Death Memories: Operação Marshall escrita por Nael


Capítulo 18
O Primeiro Mestre


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO!!!

É, olha só quem conseguiu postar(programar) um capítulo de presente pra vocês? O/
Bom, que 2016 traga muitas coisas boas, sáude, paz, amigos, notas boas, dinheiro, cenas de banheiro(vulgo fanservice), que eu consiga manter minhas fics, desempacar a que está em hiatus e que a criatividade não me abandone. Amém! kkkkkk
E claro, tudo em dobro para vocês, seus lindos. ♥ ♥



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"Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós."
(Franz Kafka)

 

P.O.V Matt

A aparição de Alice nos deixou agitados e após Mello me contar o que eles haviam conversado eu comecei seriamente a ficar ansioso e preocupado. Nem poderia imaginar o estado emocional do loiro que se jogou na cama e ficou encarando o teto sem querer me dirigir a palavra.

Devia estar no terceiro ou quarto maço de cigarro quando a fumaça começou a ficar muito pesada dentro do banheiro e invadir o quarto. Guardei a caixa de cigarros a contra gosto e comecei a dispersar a fumaça, a última coisa que precisávamos era de um Near desmaiado tendo um ataque.

Abri a porta da sacada e joguei um odorizador spray pelo quarto. Mello continuava com a mesma expressão e eu comecei a me sentir invisível. Com exceção de Near estávamos sem nossos disfarces habituais e ao se sentar na cama para finalmente tirar os sapatos notei como os cabelos de Mello pareciam sem vida e seus olhos sempre tão expressivos e amedrontadores vazios.

Eu sempre dizia que se eu pudesse escolher um super poder certamente seria teletransporte, mas naquele momento eu nunca desejei tanto poder ler pensamentos. Mello puxou as cobertas e se enfiou debaixo delas ficando de costas para minha cama. Sem ter mais o que fazer eu escovei os dentes e me joguei no colchão também. É... eu não devia ter gastado os últimos remédios do Mello para dopar o Near. Agora nenhum de nós ia conseguir dormir.

♘♞♘♞

Mal dormi e acordei com um barulho estranho. O sono era forte, a cabeça estava pesada e uma fresta de luz me fez cerrar os olhos. Não demorou até eu concluir que alguém estava vomitando no banheiro. Me ergui sobressaltado e conferi a minha direita, Mello ainda estava deitado. Logo me lembrei de Near e vi sua cama vazia. O sono se dispersou parcialmente e eu saltei da cama.

— Near? – chamei batendo na porta que se abriu um pouco.

— Sai daqui. – sua voz falou num tom rouco e eu abri a porta.

O garoto estava sentado no chão em frente ao vaso sanitário. As roupas sempre brancas estavam manchadas, a peruca jogada em um canto e os cabelos desgrenhados, a pele parecia ainda mais pálida. Vendo-o ali daquele jeito naquela situação apesar de tudo eu só conseguia me sentir mal e culpado.

— Espera ai, deixa eu te ajudar.

— Se afaste de mim. – ele ergueu a mão me barrando, mas logo começou a tossir e vomitar de novo. Me ajoelhei ao seu lado, quando terminou ele limpou a boca com a manga da camisa e me fitou serio. – Você... Você não deveria fumar aqui.

— Eu... Olha, me desculpa, eu não pensei...

— Você não pensa em nada, você simplesmente segue suas ordens como bom soldadinho que é Matt. – ele cerrou os olhos, irritado para mim. – O que foi que me deu?

— Foi um calmante, não pensei que tal quantidade...

— Não. Eu quero saber o nome, o composto químico, qualquer coisa.

— Clonazepam. Você... Você é alérgico? – me preocupei, ele começava a tremer e ainda sim estava suando. – Droga, vou te levar pra enfermaria. – fiz menção de tocar em seu ombro, mas ele escorregou para trás se afastando de mim.

— Não... Não me toque.

— Droga, eu sinto muito. Deixa eu te ajudar, caramba. Você está mal.

— Não é nada. Acontece sempre, apenas... – ele respirava com dificuldade. – Só me deixe aqui.

— Até parece. – me irritei e o segurei pelos ombros e o arrastei para fora do banheiro até a sacada, lá o sentei numa cadeira. Peguei um dos vasos decorativos que havia ali fora e lhe entreguei. – Aguenta aí.

