Celest escrita por Alpha, Borges


Capítulo 10
Hanna/ X - O Espelho de Soicinef


Notas iniciais do capítulo

Então vamos lá para mais um capítulo da Hanna, quebrando a sequência para ficar mais interessante. Bem-vindos ao Reino.



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Encharcada, Hanna descia pelo vale em direção à pequena vila seguindo pela margem do rio. Pouco antes de chegar às construções, percebeu um pequeno grupo de pessoas se aproximando. Instintivamente, procurou se esconder no capim alto até que tivesse certeza que eles não eram perigosos.

Todos vestiam roupas parecidas com um colete de cor azul. Pareciam guerreiros por causa das botas, calças próprias de combate de cor cinza escuro, e é claro, por causa da espada na bainha.

Hanna foi interrompida de sua analise quando um deles a avistou e gritou.

— Ei! Você aí. – falou um cara alto ainda se aproximando.

Ela não teve escolha, saiu e se revelou apreensiva, mas pronta para se defender caso fosse necessário.

— Quem são vocês? – disse segurando seu cilindro na mão, mas sem deixar que se transformasse em arco.

— Tenha calma. Pode abaixar sua... Arma. – completou o homem alto se aproximando pouco a pouco. – Não somos seus inimigos. Neste lugar nós estamos protegidos.

Mesmo receosa, ela abaixou o cilindro quando se convenceu de que ele falava a verdade.

— Aqui é o... Reino? – ela queria confirmar sua suspeita.

— Sim. Meu nome é Peter. – sorriu – Olha, você precisa se secar ou então ficará doente.

Os outros do grupo, mais jovens, observavam a conversa de longe sem interferir.

Ela resolveu seguir com eles até a vila, uma vez que estava curiosa e começava a se sentir segura. Enquanto caminhavam, os outros integrantes do grupo a cumprimentaram e deram as boas vindas.

A vila parecia meio deserta já que não se via muitas pessoas pelas ruas. As construções, em formato de cubo, tinham pelo menos uns três metros de altura e não possuíam janelas. Pelo menos do tipo tradicional, pois em seu lugar havia apenas aberturas de vidro bem pequenas.

Entraram em um dos cubos de pedra, com uma alta porta de ferro com várias inscrições em uma língua que ela desconhecia. No interior, o piso também era de pedra e havia apenas uma mesa com muitas frutas em um cesto no centro do cômodo.

— Fique à vontade. Você deve estar com fome depois de passar dias naquela floresta. – disse Peter. – Espere aqui até que alguém venha buscá-la. A senhorita Lana ficará com você. – terminou e saiu da sala.

— Dias? – Hanna repetiu depois que ele saiu. – Eu só passei uma noite naquele lugar.

— Isso é o que você pensa. A Floresta Viva engana nossa percepção de tempo. Poderia se passar dias sem que você percebesse. – explicou Lana.

— Mas eu vi. Eu entrei no fim da tarde e depois anoiteceu. Teve até lua. Então consegui sair no início da manhã.

— Não teve lua esta noite. Aquele lugar tem vida própria. O céu, as árvores e os poucos animais são misteriosos. Enganam os olhos. Não tente entender porque é complicado mesmo.

— Então é uma floresta mágica? – perguntou enquanto devorava uma maçã.

— Não, nada de mágica. É apenas... Uma ciência mais avançada. Não se preocupe, você vai se acostumar. A propósito, suas tatuagens são muito legais.

— Obrigada. – sorriu. – O que vocês vão fazer comigo?

Antes que Lana respondesse, uma pessoa chegou e pediu que Hanna a acompanhasse, então elas seguiram juntas.

— Para onde você esta me levando? – Hanna perguntou para o jovem vestido de branco que as guiava.

— Para a ala dos cinzentos. – ele respondeu.

Lana percebeu a cara de interrogação da garota.

— É para onde são mandados todos os que chegam ao reino pela primeira vez. – ela explicou.

— Então eu não sou a única?

— Não, chegam pessoas quase sempre, embora você tenha sido a primeira dos últimos sete dias. – respondeu Lana.

Hanna percebeu que eles estavam indo na direção da maior construção do local, bem perto da base da montanha. Era toda feita de pedra como as outras, porém não era desgastada, era branca e preservada.

