Death Memories: Operação Marshall escrita por Nael


Capítulo 10
Primeiro Jogo - Colégio Hanze


Notas iniciais do capítulo

Agora os capítulos serão semanais. E a charada continua valendo.
Betado pela Moonlight. ^^



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“O Dia Internacional do Enxadrismo é comemorado todos os anos no dia 19 de novembro, data de nascimento de José Raúl Capablanca, considerado um dos maiores enxadristas de todos os tempos e o único hispano-americano a se sagrar campeão mundial.”

P.O.V Matt

Já estávamos começando a nos acostumar com o horário daquele país. Assim quando o despertador tocou eu fui o primeiro a levantar. Me sentia ótimo, super disposto. Dormi cedo para ficar assim no dia do primeiro jogo... Ou talvez fosse só o cigarro. De qualquer forma nos arrumamos rápido e descemos para o café.

Mello parecia cansado e desanimado, era estranho. Ele conseguia virar várias madrugadas acordado estudando e com certeza mesmo naquele estado poderia vencer no xadrez. Queria saber se ele estava tendo pesadelos, mas com Near por perto não podia perguntar.

Nossos professores aguardavam na mesa redonda. Mello revirou os olhos, ele realmente não gostava do Paul. Me sentei entre ele e Near porque a ultima coisa que precisávamos era de discórdia. Em apenas duas horas começaria a missão pra valer e desde que minhas abstinências foram suprimidas eu sentia que poderia até mesmo voar.

– Todos decoraram as regras? – Karen perguntou de um jeito bem natural, mas ainda sim... Será que eles sabiam quem éramos? Será que sabiam que estavam falando com alunos da Wammy’s?

– Sim.

– É claro.

Mello e Near se limitaram a isso e eu acenei com a cabeça.

– Muito bem. – Alfred continuou. – Escutem, serão três partidas de dez minutos demorem pelo menos cinco em cada por enquanto. Quando acabarem vão se dividir. Johnny quero que vá para a sala ao lado onde as pessoas assistirão os movimentos e jogarão outros jogos. Os observe atentamente, principalmente sobre as apostas. Charles ande pelas mesas no salão central e observe os adversários. Arthur você fica encarregado de observar os alunos do Herstmore. – assentimos. – Se suspeitarem de qualquer coisa nos procure. Eu ficarei na banca de avaliação junto com os outros representantes dos colégios, Karen no salão central e Paul estará com os organizadores.

– Então devemos contatá-lo apenas em ultimo caso. – Mello falou. Ele tinha uma expressão seria, mas eu sabia que ele estava debochando do cara. – Assim não levantamos suspeitas dos outros.

– Tem razão. – Alfred concordou sem perceber o deboche. – Então boa sorte a todos. – tive vontade de rir, mas me controlei.

Ao terminarmos de tomar o café da manhã nos dirigimos para o salão central. Os jogadores que seriam nossos oponentes já estavam sentados lá mesmo que a sala estivesse quase vazia. Paramos e os fitamos um momento. Todos tinham uma expressão tranquila, a garota com quem jogaria parecia até entediada. Nos dirigimos a mesa e nos sentamos. Ninguém disse nada, a garota que estava com os braços cruzados em cima da mesa e o queixo sobre eles apenas ergueu os olhos para mim.

– Bom dia a todos. – três homens se aproximaram. Pelos uniformes estava claro que eram os juízes. – Todos falam inglês?

– Sim. – Fomos dizendo um atrás do outro.

– Muito bem, faltam exatos vinte minutos. Vamos repassar algumas coisas para vocês. – disse o que estava ao meu lado. – Primeiro, o tempo limite é de dez minutos para cada um. O time vencedor será aquele com no mínimo duas vitórias. A súmula será feita pelos juízes, quaisquer anotações adicionais não serão consideradas e o tempo gasto para elas não será substituído no cronômetro. Os jogadores devem anunciar todas as jogadas extraordinárias ao adversário. A oferta de empate é proibida nesta etapa. Alguma pergunta?

– Não. – falamos quase ao mesmo tempo.

– Certo. – O segundo disse. – Os jogadores podem decidir com que peças cada um jogará.

A garota a minha frente levantou a cabeça, ela estava com as pretas.

– Se importa de manter assim? – ela indicou o tabuleiro.