Voltei ao banheiro, molhei a toalha de rosto e torci na pia. Corri até Near novamente e desabotoei um pouco sua camisa colocando a toalha na sua nuca. Sua respiração piorava cada vez mais.

— O que eu faço?

— A cadeira... – ele gesticulou dizendo que eu teria que virá-la e assim que ele se levantou eu fiz isso. Near se colocou de joelhos e ficou ligeiramente inclinado para frente com os cotovelos repousados nas costas da cadeira.

Pouco a pouco sua respiração foi tomando um ritmo normal e seu rosto pareceu ganhar alguma cor.

— Tudo bem? – eu devia estar encarando ele com a maior cara de susto, pois parecia que ele estava começando a se diverti com meu desespero. Sem nenhuma resposta continuei. – Você não trouxe nenhuma bombinha?

— Eu... – ele começou a falar no seu tom normal, mas fazendo pausas cansadas. – Nunca preciso usar. Tenho poucas crises e as controlo bem já que o segredo é a calma.

— Entendo...

— Mas com o efeito do remédio e o vomito... Me descontrolei um pouco. Já vai normalizar.

Dentro do quarto Mello se remexeu na cama, a certo custo se colocou de pé e a distancia nos encarou. O silêncio parecia um grito agudo e só foi quebrado por uma batida na porta.

— Sim? – Mello gritou.

— Estão atrasados. – ouvimos a voz de Paul. – O jogo começa em menos de uma hora, desçam logo.

— Tá, estamos indo. – ele voltou a gritar e depois se virou para Near. – Vai conseguir jogar? – Near se limitou a um aceno positivo de cabeça. – Ótimo, agora saiam daí. Estão muito expostos, se alguém os vir estamos ferrados.

O clima tenso continuou durante todo o tempo que levamos para nos arrumarmos. Nem mesmo a mim Mello dirigia um olhar prolongado, entre monossílabos e o barulho do relógio de cabeceira colocamos nossos disfarces e uniformes. Descemos e tomamos café na maior presa, depois voamos para o grande salão onde aconteceriam os jogos.

Apesar da presa e adrenalina correndo nas nossas veias era visível que Mello e eu estávamos mal, na verdade num estado deplorável. Bocejando a cada dois minutos, com os olhos cansados, ardendo e eu me perguntava se a dor de cabeça do Mello estaria o incomodando tanto quanto a minha.

— Vocês dois estão péssimos. – Karen comentou. – O que houve? – nós três nos entreolhamos, Near não tocara no assunto mais e agora não sabíamos se ele estava apenas esperando a oportunidade segura de contar para algum dos professores o que fizemos.

— Nada. – respondi. – Não estamos nos adaptando bem ao fuso horário.

— Tá, tentem ficar acordados durante a partida pelo menos. – e assim ela se retirou.

— Eu me pergunto se são vocês que estão aptos para jogar. – Near não pode deixar de comentar sem nos dirigir o olhar. – Duas vitorias em duas partidas, será possível?

— Não... – Mello rosnou. – Me subestime Charles! – passou por nós como um foguete para ocupar seu lugar na mesa ainda vazia, sem sinal dos oponentes.

— Você vai contar? – perguntei baixo.

— Depende.

— Do que? – ótimo, iríamos ser chantageados e manipulados por aquele albino? Pior ainda, Mello nunca aceitaria isso, seriamos desmascarados e levaríamos bronca direito do L.

— Depende do que estavam fazendo ontem a noite. – ele falou em um tom que não entendi ou captei bem a mensagem, devia ser a falta de dormir. – Se conseguirem me contar uma mentira convincente talvez eu não fale nada.

Ele fez menção de ir se sentar também, mas eu agarrei seu pulso e o puxei para um canto.

— Você se forçou a vomitar tudo por não saber do que se tratava e, além disso, logo a droga vai sair do seu sistema, você pode até falar alguma coisa, mas não terá prova nenhuma. Qualquer um pode ver como você é frágil e doente, uma camisa manchada de vomito não será nada incomum e certamente o Diretor tem mais o que fazer do que gastar recursos para mandar examiná-la. – falei no tom mais convincente e ameaçador que o cansaço me permitia, mas ele não se alterou ou falou nada então enfatizei. – Você. Não. Tem. Nada!

Ele se aproximou de mim e falou baixo.

— Eu tenho a Alice. – e dizendo isso ele saiu e ocupou seu lugar a mesa.

