A carta escrita por magalud


Capítulo 4
Uma noite com os Dursley




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Harry teve que contar tudo que acontecera a Rony, e aquele ficou uma espécie de assunto implícito entre os dois durante o dia inteiro. Mas no dia seguinte, Harry foi ver Bicuço, e reclamou:

– Estou entediado. Queria poder fazer alguma coisa diferente.

– Snape não voltou mais – lembrou Rony – Bom, mas faz pouco tempo. Foi só ontem.

– É. Sabe que eu estou pensando no que ele disse?

– Harry, você não fala de outra coisa.

– É, mas... Rony, e se ele for mesmo o meu pai?

– Se ele for – Rony deu de ombros –, eu tenho que te pedir desculpas por tê-lo chamado de babaca sebosão.

Harry também deu de ombros:

– Pior é que ele mereceu.

– Será que agora ele vai te tratar melhor?

– Bom, a gente conseguiu conversar na biblioteca. Eu tinha dúvidas se isso seria possível.

– Acho que ele estava em choque.

– É, pode ser – disse Harry – Mas eu preciso pensar numa outra coisa. Vou acabar ficando louco se continuar preso aqui dentro. Já sei: vamos sair! Vamos andar no mundo trouxa. Você quase não conhece.

– Está louco? Sirius não vai deixar.

– Não vamos saber disso se não pedirmos.

Mas ao contrário do que eles imaginaram, Sirius achou uma excelente ideia, mesmo fazendo mil recomendações: eles deveriam sair sem chamar a atenção da vizinhança, tomar muito cuidado com os trouxas e estar com as varinhas sempre à mão, lembrando que eles poderiam usar o Nôitibus Andante.

Harry levou Rony para o West End, em Londres, onde estavam os grandes shopping centers, e eles se divertiram muito, seja em locais para jogos eletrônicos, seja olhando as lojas de discos. Rony, com seu problema de dinheiro, não podia comprar nada, e Harry pagou um lanche no McDonald's para os dois. Os dois estavam se divertindo muito, sem sonhar que estavam sendo vigiados por três adolescentes de índole muito má: Duda Dursley e seus comparsas.

Harry e Rony foram dar uma olhada no segundo shopping center quando Harry ouviu um grito conhecido:

– Harry Potter!

Ele arregalou os olhos verdes para Rony:

– Rony, estou ouvindo coisas! Podia jurar que meu tio estava me chamando!

– Nesse caso, Harry, eu estou ouvindo coisas também – ele apontou para a esquerda – E aquele lá não é seu tio?

Harry se virou para ver os mais de 200 quilos de tio Válter se encaminhando rapidamente na sua direção, as gorduras balançando nervosamente, acompanhado pelo mastodonte do Duda e seus dois amigos.

– Harry Potter, o que você está fazendo aqui, seu moleque?

– Eu poderia fazer a mesma pergunta! O senhor devia estar trabalhando!

– Eu tive que sair do meu trabalho para vir apanhá-lo na rua, onde está vagabundeando, com certeza com um desses marginais com quem você anda!

Rony se indignou:

– Ei!

Mas o tio Válter não tinha terminado:

– Você fugiu da minha casa na calada da noite para ficar zanzando pela cidade, é isso? E o seu padrinho assassino? Afinal, onde ele é que ele se encontra?

– Ele está vindo me apanhar! – mentiu Harry – E vai trazer sua varinha assassina!

– Pois eu estou achando que isso tudo é invenção de sua cabeça! – disse tio Válter, apontando um dedo gordo para a cara do rapaz – Acho que você viu o nome daquele foragido na televisão e achou que seria divertido me enganar! Você não tem padrinho coisa nenhuma! Está mentindo para mim!

Rony tomou as dores:

– Você é quem está mentindo!

Harry disse:

– Rony, é melhor você deixar eu cuidar disso.

– Você não é um mentiroso, Harry!

Tio Válter disse, agarrando com força o braço de Harry:

– Pois você vai voltar para casa comigo agora mesmo!

– Ei! Me larga!

– Você não pode fazer isso com ele!

– Não se meta nisso, seu marginal de cabelo esquisito!

Foi quando uma voz diferente se meteu na conversa:

– O que está acontecendo aqui?

Era um guarda. Rony arregalou os olhos: ele nunca tinha visto um. Já tio Válter disse, sentindo-se superior:

– Boa tarde, seu guarda! Eu estou aqui tentando cuidar do meu sobrinho, sabe. O menino tem mania de roubar em lojas, e eu o proibi de sair, mas ele escapuliu de mim.

Harry ficou indignado:

– O quê?! Isso é uma mentira gorda!

O guarda disse:

– Respeito com o seu tio, garoto! E vê se obedece a ele.

Rony disse:

– Seu foplicial, poflicial, er… senhor, não vê que isso é uma mentira?

– Eu conheço garotos assim – disse o guarda – São comuns aqui no West End. Não se meta em assuntos de família. Pode levá-lo, senhor.

Tio Válter exibiu um sorriso triunfante:

– Obrigado, seu guarda!