– Tudo bem. – confirmei. Ao olhar para o lado vi que Mello jogava jo ken po e Near girava o tabuleiro com o outro garoto ficando com as peças claras.

– Muito bem. – foi a vez do terceiro juiz. – Primeiro tabuleiro, Smith Johnny e Hans Liessel. Segundo tabuleiro Hampton Arthur e Weizen Adolf. Terceiro tabuleiro Watson Charles e Botsari Lewis. – os três juízes olharam em seus relógios e então... – Acertem seus cronômetros. – batemos a mão no pino. – Comecem!

Eu estava com as peças claras então logo fiz o primeiro movimento, uma abertura espanhola clássica. Não estava acostumado a jogar com cronômetro então demorou um pouco mais até eu me tocar e bater no pino. Liessel foi rápida e seguiu a abertura. Me lembrei de que tinha que fazer o jogo durar pelo menos cinco minutos.

Mantive os lances e então por volta da minha quinta jogada eu vi que não seria simples. Ela não era mesmo uma qualquer. Rapidamente olhei para frente, a menina devia ser mais velha que eu, uns quinze anos e tinha aquele ar de superior na cara. Me olhava com um sorriso que dizia que tudo ia de acordo com o plano dela.

Comecei então a calcular minhas estratégias e movi a rainha. Liessel pareceu se surpreender, mas não alterou sua calma. Ataquei pela lateral do tabuleiro usando o bispo e ela não se importou de perder o cavalo. Avancei e ela partiu para a ofensiva ameaçando minha rainha. Bastou mudar a cor da casa para fugir do bispo. Enquanto tinha que bater no cronômetro eu olhava rapidamente para ela. Sua expressão tranquila era perturbadora e aliando isso ao fato dela perder peças sem se importar só podia significar...

Fechei meus olhos por um segundo...

– Está prestando atenção Mail? – Lisa estalou os dedos. Estávamos na sombra de uma arvore. Mello deitado na grama com cara de tedio e Lisa me ensinando algumas estratégias de xadrez.

– Sim, estou. – falei. Eu não estava, na verdade eu estava deprimido naquele dia por ser aniversario da minha mãe que tinha acabado de morrer. Então para me animar ela resolveu me ensinar “jogos de verdade”. Mello, ou melhor dizendo, Mihael fez pouco caso, mas estava lá assistindo sob o pretexto de que a sombra era publica.

– Percebe-se. – ela capturou minha rainha. – Xeque.

– Tsc! – ouvi Mihael resmungar. Nenhum deles sabia sobre minha mãe, nessa época não éramos tão próximos, pelo contrário. Tinha acabado de chegar naquele orfanato da Alemanha. Exatamente dois meses.

– O que é? – falei irritado. – Ninguém faz questão da sua presença aqui.

– Mail, foque-se. – Lisa me chamou atenção. – Você está caindo em todos os meus truques, até na armadilha mais simples. – movi tirando meu rei do xeque.

– Eu não quero mais jogar, não quero... pensar. – falei entre os dentes. Mihael começou a rir. – O que é agora, sua praga? – me levantei pronto pra brigar com ele, tudo que mais precisava era socar alguém.

– Pensar? – ele cobriu os olhos das rajadas de luz que entrava pela copa das arvores. – Você está muito longe disso.

– Como é?

– Não percebeu? Lisa estava calma o tempo todo, sorrindo às vezes e não era pra você. Era de você. – minha raiva cessou um pouco com essa observação.

– E o que tem isso?

– Mail... – Lisa começou. – Me desculpe. – ela riu de canto. – Eu manipulei você desde o começo.

– Nunca houve a menor chance de você ganhar este jogo, Jeevas. – Mihael continuou, se sentando e olhando pro tabuleiro. – A pessoa pode até blefar bem, mas quando se está calmo e tranquilo é diferente. Se você nota isso sabe que está caindo nas armadilhas mesmo que o adversário finja estar apavorado ou com medo. Além disso, ela sacrificou as peças tão deliberadamente, deixou você com aberturas para ataques porque ela mesma os planejou.

