Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 21
Fatalità




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Andando com os passos apressados, nem percebi a presença de Bartolomeo Benedetto, o cavalheiro de meu noivo, Pedro Luís Anjou. Meu noivo! Minha cabeça dava voltas e mais voltas, em meio á essa confusão, não tinha lembrado-me de Anjou, nem da promessa que meu pai fizera a ele anos antes.

— Giorgia? És tu, ó nobre dama? — Ele disse com a voz ansiosa. Deu um meio sorriso para mim, no qual imediatamente retribui, admirando secretamente a beleza que herdara dos deuses. — Fico feliz em achar-te primeiro do que qualquer um da corte.

— E eu fico feliz em te reencontrar depois daquele, momento catastrófico. — Enjoei-me só se lembrar da cara de Anjou e pensar que um dia terei que lhe dar filhos com um sorriso fingido. — O que devo a honra de sua visita?

— Na verdade estou aqui para conversar com Vossa Graça, o duque de Valentinois. Por acaso ele está?

— Sim, está. Peça informações para algum empregado, certamente irá indicar o local com precisão em que o duque se encontra. Posso saber do que se trata? — Forcei um sorriso.

— Sobre Girolamo Savonarola, mylady. Ele será executado amanhã, em sua cidade, Florença, á mando do condottieri e de seu pai. — Ele falou mais baixo. — Agora os detalhes, já não posso falar-te. Espero que me compreenda.

— Sim, claro. Homens são homens. — Virei-me de costas pronta pra ir embora, quando ouvi Bartolomeo remexer alguma coisa em sua enorme bolsa de couro, o roído das coisas impedia-me de andar.

— Giorgia! Giorgia Machiavelli! Espere um momento, por favor. — Olhei para seus olhos, e vi que tinha uma carta em mãos. — Lamento pela sua perda.

— O quê? Do que está falando?

— Sobre seu noivo, Pedro Luís Anjou, ele veio á falecer semana passada. Peço-lhe mil perdões por não poder avisa-la antes, fizemos tudo para salva-lo. Também peço-lhe para abrir a carta assim que eu me for, pois só assim minha missão estará comprida. Lhe desejo toda sorte e fé do mundo, pois o que tu passarás, não desejo para ninguém, nem para meu pior e mais terrível dos inimigos que conquistei mundo a fora.

~[]~

Querida excelentíssima noiva,

Se estais a ler isso, é porque algo muito sério aconteceu comigo. Escrevendo essa carta, percebo o quão injusto fui com vossa senhoria durante todos esses anos, e pra falar a verdade, mostro-me arrependido por tais feitos.

Depois de minha morte, tu não serás eleita duquesa de Anjou-Sattle, pelo contrário, ficará como está; apenas com seu nome, e nada além dele até que se case. Lamento que as coisas tomaram esse rumo, Giorgia.

No meu testamento, eu deixei que meu irmão, Tullio, ficasse com o título de duque para que a sociedade o aceitasse do jeito que és. Também a informo, rezando silenciosamente, que assim como Cesare Borgia (peço perdão pelo exemplo, nenhum nome me vem na cabeça neste breve momento), não fui nenhum santo, e provavelmente, estou entre os mais terríveis dos homens. Só hoje pude tomar consciência disso.

Antes de conhece-la, envolvi-me romanticamente com Catherine Prigsbough, uma nobre inglesa que encantou-me com suas palavras e gestos. Com ela, tive três filhos, o mais velho Edward, Juan, e a princesa, Mary Catherine Frank. Assim como eu, eles levam consigo o peso de ser um Anjou. Espero que me perdoe por isso.

Quando eu te vi pela primeira vez, lutei com os meus demônios mais perigosos e fortes, e sabia que naquele momento, a lourinha sorridente tinha despertado algo que estava escondido sobre a camada mais negra de minha alma. Seus cabelos louros e olhos azuis deixaram-me encantado, o que me fez largar de Catherine. Talvez meus filhos tenham ódio de vossa senhoria por conta disso.

Meus tesouros, luxos, tudo o que o vivi, deixei exclusivamente para eles, já que não chegamos a ter filhos. Deus é misericordioso, não?

Assim como eu, percebi que Bartolomeo ficou encantado com vossa senhoria, se quiser firmar noivado com ele, saiba que tem minha bênção. Ele é um bom homem, vai dar tudo o que quiser e tudo o que eu não pude dar. Espero que esteja em paz assim como eu estarei algum dia.

Que Deus a cubra de bênçãos, e que ele me dê seu perdão eterno. Subestimei os Machiavelli, Giorgia, e olha no que deu. Não viva a minha vida. Seja do bem, o pratique com frequência e verá que em troca só terá coisas boas.

Escrevo de coração,

Pedro Luís Anjou.


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