POV EMILY

Alison!

Caminhei até a cama e pude ver que ela estava dormindo toda encolhida e agarrada ao meu travesseiro. Alison estava descalça e vestia um conjunto de moletom preto. Sua expressão parecia esgotada. Meu coração se apertou ao vê-la daquele jeito. Voltei ao interruptor e desliguei a luz... depois deitei-me ao seu lado, com a dúvida se deveria ou não acordá-la. Achei melhor não… pelo jeito ela não estava dormindo bem nesses últimos dias e apesar de eu ter várias perguntas, deixaria as mesmas pra mais tarde.

Com delicadeza tentei retirar o travesseiro que ela abraçava... ou melhor apertava com toda sua força, como se fosse algo muito precioso... mas acabei desistindo pois não conseguiria fazer sem despertá-la. Dei a volta na cama e abracei-a por trás, da mesma forma que ela apertava meu travesseiro. Não estava nem um pouco disposta a deixá-la fugir de mim.

Não sei se passaram minutos, ou horas... mas eu não quis me permitir a dormir... não com Alison naquele estado, podendo acordar a qualquer momento. E foi exatamente o que aconteceu... eu estava apenas cochilando quando senti um movimento brusco… era Alison tentando se levantar, provavelmente assustada pelo fato de ter alguém a abraçando. Abri os olhos e a apertei contra meu corpo.

Emily: Ali, sou eu... – sussurrei em seu ouvido.

Mais um movimento brusco me assustou, dessa vez Alison largou o travesseiro e virou-se rapidamente se jogando em meus braços. O silêncio foi substituído por soluços baixinhos e sua respiração entrecortada.

Emily: Vai ficar tudo bem Ali... – acariciei seus cabelos. – Vou cuidar de você... eu prometo – aproximei ainda mais nossos corpos, que nesse momento estavam quase se fundindo.

Alison: E... Eu não... a-a-aguenta…va m…ma...mais – seu choro estava cada vez mais intenso.

Emily: Do que você está falando meu amor? – perguntei calmamente, afastando seu rosto do meu pescoço, acariciando-o em seguida.

Alison: V... você... – franzi o cenho. O que ela quis dizer com isso?!

– Lo...longe... de mim – completou. Ah...

Emily: E por que você ficou longe? – minha voz se mantinha terna.

Alison: Eu não... eu não queria que você me visse assim. – apertou os olhos. – Eu tinha medo… que você ficasse desapontada comigo.

Emily: Alison, olha pra mim. – pedi. – nada... nada que você fizer vai me deixar desapontada ok? Eu só queria que você confiasse em mim, e me avisasse quando estivesse com problemas. Eu nunca vou te deixar, lembra? – peguei sua mão e trouxe para os lábios, dando um beijo na mesma.

Alison manteve a mão próxima do meu rosto, e com a outra puxou a manga do moletom, revelando marcas de cortes nos pulsos. Uma lágrima quente desceu pelo meu rosto. Não pode ser...

Meu choro não era de desapontamento... era de dor. A dor que Alison sentia, a dor que ela carregava... eu não podia imaginar, mas sabia que estava ali. E ver com meus próprios olhos a prova de que ela existe foi demais pra mim. Abracei-a com toda a força do mundo, e dessa vez o silêncio foi preenchido pelo choro de nós duas.

Não vou mentir, isso era algo que eu desconfiava, mas ignorava pois no fundo eu não queria acreditar. Ela já tinha tantos problemas… já passou por tanta coisa, e ainda isso?! Não… não era justo. Simplesmente não era.

Respirei fundo e consegui controlar meu choro. Mais uma vez tinha que ser forte pela Alison, agora mais do que nunca. Olhei de novo para seu pulso e constatei que os cortes não eram profundos, e que eram de no mínimo três dias atrás, pois já estavam cicatrizando. Provavelmente ela quis esperar as marcas desaparecerem completamente para então me procurar... o que obviamente não aconteceu à tempo. Restava saber qual o motivo da recaída.

Alison: Eu juro que eu tentei... – fungou. – Eu não queria fazer de novo… mas foi mais forte que eu. – chorava copiosamente, partindo ainda mais o meu coração.

