Celest escrita por Alpha, Borges


Capítulo 9
Hanna/ IX - Estátuas


Notas iniciais do capítulo

Depois de um muito tempo, voltamos a postar as aventuras da nossa querida Hanna, espero que gostem.



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Hanna percebeu que estava dentro de uma grande gaiola, em um canto perto de uma árvore em uma clareira, com grossas barras de ferro. Com ela havia outros prisioneiros, que não pareciam malvados, tão pouco perigosos, mas ali se encontravam também privados de liberdade.

Havia um cão negro com tamanho bem superior se comparado aos habituais cães domésticos e uma garotinha ou o que pareceu ser uma com roupas rústicas, pequena demais para ser humana, além dos minúsculos chifres em sua testa. Estavam um pouco distantes do fundo da jaula onde Hanna estava deitada sobre um monte de folhas.

Estranhou estar ali, uma vez que, tinha desmaiado ao derrotar um tornado em fúria que queria matá-la próximo a um barranco. Foi acordada de seus pensamentos com os gritos da pequena mulher que desesperada pedia por socorro, enquanto era retirada da jaula por um grandioso ser. O cão gigante rosnava para o carcereiro, que agora levava a pequena mulher para perto de uma fogueira, onde se encontravam muitos ossos humanos e não humanos espalhados pelo chão.

Desnorteada, ainda tentava descobrir onde estava, como tinha ido parar ali e porquê um cachorro gigantesco estava rosnando e latindo vorazmente para os seres do lado de fora, ao invés de atacá-la. Eram muitas perguntas, mas não havia tempo para as respostas, ela precisava se soltar e salvar o que pensou ser uma criança em apuros.

     Apesar de se sentir esgotada depois da luta com o tornado que a perseguiu, sua capacidade de concentração era impressionante. Sentada observando a situação tentava bolar um plano de ação. Notou que a cada latido do animal ao seu lado, as barras da gaiola estremeciam, a ponto de revelar uma pequena falha na estrutura de treliças, uma barra com os parafusos bambos. Concluiu que deveria atacar no ponto fraco, uma vez que, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco.

Tentou alcançar a parte de cima na esperança de remover o parafuso bambo, mas não conseguiu. Frustrada, tentava pensar em outra coisa enquanto a pequena garota ainda gritava, o que de certa forma concentrava toda a atenção dos raptores nela, deixando Hanna livre para agir.

De alguma maneira, uma forte corrente de ar começou a descer sobre toda a jaula. Olhando para cima, percebeu que era uma grande coruja que trazia em seu bico um pequeno cilindro. Esperança era a sensação da jovem ao perceber que era o seu arco. Assim que o soltou, o animal se dissipou como fumaça, desaparecendo completamente em seguida.

Com o cilindro na mão, ela o transformou em arco e atirou contra o ponto fraco da estrutura, o que fez um grande estrondo quando tudo veio a baixo levantando uma nuvem de poeira. Isso chamou atenção de todos para a jaula.

Conforme a poeira sumia, era possível ver que o grande cachorro havia se jogado em cima de Hanna, protegendo-a dos grandes pedaços de metal que caíram sobre eles. Os dois estavam bem e, mesmo surpresa com a ação do animal, ela não gastou tempo tentando entender o porquê de sua ação, foi logo se levantando para aproveitar a poeira para encobrir seus movimentos.

Assobiou para o cão negro, apontando para o raptor maior que tinha uma grande corcunda e dentes a mostra mesmo com a boca fechada. O animal parecendo entender a garota, avançou com toda fúria contra seu oponente, porém seu inimigo não se intimidou e ficou firme em sua posição esperando pelo ataque.

Enquanto isso, escondida atrás de uma árvore, mirava com seu arco o outro inimigo que segurava a pequena garota para que ela não fugisse. Diferente do primeiro que era um grande homem corcunda, esse era uma mulher pequena e muito bonita, mas no lugar dos braços havia braços de morcego e nas costas grandes asas escuras e sem penas.

Apesar da visão assustadora, ela não hesitou em prosseguir com o ataque. Com uma flecha de luz em posição de disparo e um olhar firme no alvo, nada mais importava. Era possível ouvir os gritos e rosnado da luta entre o cão e o corcunda, mas ela parecia não perceber porque estava concentrada em sua investida. Abriu os dedos e deixou a furiosa seta azul cortar o ar e atingir o coração da mulher morcego, arrancando um terrível grito de dor antes de lhe tirar a vida.

