Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 22
Divinità




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Estremeci quando passei a ponta dos dedos em sua assinatura, parecia que aquilo o fazia real. Passei o dia em meu quarto, privando-me de pessoas, de bajulações, e principalmente, de perguntas das quais não estava preparada para responder.

A Lua fez o céu como sua moradia, e só assim percebi o espaço que a notícia tomara em minha vida. Junto á elas, estavam pequenas e brilhantes estrelas, deixei o sorriso escapar por um momento, lembrei de Florença, lembrei de como costumava ser feliz com poucas coisas. Fiquei contemplando a beleza noturna da sacada de meu quarto.

Deixei me encantar com aquelas maravilhas, pensando em Anjou, e até mesmo em seus filhos.

— Noite turbulenta, não? — Uma voz atrás de mim disse.

— O bastante para tornar-se inesquecível, Vossa Graça. — Encarei-o e fiquei satisfeita ao ver seus olhos brilharem. — O que veio fazer aqui?

— Estão te chamando para jantar, mylady, e estão perguntando á todos o que a deixou tão abalada e desligada do mundo. — Cesare Borgia, Duque de Valentinois e meu amante, aproximou-se de mim. — Devo me preocupar?

— Não.

— Então, sem rodeios, posso perguntar-lhe o por quê de estar tão distante? Tu não és assim, meu amor. Ordeno que volte a ser a Giorgia que eras! A mulher que envolveu-me com paixão e desejo. — Cesare passou a mão em meus cabelos, fazendo com que me sentisse segura, e desse jeito, deixava-me confortável o bastante para falar-te mil diabos. — Faz de mim teu confidente, meu amor. Faz de mim o que teu coração mandas.

— Não posso, Cesare. Esse peso eu carreguei durante anos, e agora que se desfez, não sinto alívio, pelo contrário, sinto como se a carga tivesse sido mil e uma vezes aumentada. — Dei-lhe uma olhada e encarei o chão. — A morte ronda Roma.

— A morte ronda os quatro cantos do mundo, desde Roma até as Índias. Mas é disso que te afliges tanto, meu amor? A morte á assusta?

— Não. Ele morreu, Cesare! Agora não vejo casar-me com outro alguém á não ser ele. Apesar de ser desonesto e o mais terrível dos homens, meu futuro estava pronto para ser ao lado dele. — Olhei em seus olhos. Encarei os olhos marrons do qual eu amava tanto, e só depois que a lágrima caiu em meu rosto, percebi que estava chorando. — Pedro Luís Anjou desceu á mansão dos mortos! E junto á ele, foi-se tudo!

Por um momento, Cesare pareceu perplexo com a notícia, como se aquilo tivesse sido pequenas espadas atingindo-lhe a boca do estômago. Passou os dedos grossos em sua barba, pensativo.

— Ainda sobra Luís de Aragão, mylady. Não está tudo completamente perdido. Poderás ser Giorgia de Aragão, soa bem, não?

— Melhor que isso só Giorgia Borgia. — Rebati.

— Só queria fazer um pedido, para que vossa senhoria comparecesse amanhã, quando o Sol nascer, no meu quarto. Nós vamos nos encontrar lá para voltar para sua amada e querida Florença.

— Fico feliz que voltarei pra casa e — Ele me interrompeu.

— Espero que esteja pronta para o que verá amanhã, Dannata. O que vais ver, irá mudar sua vida completamente. E não estou fazendo isso por mim apenas, estou fazendo isso por nós.

— Do que estais a falar?

— Da execução pública de Girolamo, mylady, e como você é nova no assunto, tomarei providencias para que esteja num lugar acomodável, perto do grande e intenso espetáculo que nós, a familia Borgia, a proporcionará.

— Posso ver Bernardo, Cecília e meu pai? — Só quando falei os nomes em voz alta percebi o quão desligada de minha família estava. Fiz-me mais do que se tornar alguém, tornei-me uma desconhecida.

— Creio que não. Iremos á Florença e já voltamos, é uma viagem breve da qual necessitas urgentemente ir.

— Certo, Vossa Graça, confio no que estais a dizer, e rogo a Deus que nos proteja e nos guarde, e que Ele tenha misericórdia quanto a sua morte.

Cesare jogou a cabeça pra trás e deu um riso falso, apesar de tudo, ainda não acreditava em Deus, e desconfiava que também, não acreditava no amor.

— Isso ainda irá demorar, Dannata! Se depender de mim e de meus guerreiros, vou morrer velho o bastante para brincar com meus netos e para coroar alguns deles, seja como for.

— Não te esqueças que tudo o que fazeis, Deus estará olhando por vois. Mas quando ele perder a razão, não venhas bradar: "não fazeis isso! Não sabeis que sois o filho do papa?".

— Chega a ser cômico tal conversa, Dannata. Um dia entenderá o por quê de tudo isso, mas até lá, peço-lhe para ser paciente. — Cesare Borgia deu as costas para mim. — Se puder, amanhã chegue mais cedo em meu quarto. Os amantes não conseguem controlar tais desejos, e recomendo para que não se o faça, não é?


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