Claro, agora eu entendia a despreocupação e pouco caso do Mello. Por isso ele nem se dera ao trabalho ou humilhação de discutir o assunto com nenhum de nós e gritou tão irritado quando Paul apareceu na porta. A essa altura Alice certamente já teria contato tudo ao L. Mas... espere! Como Near que estava visivelmente dopado sabia da existência dela ali? E que ela havia estado no quarto? Será que ele ouviu tudo? Mello não falou abertamente quando me contou o que Alice disse, mas deixou transparecer claramente sua irritação e preocupação. Será que ele decifrara a relação entre ele e a Unterwelt?

Ao me sentar, dessa vez entre eles Mello me lançou um olhar que a muito tempo eu não via, um mistura de medo, ansiedade e raiva, um olhar que dizia: agora fudeu. Três garotas se sentaram à nossa frente, nunca vi expressões tão serias e rígidas em garotas, a cara fechada, o olhar feroz e os dentes que pareciam ranger ao falarem o meu idioma: russo.

P.O.V. Mello

A garota de cabelos escuros parecia pronta para me dar um soco a qualquer momento, ainda sim eu não me importei. Ao olhar para o tabuleiro então me importei muito menos. Na verdade eu queria jogar todas as peças no chão e sair correndo. Mas para onde? Do que? Era só uma garota russa jogando xadrez da forma brutal que só eles conseguem. Me fez lembrar daquela vez...

— Porra Mike. O que diabos você está fazendo?! – Seidler berrou e eu quase arranquei o comunicador do meu ouvido.

Estava com a respiração cortada, sentia o suor escorrendo pela minha testa mesmo na época eu não tendo o cabelo tão comprido. Mordia tão forte meus lábios que sentia o gosto de sangue. Pela tela do computador eu podia sentir o adversário rindo de mim, debochando e certamente pensando: melhor ele morrer do que eu.

Estava numa sala fechada, escura, pois toda luz vinha da tela do aperelho que era uma mistura de computador e pinball, sem ter para onde fugir. Só me restava sentar a mesa e jogar virtualmente aquela partida de xadrez, ou melhor, vencer aquela partida de xadrez. Do contrário Mellody estaria nas mãos daqueles desgraçados. Mas a situação não era nada boa. Eu não sabia muitas estratégias de xadrez, eu não sabia nada. Era meu segundo jogo e eu só consegui pensar em como tivera a terrível sorte de topar com Jade no labirinto e por um segundo desejei que aquela garota maníaca estivesse ali como minha aliada.

♘♞♘♞

— Isso foi ridículo. – o tapa que recebi de Seidler no meu rosto foi tão forte que me fez cair no chão e rapidamente eu examinava se ele não teria me arrancado nenhum dente enquanto sentia o gosto do meu sangue. – Como você pode perder um simples jogo de xadrez?!

— Eu... Eu... – se eu dissesse que era o idiota que eu era acabaria morto, mas se eu não fizesse nada quanto a essa situação também acabaria morto. Mesmo em uma sala grande, com portas e janelas eu também não tinha para onde fugir.

— Calado! Eu perdi a maior grana por sua culpa, moleque. Mas que porra! – ele se virou de costas completamente irritado, socando o ar e fazendo de tudo para não me matar ali na hora.

— Senhor, eu... Eu sinto muito. Eu... – eu não tinha desculpa e nem alternativa, só podia ficar ali me humilhando e torcendo para que ele não resolvesse descontar na Mellody.

— Merda! Pare de gaguejar Mike. Fale de uma vez o que diabos aconteceu antes que eu acabe quebrando seus ossos. – engoli em seco. – O que é? Você prefere jogos de campo?

— Não! – falei aterrorizado, eu sabia que as pessoas que pediam partidas virtuais tinham grandes chances de morrer como era meu caso, mas em jogos de campo... Ter o sangue delas tão diretamente em minhas mãos era algo que eu não queria lidar.

— Mesmo jogadores de campo tem que jogar outros tipos de jogos, não pode se ater a uma modalidade só. – ele parecia mais calmo depois de gritar tanto. - Se não fosse um bichinho tão bom de se comer... Mas eu acho que nenhum boquete compensa a minha falência.

— Senhor, por favor. – Aaron interviu. – Eu acredito que antes ele precise se adaptar ao estilo de jogo da Unterwelt.

— O que quer dizer?