Emily: Shh... Shh... não chora, por favor. – pedi, acariciando seu rosto. – Vai ficar tudo bem… confia em mim. – falei tentando passar segurança.

Alison: Desculpa não ter falado com você esses dias... mas eu não queria que você me visse desse jeito. Só que hoje eu não aguentei... eu precisava de você.

Emily: Não precisa se desculpar. Eu não tou chateada. – disse sinceramente. – Só fiquei preocupada. Não gosto... e nem quero você longe de mim. – inclinei a cabeça, depositando um longo beijo em sua testa, em seguida puxei-a mais uma vez para os meus braços.

…

Ficamos alguns minutos abraçadas... Alison com o rosto enterrado em meu pescoço, nossas pernas entrelaçadas e eu acariciando levemente suas costas. Aos poucos seu choro foi diminuindo até que eu não ouvia mais nada além da sua leve respiração.

Emily: Ali... tá acordada?

Alison: Hm... rm... – murmurou em meu pescoço, causando-me um leve arrepio.

Emily: Você quer comer? Tomar um banho? Quer... conversar? – hesitei na última pergunta.

Alison: Quero ficar aqui. Com você. – respondeu simplesmente

Emily: Isso eu nem precisava me dar ao trabalho de perguntar. – brinquei. – Mas é sério.;. você não precisa de nada? Aliás, quando e como chegou aqui?

Alison: Cheguei aqui há umas três horas... Pedi ao me pai que me trouxesse. Eu mal desci do carro e seu irmão estacionou na garagem. Perguntei onde você estava e ele não soube responder. – fez uma pausa. Aproveitei para me sentar, apoiando as costas na cabeceira da cama e trazendo Alison para deitar em meu colo.

– Estava quase indo embora, mas ele sugeriu que eu a esperasse em seu quarto, pois sabia que você não iria demorar a chegar. Eu estava com tanta saudade de você... do seu toque... da sua voz... do seu cheiro... – Direcionou seu olhar pra mim. – que acabei aceitando.

Alison parecia envergonhada ao confessar-me essas coisas. E eu estava muito contente em ouvir aquilo, pois era exatamente o que eu sentia desde a última vez que nos vimos. Não estava conseguindo controlar a vontade de tê-la... de estar com ela, todos os dias… todos os segundos.

Emily: E por que você não me ligou? Eu poderia ter chegado aqui bem mais cedo. – comentei enquanto fazia-lhe cafuné.

Alison: Eu não sei... não pensei direito. Depois que entrei aqui, a primeira coisa que eu fiz foi deitar na sua cama e agarrar seu travesseiro. – comentou levemente ruborizada. - Fechei os olhos, e por um momento senti que era você ao meu lado... – sorri de canto com seu comentário. - Adormeci quase que instantaneamente. – completou.

Emily: Entendi. E… como você está agora? – perguntei cautelosa. – Digo... como está se sentindo?

Era notável… Alison estava muito fraca. Bem mais do que o normal. Além das olheiras que eram bastante evidentes, seus lábios estavam ressecados... o rosto pálido. Sua aparência em geral era bastante cansada. Provavelmente ela não estava se alimentando direito e dormindo muito mal.

Alison: Agora eu me sinto melhor. – suspirou.

Emily: Ali, quando foi a última refeição? – ela me olhou receosa, pois sabia que eu não ia gostar da resposta. – Não minta pra mim.

Alison: Ontem... à tarde. – disse baixinho.

Emily: Alison! – Levantei um pouco a voz, me arrependendo imediatamente. – Ali, você não pode fazer isso...

– Vamos, levanta, eu vou preparar algo pra você comer.

Alison: Não. Eu não quero. – disse manhosa. – Quero ficar aqui, deitada... com você.

Emily: Você está há mais de 24 horas sem se alimentar direito, assim você vai adoecendo. – dei bronca, porém tentei ser o mais delicada possível.

– Então fica deitadinha aí enquanto eu preparo algo. Sem comer é que você não vai ficar. - Disse com firmeza, me levantando em seguida.

Alison: Então eu vou com você também. – Levantou-se num pulo... e numa fração de segundos, estava caída em meus braços… desacordada.