Brasil, Nave ALPHA-FIVE - Norte-B5 - 13 de maio de 2021

Minhas mãos tremiam, junto com minhas pernas, meus dentes estalavam um no outro como se eu estivesse morrendo de frio, gotas de suor escorriam na minha testa gelada, meu medo estava completamente tomado depois que ouvi o "terrorista espacial" (nome que ele recebeu carinhosamente de Julia), falar seu nome. Ela não gostava de ser chamada de Julia, poucas pessoas sabiam seu verdadeiro nome, ela preferia ser chamada de Octávia, o mesmo nome da irmã de Júlio César, da qual ela era "fã".

Ela estava tremendo de mais, não conseguia pensar em mais nada, apenas pensava que iria morrer, e do que adiantava ter sobrevivido na Terra em pleno auge da guerra, para morrer em um lugar onde era para ser a cúpula da salvação?

— Quem é você... e como sabe meu nome? - eu falei pausadamente, com algum gaguejos e com muito medo da resposta - Você é do Brasil?

— Se passaram apenas 4 longos anos e você já esqueceu de minha pessoa? - ele me respondeu, tirado vagarosamente a mascara que escondia seu rosto, mostrando uma imensa cicatriz que ia do canto esquerdo do lábio, até a parte superior do olho direito - Crianças nunca deviam esquecer dos seus antigos professores, não acha?

Aquilo foi um baque imenso pra mim. Meu antigo professor de ginástica, se não me engano o nome dele é Rodolfo, em minha frente. Ele era uma formiga e agora está mais parecendo um urso pardo. Ele era magrinho, não tinha nada de barba, usava um cabelo bem ralo. Agora ele está forte, é bem capaz que os músculos dele têm músculos, usa uma barba que se junta com o cabelo, e ganhou uma cicatriz gigante. Fiquei boquiaberta e ele notou.

— Sim, sim, eu sei, a guerra muda um homem! Você deve estar pensando como eu virei esse monstro, não é mesmo? - ele pediu se aproximando da única coisa que nos afastava, a grade de proteção - Mas não vamos falar sobre mim, me conte sobre você, vamos conversar antes de eu ter que fazer meu trabalho. Quem é o pequeno? - ele terminou apontando para Maurício

— Eu não tenho nada nada pra falar com você! - eu respondi, parecia que fui convicta mas eu realmente estava me borrando de medo - Levanta Maurício, ele é um bosta, não vai fazer nada com a gente! - me superei com esse final, mas continuei convicta

Peguei no braço dele e o fiz levantar, olhei bem nos olhos dele e tentei dilatar o máximo da minha pupila, para tentar faze-lo entender que ele tinha que confiar em mim, ele balançou a cabeça concordando - Que bom deu certo - pensei.

Começamos a caminhar para a única porta aberta no momento, se conseguíssemos passar por ela, poderíamos tranca-la com um escaneamento das nossas retinas, fazendo Rodolfo ficar preso no compartimento Norte-B5, depois teríamos que falar com alguém da Arca para abrir a cúpula fazendo ele voar no vácuo do espaço. Parecia coisa de filme, mas era só o que eu conseguia pensar no momento. Começamos a caminhar mais rápido, e ele percebeu.

— Nem pensem nisso crianças! - ele apareceu na nossa frente, dando mortais, piruetas e outras coisas, parece que ele ainda lembrava das aulas de ginástica - Vocês são meus prisioneiros agora! Vamos sentem-se, acho que vai demorar até o seu exército chegar aqui, agora que a encarregada do mesmo está desmaiada no chão, não acha?

— Só acho que você vai tomar no cú depois que isso acabar! - eu respondi - Ou você acha que a Arca vai deixar seus dois maiores gênios morrer na mão de um bosta como você?

— Olha a língua garota! - ele disse, parecendo um velho falando - Vejo que não é só a educação na Terra que está escassa!

— Educação? Na Terra? - Maurício começou a perguntar freneticamente - Ainda à crianças em terra-firme?

— É por isso que eu disse que temos bastante tempo para conversarmos! - ele respondeu - Sentem-se!

Nos sentamos no chão e ele ficou na nossa frente, de costas para nossa única passagem, ele era a muralha que nos separava da salvação, ele era o Muro de Berlim que separava a Alemanha em dois, ele era uma pedra em nosso caminho. Ele era meu antigo professor de ginástica.

Antes dele começar a falar, ele se ajeitou, ele estava parecendo bastante com um selvagem, ele não tinha uma arma de fogo, e sim uma espada e uma espécie de faca feita de osso, parecia de mais com coisas de filmes, livros ou séries de TV Norte Americana, quando finalmente ele terminou de se ajeitar, começou a nos contar como foi a vida em Terra firme nos últimos 4 anos.

