Quando eu fui para a aula hoje, nem Chelsey nem Belle estavam. Era estranho, pois mesmo apenas termos passado uma semana juntos, nós três, parecia um ano inteiro.
–Jackson Winters. Jackson Winters. JACKSON WINTERS!
–O que? -Quando eu parei de olhar pela janela por um tempo e olhei para a frente, lá estava o Mr.Glenn, olhando diretamente para a minha cara. -Er, quis dizer, senhor?
–Preste mais atenção para a minha aula de agora em diante, ou terei que suspender você.
–Sim, senhor. -Eu disse, e quando ele voltou a dar a aula, eu dei um longo suspiro, antes de olhar pela janela mais uma vez. Mas dessa vez ninguém me notou.
(...)
No final da aula, eu fui olhar no meu celular para ligações perdidas, procurando alguma de Belle, mas apenas encontrei uma mensagem de minha mãe.
10:38 20 de julho
Jackson, hoje eu irei chegar mais cedo em casa. Você não precisa se preocupar em levar Anne em casa, pois eu passarei na sua escola para buscá-la. Vá se preocupar com sua vida social e saia com Belle ou algo assim. (Boa garota, ela)
Beijos, sua mãe.
Se ela soubesse que eu não tinha ninguém para ficar hoje, aposto que iria a algum SPA por aí em vez de buscar Anne, mas eu apenas resolvi aproveitar, então sai para o Black Coffe.
–Um cappuccino normal com biscoitos de chocolate, por favor. -A moça do caixa me deu a nota é eu me sentei em uma mesa ao lado da porta, esperando pelo pedido, quando eu vi uma pessoa familiar entrar pela porta.
–Belle! -Quando ela se virou, eu percebi que ela estava com o olho roxo. -O que aconteceu com o seu olho?
Nessa hora o meu pedido chegou, e ela se sentou na minha frente, pegou meu cappuccino e deu um gole. Claro que minha cara de fome não a impediu de pegar um dos biscoitos e monopolizar meu lanche. Depois de terminar, ela finalmente começou:
–Você sabe que meu pai tem problemas com a bebida, não é?
–Sim.
–Bem, ele me bateu. -Eu fiquei parado por um momento, esperando mais alguma coisa, como ela cair no choro ou reclamar, mas nada aconteceu.
–E você está aí sem fazer nada?!? -Eu comecei a perder a calma. -Porque não me avisou?
–Eu liguei, mas você não me atendeu. -Se eu tivesse percebido a tristeza de Belle nessa hora, eu poderia ter impedido "aquilo", mas não percebi.
–Você deveria estar fazendo algo mais importante, então resolvi não te incomodar.
–Nada era mais importante na hora do que te ajudar!
–Parece que a Chelsey era. -Essa frase foi tão verdadeira que eu não pude fazer nada, então eu só fiquei parado no lugar. -Parece que eu fui logo na ferida, hein? Eu sei que você estava tentando trazer ela de volta. E eu sei que você gosta dela. Eu estou bem, sério. -Nessa hora, Belle se levantou e continuou. -Eu te amo. -Eu fiquei olhando para ela, ainda processando a situação, quando ela saiu correndo. E eu também devia ter percebido que ela estava chorando.
(...)
Quando voltei para casa, estava me sentindo muito pra baixo. Minha mãe estava pedindo uma pizza para o jantar, já que ela nunca havia aprendido a cozinhar. Eu apenas fui ao meu quarto, esperando ficar sozinho, mas minhas esperanças foram embora quando Anne apareceu.
–Ei, Jas. -Disse Anne com um tom preocupado.
–O que é? -Eu estava comuna aparência horrível.
–Você está assim por causa da Chelsey, né?
Eu olhei surpreso para Anne, pois nunca havia falado da Chelsey para ela antes.
–Sim...Como você sabe?
–Eu descubro tudo sobre você, Jas! -De repente, ela ficou animada e pulou na minha cama. -Eu sei onde ela mora!
–Brincadeiras assim não tem graça, Anne...
–Mas não é uma brincadeira! -Ela tirou um pequeno papel do bolso do short. -Ela me deu. Disse que era para entregar a você.
Eu me levantei da cama com um pulo e levantei Anne no ar.
–Obrigado, obrigado, obrigado! -Coloquei ela no chão, arranquei o papel da mão dela e sai o mais rápido possível.
–Que bom que ele não perguntou o porquê... Facilitou o meu trabalho. -Disse Anne depois de eu sair.
(...)