— Bom, como médico devo ressaltar que o psicológico das crianças influenciam demais nos resultados dos jogos. Não há duvidas de que Mike tem potencial e QI suficiente para ganhar todos eles, mas lhe falta uma mente preparada. No labirinto ele agiu de acordo com o instinto humano e adrenalina, além disso, a simples presença de Jade lhe passou tamanha segurança que ele foi capaz de resolver a charada. – olhei para ele tentando não demonstrar nenhuma expressão, pois ambos sabíamos que eu não era nada inteligente. Mas comecei a pensar que ele podia ter razão.

— Continue.

— Me dê um mês para tratar o Mike, irei aplicar um dos métodos de Freud, fazer os exames e teste necessário, simular situações e com isso sua mente se acostumará com essas situações e expandirá todo seu potencial. – ele falava de maneira tão cientifica e didática que Seidler parou e refletiu um momento. Como bom mentiroso que era pude ver que ele estava enganando o chefe. Foi nesse momento que reparei como ele era genial.

— Quero relatórios a cada semana. – o homem com a sua máscara veneziana cobrindo o rosto e nariz cedeu. – Em um mês ele irá para um Fight, se não ganhar o deixarei com o agente do vencedor.

— Entendido, senhor. – Aaron fez uma leve reverencia e me puxou pelo braço.

— Espera! – falei pela primeira vez sem gaguejar. – E a minha irmã? – Seidler revirou os olhos, visivelmente irritado por eu tocar tanto nesse assunto.

— Vai continuar no apartamento com as babás e as regras são as mesmas. Arranje problemas, não dê resultados, morda meu pau ou tente fugir e ela morre.

— Vamos. – Aaron me puxou para fora do quarto e fomos direto para o corredor do andar de baixo.

— O que está fazendo? – perguntei.

— Te dando tempo. – ele se colocou diante de uma porta de madeira.

— Tempo? Pra que? – falei alto finalmente podendo expressar meu desespero. – Estou morto! – ele destrancou a porta com uma chave gasta.

— Tempo para se preparar. – ele abriu a porta e acendeu as lâmpadas. Entrei no lugar completamente surpreso, era a maior biblioteca que eu já tinha entrado na vida.

— Escute bem Mike, existem dois tipos de gênios. Aqueles que nascem pronto e aqueles que se criam. – ele foi passando por algumas prateleiras tirando alguns livros. – Eu acho que você é uma mistura das duas coisas. – ele colocou a pilha de livros sobre uma das mesas levantando poeira e eu me aproximei.

— Aonde quer chegar?

— Sabe inglês e francês, certo? – concordei com a cabeça. – Ótimo. E tem boa memória, não é? Então leia os livros, todos eles. E decore tudo, cada vírgula.

— O que? Isso é impossível, eu não consigo. Sabe que não sou um gênio e não posso me tornar um em um mês. – olhei para os cinco livros sobre a mesa, mesmo dois deles sendo relativamente pequenos era muita coisa.

— Um mês? – ele riu. – Você tem uma semana para lê-los, pode começar.

— Mas...

— Ah! Sim e caso seja do seu interesse examinei sua irmão há alguns dias.

— E? – ele ficou me olhando. – O que ela tem?

— Se ler os livros em uma semana eu te contarei. – e com sua expressão calma de sempre ele saiu me deixando na sala sozinho. Aaron Hayden, eu não sabia se o agradecia ou amaldiçoava, era impossível eu me igualar ao nível necessário para sobreviver aquele lugar em um mês por mais que eu quisesse e me esforçasse, por mais que Mellody dependesse disso.

Suspirei e peguei o primeiro livro, as letras na capa dura estavam meio borradas, mas pude ler o titulo em francês.

— L'art de laguerre.... A arte da guerra? Sun Tzu. – passei para os outros. – O príncipe de Maquiavel; Inteligência Emocional de Daniel Goleman; Minhas Melhores Paridas de Bobby Fischer e... – me detive um momento. – Metamorfose, Franz Kafka. – resolvi começar com ele por ser o mais fino. E por um longo e exaustivo ano os livros de Kafka e Aaron foram os únicos capazes de me entender.

♘♞♘♞

— Xeque Mate! – anunciei serio enquanto a garota russa continuava olhando para o tabuleiro sem acreditar no jogo a sua frente. Ela tinha peças a mais e mesmo assim estava encurralada. Eu que parecia tão desatento, tão desconcentrado e sem presença o jogo todo havia vencido, eu a enganara direitinho. Sua expressão era tão pavorosa e incrédula quanto das crianças com quem joguei apostando nossas vidas.