O ser caiu sobre os próprios pés, deixando sua pequena prisioneira livre para a fuga. Ainda com o arco em posição de ataque, resgatou a garota puxando-a pelo braço para o meio das árvores. Estava com tanta adrenalina que nem percebeu a aparência da pequena mulher. Escondida atrás das árvores, mirou no grande corcunda, mas não podia atirar com o cão na frente. Não foi necessário.

Em uma última investida contra o inimigo, o grande canino abocanhou seu pescoço separando a cabeça do corpo. Por alguns segundos, o corcunda caminhou sem cabeça sem ter uma direção específica antes de cair no meio da grande fogueira. No momento em que o queimava o fogo se tornou negro, voltando ao normal em seguida.

Livres, os três se reuniram aliviados pela vitória sobre os raptores.

— Vocês estão bem? – preocupou-se Hanna olhando para as duas criaturas.

— Sim. Você salvou nossas vidas. – disse a mulher com chifres na cabeça. – Agora tenho uma dívida com você. Por isso te darei um presente.

— Só fiz o que achei ser o certo. Não precisa me dar nada. Espera, o que você é? Não parece humana. – falou enquanto olhava os chifres.

— Eu sou uma Garhfa. Meu nome é Ayah. – disse abrindo um sorriso. – E você?

— Meu nome é Hanna. – estendeu a mão para o comprimento em sinal de gentileza, mas Ayah não entendeu então a deixou com a mão estendida no ar. Sem graça ela desistiu.

— Não o seu nome. O que você é? Não parece humana também.

— Do que você está falando? Eu sou humana sim.

— Não é não, eu posso sentir. Essas tatuagens tem grande poder e humanos não possuem esse poder, pelo menos não nessa dimensão.

Hanna ainda não tinha parado para pensar nisso antes, mas agora depois de tudo que tinha acontecido, essa se tornara uma grande pergunta. O que eu sou? Pensou.

— Eu... Eu... Também não sei. – respondeu decepcionada.

A garota não disse nada, apenas ficou observando intrigada a jovem de cabelos vermelhos e pele pálida. O cão latiu mostrando sua grande pata para as duas e nela havia um corte profundo.

— Eu posso te ajudar também. – falou a pequena garota.

Se aproximando do animal colocou suas mãos com liquens sobre a pele na ferida e fechou os olhos se concentrando. Uma luz âmbar surgiu sob elas fechando a ferida na pata do animal. Feliz, ele lhe deu uma lambida com sua gigantesca língua de baba, entretanto a garotinha pareceu não se importar.

— Para onde você esta indo Hanna? – falou Ayah limpando a baba do corpo.

— Eu estava indo para a floresta até que fui atacada por um tornado e desmaiei no caminho. – falar isso soou mais estranho do que ela esperava.

— Por isso você estava deitada no meio do mato. Agora faz sentido. Foi quando os dois monstros das trevas te encontraram e a trouxeram conosco. Eles ficaram bem animados com você.

— O que eles eram? – fez uma cara confusa. – Espera, por que esse cachorro é tão grande? O que é uma Garhfa? E o que eles iam fazer com a gente?

— Comer. O que mais seria?

— Comer? – Hanna se assustou.

— Sim, eles são monstros que precisam se alimentar de energia espiritual para poderem ficar na Terra. – Ayah respondeu com a maior naturalidade. – Eu e o Fresno... – apontou para o cão. –... Somos espíritos desgarrados da floresta. Fomos criados pela Madremonte, porém somos diferentes. Ele cresceu demais, e eu nasci sem asas então fui expulsa do vale das Garhfas. Desde então vivemos juntos pelas florestas. 

— Uau! Luc estava certo, eu preciso dormir. Está ficando cada vez mais louco isso tudo.

— E uma Garhfa é um espírito da floresta que recebe mensagens de todos os lugares do universo e as leva voando para todos os cantos do mundo. Como eu nasci sem asas, não posso levar nem receber mensagens, mas posso ver possibilidades de futuro. Eles acharam que saber do futuro era arriscado então me mandaram embora. – Ayah aparentava estar triste ao lembrar-se do passado, mas orgulhosa de sua habilidade.

— Eu sinto muito. – falou sentindo-se um pouco culpada por perguntar demais.

O cão latiu.

— Ele tem razão. Não podemos ficar aqui temos que ir logo. – disse a Garhfa o que ele disse. – Para onde você vai mesmo?

— Para a floresta. – mostrou o mapa formado pelas tatuagens na palma de sua mão.

— Para a Floresta Viva? – espantou-se.