— O que é aquilo? – apontou para o grande edifício.

— Aquilo era o salão dos primeiros reis. Hoje é mais uma... Entrada para o Reino.

— Eu pensei que esta vila fosse o Reino. – disse Hanna.

— Não, esta é só a área de defesa e recebimento de suprimentos. Foi construída para que em caso de ataque o Reino não fosse o primeiro alvo. Mas isso é pouco provável já que tem muitas barreiras até chegar aqui, como a Floresta Viva e o grande muro construído junto à montanha. – Lana explicou se gabando. – O Reino mesmo não é nada parecido com algo que você já tenha visto ou imaginado. É um lugar fantástico.

No caminho, Hanna notou combatentes treinando com espadas, lanças e arcos, como se fizessem aquilo todos os dias. Em outro ponto, perto do rio, viu um jovem forte, tentando domar um belo cavalo alado marrom cujas pontas das asas eram negras. A cada tentativa, ele era derrubado por uma rajada de ar das asas do animal.

— Eu não sabia que cavalos podiam ter asas. – Hanna disse ainda olhando na direção do animal enquanto caminhava.

— Aquilo é um Pégaso, e eles são bem raros, além disso... Como você consegue vê-lo? – Lana parou de explicar quando se lembrou de algo.

— Por que eu não conseguiria?

— Porque você ainda não foi iniciada no Reino. Somente depois de sua designação você será capaz de ver esse tipo de criatura. – Lana explicou ainda surpresa. – Você está vendo mais alguma?

— Não, só o Pégaso.

Porque ela não consegue ver as outras? Lana pensou, mas prosseguiu sem dar grande atenção.

— Isso não é importante. Finalmente chegamos. – falou olhando a grande construção a sua frente.

Como os templos gregos, a construção da entrada para o Reino, repousava sobre uma grande base acessada apenas por uma escadaria na frente, mostrava-se imponente e se estendia até a montanha, não sendo possível ver o final. Ao entrar, Hanna se surpreendeu com a iluminação interna que parecia ser natural, mas não havia aberturas suficiente que justificasse tamanha claridade, e nem lâmpadas. Quando se virou para trás, viu que a porta era tão grande quanto a parede e muito espessa, apresentando muitas barras, que pensou ser para trancá-la e deixar o lugar protegido até mesmo de uma chuva de meteoros.

Voltando a olhar para o fundo do edifício, pôde observar melhor uma série de cinco estátuas com uns quatro metros de altura, reunidas em um círculo, de forma que, uma sustentava a outra com os braços e com as cabeças olhando para baixo na direção de uma escadaria no centro do círculo, semelhante quando um time de futebol se reúne no campo para planejar estratégias. Todas pareciam ser de pessoas bem velhas vestidas com longas túnicas.

— De quem são essas estátuas? – perguntou Hanna se aproximando e olhando para cima.

— Esses são os primeiros reis e rainhas do Reino. Essas estátuas foram feitas depois que morreram em batalha para que todos se lembrassem da forte união que levou à vitória. Seus nomes são: Robert, o grande combatente; Elizabeth, a sábia; Carlos, o salvador; Henry, o explorador e Lúcia, a benevolente. Foram eles que criaram o sistema de esferas depois da guerra civil.

— Mas são cinco. Eu pensei que em um reino só havia um rei ou uma rainha.

— Era assim nos primeiros tempos, mas isso desvirtuou o Reino e trouxe a guerra civil no século XIV, na época dos cavaleiros templários. Então os cinco se juntaram e com o apoio dos que compartilhavam de seus ideais, derrotaram o rei tirano. Depois disso, a sede do Reino foi transferida do velho continente para cá, onde a terra ainda não havia sido corrompida pela ganância humana.

— Então quer dizer que este lugar já existia antes das grandes navegações. Como é possível? – surpreendeu-se Hanna. – No mundo todo não há outro lugar como este?

— Respondendo a primeira pergunta, a história contada nas escolas às crianças é bem manipulada se você parar para pensar, se omitiu muita coisa. E para a segunda pergunta: atualmente sim. Antes deste lugar foi construída uma cidade aos pés de uma montanha brilhante na região nordeste do país, mas depois da chegada dos nascidos no velho continente, a cidade teve de ser abandonada um pouco antes de 1753, quando exploradores a encontraram.