Duda e seus dois comparsas estavam soltando lágrimas de tanto que riam. Harry sentiu que a coisa estava muito feia para o seu lado. Antes que tio Válter o impedisse, ele passou sua varinha para Rony e disse:

– Pegue o ônibus roxo e avise Sirius!

– Harry!

Mas era tarde demais. Com tio Válter de um lado e Duda do outro, Harry foi carregado para fora do shopping, e Rony rapidamente escapou para pegar o Nôitibus assim que pudesse, ainda espantado com o que acabara de acontecer.

Com alguma dificuldade e muitas sacudidas mais tarde, ele desceu do Nôitibus quando já era noite e entrou no Largo Grimmauld o mais rápido que pôde. Ele ouviu um diálogo ríspido vindo da sala onde a Ordem da Fênix costumava se reunir:

– Será que nada entra nessa sua cabeça densa, Black? O menino está em perigo!

– Que bobagem, Snape! Ele logo estará de volta. E ele não estava sozinho: estava com Rony. Os dois estavam entediados!

– Você é ainda mais irresponsável do que eu imaginava! Espere até Dumbledore saber disso!

Rony entrou gritando, espavorido:

– Sirius! Sirius! Depressa! É o Harry!

Os gritos atraíram Sirius, que não estava sozinho. Com ele, ambos saindo da biblioteca, estava Snape, com uma das maiores carrancas que Rony já tinha visto.

Ao ver Snape, Rony até perdeu o rebolado. O Mestre de Poções estreitou os olhos:

– Desembuche, Weasley! Onde está Potter?

– Aí é que está, Professor! Harry foi levado! – e Rony contou tudo que tinha acontecido no shopping center, até com o guarda.

Os olhos de Snape soltavam um brilho positivamente feroz ao dizer, sarcasticamente:

– Bravo, Black! Não apenas você conseguiu perder seu precioso afilhado, mas também terá que resgatá-lo da casa dos tios. Teria sido ainda mais interessante se ele tivesse sido levado por uma força-tarefa de Comensais!

Rony disse, apavorado:

– Eles vão trancar o Harry, eu sei que vão! A cara do tio dele era tão ruim quanto a – ele ia dizer "do Snape", mas conseguiu se controlar a tempo – da minha mãe quando Fred e Jorge aprontam para valer!

Sirius parecia aflito:

– Eu preciso fazer alguma coisa! Mas não posso ir! Eu não posso me arriscar a sair, Snape!

– Ah, claro – disse Snape, ainda mais sarcástico – Você poderia ser capturado e voltar para Azkaban, e isso seria uma perda irreparável. Não se preocupe, Black, eu não estava contando que você fosse fazer o resgate. Diga-me, Weasley: sabe onde moram os tios de seu amigo Potter?

Rony deu o endereço e Snape aparatou até o local. Teve sorte que era de noite, e ninguém viu um homem maduro aparecer na porta da garagem dos Dursley com um estalido alto de mágica. Snape arrumou suas capas e foi até a porta da frente. Uma mulher magra atendeu:

– Sim?

Numa voz baixa e ameaçadora, ele anunciou:

– Eu vim buscar Potter.

Tia Petúnia ficou branca e deu dois passos para trás:

– Você... você é um deles! Não! Válter! Aaaahhh!

Ela recuou, espavorida, andando de costas até chegar à escada. Snape entrou na casa e indagou, já de varinha em riste:

– Eu só vou perguntar uma vez: onde está Harry Potter?

Tio Valter apareceu no alto da escada e indagou:

– Quem é você?

Snape apontou a varinha para ele e disse:

– Não gosto de me repetir. Vim buscar Harry Potter.

– Seu... seu… anormal! – Petúnia já estava atrás do seu volumoso marido, e Duda estava tentando ver o que se passava – Saia da minha casa!

Snape ameaçou subir a escada:

– Não sem o que eu vim buscar. Diga-me... onde... está Potter.

Um raio saiu da varinha e estourou o quadro de Duda ao lado da família encurralada. Os três gritaram de susto e o foi o menino que apontou um dedo gordo, dizendo:

– Embaixo da escada. Ele está no armário embaixo da escada.

– Duda!

– Mostre-me.

Trêmulo, o garoto volumoso como o pai desceu a escada, sempre sob a mira de uma varinha, e mostrou onde ficava a porta.

– Está trancado. Meu pai tem a chave.

– Isso não será necessário – garantiu Snape – Alohomorra!

Por um minuto, Snape não teve certeza do que estava vendo, além de um ambiente escuro, empoeirado e insalubre. Firmando os olhos, ele viu nesse ambiente um garoto de 17 anos, aparentemente desacordado, enrodilhado para caber numa cama em que mal caberia um menino de 10 anos. Harry. Ele respirava com dificuldade, seu braço estava num ângulo todo errado e sua perna parecia solta.

– Potter – chamou Snape – Potter!

Sem resposta.

Uma raiva negra e devastadora foi subindo pelas estranhas do Mestre de Poções. Na sua voz mais devastadora, ele perguntou aos Dursley:

– O que há com ele?