— É a única floresta daqui?

— Sim, se você considerar que o resto não são florestas propriamente ditas. São apenas grandes campos com porções de árvores. A não ser a Floresta Walpe, mas ela é na outra direção mais ao sul.

— O mapa me trouxe até aqui. Então sim, eu vou pra lá.

— Você não pode ir. É proibido. – a pequena arregalou os olhos verdes em formato de folha.

— Proibido por quê? – estava curiosa. O que poderia ser mais perigoso do que o que já tinha enfrentado até ali?

— Porque todos que entram lá nunca mais voltam. É um lugar sombrio.

— Eu não tenho escolha. Preciso de respostas sobre o que eu sou e o que está acontecendo. Então você me ajuda a chegar lá? – Hanna ajoelhou-se na frente de Ayah para ficar no nível dos seus olhos.

— Está bem, mas eu e Fresno não vamos entrar na floresta. – advertiu a menina.

Ayah subiu nas costas de Fresno e Hanna a seguiu.

— Fresno, para a Floresta Viva. – apontou a direção.

Além de grande e forte, Fresno era rápido. Nenhum obstáculo o parava, nem rio, nem cachoeiras e lama eram pareôs para ele. Era invencível contra o ambiente graças ao seu tamanho.

Não demorou muito para que Hanna avistasse grandes árvores escuras no horizonte, formando uma grande mancha negra. Logo atrás, havia uma série de morros que pareciam distantes e inacessíveis senão pela floresta.

— Aquela é a floresta? – perguntou apontando para a mancha.

— Sim. A grande Floresta Viva.

Depois de um tempo chegaram à entrada. Na verdade era o único caminho possível, já que, por todos os lados a floresta era densa demais para passar por suas árvores altas e muito velhas com seus galhos retorcidos. A vegetação rasteira e arbustiva era escassa, o que deixava o caminho ainda mais sinistro.

As duas desceram das costas do cão e pararam na entrada. Hanna olhava aquele lugar apreensiva, mas sabia que era o único jeito de ter respostas, de salvar sua mãe, de descobrir sua origem e o que ela era. No entanto, sentia que depois que entrasse não teria volta.

— Hanna, se você for mesmo, deve ir agora porque daqui a pouco será noite. – Ayah falou olhando para o céu.

— Você tem razão Ayah. Eu devo ir. – se abaixou para se despedir.

— Me dê sua mão. – pediu a Garhfa pegando a mão da garota.

— O que vai fazer?

— Confie em mim. É o presente que disse que lhe daria. Acho que precisará dele agora.

Ayah fechou os olhos e se concentrou, fazendo a luz âmbar reaparecer em suas mãos, e seus verdes cabelos desbotados começarem a flutuar. Ela abriu os olhos, agora brilhantes, e então começou a falar com uma voz sinistra.

— Você descobrirá muito em sua jornada, mas cada escolha que você faça lhe levará a novas, e essas a dor e sofrimento ou gloria e redenção. Seu possível inimigo já está se preparando. É um garoto jovem, e um coelho negro com olhos escarlate o acompanha. A guerra será inevitável, mas suas escolhas moldam seu futuro. Você poderá vê-lo como inimigo ou não. Mas uma dessas escolhas te fará sofrer e a outra morrer. Ainda assim, há esperança para os corações valentes e esses viverão para sempre, e sempre encontrão uma saída quando todos pensarem que não há uma terceira opção.

A Garhfa acordou de sua previsão de repente. Estava normal, como se não tivesse acontecido nada.

— Como assim inimigo, dor, sofrimento, guerra? Eu vou morrer? – segurou Ayah pelos ombros com os olhos fixos nos dela.

— Desculpe Hanna. Seja o que for que eu tenha dito, só você ouviu e entendeu. Eu fico em transe e não percebo nada que acontece quando estou assim. O futuro pertence àqueles que o fazem acontecer e a ninguém mais.

— Como assim? Você não pode dizer essas coisas para alguém e depois falar que não sabe de nada. – falou frustrada.

— Desculpe, mas uma coisa eu sei. O futuro ainda não está definido e o que eu vejo são as possibilidades de um futuro. Isso não quer dizer que o que eu disse vai acontecer, apenas é o mais provável. Depende muito de suas escolhas.

— Ótimo. O mais provável. – falou se levantando e indo em direção à floresta. – O mais provável que vou morrer lutando com um garoto e seu coelho preto. Que belo futuro.

— Só depende de você. Desistir também é uma escolha.