Atormentado por isso me levantei deixando Matt e Near terminando seus jogos pelo visto bem mais aliviado, Matt estava gastando mais tempo olhando pro meu tabuleiro do que para o seu, pois até ele acreditou que eu estava perdendo. Sorri tristemente indo me sentar no fundo da sala.

— A concentração é tudo. – Aaron falava daquele seu jeito de palestrante, como se discursasse para uma multidão embora só houvesse eu na biblioteca. – Não importa se você está cheio de problemas, se você está com medo ou nada do tipo, pois é justamente esse seu combustível. Pegue seu problema e o ponha tabuleiro, nas cartas, no jogo não importa qual seja, acrescente uma pitada do seu medo e então resolva! Todo quebra-cabeça quer ser resolvido, todo jogo finalizado, é assim que funciona.

Eu ia balançando a cabeça de um lado para o outro já que ele nunca parava de andar enquanto fazia suas reflexões. Os quadros brancos ao nosso redor completamente rabiscados de formulas, de desenhos, de letras. Estava no meu prazo final e estranhamente não poderia estar mais confiante. Eu nem conseguia acreditar em como aprendera tantas coisas em tão pouco tempo. Minha memória era melhor do que eu supunha e Aaron um professor magnífico.

— Você mente bem e é dinâmico, pode achar soluções rapidamente para diversas situações esse é seu trunfo, já que assim elas não precisam ser as mais brilhantes ou a prova de falhas, pois ela será inesperada, surpreende e ameaçadora.

— Aaron... – murmurei mais alto do que pretendia. Me sentei e observei o salão ainda cheio de alunos em suas partidas. Eu estava me deixando levar apenas pelo lado sombrio da Unterwelt, pelo lado que Seidler ocupava e meu medo me dominou, mas tudo bem. Isso trouxe o lado que Aaron ocupa e por conta disso eu sabia que poderia ganhar todas aquelas partidas.

Pois graças aquele mês com ele, e todos os outros que viriam a seguir, eu me convenci de que com muito esforço, a motivação certa você adquire a concentração e poder necessários para fazer qualquer coisa. E foi assim que eu consegui até mesmo destruir aquela instalação e matar Seidler junto com todos os seus capangas.

Novamente voltei a murmurar mais alto do que pretendia.

— Me desculpe Aaron.

P.O.V. Jade

O sangue escorria pelo meu rosto, minha visão já começava a ficar turva e minha pouca roupa estava completamente rasgada. O cabelo desgrenhado, alguns fios dos tufos que foram arrancados caiam pelos meus ombros, meus pulsos começavam a ficar vermelhos devido às algemas assim como meus tornozelos. Nada com que eu me importasse muito.

Presa àquela cadeira sangrando eu só lamentava ter que ficar ouvindo a maldita voz de Seidler.

— Eu disse claramente para não mata-lo Jade. Porra! E toda aquela sangueira e provas de que ele foi assassinato, você deixou o cara pelado, algemado e surrado na cama. Não dá nem pra fingir um assalto! Você por acaso ficou burra? Perdeu a noção do perigo? – ele se aproximou e segurou meu queixo. – Ou será que a vadia não sabe mais qual é seu lugar?

— Eu te dei toda a informação que queria, Dimitri só causaria problemas. Eu sou muito inteligente, por isso o eliminei. Nossa situação é critica. – falei baixo novamente e ele me deu um soco no estômago o que me fez cuspir mais sangue.

— Presta atenção, vou refrescar sua memória. Eu sou o chefe! Se eu mando você jogar, você joga. Se eu mando calar a boca, você cala. Se eu mando ficar de quatro, você fica. Se eu mando não matar uma pessoa, você não a mata! É assim que nosso mundo funciona!

— Eu sei...

— E?

— Eu perdi o controle, o cara é um porre. – ousei rir de canto perante o olhar furioso do homem. Sem máscara Seidler parecia tão normal que não me dava nem um pouco de calafrios.

— Você tem tanta sorte Jade, mas tanta sorte por eu só ter desvantagens te matando. Eu não te suporto garota.

