P.O.V Elena

Acordei com um forte barulho me fazendo levantar alarmada. Não confio em ninguém. Eles podem realmente estar atrás de mim por algum motivo que seria: Tony Stark. Sou um tipo de ticket para conseguir o que diabos eles quisessem, como o chefe lá disse. Preciso ser cuidadosa, esses caras não querem apenas matar você, se fosse assim, seria tudo tão mais fácil.

Não vou ser o ticket.

Muito menos por causa de Tony Stark.

Estranhei porque não lembrava ter ido dormir, acho que estava tão cansada que não consegui ficar acordada, odeio isso, preciso ficar descansada para enfrentar viagem, e tentar pelo menos conseguir dinheiro de alguma forma.

Virei para o lado e não vi ninguém no quarto, julguei que provavelmente deveria ser Connor transando com a namorada, de novo, o matei já trezentas vezes na minha cabeça, pelo menos se aquela namorada dele soubesse fingir bem, ou ficar ao menos calada e aguentarem firme, mas acho que o prédio inteiro consegue ouvir os falsos gemidos dela.

Decidi ficar na cama e me enrolar até a cabeça e tentar tapar os ouvidos com os travesseiros porque antes de ouvir qualquer coisa já estaria ao menos preparada. Mas não ouvi nada além de pisadas fortes, acho que Connor acabou de chegar, alguém bateu na minha porta. Droga, não entre Connor, não tente nada, não me force a te dar uma porrada. Você não vai gostar, pensei mentalmente. Ou pelo menos, acerte o quarto e não se jogue em cima de mim.

Abriram a porta, e eu já estou praticamente me levantando, mas ainda coberta.

– Connor, se for você e sua namorada coelha tentando dormir em cima de mim, eu juro por Deus que vou mandar os dois... – Quando me virei de repente, não era Connor, era uma pessoa que eu menos esperava, mas na verdade, sei que esperava, mas não agora. Não nessas circunstâncias.

– Não sou a namorada de Connor e muito menos Connor, tentando dormir na sua cama, Elena. Pode se preocupar – Ele enfim falou, o Homem de Ferro, Tony Stark.

Levantei-me de vez, e o vi bufando porque eu ainda estava com aquele short de Pepper ridículo. Estávamos finalmente, ou infelizmente, frente a frente.

Não tem mentira alguma aqui.

Na verdade, sei que tem mentiras. Eu sou uma mentira em si.

Mas não disso, não desse assunto, não estamos agora mentindo sobre esse assunto um para o outro.

Ele me encara e eu faço de volta.

Não quero falar com Tony, não quero lidar com isso. Quero esquecer.

Estou com raiva, quero batê-lo, mas ele me aparenta estar com aquele rosto melancólico e triste. Aquele seu olhar que eu entendo, sei que entendo. Sei que está arrependido, mas se arrependimento consertasse as coisas, eu provavelmente teria consertado toda minha vida. Mas infelizmente não é assim, não estamos em algum tipo de filme, essa sim, é a mais dura realidade.

Ficamos nos encarando por um bom tempo, sei que ele me analisa por inteira, tentando achar algum sinal sequer para seguir com a conversa, mas não conseguiu, não achou nada porque estou imóvel o fitando do jeito que ele faz. Sei que ele estava nervoso, porque engolia seco, seus olhos não conseguiam fitar os meus, mas eu tinha os olhos no dele, apesar de não ser reciproco. Eu praticamente o encarava, esperando que ele fosse corajoso uma vez. Uma vez em particular.

Vamos lá, Tony, tente fazê-lo, penso comigo.

Mas espere, não quero isso. Não quero que o faça.

Mas ele vai fazer. Oh, isso não vai acabar bem.

– Stark, o que faz aqui? – Sei que ele não iria falar, então falei. Porque sou ansiosa.

Penso sempre que antes de sequestros, violência doméstica ou qualquer dessas merdas que já aconteceram, irei morrer de ansiedade.

Estou sempre ansiosa.

Seus olhos que estavam no tamanho normal, praticamente saiam da órbita.

Isso não é certo.

– Eu estive procurando você por todos os lugares, eu... Eu... Droga, Elena. Droga, apenas que droga – Ele gaguejava, passava as mãos pelo cabelo, virava de um lado para o outro, chutava o ar. Estava irritado, confuso, arrependido, nervoso, um misto de sentimentos se passava no indomável Homem de Ferro, enquanto isso, me mantive imóvel, intacta. – Você apenas vai ficar assim, me encarando? Nossa, muito conveniente, isso é... Encantador – Ele falou ainda mais irritado, ou nervoso. Agora não quero descrever, ou analisar o que se passava em Tony. Queria adiar a conversa.

Queria adiá-la para sempre.

