Durante quinze dias Haru e eu treinamos intensivamente, na verdade eu treinei, ele só conseguia mandar e me dizer o que fazer, ele decidia se eu tinha aprendido ou não. No primeiro dia eu tive que aprender como andar, como falar, como me comportar na frente das pessoas… da forma mais simples de cumprimento até como me comportar a mesa. Foi tudo tão difícil, muita coisa para aprender em tão pouco tempo que eu comecei a achar que eu não iria conseguir.

No segundo e no terceiro dia as aulas de etiqueta continuaram, ficando cada vez mais intensivas. Como falar, o que falar ou não, como se dirigir a cada tipo de pessoa. As pessoas importantes da política, celebridades, pessoas que não conheço e tenho minhas razões para acreditar que nunca vou conhecê-las, aliás, não tenho o mínimo de interesse nelas.

No quarto dia, fora as aulas de etiquetas que continuavam, aumentou mais algumas aulas. Aulas de como me maquiar, ou melhor, como escolher meus maquiadores e como aprender a me vestir, como fazer as combinações de roupas, sapatos, acessórios, o que por ou não por. Era muita informação e eu estava começando a me sentir sobrecarregada, mas eu estava determinada a conseguir completar cada passo, porque eu sei que a minha vida no colégio Keio dependia disso então eu dei o melhor de mim, praticava todas as tardes até a noite e quando chegava ao meu quarto Chiyo ainda me ajudava a repassar os passos. Não estava tendo tempo para estudar e estava com medo que isso pudesse afetar meus estudos porque se afetasse e as minhas notas começassem a cair eu acho que poderia até ser expulsa do colégio.

Uma semana já havia se passado, as aulas que começaram a ficar cada vez mais intensivas, já estavam chegando ao fim. Mal tinha tempo para dormir, eu quando conseguia cochilar por um minuto, sonhava com as aulas de etiqueta, maquiagem, vestimenta…

Finalmente chegou o dia da prova final, estava muito nervosa com o resultado, mas aliviada por toda aquela palhaçada acabar. Para me testar o Haru me levaria a restaurantes chiques para ver se eu conseguia me comportar a mesa e depois íamos para uma festa para testar a minha postura diante das outras pessoas.

Sempre soube comer a comida tradicional japonesa, mas não esperava o que estava por vir. Haru me levou a um restaurante onde serviam pratos de toda parte do mundo, agora entendo porque ele exigiu que eu aprendesse a lidar com vários tipos de garfos e facas. Mas isso qualquer um aprende vendo filmes, “sempre comece usando os talheres de fora para dentro”. Há! Nessa eu vou sair ganhando seu idiota!

Estava pronta, me sentindo confiante, eu sabia que ia conseguir vencer e esfregar toda aquela arrogância do Haru na cara dele e iria conseguir ficar em paz no colégio Keio com a Chiyo. Tenho que conseguir afinal, eu consegui passar na prova de admissão do colégio Keio, o colégio mais difícil de conseguir uma bolsa de estudos e agora minha vida no colégio dependia disso.

Primeiro um garçom trouxe alguns aperitivos para nós enquanto escolhíamos nossos pratos, mas é claro que foi o Haru quem escolheu os pratos, essa foi a exigência dele. Poucos minutos depois o garçom voltou com um prato de macarronada com almondegas, então achei que o Haru iria pegar leve comigo para que eu pudesse concluir o teste, mas percebi que me enganei quando o segundo prato chegou…

Eu tive uma surpresa, nada agradável, quando o garçom apareceu com uma travessa coberta com uma tampa de prata, minha curiosidade se prolongou por alguns minutos até ele ser autorizado pelo Haru a destampar. Era um prato especial de lagosta com… escargot?? Eu não ia ser obrigada a comer aquilo, parecia tão horrível! Eu odiava esse prato, mas acho que era isso o que ele queria, ele queria me derrotar. Então decidi que iria engolir aquilo mesmo sabendo que iria odiar. Primeiro tentei cortar um pedaço da lagosta que é o prato principal, eu já tinha visto em filmes e acho que ia conseguir, mas depois cometi um grande erro com o escargot, eu não sabia como começar a comer aquilo. Sabia que não podia comer com as mãos então tinha que dar um jeito de comer com garfo e faca.

Haru começou a me encarar com um pequeno sorriso malicioso nos lábios como se ele soubesse que eu não iria conseguir. O grito de triunfo que estava em seus olhos me apavorava cada vez mais, mas eu tinha que conseguir. Então tentei tirar o interior do caramujo com o garfo e foi quando o maior erro aconteceu: aquela concha saiu voando da minha frente, passou por cima da cabeça do Haru e caiu em uma fonte que havia a poucos metros na nossa mesa. Todos olharam em minha direção e começaram a disfarçar pequenos risos, mas ninguém riu tanto quanto o Haru, ele batia palmas na minha frente já contando vitória, mas meu teste apenas tinha começado.

Depois do jantar Haru me levou para a casa dele e disse que eu tinha que me vestir apropriadamente para uma festa. Por sorte a “criada” dele me ajudou com a combinação da roupa. Escolhi um vestido rosa claro cheio de babados que ia ate o pé, a manga dele era caída o que fazia meus ombros ficar a mostra, era feita com um véu da mesma cor que ai até o punho. Escolhi um sapato prata simples, afinal ele seria coberto pela barra do vestido. Decidi deixar o meu cabelo solto, porque amava ele assim e a cor escura dele faria um ótimo contraste com o vestido, então apenas pedi a senhora Masashi que me ajudasse a fazer cachos no cabelo, apenas nas pontas que depois de encurtá-las batiam na altura da minha cintura. Fiz uma maquiagem leve e coloquei um par de brincos simples e um colar delicado com apenas um pingente no meio. Acho que me sai bem nesse teste, pelo menos é o que dizia o queixo caído do Haru.

Fomos a uma festa onde eu não conhecia ninguém, mas todos pareciam conhecer o Haru. Ele me apresentou a todos como sua amiga e depois me chamou para dançar. Mesmo sendo tímida eu amava dançar k-pop e me achava muito boa nisso, então dançar música lenta seria como mamão com açúcar para mim. Confesso ter pisado umas duas ou três vezes no pé do Haru, mas isso era culpa dele.

Depois de horas eu já não estava mais aguentando de sono e dores nos pés, então fomos embora. Quando o Haru me deixou na porta do colégio disse que iria me dizer o resultado no dia seguinte, pois iria avaliar tudo. E então ele se foi, me deixando morrendo de preocupações com o resultado.