Pov Sophie

Eu me joguei de joelhos no chão. Meu corpo doía, eu estava ofegante.

— Pare! - eu arfei - Por favor! Pare!

Eu não queria continuar. Snape estava me ensinando há semanas, todos os dias sem parar. Eu sentava em uma cadeira em sua sala, e ele entrava em minha mente. O processo era doloroso, por vezes meus gritos incessantes ecoavam pelo castelo. Mas hoje foi diferente.

— Por favor... - eu arfei, - Por favor...

— Não podemos parar toda vez que encontrarmos uma memória sua com o Potter! Isso nos atrasará! - Snape rosnou - Como quer aprender a controlar sua mente se você evita entrar nela?

— Eu sei... - eu disse, respirando pesadamente - Mas eu já fiz avanços... Consigo te impedir...

— Mas isto não basta! Você precisa impedir o Lorde das Trevas! - Snape sussurrou - E nunca vai conseguir se continuar a protelar!

— Não estou protelando! Tenho feito tudo o que o senhor me pediu! - eu rosnei - Só desta vez... Me deixe em paz!

Ele apenas me olhou, suspirando. Não sei o que se passa na mente dele, mas eu tenho me esforçado, eu já consigo impedir que ele entre na minha mente quando me concentro. Mas... Ele acessou meu sonho. E eu não consegui evitar. Eu queria ver o Harry outra vez, mesmo que fosse apenas na minha mente.

— Levante-se e retorne ao seu dormitório. Os alunos retornam do recesso de Natal hoje. Você tem amigos para receber. - Snape disse, e depois se retirou, me deixando sozinha.

Eu suspirei, aliviada. Ao menos desta vez ele não ia me fazer perguntas ou treinar até minha cabeça explodir de dor. Tirei do bolso meu colar de coração, e fiquei admirando ele. Meu sonho com Harry... Desta vez, eu o senti ali. Era como se nossas mentes estivessem conectadas outra vez. Ele ria... Corria... E eu o sentia de verdade. Não era como uma lembrança, era real. Eu senti seu beijo.

Coloquei meu colar no pescoço, levantei do chão, e saí do escritório do diretor. Caminhei cambaleante pelos corredores. Agora percebo porquê são poucos os bruxos vivos que conseguem dominar tal arte. É cansativo, desgastante, como se sugasse toda a sua energia e vitalidade. Eu não tinha notado o quanto estou mal.

Ouvi o som dos burburinhos, os alunos chegaram. Tentei apressar o passo, alcançar os dormitórios antes que alguém me visse, mas meu corpo não consegue obedecer meus comandos. Me vi obrigada a me apoiar nas paredes de pedra do castelo, e ainda assim quase não conseguia me mover.

— Sophie? - ouvi uma voz distante dizer - Sophie!

Senti que meu corpo era amparado. Neville olhava para mim, preocupado. É tão reconfortante ver ele!

— O que aconteceu com você? - ele perguntou.

— Nada. - eu o empurrei, tentando ficar de pé - Estou bem.

Ele me soltou, mas quando tentei andar, caí de vez no chão.

— Sei... "Bem"... - Neville debochou.

Apesar de minha relutância, Neville estava determinado a me ajudar. Ele me ergueu do chão e me segurou em seus braços. Nunca tinha percebido o quanto ele era forte. Ou eu que estou leve demais.

— Por favor... Me ponha no chão... - eu sussurrava, enquanto ele me carregava pelos corredores até as escadas que mudam - Vai arranjar problemas com os sonserinos...

— To nem aí pros sonserinos. - ele retrucou - Não vou te deixar sozinha.

Ele subiu as escadas até chegar no quadro que dava acesso ao dormitório da Sonserina, então me colocou no chão, mas mantendo o braço em minha cintura, apoiando-me. A porta se abriu. Kellan estava conversando com Damian. Acho que eles iam buscar suas coisas no Hall de Entrada.

— Sophie? - Damian disse, assustado - O que aconteceu com você?

— O QUE VOCÊ FEZ? - Kellan falou para o Neville, furioso - SEU GRIFINÓRIO MISERÁVEL!

— Kellan, não! - Damian gritou.

Kellan atacou Neville, derrubando-o nas escadarias. Eles começaram a brigar, e logo muitos curiosos encheram o lugar, tentando ver quem estava ganhando. Sem Neville para me escorar, eu enfraqueci. Damian me segurou.

— O que foi agora? - Belle saiu de dentro do Salão da Sonserina. - AI MEU MERLIN! SOPHIE!

Ela correu na minha direção, e ajoelhou-se ao lado do Damian. Gritou qualquer coisa, chamando Eric.