Ele apenas poderia ter deixado isso para lá, mas sei que isso iria contra seus princípios, e pelos dias incontáveis ou ao menos, ele contou, que passei com ele, Tony Stark nunca foi um idiota como ele foi quando eu era um bebê, sei que ele não é mais aquele cara, sei que ele tem princípios e que ele lembraria de mim eventualmente, mas isso não é certo. Ou pelo menos, não deveria ser.

Não consigo fazer com que isso passe.

Ou ao menos, parar de martiriza-lo com isso.

Já tive pessoas mais babacas na minha vida, pensei. Tony não seria o último, apenas poderia dar de ombros e ele ir embora viver no seu mundinho e pensar que está tudo bem, e eu ir embora para alguma estrada que me guiasse para algum caminho que eu poderia estar certa dessa vez, mas não o faço... Porque não consigo.

– Poderíamos conversar? Por favor? Na lanchonete aqui em baixo? – Seus olhos imploravam, assim como ele implorava. Mas aqueles olhos deles... Não consegui não sentir o que ele sentia dessa vez. Que inferno, você é meu inferno Stark. Odeio o fato de você estar sendo verdadeiro. Poderia ser um babaca como sempre e ir embora.

Respiro fundo, e fecho os olhos por meio segundo, e quando os abro, ele continua me encarando com aquele olhar, era desesperador. Odeio isso. Eu odeio você, Tony Stark. Revirei os olhos e finalmente pensei numa coisa, mas desisti. Deixe para lá, tanto faz. Estou indo embora, o que vai mudar?

– Você tem menos que uma hora – Eu falei saindo do quarto, deixando ele só e confuso, e indo em direção ao único banheiro da casa, lavei meu rosto, escovei os dentes e saí para a sala, onde pego no braço do sofá minha jaqueta. Ele ainda estava parado observando cada movimento. – Está perdendo tempo, Stark – O avisei saindo do apartamento e vendo aquele mesmo cara que estava me perseguindo na lanchonete, oh, claro. – Me seguindo? – Perguntei revirando os olhos.

– Me desculpe Srta. Stark. Eu apenas estava seguindo ordens e Tony está sendo verdadeiro, eu conheço o cara. Dê para ele uma chance, vamos lá – Ele falou insistente.

–Não me chame disso.

Eu apenas saio andando e escuto barulhos deles vindo atrás de mim, chego rapidamente na lanchonete e sento em qualquer lugar. Tony se senta na minha frente, e o outro cara fica em pé.

– Você está querendo crescer mais? Sente logo – Eu perguntei irritada, não queria que ele ficasse em pé como se tivesse alguma obrigação. Não gostei de trata-lo assim, estou sendo um pouco rude, ou muito, muito mais que fora do normal. É o seu trabalho, eu entendo.

Mas ele faz o que eu peço, e se senta ao lado de Tony que ainda me encara atônito. Não sei porque, mas ele me encara assim, um misto de coragem, admiração, e outras coisas se passa em seus olhos. Sei disso, consigo sentir, mas não quero.

– Eu sou Happy – Ele falou sorrindo, e eu bufo dando um leve sorriso também.

– Isso explica porque está sempre sorrindo – Brinco de leve e ele começa a rir abertamente. – Sou Elena.

– Ah... Happy, você poderia nos dar um minuto, por favor? Eu preciso realmente falar com minha fi... Elena – Tony falou. Sei que ele iria falar “filha”, mas ele sabe que provavelmente eu iria revirar os olhos e negar.

– Claro, chefe. Tem umas pessoas ali que eu gostaria de conhecer, sabe como é – Ele falou levantando-se dali com todo o charme, e antes de sair de junto, ele piscou para mim. Sorri de lado. Ele era legal, apesar de tudo. Deve confiar muito em Tony, e vice versa.

Virei-me novamente para Tony, não querendo o encarar. Mas faço isso de qualquer jeito.

– Procurei... Procurei você o dia inteiro, passando de bar em bar – Ele falou gaguejando pouco, falando baixo.

– E onde o Homem de Ferro se encaixa nisso, Tony? Poderia ter sido tão mais fácil me encontrar com todas essas tecnologias – Não quis ser sarcástica, mas foi o que acabei sendo.

– Não estou aqui como Homem de Ferro, Elena. Estou aqui como seu pai – Ele falou me encarando, olhando nos meus olhos agora. – Nós dois sabemos que você só seria encontrada quando quisesse – Ele completou e eu apenas dei de ombros.

– Como um pai? – Ironizei.

– Como um pai agora – Ele se consertou, estava envergonhado.

Fechei os olhos novamente, não queria fazer isso pela primeira vez na minha vida, não queria fazer isso com ele.

– Escute Tony, eu... Você não precisa falar nada, eu sei, eu entendo. Apenas deixe para lá – Murmurei dando de ombros.