— Como você sabe de tudo isso? Você não parece ter idade para ter estado nesses momentos.

— Com certeza não. Mas depois você vai entender tudo. Agora precisamos descer as escadas. – Lana sorriu.

Os três entraram no círculo formado pelas estátuas e começaram a descer as largas escadas em espiral. A sensação era de inferioridade perto das estátuas que tinham um olhar assustador, como se tivessem sido colocadas ali para lembrar a todos que passassem por aquele local, que não deviam colocar seus desejos em primeiro lugar, mas sim o do coletivo, caso contrário poderiam ter o mesmo fim do rei tirano.

O fim da escada revelou uma grande área subterrânea com o teto bem baixo. Ainda andando, Hanna mal pôde acreditar no que via. Ao sair do túnel, se deparou com uma imensa câmera tão alta quanto à montanha era do lado de fora. A luz do dia entrava por aberturas na rocha deixando o lugar tão claro como a superfície, porém o que mais chamou atenção foi uma grande construção no centro, formada por duas estruturas com formato de asas gigantescas feita de ferro e vidro envolvendo um grande salão, que sustentava cinco grandes torres de pedra branca sem janelas com alturas diferentes, sendo a do centro a mais alta e as das pontas as mais baixas.

— Bem vinda ao Reino! – repetiu Lana.

Descendo por uma escada lateral, a partir do mezanino, Hanna parecia deslumbrada olhando para o alto repetidas vezes, para admirar a imponente construção. O lugar parecia ter saído do futuro de algum filme de ficção científica, devido ao vestuário das pessoas e ao alto nível aparente de tecnologia.

Chegando ao mesmo nível do salão, eles se encaminharam para uma câmera na lateral esquerda do prédio, onde a partir do túnel era possível chegar a várias salas de pedra com uma parede de vidro voltada para o corredor, que no fim apresentava uma grande sala.

— Chegamos senhorita Hanna. Por favor, entre. – o jovem que a guiava parou na frente da porta de uma das salas e esperou até que ela entrasse antes de ir embora.

— Você pode se trocar e depois se encaminhar para a sala no fim do corredor. Estão te esperando lá. Até mais Hanna. – Lana se despediu.

Assim que a garota foi embora, a porta se fechou automaticamente, fazendo com que o vidro da parede, antes transparente, se tornasse opaco dando privacidade ao quarto. O interior da sala era minimalista, mas sofisticado demais para uma caverna. Definitivamente não era uma caverna, estava mais para um quarto de alta tecnologia. Os móveis se limitavam a um guarda-roupa, uma cama de solteiro próximo à parede e uma mesa com tampo de vidro semelhante a um grande “tablet”. Uma porta levava ao que ela pensou ser o banheiro, já que parecia com os banheiros comuns de uma casa.

Hanna mal podia acreditar que aquele lugar era real, de tão fantástico e diferente. Ansiosa para descobrir mais, pegou uma roupa no armário e foi se trocar. A roupa era semelhante a da Lana com botas, calças e um colete por cima de uma blusa bem resistente, a diferença era a cor que não era azul, e sim cinza. E nas costas não havia o desenho de um triângulo com uma das pontas para baixo e as outras para os lados. A roupa serviu perfeitamente, como se tivesse sido feita sob medida.

Saiu e se encaminhou para a sala no fim do corredor, deixando seus pertentes dentro do armário no quarto. A sala parecia dessas de cinema, porém no lugar das poltronas existiam grandes cadeiras bastante espaçadas entre si, semelhantes às de dentista. No total havia dez delas, no entanto, apenas seis estavam ocupadas por jovens como ela. Todos usavam a roupa cinza.

— Sejam bem vindos ao Reino. Meu nome é Rita. – falou um holograma de uma mulher que surgiu do piso, onde estaria a tela de cinema. – Sente-se senhorita Hanna. Estávamos aguardando você para iniciar.

Ela se sentou, surpresa por estar recebendo ordens de um holograma, ao mesmo tempo em que estava curiosa para saber como ele funcionava.