"Pois é, não foi fácil, logo depois que o povo do céu, como vocês são chamados lá, conseguiu se estabilizar na nave, a guerra começou, e o Brasil foi um dos primeiros a quase totalmente se destruir internamente, era brasileiro contra brasileiro, e o resto do mundo contra brasileiro. No segundo dia da guerra eu fui levado por um grupo turco, lá eles me treinaram, pois acreditarem que eu seria um ótimo Toruk, uma espécie de guerreiro ancestral deles, e funcionou, eu fiquei forte e aprendi a me defender, em forma de agradecimento por ter conseguido completar todos os desafios para me tornar um grande Toruk eles me deram um exército, com cerca de uns 3 mil guerreiros. Na minha primeira grande batalha que foi com os russos, que agora é conhecido como Nação Vermelha, eu ganhei essa cicatriz, e eu me honro muito dela, foi ao tentar salvar uma garotinha, só que os russos não tem pena, e também não perdoam ninguém, eles mataram ela na minha frente e depois rasgaram meu rosto, provando que a Nação Vermelha era capaz de tudo, até de marcar o grande Toruk da Nação Dourada."

— Espera um pouco.. - eu interrompi ele - Isso não está parecendo muito com filme? Sério? Acha que realmente nós iremos acreditar nisso? Nação Vermelha? Nação Dourada? Me perdoe né, Rodolfo!

— Criança já falei pra ti que a guerra muda um homem, mas ela muda o mundo também, muda a forma de agir, de pensar, de ser e estar, uma porcaria de guerra muda tudo! - ele me respondeu - O mundo mudou, não somos mais separados por países, e sim por Nações, por isso a população do Brasil está zerada, nos fomos comprados pelas Nações, e agora nosso antigo país é o Centro do Mundo, lá é feita as Grandes reuniões das Nações.

— Ok. - respondi - Então continue contando em como o mundo foi separado, e como as pessoas estão vivendo, não queremos saber da sua história ou de como ganhaste essa aberração na cara!

"Um pouco depois que o povo do céu, tentou fazer contato conosco na Terra, um novo conflito aconteceu, muitas partes do mundo queriam derrubar vocês de volta para o chão, mas a grande maioria era contra isso, por isso fomos divididos em Nações, pra ser mais exato em 5 Nações: a Nação Dourada, composta pelo povo turco, grande parte da Ásia e todos os que estavam vivos no Brasil, é considerada a mais pacífica das nações; a Nação Vermelha, composta pela Rússia e por todos os outros países que queriam derrubar vocês, é considerada a nação mais sanguinária de todas; a Nação de Bronze, composta por povos religiosos e pequenos países europeus, é considerada a menor e mais fraca nação; a Nação Preta, composta pela China, Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul e Índia, também tem povos que conseguiram auxilio de alguns desses países, é considerada a nação que mais comercializa armas; e por último a Nação Branca, considerada a mais desorganizada das nações, é composta por todos os outros povos que não se encaixaram nas outras nações, é uma nação de sobras; e ainda tem o Povo do Céu, que são vocês, que estão sendo considerados os mais corruptores do mundo!"

— Bom isso foi interessante, caro senhor Toruk da Nação Dourada, você podia receber morada aqui na nave, só por contar tudo isso para A Arca. - eu disse à ele - Talvez eles até fizessem uma aliança entre os dois!

— E o que a criança acha que estou fazendo aqui? Vim em busca de uma aliança! - ele me respondeu - Só pra lembrar que a Nação Dourada é o mocinho, nós somos os pacificadores, a cena do coração foi feita pensando que vocês que fossem os vilões, mas eu estava enganado, vocês não são nada do que pensei, são melhores!

— Pacificadores? Mocinhos? E o papo de tirar o meu lugar de mim? - perguntei eufórica - Se isso é ser o mocinho, sou o pior vilão do mundo então!

— Você e seu namoradinho, irão perder o lugar na nave sim, se A Arca fizeram a aliança com o povo da Nação Dourada, terei que levar a esperança para eles, e o que melhor para dar esperanças, se não adolescentes com os hormônios saltando para fora? - ele me perguntou

— Isso quer dizer que poderemos voltar a Terra firme? - eu pedi eufórica, com uma super alegria

— "Isso quer dizer que seu amigo terá que contar muito detalhe para nós, Octávia!" – disse pelos auto falantes o presidente da Arca, Leonard Matteis