Nós voltamos para a sala. E, sim! Foi muito cansativo assistir a mais quatro horas de aula. Tivemos uma de matemática, duas de língua japonesa e uma de literatura moderna. Por outro lado foi bom, eu adorei os professores, eles são incríveis e tem uma metodologia de ensino muito boa.

Quando a aula acabou, alguns alunos saíram rápido, outros demoraram, mas todos saíram. Len começou a arrumar a coisas na mochila, eu também, enquanto que Rin já estava impaciente com a demora.

– Vamos!? - Ela perguntou quando ele fechou o zíper.

Ele olhou para mim e depois para ela.

– Não vou com você hoje.

– Como assim!?

– Eu prometi levar Luka para conhecer um pouco da cidade.

– Ahh... - Ela disse com desanimo e continuou. - Queria ir com vocês, mas eu não posso, tenho que ir com a mamãe comprar um casaco novo. - Fez uma pausa. - Mas, vão lá, vai ser legar.

Ela sorriu e saiu, eu terminei jogando tudo na mochila, e fomos. Depois de fazer todo aquele percurso para sair da escola, dobramos a esquina e seguimos reto. Depois de uns minutos de caminhada, chegamos na área de lojas, ele parou e disse:

– Esse é o local favorito da Rin. Quer entrar?

Olhei para o lado e me deparei com uma loja de sorvete.

– Vamos. - Falei rindo.

Nós entramos na loja, e imediatamente Len se dirigiu para a área em que ficam os sabores e comprou um sorvete de limão. Eu comprei um comum de morango. Quando saímos ele disse:

– Sabe por que você comprou esse?

Olhei pra ele e esperei a resposta.

– Só pra combinar com o cabelo.

Parei de andar e o encarei com uma expressão de "não! eu realmente não acredito que você disse isso." e comecei a rir.

– Que bobo.

Ele não respondeu e continuou andando, nós passamos em vários lugares: papelarias, livrarias, loja de doces, mercado e muitos outros. Obviamente não entramos em todos, mas consegui ter uma boa noção de onde ficam localizadas as lojas importantes.

Depois, ele me quis me levar para um local meio longe da escola, na verdade bastante afastado. Não sei exatamente para onde. Mas eu já estava ficando preocupada e o pior: todas as vezes que eu perguntava ele dizia "Você vai ver."

Após bastante tempo, acho que uma hora depois, o sol já tinha ido embora e estava escuro. Foi quando finalmente chegamos, era um lugar acima da cidade, em uma ciclovia, que dava para ver tudo. Parecia uma espécie de varanda porque tinha uma barra de proteção de madeira e dava para ver cada fonte de luz que a cidade emitia, ido ate onde a vista alcança. Atrás dessa área tinha duas máquinas: uma de lanches e outra de bebidas.

Olhei para a cidade e comecei a reparar na beleza desse lugar, me apoiei da barra e fiquei lá, me encantando. Len também fez o mesmo, só que ele não olhava para a cidade ele olhava para mim, era um olhar engraçado, de quem busca reparar nos pequenos detalhes. E por incrível que possa parecer eu não fiquei com vergonha.

Apenas olhei para ele, tentei olhar no fundo de seus olhos, porém algo me impediu. Não sei realmente o que.

– O que achou? - Ele perguntou.

– É lindo. Você vem sempre aqui?

– Sim. - Ele diz olhando para as luzes. - Meu lugar favorito.

Olho para as luzes também.

– Luka, eu posso te perguntar uma coisa?

– Pode.

– Porque você se mudou para cá?

Me desestabilizei. Se eu soubesse que ele iria me perguntar algo assim não teria deixado. Porque? Isso não faz sentido. Começo a pensar em tudo isso ao mesmo, enquanto fico apenas olhando para ele com um olhar de medo. Não posso evitar. Começo a chorar na mesma hora.

Me encolho no chão, sentada sobre as minhas pernas, e fico ali bem quieta apenas manchando meu rosto com lagrimas. Até que não suporto mais e coloco a mão no rosto. Para que ele não veja esse momento de fraqueza. E de repente sinto ele me abraçando, um abraço sincero e demorado.

Ele fala perto do meu ouvido.

– Me desculpe. Eu não sabia que isso era delicado. Não se sinta obrigada a falar, na verdade esqueça o que eu perguntei.

– Não. - Respondo.- Você não precisa se desculpar, você não sabia, não é culpa sua. Está tudo bem.

Ele me abraça mais forte, coloco minha cabeça em seu ombro e procuro me acalmar. Ele apenas repete:

– Me desculpe.

Continuamos sentados no chão, nos abraçando. Eu começo a pensar no que fazer, a partir de agora, e digo:

– Eu vou te contar.

– Luka, você sabe que não precisa.

– Mesmo assim... eu sinto que preciso te contar.

Ele começa a fazer carinho no meu cabelo e parece se preocupar com o que vou dizer.

– Luka...

– Diga...

– Eu não quero que você se sinta obrigada a me dizer isso.

– Tudo bem. Não me importo.

– Então vamos fazer o seguinte. - Ele começa a falar e me solta do abraço, enxugo as lágrimas e presto atenção nele. - Pelo fato desse ser meu local favorito eu venho para cá quase todos os dias. E como você foi a primeira pessoa que eu trouxe aqui... esse podia ser nosso lugar secreto! Assim, todas as vezes que você precisar me dizer algo, podemos vir aqui.

Olho para ele por um tempo, e me surpreendo por já estarmos tão próximos, nos conhecemos hoje e estamos tão amigos. Len coloca sua mão sobre a minha e me encara com aqueles lindos olhos azuis. Ficamos assim por um tempo, nos olhando sem falar nada.

Até que ele quebra o silêncio:

– Temos que ir, está tarde, acho que já são umas oito horas.

Me levanto e limpo a saia. Len se levanta e se aproxima, com delicadeza passa sua mão em meu rosto e acaricia meus cabelos, me abraça rapidamente e por fim, como já era esperado, pega no meu pulso. Começamos a andar, e sua mão desliza propositalmente para se encontrar com a minha.

Olho para ele, ele para mim, mas dessa vez sem vergonha. Len sorri, faço o mesmo, e continuamos a andar em direção a cidade.