Quando eu cheguei no endereço escrito no papel, tive que olhar mais algumas vezes se estava no lugar certo, pois o lugar em que eu cheguei me surpreendeu. Era uma casa enorme perto dos limites da cidade.
–Não imaginei que ela morava num lugar assim. -Pensei alto.
–Não imaginou que quem morava numa lugar assim?
Eu levei um susto realmente grande, e quando olhei para trás, lá estava ela. Chelsey.
–Chelsey? É mesmo você?
–Em carne, osso e a melhor personalidade de todas. -Eu queria muito abraçar e beijar ela, mas não podia.
–Isso quer dizer que..Você resolveu voltar? -O sorriso dela sumiu, na hora.
–...Não. Não agora, pelo menos. -Ela deu uma pausa, e depois continuou. -Mas isso não quer dizer que nós não somos mais amigos.
–E aquele bilhete na pintura?
–Que bilhete na pintura?
–O bilhete que você deixou para mim. Estava cheio de coisas como "Adeus" ou "Foi bom enquanto durou".
–Eu não deixei nenhum bilhete. Mas eu realmente mandei você ver a minha pintura, "Sentimento".
–Então... A gente ainda pode se ver?
–Se você quiser. -Chelsey voltou a sorrir. Eu queria ficar muito mais tempo com ela, mas lembrei que tinha alguém que eu precisava ver. Dei tchau para ela e fui embora.
Quando cheguei no prédio de Belle, havia uma ambulância e muitos carros de polícia na frente. Havia muitas pessoa lá, inclusive alguns conhecidos. Avistei meu pai na distância, também. Eu não queria falar com ele, então fui ver um policial e perguntar o que havia acontecido.
–Com licença, senhor, o que aconteceu aqui?
O oficial desviou o olhar do rádio, que estava apitando o tempo todo de conversas entre outros policiais, e olhou para mim bem nos olhos:
–Suicídio. Uma garota. Apartamento 501.
Apartamento 501? Não podia ser...
–Belle Campbell?
–Sim. Conhecida sua? Eu sinto muito pelo que aconteceu.
–Não pode ser! Onde está o pai dela?!?
–Estamos procurando agora. Ele não estava em casa.
Nessa hora, o rádio apitou mais uma vez, e parece que era para ele.
–Policial Jones na escuta. -Disse o policial.
–Encontramos o possível pai da garota. Bêbado num bar qualquer. Daqui a pouco voltaremos. Policial Rave desligando.
–Parece que o encontramos. -Disse ele virando para mim.
–Mas...Se ele não estava aqui, quem vai para o hospital ficar com Belle?
–O primo dela, Paul Winsley.
"Mas a Belle não tem primo." -Pensei.
–Onde ele está?
–A ambulância já foi embora, ele estava com ela.
–Tudo bem, obrigado.
Eu sai de lá o mais rápido que podia para o carro, mas meu pai me impediu.
–Ia a algum lugar sem falar comigo?
–Porque eu teria que falar com você?
–Talvez, porque eu sou seu pai.
–Não importa. -Eu abri a porta e entrei no carro, mas ele disse algo que não pude escutar pelo vidro e fui embora.
Chegando no hospital, eu perguntei a moça da recepção onde Belle estava.
–Quem é o senhor?
–Jackson Winters, melhor amigo dela.
–Desculpe, mas o horário atual é apenas aberto para familiares. A garota acabou de chegar. Daqui a pouco irá passar por muitos exames.
–Mas eu tenho que vê-la! -Eu iria ter que encontrar com ela a força, até que alguém me puxou.
–Deixe a atendente em paz.
–E quem é você para dar ordens em mim?
–O primo da Belle.
–Mas a Belle não tem primo!
Ele me levou para uma parte mais distante das pessoas naquele lugar, e sussurrou para mim:
–Eles acham que eu sou, então deixe quieto.
–Mas eu tenho que ver ela! Ela é minha melhor amiga!
–E quem é você?
–Jackson. -Na hora em que eu disse meu nome, ele ficou com uma raiva repentina:
–E o que te dá o direito de falar com ela?
–Como assim? Eu já disse, sou o melhor amigo dela.
–Se você é assim, tão amigo dela, PORQUE NÃO DEU SUPORTE PARA ELA NUMA HORA DESSAS?
Eu fiquei calado. Ele estava certo. Eu não fiquei com Belle. Eu nem sabia que ela queria se suicidar.
–Porque... Eu estava ocupado sendo egoísta.
E então eu sai do hospital.