— Agora vocês fazem parte da maior organização da Terra. Vocês serão chamados de Lumnos e Lumnas, pois é o nome dado a quem faz parte do Reino. Alguns de vocês devem ter chegado há dias, e por isso, já devem ter aprendido muito sobre nossa estrutura. Mas para os que ainda não tiveram tempo de se adaptarem, eu vou explicar. – o holograma fez uma pausa e prosseguiu. – Se vocês conseguiram chegar até aqui é porque foram convidados por possuírem alguma função importante para nossa organização, por conseguirem passar pelos testes que provaram sua coragem, determinação e compaixão e por não se corromperem frente a riquezas materiais.

Os cinzentos, como pareciam ser chamados os novatos devido a suas roupas, escutavam atenciosamente a mulher. Alguns pareciam tranquilos, e outros assim como Hanna, pareciam confusos.

— O Reino é dividido em seis esferas de permanência. – Rita continuou. – Esfera Administrativa, Esfera das Missões, Esfera dos Conhecimentos, Esfera da Cura, Esfera de Combate e Esfera de Apoio. Dessas, com exceção da Esfera Administrativa, vocês podem escolher uma para fazer parte e iniciarem a permanência de vocês. – Rita andava de um lado ao outro. – A Esfera de Missões é destinada aqueles que realizam atividades externas, e por isso, precisam ter muitas habilidades. A dos Conhecimentos é para os que dedicam suas vidas ao saber universal. A Esfera da Cura é para os que conseguem manter e prolongar a vida das pessoas e seres. A de Combate tem a função de defender o Reino e atacar nossos inimigos. E por fim, a Esfera de Apoio é a de manutenção, sendo responsável pelos suprimentos e organização.

— E a Esfera Administrativa? – falou um garoto no fundo da sala.

— A Esfera Administrativa é formada pelos líderes das outras esferas, compondo a cúpula que é responsável por tomar as principais decisões e por se comunicar com os celestiais. – respondeu Rita juntando as mãos.

Era muita informação para processar, mas Hanna já tinha entendido tudo.

— Agora devem escolher em qual delas querem ingressar. Vocês serão levados até o grande salão, onde passarão pelo Espelho de Soicinef. Ele consegue ler o seu desejo mais forte, para assim definir para qual esfera vocês irão. Para isso, ele leva em consideração seu passado, seu potencial físico, mas principalmente, sua escolha. – Rita fez uma pausa esperando perguntas. – Na cadeira de cada um de vocês há um pequeno cilindro que vocês deverão encher com sangue. Não se preocupem, é apenas um pouco, semelhante a um exame de sangue. Depois vocês serão escaneados, para determinar o potencial físico, e então estarão prontos para a cerimônia. Podem começar.

Alguns jovens começaram a coletar o próprio sangue, enquanto outros estavam apreensivos. Hanna pegou o pequeno cilindro reluzente e enfiou no braço, fazendo com que fosse preenchido por seu sague. Ao terminar, uma alça da cadeira passou sobre seu corpo projetando uma luz sobre ele terminando com um som suave.

Depois que todos haviam acabado Rita surgiu na porta e pediu para que a seguissem. Os sete jovens, com os cilindros na mão, se reuniram e foram passando pelo corredor.

— Vocês sabem o que eles farão com nosso sangue? – um garoto de óculos perguntou.

— O sangue é usado para injetar no Espelho de Soicinef. Só assim ele consegue nos avaliar. – explicou uma garota com ar de autoridade e com os cabelos perfeitamente presos em um coque.

— Eu achei que não viria mais ninguém hoje, mas interromperam a apresentação pouco antes de avisarem que mais um tinha chegado. – disse uma garota alta.

— Eu fui a última ao que parece. Mas que espelho é esse? – completou Hanna.

Agora já tinham saído da câmera e se aproximavam do grande salão onde estavam as cinco torres.

— Essa história não foi comprovada, mas os veteranos disseram que o Espelho de Soicinef foi feito com o primeiro pedaço de vidro transparente feito pelo homem, com a ajuda de uma deidade, que queria ajudar as pessoas a descobrirem seus verdadeiros desejos. Por isso, ele é tão valioso. – respondeu a garota de coque.

— Isso deve ser só uma lenda para nos assustar. – disse um garoto bem grande e forte parecido com um lutador de artes marciais.