– Deixar para lá? Elena, deixei você para lá já por anos. Perdi praticamente tudo da sua vida, te dei as piores chances, te dei um cara como pai que não era certo, ele não era legal, ou ao menos certo. Causei tanta dor a você, tanta desgraça. Quase te perdi antes mesmo de conhecer você, agora você leva uma vida que eu penso que não quero, não queria que você conhecesse esse lado do mundo, não queria ter deixado você na beira do desespero. Ou que em algum momento você tivesse que enfrentar tudo aquilo sozinha – Ele falava sério. Tony, pare de falar essas coisas, minha mente gritava.

PARE DE FALAR ESSAS COISAS TONY.

PARE DE FALAR ESSAS COISAS TONY.

– Eu sou um idiota, sempre fui um grande babaca porque fui criado assim, eu não tenho palavras o suficiente para fazê-la ficar bem, ou dizer que isso vai passar, nós dois vamos levar isso para vida toda, Elena. Nós dois. Eu vou me sentir culpado a vida toda, essa dor aqui no meu peito me corrói desde que soube da gravidez dela, você acha que eu nem me lembrava de você, mas claro que lembrava, e a dor que eu sinto aqui... Depois que vi o que fiz com você, com sua vida... Eu não queria... Eu simplesmente queria ser essa pessoa naquela época, queria fazer tudo diferente, e eu juro Elena, eu faria. Eu mudaria meu passado, seria o melhor pai, não deixaria você ver o lado feio da vida, ou ao menos do amor, eu daria amor, faria você conhecer o amor. Faria tudo, exatamente tudo diferente. Mas não posso mudar o passado, Elena. Eu simplesmente não posso e estou extremamente arrependido disso, me deixe ser seu futuro. Deixe-me ser um pai. Deixe-me ser seu pai. Eu prometo, Elena, estou tentando fazer o certo dessa vez, não deixe que seja tarde demais. Não sei como, mas sei que já estava indo embora, e isso me parte o coração. Sei que não quer lidar com isso, droga, eu também não queria. Dói-me falar essas palavras, me dói de verdade. Não quero ser aquele babaca, não quero ao menos ser um babaca. Deixe-me tentar consertar isso, Elena. Deixe-me ser o melhor que posso. Por favor, não vá embora. Não me deixe – Ele falou, sei que agora ele estava falando de todo o seu coração, ou o que sobrou. Sei que o machuquei. Sei que não era sua intenção, eu sei de todas essas coisas, mas estando aqui sentada olhando nos seus olhos, eu senti o que ele sentiu, e eu não sei o que falar, ou como agir. Mas sei que preciso colocar um fim nisso. Ele não é pai, assim como eu não sou filha.

Tudo que faria com ele seria machuca-lo, e ele me parece tão feliz.

Continuo com meu pensamento, seja feliz Tony.

Sei que ele merece felicidade, eu senti isso quando estávamos preso, sinto agora porque sei o quanto ele está arrependido. Ninguém nunca me pediu para ficar, pensei comigo.

Não me peça coisas impossíveis, Tony.

Não me peça para ficar, não saberia como. Não me peça para machuca-lo. Sei que farei.

Sou uma máquina de quebrar corações, como dizem por ai. O de Tony, mesmo este sendo não proposital, sinto que quebrarei.

Ele segurou minha mão, por segundos me deixei sentir aquilo, como uma boa energia passasse dele para mim, nunca senti isso. Meu antigo pai, ou de qualquer coisa que ele se chame, nunca fez isso, ou sequer minha mãe, ou qualquer um que eu conhecesse. Talvez não seja o meu lado esse sentimental, talvez eu nunca fosse ser assim, mas deixei-me aproveitar esse momento por segundos.

Tirei meus dedos do dele rapidamente e olhei para o lado quebrando nossos olhares. Esse era o fim, ou quase isso.

Então foi aí que vi um cara estranho parado do outro lado da rua, ele segurava algo firmemente na sua mão, ele me encarava e eu o encarava de volta, espremi um pouco os olho para enxergar o que ele tinha em mãos, mas antes que eu pudesse observar e tentar desvendar, ele jogou para o outro lado da rua, quando percebi o que era, meu coração ficou cada vez mais acelerado. Olhei para Tony que me encarava confuso.

Peguei rapidamente em suas mãos.

– Para baixo! – Eu gritei alto, sei que gritei e o puxei para o chão comigo, mas não deu tempo.

Minha cabeça girava, não escutava mais nada, vidros caiam em cima de mim e de Tony, sei que ele me puxava para que ele fosse me acobertar de tudo isso.

Sei que mesmo não escutando, tinha ali gritos. Eu sentia.

Minha cabeça girava, tombei para o lado e Tony gritava meu nome, mas era tudo em vão. Tudo ali naquela sala girava, estava tudo tão lento.

Pistei várias vezes tentando acertar meus olhares, enxergar direito, mas só vejo fumaça. Em todos os lugares, apenas fumaças e tudo vai ficando cada vez mais e mais lento.