Havia passado uma semana desde que Chelsey havia chegado na escola. Ela não se deu bem com os outros alunos no começo, tirando eu. A Belle não gostava muito dela, mas como eu andava com as duas, elas precisavam aprender a, pelo menos, não tentarem se matar sempre que se viam. Então, chegou a hora do intervalo:
–Pão de novo? -perguntou Chelsey se virando pra mim.
–Pão é bom.
–E não é saudável. -completou ela.
–Se você conhecesse o Jas a tanto tempo quanto eu, você saberia o quanto o amor dele por pão é grande. -começou Belle, entrando na conversa.
–E dai se eu não conheço ele a tanto tempo como você? Nós já estamos nos dando bem, não é, Jackson? -então Chelsey deu um soco de leve em mim.
–Ai! Eu acho?
–Você está machucando ele.
–Não estou não.
–Está! O Jas precisa ser tratado bem, calmamente, de um jeito bom...
–Mas o que? -eu perguntei
–Ele é um bebê, por acaso? Ele já tem 16 anos.
–Mas mesmo assim, o Jas é idiota sobre as coisas do dia-a-dia.
–E você sabe isso porque conhece ele a mais tempo do que eu?
–PAREM! -eu me levantei gritando, e os outros começaram a me olhar, então eu me sentei de novo.- Vocês duas são minhas amigas, então será que podiam parar de brigar que nem crianças de cinco anos?
–Você tem razão, Jas, mas ela começou. -disse Belle com uma cara meio triste.
–Amigas, hein?
–Sim, qual o problema?
–Apenas a anjinho ai, acho que ela não te vê como um amigo... -Chelsey deu um sorrisinho e Belle ficou vermelha como um pimentão.
–Como assim? -eu perguntei, com meus problemas de entender situações.
–Você tem sorte de ser inocente....
–N-não é nada! -disse Belle, desesperada, e ainda vermelha.
Então, ouvimos uma música dos Beatles do nada.
–Ah, é o meu celular. -Chelsey se levantou, tirou um iPhone 6 da mochila e começou a conversar com alguém.
–Quem é? -eu perguntei.
–Meu pai. Eu vou sair por um minuto, esperem. -então ela foi para um espaço um pouco separado.
–Ei, Jas.....Agora que estamos sozinhos, o que você acha do que a Chelsey disse? -Belle perguntou, e depois começou a falar mais algumas coisas, mas eu nem prestei atenção. Eu estava olhando para a Chelsey, que parecia falar no celular com um tom preocupado.
–E então, que tal?
–Ahm? -me virei para Belle, com uma cara de que eu não tinha escutado nada do que ela tinha falado.
–Eu perguntei, que tal?
–Ah, desculpa, eu não prestei atenção. Será que você podia repetir? -eu disse, ainda olhando para Chelsey. Agora ela estava falando num tom de voz irritado.
Belle olhou para a direção que eu estava olhando, depois voltou a olhar para mim, com um rosto triste, e disse:
–Nada, esquece.
–Mas não era importante?
–Não, pode esquecer. -e ela deu um sorriso triste.
Eu não tinha entendido nada, mas resolvi ignorar, pois se a Belle disse que não era algo importante, realmente, não devia ser. Alguns poucos minutos depois, todos já estavam voltando para a classe, mas Chelsey ainda estava no celular.
–Eu acho que ela ainda vai demorar, você vem? -disse Belle, já pegando suas coisas e saindo.
–Ah, não, eu ainda tenho umas coisas pra fazer.
Ela pensou alguma coisa, fez que sim com a cabeça e disse:
–Pode falar com ela, só não demore muito, tá?
Então ela saiu, e eu fui falar com a Chelsey. Ela havia acabado de desligar.
–O intervalo acabou, vamos voltar para a classe. -e eu já havia pego a mão dela, mas ela soltou.
–Eu não vou.
–Ahm? -eu demorei um pouco para entender a situação.- Você vai faltar aula, é isso?
–Não, meu pai já pediu a permissão da professora. Eu só preciso pegar minhas coisas e sair. -Chelsey estava um pouco fria. Muito diferente da Chelsey com quem eu havia conversado alguns minutos atrás.
–O que aconteceu?
–E isso importa? -ela disse isso com um tom tão bravo que eu até me assustei.- Porque você veio aqui me esperar, afinal? Você devia ter saído com aquela chata da Belle.
Gritar comigo tudo bem, mas falar mal dos minha amigos, eu não podia deixar passar.
–A Belle não é chata, tudo bem? Ela é bem melhor do que você agora!
–Tudo bem, então! Eu não me importo mesmo. Fique com ela a vontade! -havia alguma coisa nos olhos da Chelsey....Eram lágrimas?
–Desculpe, eu não.... -quando eu levantei a mão para tocar nela, ela deu um tapa nela.
–Não, se é isso que você acha de mim, tudo bem. E eu achei que você era diferente. Além do mais, o que você sabe sobre mim, afinal?
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela pegou a mochila dela e saiu. Eu queria poder correr atrás dela, mas então eu percebi que ela tinha razão. O que eu sabia sobre ela?
(...)
Eu fiquei a aula inteira olhando pela janela, e eu não sei se os professores notaram ou não, mas se notaram, não ligaram. A Belle parecia querer perguntar algo desde que eu entrei na sala, mas pra minha sorte, não perguntou. A aula terminou, e então ela finalmente falou:
–Você está bem?
–Sim, a Chelsey só foi embora mais cedo, não é nada de mais.
–Eu não acredito em você. Mas se você quiser falar, eu estou aqui, tá?
É por isso que a Belle é a minha melhor amiga. Ela sabe quando falar comigo e quando não falar.
–Eu acho que vou ficar na escola mais um pouco.