— O sentimento é reciproco. Mas enquanto estivermos na lama nenhum de nós tem escolha senão nos aturarmos. Seidler nossos ganhos estão baixos, eu sustento tudo praticamente, seus outros jogadores são muito medianos e sem dinheiro ou patrocínio para comprar melhores, sua lábia não sozinha não adiana. Se Dimitri continuasse solto ele informaria sobre minha visita e sem uma segurança decente seriamos massacrados pelos outros times.

— E de quem é a culpa? Quem foi que torturou o cara? Quem foi que se aliou ao Mike? E principalmente, quem foi que ele deixou para morrer naquela instalação? – não sei se o espancamento começou a fazer efeito ou se eu estava mesmo ficando tonta devido aquelas memorias. – E claro que matando o maldito você não vai chamar atenção nenhuma. – ele ironizou e por fim suspirou cansado.

— Eu não deixei rastros. – falei. – Além disso... – pensei bem no que diria, pensei bem no que ele acabará de falar sobre Mike.

— Além disso, o que?

— Eu ouvi dizer que... Aquele detetive está investigando sobre os corpos encontrados nos Estados Unidos.

— O L? – ele coçou o queixo. – Então ele está caçando o assassino dos jogadores do Herstmore? – ele riu. – Isso é perfeito, perfeito demais. Se calcular bem posso voltar ao topo da pirâmide.

— Foi o que eu pensei. – ele me examinou e a contragosto abriu minhas algemas.

— Certo, vá se lavar, vista alguma roupa e me encontre no quarto. Vamos ouvir suas ideias brilhantes.

Me levantei meio tonta e sentindo as pernas fracas caminhei para a porta rumo ao corredor. Me desequilibrei um pouco e tive que me apoiar na parede mal rebocada para continuar. Seidler continuava na sala e eu não pude deixar de sorri perante sua ingenuidade, sua tolice e suas esperanças.

Ele fora condenado, condenado a se acomodar, a se negligenciar, a ser enganado, a continuar vivendo apenas para se rastejar no fundo do poço. Ele culpa Mike certamente e o dia em que ele se voltou contra a Unter, mas ele está engando, Seidler fora condenado a viver em algo parecido com o inferno no dia em que comprou aquele garoto e o jogou na mesma arena que eu.

Entrei no meu pequeno quarto e me joguei na cama satisfeita, com o sorriso que segurava há horas. Aquelas frases de Dimitri, Obata qualquer que seja o nome, me trouxeram tantas lembranças e uma euforia que eu não era mais capaz de sentir.

Mike... Você sobreviveu.— mas havia a questão dele estar num torneio de xadrez. – Mas será que você conseguiu fugir? Ou caiu em outras garras? Mas sem a Mellody não teria sentido... Ah, Mike, meu pequeno e detestável cordeirinho. De que jogo você está brincando agora?

Ouvi batidas na porta.

— O que é? – gritei sem disposição para ir abrir.

— Jade-san! Uma mensagem importante. – ouvi a voz feminina de uma das jogadoras japonesas.

— Entra, Kimi. – a menina tinha uns dez anos e cabelos castanhos compridos, era uma das nossas melhores junto a mim e outro garoto, mas certamente estava abaixo do nível necessário. Ela se aproximou da cama sem esboçar nenhuma reação perante meu estado, afinal já havia se tornado rotina.

— Você está bem? – ela perguntou. – Precisa de alguma coisa?

— Que fale logo o que quer aqui. – fui fria como sempre, não que ela merecesse claro, mas era meu modo de defesa, para que não se repetisse tudo de novo.

— Claro, uma mensagem do Giles acabou de chegar. – ela me entregou a carta ainda lacrada. – Como o Seidler-sama não está muito bem... Bom, achei melhor passar para você, afinal ele disse que você tem permissão para isso já que está ajudando nessa missão.

— Certo. – peguei a carta e a garota saiu. O conteúdo daquele papel, aquelas palavras... – Droga Giles... – murmurei me sentando rapidamente pra ter certeza de que estava lendo corretamente. – Desse jeito vou acabar te matando.


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Notas finais do capítulo

Tchan, tchan!!! Treta foi implantada com sucesso. Começar o ano com tudo.
Aaron que fez nosso querido chocolátra ser quem é... ou pelo menos deu o ponta pé inicial.

INFORME: Inori assim que decidir qual personagem deseja matar me mande uma MP, pois não há mais capítulos a frente. O que também significa que não vou prometer toda semana, mas me esforçarei para isso.

Bom, é isso. Espero que todos tenham tido um ótimo começo de ano e até breve.



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