Manhã de domingo, João acordou com o sol cegando seus olhos e se arrependeu amargamente de não ter fechado as cortinas antes de dormir. Assim que levantou, sentiu sua cabeça toda rodar e caiu no chão frio do seu quarto. De repente flashs da noite passada vieram. “Eu dancei com um monte de mulheres? E aqueles copos eram água né? Porque parece que minha cabeça vai explodi?” pensou João tentando se levantar, mas sem sucesso.
João achou o celular jogado no chão, pegou e foi direto na agenda. Tinha tantos nomes femininos novos, que João tinha medo de ter feito qualquer coisa imprudente. Discou o numero de Bianca, que atendeu no quarto toque.
– Alô.- Disse a voz feminina do outro lado.
– Oi Bianca…- Sua voz tava uma droga, na verdade, ele tava quase sem voz.- Eu acabei de acordar e não lembro muita coisa de ontem, eu tomei um porre não foi?- Questionou já sabendo a resposta.
– Mais ou menos.- Falou Bianca com uma voz seca, quase impessoal.
– Eu fiz alguma coisa errada?
– Não, por que a pergunta?- Perguntou mais uma vez seca.
– Porque você tá estranha. Aconteceu alguma coisa?- Perguntou João preocupado.- Olha, se eu disse alguma coisa para você, esqueça, não era eu.
Bianca fez um silencio, que João fez menção de checar se a ligação não tinha caído, quando a voz da garota saiu do aparelho.
– Você não fez nada de errado, eu só estou nervosa com o prazo do fim do trabalho.- Mentiu Bianca.
– Vai dar tudo certo, fica tranquila.- Garantiu o rapaz.- Bianca, eu vou desligar, tenho que tomar um banho e dar um jeito nessa dor de cabeça. Até mais.
– Até.
João checou sua galeria de imagens e tinha um monte de fotos novas, com pessoas novas, pessoas que o garoto nem se lembrava.
– Meu Deus, eu preciso de um banho.- Falou jogando o celular na cama e saindo para o banheiro.
Assim que seu corpo entrou em contato com a água morna, se sentiu frustrado. Bianca com toda certeza iria tirar nota no trabalho, vai dizer um “muito obrigado” e com sorte João ganharia um beijo no rosto. Depois ela voltaria a ser a Bianca de sempre e ele jamais voltaria a ser o mesmo João, mas mesmo assim, não se falariam. Infelizmente, tem pessoas que não nasceram para se ter a pessoa que quer.

(...)
Bianca estava sentada em sua cama, com Ruiva sentada ao seu lado. Bianca havia contado tudo a Barbara tudo o que João tinha lhe dito e como se sentia em relação a isso. Nem a própria Bianca entendia o que estava acontecendo.
– Bianca, eu sei que ele disse a base do álcool, mas os bêbados não mentem, só dizem o que sempre quiseram dizer mas não teve coragem.- Explicou Barbara.
– Ruiva, você ouviu o que ele acabou de dizer no telefone, que não era ele ontem.- Falou Bianca nervosa.
– João só disse isso porque você tava toda estranha com ele.- Alegou Ruiva.
– Mas se fosse tão importante, ele se lembraria.- Bianca tentava achar desculpas para tudo.
– Depois de um porre daquele? Acho meio improvável.- Ruiva se levantou da cama.- Eu fiquei de passar na casa do Lírio, até depois.- Ruiva deu um beijo na testa de Bianca, e saiu do quarto da garota.
Bianca deitou na cama abraçada com o travesseiro e as palavras de João ecoaram na sua mente. “Você é tão linda, que eu chego a pensar que não existe, sabe, uma mulher que eu idealizei? É verdade. Eu sempre te achei linda, sempre fiquei observando lá de longe, você junto com os seus amigos, parecia um anjo caído… O meu anjo caído. Tão perfeita. Perfeita e inalcançável.”
A garota nunca se sentido perfeita, sempre se achou um pouco sem graça. Não tinha um corpo definido e escultural como Jade. Também não tinha o pensamento forte de Ruiva. Muito menos a força e a garra que a irmã mais nova, Karina, tinha para enfrentar seus problemas.
Qualquer coisa que dizia, já caía no choro, também tinha o péssimo hábito de se importar muito com o que os outros pensavam dela. Por isso, o que João havia dito, tinha mexido com a garota. Ele foi o único que fez um elogio pela pessoa que era, não pelo seu corpo.
Mas será que era só por isso que ela tinha se importado com o que João havia lhe dito? E o beijo na balada? Bianca fez aquilo só pelo lado profissional? Ou queria mesmo beijá-lo?
Eram tantas perguntas, que Bianca queria se enfiar em uma bola e ficar lá por um bom tempo.