–Tudo bem, se você quiser. Quer que eu leve a Claire em casa?
–É melhor você deixar ela na casa do Keith. Meus pais não estão em casa. Depois eu pego ela.
–Tudo bem, então.
A Belle é uma das poucas pessoas que chamam a Anne Claire de Claire. Essa é um vantagem de ter dois nomes, as pessoas podem te chamar de três formas diferentes.
Belle saiu, e então eu fui fazer o que eu queria e fui para a sala dos professores. Pra minha sorte, a professora Mindy, de inglês, ainda estava na escola. Bati algumas vezes na porta e então entrei.
–Com licença, Mindy? -a professora de inglês era uma daquelas pessoas que gostavam de ser chamadas pelo primeiro nome.
–Jackson, o que faz aqui? A aula já terminou.
–Eu sei, mas eu gostaria de perguntar algo. Não foi a senhora que deu a permissão de saída para a Chelsey?
–Ah, sim, fui eu! O pai dela me pediu.
–Então.... A senhora sabe porque ela precisou sair?
–Eu sinto muito, querido, mas a escola não dá permissão para revelar a vida pessoal dos alunos.
–Ah... Tudo bem. Acho que já vou então.
–Espere! Você é um amigo dela, não?
–Sim, eu sou.
–Ela me pediu pra te dar isso. -ela abriu uma gaveta, e me entrou uma chave.- Essa é a chave da sala de artes.
–Porque ela te mandou me dar isso?
–Acho que você que deveria perguntar isso a ela, Jackson.
–Acho que você tem razão.. Obrigado.
Então eu sai da sala da professora Mindy e fui até a sala de artes. Abri a porta, e a primeira coisa que eu vi foram muitos quadros incompletos.
–Nossa.
Havia muitos quadros, alguns retratando paisagens, outros pessoas, e muitas outras coisas. Todos assinaram com seu nome nos quadros, mas eu não encontrei nenhum da Chelsey junto com os outros. Até que eu vi um quadro solitário no fundo. Ele estava coberto por uma lona preta, e então eu a tirei. O quadro estava completamente branco. No final, estava escrito : Sentimento - Chelsey Liberty.
–Mas o que isso significa?
Foi aí que eu vi um bilhete do lado do pincel. Estava escrito : "Para Jackson". Então eu o abri.
"Jackson Winters,
Foi muito legal o tempo que nós passamos juntos. Provavelmente, a melhor semana da minha vida. Mas hoje, muitas coisas aconteceram. Sabe o que esse quadro significa? É isso que eu sentirei quando nós provavelmente nunca mais iremos nos ver. Um vazio. Saiba que eu nunca vou me esquecer de você.
Adeus,
Chelsey."
Eu senti todas as minha forças irem embora e eu desabei no chão. É assim? Acabou tão rápido? Não, eu não podia desistir. Eu não podia deixar uma amiga minha ir embora... Mas será que era isso mesmo? Apenas amizade? Talvez.... Apenas talvez... Eu estivesse começando a gostar dessa garota.
(...)
Eu não podia esperar muito mais, então a primeira coisa que eu fiz ao chegar em casa foi ligar para a Chelsey. Caixa de mensagens 17 vezes. Eu já ia visitar ela, mas então eu lembrei. Ela nunca me deu o endereço dela, e eu também nunca fui para a casa dela. Eu estava ficando desesperado, quando eu recebi uma ligação. O número que apareceu era da Anne.
–Jas? -a voz da Anne parecia meio de choro.
–Anne? O que foi?
–Ainda vai demorar muito para você vir me buscar?
Droga. Eu havia me esquecido de buscar a Anne na casa do Keith no meio dessa confusão da Chelsey.
–Não, eu já estava indo para aí. -essa foi uma mentira feia, mas era necessária.
–Que bom.... Eu....-Anne começou a gaguejar. Agora eu tinha certeza. Ela estava chorando.-Eu não...quero mais ficar aqui.
–Porque? -eu resolvi que não iria esperar nem mais um minuto. Ainda falando no celular, peguei as chaves do carro e fui buscar Anne.
–Só...venha...por favor.
Depois disso, ela desligou, e eu fui buscar a Anne o mais rápido possível. Quando eu cheguei na casa de Keith, foi o próprio que atendeu.
–Jackson? O que você está fazendo aqui?
–Eu vim buscar a Anne. -eu achei estranho ele não saber que ela ia embora, além do mais, ela estava chorando, mas nessa hora ela apareceu atrás dele, com um sorriso do tamanho do mundo.
–Eu mandei ele vir me buscar. -A Anne não me engana. Aquele sorriso era falso.
–Ah, tá, tudo bem então. Tchau, Anne. -disse Keith, e então abraçou ela.
–Tchau.
Eu e Anne entramos no carro, e logo quando eu o liguei, já perguntei logo:
–O que aconteceu?
–Nada. Eu estou bem.
–Anne Claire, você não me engana. Algo aconteceu sim.
–Eu já disse, não é nada! O Keith... Apenas me apresentou o namorado dele. -nessa hora, ela começou a chorar.
–.......Namorado?
–O vizinho dele, Samuel.
–.......Um cara?
–Sim....O Keith sempre foi...gay.
–E porque você está chorando?
–Eu... Gostava dele.
–Mas você não me disse que ele sempre foi gay? -eu não estava mais entendendo nada.
–Eu tinha esperanças de ele gostar de mim...E parar de ser gay.... Mas agora eu percebi que isso é impossível.
–....
–.....
–Apenas vamos pra casa.
Chegando em casa, eu recebi algumas ligações da Belle, mas não atendi nenhuma pois estava ocupada com os problemas da Chelsey. O que eu poderia fazer?