sabe que é seu pai. De qualquer forma, essa informação não sairá dessa sala, você sabe. Mas você tem um pai, e acho que gostará de saber como é ter um, já que você nunca teve.

A raiva cresceu dentro de Harry ao sentir que Dumbledore mais uma vez o manipulava para algo que ele ainda não tinha certeza. Era isso que o bode velho fazia: manipulava as pessoas.

Num impulso, Harry gritou:

– Meu pai me odeia! Em que isso é melhor do que não ter um pai?!

Lupin disse:

– Harry, ele nem sabe que você é filho dele. Não o julgue sem –

A raiva de Harry só aumentou:

– Ele já me julgou! Desde o primeiro dia que colocou os olhos em mim! E ele me odeia!

– Você sabe que isso não é verdade – insistiu Lupin, chegando perto do rapaz – Você precisa dar a ele pelo menos uma chance de conhecer a verdade.

Harry calou-se e abaixou a cabeça, pois as lágrimas ameaçavam saltar de seus olhos. Lupin abaixou a voz e insistiu:

– Ele pode ter rejeitado o Harry que ele pensava ser filho de Thiago, mas ele não rejeitou o Harry filho de Snape. Compreendo que você esteja com medo de uma rejeição que lhe parece provável, mas isso não é muito justo, e eu nunca soube que você fosse uma pessoa injusta, Harry. Ser injusto simplesmente não é grifinório.

Uma mão se colocou no ombro de Harry e Sirius disse:

– Nós estamos do seu lado, Harry. Pode contar conosco.

Uma lágrima caiu de seus olhos e Harry rapidamente a secou. Ele indagou:

– Posso contar a Rony e Hermione?

– O segredo é seu, Harry, você pode contar a quem quiser – disse Dumbledore – Mas tenha em mente uma coisa: se isso parar nos ouvidos de Voldemort, o risco aumenta não só para você, mas também para Severo.

Harry percebeu a importância do que estava acontecendo ali e disse:

– Entendo. Mas eu gostaria de um tempo para pensar nisso.

– Claro. Não há pressa. Severo está numa missão para Ordem, e deve demorar algum tempo. Seria interessante que você usasse esse tempo para pensar.

Aquilo pareceu bastante razoável a Harry, que disse:

– Sim, senhor.

Sirius tentou animá-lo:

– Ei, que tal uma atividade divertida? Quer me ajudar a alimentar Bicuço? Tenho certeza de que ele vai ficar feliz em vê-lo.

Harry sorriu, feliz de estar com seu padrinho.

Sem saber, claro, por quanto tempo Sirius ainda seria seu padrinho.


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