Tio Válter ficou vermelho e estufou o peito, dizendo:

– Nada!

Snape apontou a varinha com determinação contra ele, insistindo:

– O que vocês fizeram com ele?

– Ele só caiu da escada – disse tio Válter – É um idiota desajeitado!

A raiva subiu mais ainda e Snape se dedicou a retirar o rapaz de dentro do armário com cuidado, sem acordá-lo. Harry pareceu sentir um mínimo de dor. Snape conjurou uma maca e pousou Harry suavemente nela. Os Dursley se apavoraram ao ver mágica em ação, e Snape sentiu que isso podia ser uma vantagem. Ele apontou a varinha diretamente contra o garoto balofo:

– Você! Venha aqui.

Tia Petúnia gritou:

– Deixe meu Dudinha em paz!

A varinha de Snape mudou de alvo e um raio atingiu Tia Petúnia. Imediatamente os dois outros olharam para ela e viram quando ela simplesmente parou de se mexer, apenas os olhos continuavam indo de um lado para o outro, rapidamente. Havia pavor nos olhos dela.

– Petúnia!

– Mamãe...!

Snape se virou para Duda e ameaçou, numa voz baixa:

– Prefere receber o mesmo tratamento ou vai me contar o que realmente aconteceu?

Apavorado, chorando, o menino respondeu:

– H-Harry estava no q-quarto, de c-castigo. Mas aí a coruja dele chegou fazendo barulho, e papai se irritou muito. Tirou Harry do quarto e disse que ia trancá-lo no armário. Harry protestou e papai deu um chute nele, e ele rolou pela escada abaixo. Ele chegou lá no chão embaixo e chegou a se levantar, mas ele estava tonto e meio verde. Aí ele vomitou um pouco no chão, e... e... bom, papai ficou muito bravo por causa da sujeira.

Snape quis confirmar:

– Ah, ele ficou bravo?

Os dois Dursley estremeceram de pavor. Petúnia, se pudesse, teria feito o mesmo, mas piscou apavorada.

Duda terminou rapidamente:

– Depois papai trancou Harry no armário.

Snape ressaltou:

– Potter aparentemente tem uma perna quebrada e um braço com uma severa luxação. Ele não poderia ter andando até dentro do armário – Duda tremeu ainda mais – Então, pergunto, como ele chegou até o armário? Diga!

– Papai –

– Duda!

– ... chutou ele para dentro. Com força.

Num acesso de raiva, Snape apontou a varinha para o garoto e ele começou a se erguer no ar. Com os braços abertos, apavorado, ele começou a gritar e a tentar se agarrar em qualquer coisa perto, mas foi flutuando lentamente até o teto, onde ficou parado, chorando.

Snape disse, sarcástico:

– Reze para que nenhuma corrente de ar o leve para fora. Não sei aonde iria parar.

Duda teve suas memórias modificadas, então ele não podia se lembrar do que tinha acontecido há três anos com sua tia Guida, ou saberia que ele estava bem parecido com ela – exceto que ele não estava inflado. Harry tinha provocado o acidente com tia Guida no terceiro ano, quando ela tinha insultado os pais de Harry. Tia Guida ela tinha saído voando pela janela e só tinha sido encontrada ao sul de Sheffield, segundo Harry soubera mais tarde.

Quando Duda pareceu se estabilizar no teto da sala, Snape apontou sua varinha para tio Válter e os olhos pretos do Mestre de Poções brilharam sinistramente:

– E agora? Que devo fazer a você para ensiná-lo a nunca mais bater numa criança sob seus cuidados?

Agora o tio Válter não estava mais vermelho e furioso. Ele estava branco, suando, tremendo e choramingando:

– Por favor, senhor... Não me mate...

– Isso seria bom demais para você – rosnou Snape – Mas talvez se seus padrões morais fossem elevados, você poderia refletir com outros olhos sobre o que acaba de fazer com seu sobrinho.

Um toque de varinha, um feitiço, e lá se foi o tio Válter para o teto. Só que ele tinha uma diferença em relação a Duda: seu centro de gravidade tinha sido trocado. Com isso, ele estava de pé no teto – mas de cabeça para baixo, incapaz de se desvirar.

– AHH! – fez tio Válter – Tire-me daqui! Ponha-me no chão!

Silencio! – enunciou Snape, e nenhum outro som saiu de tio Válter, embora ele abrisse a boca e tentasse gritar – Agora sim, sem barulho, você poderá meditar sobre aquilo que conversamos.

Tia Petúnia também não podia emitir qualquer som, mas os olhos estavam voltados para cima, acompanhando o marido e filho perambulando pelo teto. Só se ouviam os choramingos de Duda.

– Fiquem todos gratos – garantiu Snape – que eu não os transformei em sapos ou algo assim. Não que não merecessem, mas não sei se Potter aprovaria essa atitude. Mas é só ele me pedir que eu volto aqui e termino o serviço. Agora, se me derem licença, foi uma noite adorável, mas tenho mais o que fazer. Boa-noite.

E sem nem olhar para trás, desparatou, levando consigo a maca de Harry, o jovem ainda desacordado.


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