(...)
João passou o resto do dia se recuperando da noite anterior. Também tentava saber o que era real e o que era sonho. Tinha uma imagem que não sabia dizer se era mentira ou verdade. Uma imagem de um beijo, um beijo em Bianca. Apesar de seu bom senso dizer que era mentira, sentia seu peito em contato com o dela, a língua quente da garota em contato com o interior da sua boca gelado, seus lábios sendo sugados pela garota e o cheiro inebriante do perfume de Bianca, estava grudado nas roupas que tinha usado na noite anterior. Tudo tão real… Em qual acreditar?

(...)
No outro dia, Bianca não veio chamar João para correr, como todos os dias, o rapaz achou estranho, mas agradeceu por poder dormir um pouco mais. Depois levantou, fez os exercícios físicos e esperava realmente que Bianca não quisesse o peso de volta, tinha se acostumado com os exercícios matinais. Tomou um banho, passou o anti transpirante e a colonia. Vestiu a roupa que Karina havia lhe entregado no dia anterior (Bianca tinha pedido esse “favor” a Karina). Era uma blusa de frio preta sem mangas e com capuz, deixando assim os seus pequenos músculos, mas existentes, á mostra. Uma calça jeans simples cinza, que ficava um pouco caída e para completar, o tênis branco da noite anterior. Nos cabelos o mesmo penteado que o cabeleireiro havia feito.
Tudo isso tinha um porque, era hoje a apresentação do trabalho. Depois de hoje, tudo iria mudar.

(...)
Bianca estava em um misto de ansiedade e frustração, realmente queria apresentar o trabalho e tirar nota para passar de ano. Porém isso também significaria que não teria nenhum outro vínculo com João Spinelli. Não sabia o porque, mas aquilo a incomodava.
Assim que João pisou os pés na escola, seus olhos varreram a escola á procura de Bianca. Notou que no caminho, algumas garotas mexiam com ele, jogava beijo. Era estranho, nunca pensou que alguém o trataria assim. Quando seus olhos avistaram Bianca, o rapaz se aproximou da garota.
– Olá Bianca.- Cumprimentou.
– Oi João, vejo que a roupa serviu certinho.- Bianca deu uma conferida no nerd, sorrindo logo depois.
– É sim, ficou sim. Bianca, eu quero te perguntar uma coisa.- Começou o rapaz.- O beijo de ontem… Aconteceu mesmo ou eu tive um sonho?
Bianca congelou na hora, tinha tanto medo que aquele beijo fizesse com que os dois se sentissem estranhos. Era quase um alivio saber que ele achasse que fosse um sonho. Só não era um alívio, pelo fato dele ter esquecido. Será que ela tinha beijado tão mau assim?
– Um sonho.- Bianca foi o mais convincente possível.
– Ah tá, eu já imaginava.- João não conseguiu esconder a decepção, então ficou nervoso e resolveu mudar de assunto.- Vamos pra sala apresentar esse trabalho. Quem quer ganhar um 10 hoje?- Fingiu uma empolgação que não tinha.
– Eu!- Bianca também fingiu estar empolgada.
Seria, sem sombra de dúvidas, o 10 mais doloroso da sua vida.