– Em outras palavras... Eu o li completamente Mail. Não foi justo. – Lisa parecia arrependida, mas eu nem estava me importando. – Você está com a mente longe ultimamente, alguma coisa deve ter acontecido. Queria que você se focasse no jogo pra esquecer, mas parece que eu o subestimei então quando começou a atacar... Me desculpe, mesmo sendo mais velha eu sou muito infantil e não queria perder de jeito nenhum.

– Tudo bem. Eu vou me lembrar da próxima vez. – disse para confortá-la fingindo escrever num bloco invisível. – Anotado! Quando alguém ficar calmo só pode significar que...

Abri os olhos....

Sua expressão tranquila era perturbadora e aliando isso ao fato dela perder peças sem se importar só podia significar... que ela estava lendo e manipulando cada um dos meus movimentos.

– Sua vez. – Liessel sussurrou e eu vi que meu cronometro estava girando. O juiz a repreendeu com o olhar. Eu desviei minha atenção para o lado, o jogo de Mello e Near estava bem mais adiantado.

Eu estava jogando errado, estava jogando contra uma garota da Alemanha, a parti de agora eu tinha que jogar com a campeã que ela era. Eu devia fingir que era uma criança da Wammy’s, fingir que era o Mello ou mesmo Near... Aliás, eu devia jogar comparando-a com a Lisa, pois Mello sempre foi o único a conseguir vencê-la de verdade.

Movi um peão qualquer. Enquanto ela fazia sua jogada eu montei minha estratégia. Depois tinha que colocar o plano em ação. Eu não sabia nada sobre Liessel Hans, mas ela teve o terrível azar de cair no tabuleiro comigo, pois mesmo que ela fosse um prodígio do xadrez eu nunca conheci ninguém que conseguisse calcular tão rápido quanto eu. Se eu não podia ler sua jogada, se eu não conseguia prever seu próximo ataque então eu preveria todas as jogadas possíveis a frente e bloquearia todos os ataques possíveis adiante.

A garota pareceu notar minha mudança de comportamento e sua expressão não ficou mais tão feliz. Com o tempo se esgotando nós dois precisávamos andar rápido. Eu calculei que ela levava em media três segundos pra pensar, mover a peça e bater no cronometro. Além disso, quando eu parecia estragar um de seus planos ela levava fazia um movimento menos estratégico futuramente, provavelmente para reorganizar tudo. Eu, porém via as jogadas à frente mais rápido e movendo mais rápido eu causava pressão nela. Se eu atacasse seu psicológico e lesse minimamente suas jogadas tinha chance de me recuperar do começo fraco que fiz no jogo. E podia até mesmo torcer que ela cometesse um erro com a pressão.

Seguimos assim e eu consegui pegar algumas peças dela mesmo com proteção. Estava avançando, os peões já tinham sido eliminados, o campo estava ficando exposto. E então nos meus cálculos eu vi as jogadas à frente, minha rainha estava condenada. E pela falta de bispo que eu tinha... As chances de perder estavam extremamente altas. Nesse momento quase que juntos Mello e Near se levantaram para esperar até o próximo jogo, vi que eles haviam ganhado. Respirei mais aliviado.

Liessel bateu forte no cronômetro chamando minha atenção de volta. Ela não parecia abalada com as derrotas. Havia outros jogos ainda, mas ela já estava com um pé dentro da desclassificação. Era minha vez e não importava como eu calculasse, as jogadas erradas no começo estavam me afetando, o fato dela ter me manipulado de início, mesmo que não pudesse calcular como eu lhe davam certa vantagem. Eu talvez vencesse se conseguisse uma façanha brilhante, mas para tal estratégia eu precisaria pensar bem, precisaria de tempo e eu não tinha isso.

– Eu desisto! – disse batendo o dedo no rei. Liessel ficou surpresa, mas uma surpresa de desaprovação. Ela então me lançou um olhar serio, diferente do que vinha me mostrando.

– Então por desistência a vencedora é Hans Liessel do Colégio Hanze. – o juiz falou.

– Você... – ela se levantou deixando a palma das mãos abertas na mesa, parecia até que ia me bater com o tabuleiro. – Você é ingênuo demais. – seu olhar superior e sinistro me fez ficar sem reação. – Vou adorar jogar com você novamente. – ela se virou e começou a andar fazendo o cabelo no rabo de cavalo balançar. Tão parecida com a Lisa e ao mesmo tempo tão diferente...