Hanna percebeu que todo aquele lugar era sobre humano, por isso, fazia sentido que tudo tivesse sido feito por deidades poderosas. Era a única explicação.

— Então, todo esse lugar foi construído por deuses? – Hanna perguntou.

— Na verdade não. O Reino foi construído com o conhecimento passado à alguns humanos por mensageiros de Deus, os anjos. Esse lugar tem cinco séculos de avanço tecnológico, por isso, tudo parece surpreendente. – respondeu Rita.

Ninguém disse mais nada, pois assim como Hanna tentavam digerir a realidade da existência de anjos. Agora algumas coisas começavam a fazer sentido, como chamas azuis, monstros, um arco de luz, um santuário no porão de sua casa com água benta, entre outras coisas.

Ao invés de irem para o salão eles entraram em uma sala.

— Chegamos. – Rita anunciou. – Aguardem serem chamados.

De dentro da sala era possível ouvir um grande murmúrio.

— Que barulho é esse? – a garota alta perguntou.

— É a plateia. Nas cerimônias todos se reúnem no grande salão para ver a iniciação dos cinzentos, ou seja, nossa iniciação. – um garoto de feições orientais e misterioso explicou.

Antes que alguém perguntasse mais alguma coisa, eles foram chamados para entrar no salão. Quando fizeram, todos que assistiam aplaudiram e gritaram o nome de suas esferas. Os cinzentos foram levados até uma plataforma elevada no salão, onde sentados se encontravam cinco pessoas que demonstravam autoridade, mas acima de tudo, poder. Uma delas era a Rita de verdade, não seu holograma e outra era a velha que havia conversado com Hanna na galeria de arte quando ganhou suas tatuagens.

Hanna a reconheceu, mas estava distante demais para se comunicar com ela. Enquanto os sete cinzentos estavam em pé na lateral, Rita se levantou e foi para o centro do “palco”.

— Que comece a cerimônia. – falou enquanto removia um pano azul que cobria um arco de pedra, colocado no palco, por algumas pessoas vestidas com uma roupa branca com um desenho de um pentágono nas costas.

Todos ficaram em silêncio quando Rita se preparava para, um a um, chamar os sete jovens. O primeiro foi à garota do coque que ao ser chamada se aproximou do espelho e conectou o seu cilindro na base do arco.

Ela pareceu confusa parada na frente do espelho, mas depois de alguns minutos olhando para ele, o atravessou como se ele não fosse sólido, saindo do outro lado com a roupa de cor diferente. Agora era branca com um desenho de um pentágono nas costas do colete, semelhante às pessoas que tinham trazido o espelho.

— Esfera dos Conhecimentos! – anunciou Rita. Muitos que assistiam ovacionaram.

A garota foi encaminhada para junto de um grupo de pessoas com a roupa semelhante à dela.

Um a um, os outros jovens foram sendo chamados. O garoto de óculos e outro foram designados para a Esfera da Cura, o garoto misterioso de traços orientais foi para a de Combate, a garota alta também para a dos Conhecimentos e o cara grande foi para a de Apoio deixando Hanna por último.

— Hanna. – Rita a chamou.

Apreensiva por estar um pouco assustada, ela se encaminhou para frente do espelho e conectou seu cilindro na base do arco. Assim que o fez, o liso vidro transparente envolto por um arco de pedras mudou para cor vermelha, e em seguida, começou a mostrar algumas imagens um pouco embaçadas.

No início ela não reconheceu nenhuma, mas depois percebeu que estava vendo momentos de importantes escolhas na sua vida. As últimas imagens foram de sua mãe e de quando, assistindo o pôr do sol, decidiu que iria encontrá-la. Aquilo mexeu com ela, enchendo seus olhos de lágrimas, mas sem que uma gota se quer se derramasse.

As imagens sumiram no momento em que ela atravessou o espelho. Suas roupas antes cinza agora era uma mistura de azul, cinza e branco, com um desenho de um triângulo, com a ponta para baixo, semelhante aos dos integrantes da esfera de combate, porém sobre o triângulo havia um desenho parecido com a letra “Y”.

— Esfera das Missões. – anunciou Rita, mas não com o mesmo entusiasmo de antes. Na verdade, com um tom de preocupação.