— Ah, Sophie! O que fizeram com você? - ela suspirou.
Então tocou minha testa de forma carinhosa. Todas as minhas memórias recentes foram transferidas para ela, e meu oráculo viu tudo o que o Snape fez. Foi o fim para mim. Depois disso, só lembro da escuridão.

***

Minha cabeça zunia. Eu ouvia muitas vozes ao meu redor. Meu corpo estava dolorido, mas era como se eu finalmente tivesse conseguido descansar.

— Quem será que fez isso com ela? - ouvi a voz da Emilia.

— Aposto que foi o Amico. Ele sempre espreitava as garotas sonserinas. - Primm comentou.

— Não devia ter batido no Longbottom, Kellan, ele só tentou ajudar! - Andrew recrimidou.

— Odeio aquele garoto! - Kellan rosnou.

— Gente, gente, silêncio! - ouvi Primm falar - Ela está começando a acordar! Chamem a Belle!

Eu abri meus olhos lentamente. Estava deitada em um dos sofás de couro negro do Salão comunal. E todos aqueles alunos me olhavam, assustados e ansiosos.

— Onde está o Neville?... - eu sussurrei, sentando.

— Quer responder, Kellan? - Emilia o recriminou.

Kellan aproximou-se de mim, ajoelhando-se na minha frente.

— Perdão, Sophie... - ele implorou - Eu achei que a culpa era dele...

Eu não disse nada. Nem queria dizer.

— Há quanto tempo estou apagada? - sussurrei outra vez.

— Quase três horas. - Kellan respondeu.

— Sophie, quem fez isto com você? - Andrew perguntou.

— Foi o Diretor Snape.

Todos olharam para a porta. Belle estava lá, segurando sua caixa de primeiros socorros. Aquela era uma acusação severa. Eu não queria que a Belle tivesse dito.

— Snape está tentando encontrar uma forma de localizar o Potter. - Belle dizia, confiante - Por isso tenta atacar aqueles que foram próximos a ele. Mas como não conseguiu nada do Neville, sequestrou a Sophie. Mas ela escapou.

Nada do que ela estava dizendo era verdade. Todos estavam apavorados. E me olhavam desconfiados. Olhei suplicante para Belle, para que ela me ajudasse, mas ela não me deu atenção.

— Você era amiga do Potter? - Kellan disse, horrorizado.

— E onde ele está? - Primmrose continuou - Sophie, se levarmos isso ao Ministério, isso vai resolver tudo aqui na escola! Os Dementadores, os Carrow, todos vão embora!

— Diz logo, Sophie! Onde ele está? - Andrew insistiu.

Eu abaixei a cabeça, tentando raciocinar.

— Não acham que se eu soubesse... Eu não teria contado? - eu chorei - Por que eu deixaria que me torturassem? Acham que gosto do estado em que estou? Olhem para mim!

— Achamos que fosse nossa amiga, Sophie! - Emilia continuou - Mas você protege o inimigo!

— Eu não sei de nada! Eu juro! Se soubesse, eu teria contado! - eu chorei compulsivamente.

— Gente, - Damian me abraçou - Snape torturou uma garota sonserina! E ela nem sabia de nada! E se ele resolver fazer o mesmo com a gente?

Todos ficaram em silêncio. Era uma ideia apavorante.

— Belle, venha, vamos levar a Sophie para comer alguma coisa. - Damian disse, e Belle se aproximou.

Eles me carregaram até o Grande Salão, onde me puseram sentada e me fizeram tomar uma sopa muito esquisita.

— Damian... Obrigada por me defender... - eu sussurrei.

— Amigos são pra isso, Sophie! - ele sorriu, se levantando - Agora vou voltar ao Salão, ver se eles criaram algum juízo.

Damian seguiu até desaparecer das minhas vistas.

— Que ideia foi essa?! - eu rosnei para Belle - Sabe que não foi isso o que aconteceu!

— E de outro jeito eu poderia explicar para eles? Que o Snape te sequestrou pra te ensinar? - Belle debochou - Sophie, as pessoas estão com medo. Precisamos incentivar isso. Snape não é santinho, ele é o mandante aqui. Ele tem culpa em tudo o que os Carrow fazem. Precisamos cuidar pra que Neville e a A.D. possam conseguir mais seguidores.

— E ele tem conseguido? - eu perguntei.

— E como! - Belle riu - Metade da Grifinória e da Corvinal já aderiram, e muitos prometeram apoiar na Lufa-Lufa. Neville também disse, enquanto eu remendava ele, que estava muito preocupado com você.

— Não foi nada, em poucos dias estarei bem. - eu desdenhei.

— Sophie, ele se preocupa com você. E eu também. - Belle disse, levantando-se.