P.O.V. Mello

Ansioso, amedrontado, confiante, preocupado, temeroso... Eu não sabia ao certo que sentimento sentia naquele primeiro dia de jogo, mas após vencer, mesmo que a certo custo, a primeira partida eu estava mais aliviado. O cara era bom eu admito, deu trabalho, mas já conseguia respirar mais tranquilamente.

Near claro também venceu seu adversário. Enquanto jogava, ao ver que já ia ganhar mesmo eu comecei a observar de relance os tabuleiros de Matt e Near. Eu não sei o que diabos aconteceu com o ruivo, mas ele melou tudo. Então quando vimos ele desistir não foi nenhuma surpresa. Eu e Near estávamos mais afastados esperando para o próximo jogo numa das cadeiras laterais. Matt se aproximou e sentou na cadeira entre nos suspirando.

– O que houve? – Near perguntou antes que eu tivesse a chance.

– Como assim? – ele cruzou os braços.

– Você caiu como um patinho nas armadilhas da garota. – falei. – Eu vi seu jogo, foi horrível.

– Não. Traduzindo... – ele ergueu o indicador. – Foi horrível no começo. Eu podia me recuperar, mas o tempo era curto e vocês já tinham ganhado mesmo. – ele deitou a cabeça pra trás fazendo pouco caso. – Não fazia sentido continuar.

Resmunguei baixo.

– Os cinco minutos de intervalo estão acabando, vê se leva mais a serio a próxima rodada. – ouvimos o sinal sonoro e a mensagem nas línguas oficiais apareceram nos telões anunciando a segunda rodada.

– Tá, tá. Que saco, foi só uma derrota. – Matt se levantou e começou a ir logo para a próxima mesa onde as peças já tinham sido arrumadas sob os tabuleiros por outras crianças. Provavelmente que participavam dos clubes de xadrez de suas escolas e para assistir mais de perto deviam ajudar os organizadores.

Francamente... Pessoas mesquinhas que nem se dignavam a pagar por isso. O maldito dinheiro... e para isso sempre é mais fácil usar crianças. Não importa como, aqueles com dinheiro só...

– Vamos? – Near estava parado a minha frente, alguns metros me olhando. – O que... O que está acontecendo com você? – ele me perguntou assim que me levantei.

– Nada. – falei passando por ele. Minha raiva batendo no teto. Eu podia até ter me animado jogando contra Yukio, mas estar ali, vendo aqueles adultos idiotas... Eu só podia concluir que até mesmo em torneio oficial não era muito diferente dos clandestinos. E pelas previsões do L naquele ali também poderia acontecer muitas mortes.


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Notas finais do capítulo

DICA PARA O DESAFIO: A referência não é uma frase, não é um objeto e não é uma data. Continuem investigando. ;)

Termos do xadrez:
*Jogadas Extraordinárias: Além dos movimentos comuns e os clássicos xeque e xeque mate existem jogadas como peão en pasant e roque pequeno e roque grande. Não é necessário anunciá-las como os xeques, mas aí no torneio foi obrigatório.
*Oferta de empate deve ser aceita por ambas as partes, costuma acontecer quando só sobra reis no tabuleiro ou uma situação em que será praticamente impossível haver um vencedor. Já para desistir o jogador deve derrubar seu próprio rei.
*Súmula: é onde se anota as jogadas. Já devem ter visto nos tabuleiros números e letras nas laterais, é com base nisso que são feita. Uma folha é divida em duas colunas uma para peça claras e outra as escuras. E são transferidas as informações em forma de códigos para saber também quando uma peça é capturada ou está em xeque. Mas basicamente é colocado, por exemplo, Pd4 que significa peão na casa D4. É bem mais complexo e detalhado fazer isso, tem a questão da ala do Rei e da Rainha, mas não vem ao caso se aprofundar.

Curiosidades:
O nome da jogadora Liessel é baseado no de Liesel Meminger, a menina que roubava livros.
Lisa... Lissana... Hum... Não sei se terei tempo de deixar o fato mais claro, mas como precisam saber para entender em parte essa história e a também para esclarecer algumas coisas na dos Sucessores... Sim, elas são a mesma pessoa. :v

Bom, espero que não tenha ficado chato e que o flashback tenha aliviado o clima pra quem não sabe nada de xadrez. ;)

Até semana que vem.



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