Ninguém aplaudiu e nem gritou, como se apenas o silêncio preenchesse o grande salão. Hanna olhando para os rostos de todos eles só via surpresa e medo, como se algo perigoso estivesse prestes a acontecer. Depois de um tempo, as pessoas começaram a discutir umas com as outras tentando entender o motivo daquela designação.

— Acalmem-se. – Rita tentou controlar a situação. – Todos nós sabemos que a designação para a Esfera das Missões só ocorre em casos especiais, geralmente precedendo algum grande acontecimento que causa grandes mudanças para todos. Mas precisamos manter a calma e nos preparar para o que estar por vir. Unidos somos mais fortes.

Quando terminou todos gritaram e aplaudiram inspirados pelas palavras de fé da mulher. Os outros senhores que estavam no “palco” se levantaram e juntamente com Hanna e Rita se encaminharam para a torre mais alta do local. Entraram em uma versão mais moderna de um elevador e chegaram a uma grande sala com uma imponente mesa no centro no topo da torre.

— O que vamos fazer? Já sabíamos que esse dia chegaria, mas não tão rápido. – perguntou um homem todo vestido de branco, que Hanna facilmente identificou como sendo o líder da Esfera de Cura devido ao símbolo do infinito em seu colete.

— Essa pergunta será respondida com o tempo. No momento precisamos interrogar a garota. – falou Rita fazendo com que todos olhassem para Hanna.

— Aproxime-se Hanna. Creio que já nos falamos, mas eu não disse meu nome. – disse a velha da galeria. – Eu sou Glória, a líder da Esfera das Missões.

Hanna tinha mil perguntas para fazer a ela, mas no momento estava confusa.

— O que esta acontecendo? – limitou-se a fazer a pergunta mais ampla.

— Bem, você já deve ter percebido que você não esta aqui por acaso... – Glória começou a explicar, mas foi interrompida por um homem no fundo da sala.

— Creio que vocês não sabem o que significam essas tatuagens na garota. Certo? – disse com ar de autoridade. – Como sou da esfera dos conhecimentos eu as reconheceria em qualquer lugar. Embora seja a primeira vez que as vejo pessoalmente.

— Do que você esta falando, Leonard? – perguntou uma mulher da Esfera de Combate.

— Não percebe Helena, a garota é um monstro, uma aberração. Ela é um Nephilin. –Leonard fez uma pausa para ver a reação dos colegas.

Todos, com exceção de Glória, ficaram chocados com a revelação.

— Nephilin? Pensei que todos haviam sido mortos. – espantou-se Helena. – Já que é assim, ela deve ser presa e interrogada imediatamente. – ordenou Helena. Rita e Akira, o líder da esfera de cura concordou com Helena sem protestos.

Hanna ficou confusa, pois diziam que ela era um Nephilin, mas até onde sabia, segundo os filmes, eles eram filhos de anjos com humanos. Como isso é possível? Pensou.

— Mas ela não conseguiria chegar até aqui se não fosse digna de entrar no Reino. – argumentou Glória. – Eu quero encaminhá-la a Torre das Missões para iniciar seu treinamento.

— Eu gostaria de aprender um pouco mais sobre isto... – Leonard apontou para Hanna. – antes.

— Não podemos passar sobre as regras, senão entraríamos no caos. – completou Rita. – Ela deve ser enviada a cela da Torre dos Conhecimentos para ser interrogada, estudada e depois executada.

— Que seja. – Akira respondeu.

— É o certo a se fazer. – concordou Helena.

— Mas precisamos aceitar que ela foi escolhida pelo Espelho de Soicinef. Não podemos permitir essa barbaridade de execução. Ela tem o direito de ingressar na sua esfera de permanência. – Glória tentou convencê-los.

— Desculpe Glória, mas a maioria decidiu. – Leonard argumentou. – Guardas, levem-na.

Uma onda de choque percorreu o corpo de Hanna ao se dar conta de seu destino. No entanto, antes que pudesse reagir, um dos guardas colocou uma tiara em sua cabeça, o que a fez se sentir pesada e incapaz de se mover. Era seu fim.


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Notas finais do capítulo

Em breve postarei o próximo, até lá



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