— Você tem razão, mas já que é assim não tenho escolha a não ser lutar. Se for para morrer, morrerei tentando.

Ela entrou na floresta.

O lugar apesar do nome não parecia abrigar vida, pois ao longo de todo o caminho não se ouvia nenhum pássaro ou qualquer outro animal. Depois de um tempo caminhando, se deparou com uma grande estátua de pedra cinzenta e com bastante lodo em sua superfície.

A estátua era de um grande homem com uma espada e imponentes asas nas costas. Vestia uma roupa aparentemente de combate, devido a sua posição de ataque e expressão determinada parecendo ser forte. Na parte de baixo uma inscrição dizia:

Os Corajosos Passarão.

Hanna não entendeu o que queria dizer, mas não estava se sentindo a vontade naquela clareira. Faltava pouco para anoitecer e ela sentia que estava sendo observada.

Decidiu prosseguir deixando a estátua para trás, uma vez que, a sensação de estar sendo observada só aumentava. Nesse momento, andava olhando desconfiada, enquanto a noite já se anunciava e com elas os perigos da floresta que, se de dia morta, á noite era mais viva do que ela gostaria.

Ao longe, ainda era possível ver a estátua de pedra, mas quando olhou novamente, ela não estava mais lá. Como uma estátua poderia sumir assim?

Ouviu o som de um galho quebrando, e mesmo com pouca luz, pôde perceber que algumas árvores se moviam fazendo com que o caminho, por onde tinha vindo, sumisse e a sua frente também. A direita um novo se abriu com o som de galhos trincando. Sem opção e com o arco na mão em posição de ataque, prosseguiu por ele.

Andava cuidadosamente analisando cada passo e tudo ao seu redor, porém toda a cautela não foi suficiente para evitar ser surpreendida por um grande lobo com pelos dourados e com patas negras como botas, que passou por ela em disparada. Ao olhar para ele viu o medo em seus olhos, e ele a encarou de volta, mas não atacou.

O lobo, ao ouvir o som dos galhos, partiu velozmente. Ela não entendeu nada, mas não ficou ali esperando para ver o que aconteceria, seguiu as pressas o animal.

Perseguindo-os, longos cipós percorriam o ar com toda fúria na ânsia de capturá-los. Quando os cipós já estavam próximos o suficiente, atacaram, fazendo com que Hanna pulasse para o lado desviando da investida, mas o lobo não teve tanta sorte sendo pego por uma de suas patas traseiras. Ele uivava em desespero tentando morder para se livrar, em vão.

Tentou ajudar atirando várias flechas contra as raízes voadoras, porém elas pareciam não causar nenhum dano. Então correu na direção do lobo na esperança de socorrê-lo com as próprias mãos, mas foi arremessada para longe por um dos cipós. Caída no chão viu quando o animal foi arrastado aos berros pelo mesmo caminho que tinha vindo até desaparecer completamente.

Ela não podia ficar se lamentando por seu fracasso de resgate, por isso, levantou-se e prosseguiu pelo caminho, mas agora sem correr.

— Como isso é possível? – não conseguiu entender nada. – Será que essas árvores são carnívoras? – falava com ela mesma tentando chegar a uma explicação.

Depois de um tempo andando, percebeu que voltou para o mesmo lugar de onde tinha saído. Agora, os sons de galhos se movendo e quebrando voltaram e com eles o caminho original da floresta, além da estatua do anjo.

— Droga! Estou andando em círculos. – concluiu decepcionada.

Resolveu seguir pelo caminho original, que havia reaparecido, na esperança de conseguir sair logo daquele lugar.

A noite estava clara devido à lua o que deixava a floresta ainda mais sinistra. Depois de um tempo andando sobre as folhas mortas no chão, ela entrou em uma nova clareira onde no centro havia outra estátua. Esta era diferente porque não era cinzenta e nem estava coberta por lodo - era dourada, cravada com muitas pedras bonitas e brilhantes. Tinha certeza que eram rubis e diamantes.

A estátua tinha uma face de cobiça e também grandes asas com penas douradas. Suas roupas cobriam delicadamente seu corpo, semelhante às esculturas de Bernini. Ela estava em posição de reverência com os joelhos no chão e, em suas mãos, se encontrava um cálice dourado também com muitas pedras.

Passando os dedos sobre as palavras em baixo relevo, que se encontravam em volta do cálice, lia em voz baixa.

— Quem do cálice beber viverá além do tempo. – as palavras fizeram um líquido transparente encher o recipiente. – Isso só pode significar... Não, não é possível. Vida eterna não existe, ou será que sim?

— Sim, vida eterna existe. Basta beber do cálice e viverá. – disse uma voz atrás dela.

Assustou-se quando viu que era um fantasma.

— Quem é você? – falou passando a mão através do corpo do ser para verificar suas suspeitas.

— Eu... Hahaha. Pode me chamar de desejo, cobiça ou ganância. Como queira, senhorita Hanna.

— Como sabe meu nome? – enfureceu-se.

— Eu sei o nome de todos que ousam entrar na Floresta Viva. Sim, a floresta sabe das coisas. Não se perguntou por que é chamada de Viva? – falou enquanto flutuava ao redor da garota. – Agora, beba do cálice e viverá para sempre. Conseguirá todas as riquezas do mundo: ouro, diamantes, rubis... Afinal você terá todo tempo do mundo para aproveitar todas elas.

— Não quero riqueza nenhuma e nem vida eterna. Eu só quero...

— Salvar sua mãe? – completou. – Pois então, você precisará de tempo para isso.

O fantasma tinha razão. Ela não sabia quando tempo levaria para encontrar a mãe, o que fazia a proposta ficar mais tentadora. Então pegou o cálice, porém ao invés de beber o líquido, o despejou sobre a estátua que começou a derreter em um líquido negro e viscoso.

— Nãooooo! Sua garota tola. – gritou o fantasma em desespero.

Hanna saiu correndo quando o fantasma foi tomado por um fogo negro como o líquido sobre a estátua.

— Nãooooo! Você vai se arrepender!

Enquanto corria, ainda era possível ouvir os gritos do espírito, mas o som que a preocupou foi de galhos se quebrando. Viu que os cipós a perseguiam, no entanto, depois de um tempo, eles sumiram, permitindo que ela voltasse a andar para tomar fôlego.

Já estava amanhecendo quando chegou até um riacho com a correnteza fraca e pouca água. Atravessou ele sem dificuldades, chegando até um gigantesco muro de pedra que se entendia até onde a vista alcançava por todos os lados. Em um nicho na parede, havia outra estátua de um anjo, porém esta estava nua e pisava sobre muitas serpentes que se contorciam na tentativa de picá-lo, mas elas não conseguiam.

Em suas mãos uma faixa dizia Não temerei mal algum, porque... Comigo. Não era possível identificar todas as palavras, porém ela conhecia aquela frase.

— Mesmo que eu caminhe pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo. – relembrou.

Assim que terminou de falar, a estátua ruiu em pequenas pedras, deixando o nicho livre, o que revelou uma passagem. Hanna ficou surpresa, pois nunca imaginou que conhecer um pouco dos salmos lhe mostraria uma saída em um lugar onde pensou não haver nenhuma.

Não perdeu tempo. Passou pela apertada entrada chegando a uma grande câmera, semelhante a uma gruta, porém era toda fechada e escura. Suas tatuagens se acenderam assim que ela tocou na água que escorria pelas paredes e encharcavam o chão.

— Os corajosos passarão. – repetiu quando entendeu o que a frase queria dizer.

Iluminando o caminho a sua frente com a luz de suas tatuagens, seguiu cautelosamente. Mas sem que notasse pisou em uma pedra submersa que fez o chão ceder, engolindo-a por completo.

Não teve tempo de reagir, escorregou pelo túnel gritando, enquanto a água a fazia deslizar, parecendo um grande escorregador de piscina. Foi cuspida da parede a uma altura de quase dez metros, caindo no rio logo em seguida. Saiu da água tossindo e cuspindo muito.

Pegou sua mochila encharcada na margem um pouco mais a frente. Estava tudo molhado, mas o livro parecia não ter nenhum dano, assim como o cilindro.

Quando se levantou mal pôde acreditar no que via. Um vale se entendia a sua frente sendo cortado pelo rio de águas cristalinas. Ao lado de suas margens se erguiam várias pequenas construções em formato cúbico, todas iguais, porém arranjados aleatoriamente pelo terreno, de modo que apresentavam alturas diferentes. Na porção mais próxima da base da montanha, se destacava um cubo com o dobro do tamanho dos outros. Ainda na montanha, perto de onde tinha saído antes de cair no rio, se erguia uma grande construção calcária semelhante as catedrais góticas europeias, encravada na parede de pedra. Ao seu lado uma grande queda d’água lançava uma névoa no ar.

De alguma maneira ela sabia que havia chegado ao seu destino. Aquilo tudo só poderia ser o Reino.


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