The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 35
Capítulo 30. Duas princesas, personalidades distintas, objetivos iguais.


Notas iniciais do capítulo

Olá princesas, meus amores!
Aqui é a Ravena com mais um capítulo.
Olhem só! Nosso trailer.

https://www.youtube.com/watch?v=ydbl7VVA7-U&feature=youtu.be

A responsável por ele foi uma grande amiga minha, Lady Castellan do Nyah Conference, um dos melhores sites para encomendar algo para sua fanfiction. Lady, muito obrigada!

http://nyahconference.blogspot.com.br/

Outra noticia também, matéria nova no blog, finalmente vocês terão a chance de conhecer a corte de Hessen, meu Max xodó hahaha

http://thebastardheir.blogspot.com.br/2015/10/o-reino-vermelho.html

♥ Bom capítulo!



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Capítulo 30.

Duas princesas, personalidades distintas, objetivos iguais.

“A alegria evita mil males e prolonga a vida” — William Shakespeare

Mosteiro de Nossa Senhora Rainha, Linesburg, Belistein.

Only Piano - My Everything

Hannelore avista sob as abóbadas sumptuosas da sala, pendurados das paredes caiadas, alguns panos de ouro. Seus olhos vislumbram raras espécies de flores do inverno, todas muito bonitas. Nunca havia visto flores tão delicadas. Extensos jardins, salpicados de verdes labirintos e de graciosas fontes, faziam daquele lugar um recinto magnifico. Talvez o mosteiro mais bonito da região, do reino.

— Eu sinto muito pela minha tia, ela é um pouco insistente — desculpou-se para o rapaz sentado em um dos bancos.

Era desejo de Hannelore ter ido sozinha até aquele mosteiro, porém por algum motivo Genova insistiu que Nikolaus a acompanhasse. A duquesa usou a desculpa de que ela não poderia ficar tanto tempo desacompanhada, que isso não era algo apropriado a uma dama da nobreza.

— Não tem problema — sim, tinha problema, mas não falaria. Não queria correr o risco de “ser ofensivo” com a princesa.

— Não precisa fingir — disse sentando-se ao seu lado. — Ninguém gosta de ser acordado bem cedo, ainda mais em um dia nublado e calmo. Isso é um convite para ficar na cama o dia todo. Eu mesma faria isso, se o que tivesse que fazer hoje não fosse algo importante para mim.

A expressão tristonha do rapaz permitiu-se ser substituída por uma mais leve, no entanto sem sorriso algum.

— Por curiosidade: O que veio fazer de tão importante?

Hannelore arregalou um pouco seus olhos, não esperava pela pergunta, mas aquilo não era algo tão secreto. Levou sua mão até coração, onde estava um terço azul claro.

— É algo de cunho pessoal, uma promessa que não tive tempo de cumprir para alguém muito importante.

O rapaz não estava tão interessado, mas resolveu puxar qualquer assunto para não ter que aguentar horas naquele silêncio. Aquele lugar era muito bonito, mas Nikolaus passara a criar uma forte antipatia em não ter que fazer nada o dia inteiro. Resultado de quase dois meses dentro do castelo, sendo tratado como o príncipe que não era. Além do mais, aquela era finalmente, depois de muito tempo, uma chance de poder conhecer melhor a princesa.

— Bem, a prioresa disse que a mulher que Vossa Graça esta aguardando, no momento esta em oração. Garanto que sou um bom ouvinte, Alte...

— Hannelore — repreendeu rapidamente. — Hanne, ou Lory. Não precisa me tratar por títulos quando estivermos a sós, faço isso com minhas damas e alguns rapazes que já tive chance de conversar. Esse tipo de tratamento deve ser mais usado em eventos, ou em algum compromisso real importante, fora isso, eu particularmente os acho irritantes.

Nikolaus não achou que aquilo fosse influenciar muito na conversa, por isso não se deu ao trabalho de corrigir, apenas acenou com a cabeça. Procurou em sua mente um bom assunto. Qualquer um que fosse. Pois ele não havia passado dois meses apenas conversando com uma dama? Deveria ao menos saber um pouco sobre como ter conversas com senhoritas. Todavia Dominique não era o melhor exemplo de senhorita.

— Tem sido difícil a fronteira com Hessen, não? – perguntou, de repente.

Hannelore ergueu seus lindos olhos esverdeados, sem saber o que ele queria dizer.

— Digo, as aldeias e vilarejos. Até mesmos os burgos, creio que estejam todos muito agitados na corte.

— Não compreendo... Há algo na fronteira com Hessen? – ela o encarava, aflita.

— Bem, sim. Pensei que já tivesse conhecimento de tal. Os camponeses estão todos migrando para Hessen, pois lá há mais pão e mais trabalho, além de terras mais férteis. Alguns nobres mais pobres exigem que suas terras sejam passadas para Hessen, algo ridículo, em minha opinião.

— Verdade? – a princesa parecia realmente confusa e assustada.

— Sim, mas... – Nikolaus não terminou. Seria inútil debater com alguém que não sabia nada do assunto. Então, virou-se em direção a fonte logo mais a frente. Como pensara, ela era apenas um boneco nas mãos dos nobres, com certeza não a envolviam em nenhuma questão de política. Todo aquele jogo de marido e herdeira era apenas uma cena para os outros reinos. Hannelore, entretanto não quis deixar o assunto.

— Mas eles estão passando fome?

— Eles?

— Os camponeses, para quererem se mudar para Hessen.

— Ah, não. São só um bando de pobres tentando encher suas barrigas um pouco mais. Hessen tem as piores tarifas para os camponeses, seus impostos são absurdos. Assim que virem que, mesmo ganhando mais, terão de pagar mais, voltarão correndo para suas terrinhas. – disse, com convicção.

— Pelo visto uma reforma seria necessária, são desses pequenos atos que grandes confusões e revoltas podem surgir.

Nikolaus ficou surpreso, pelo visto o assunto tinha despertado o interesse da jovem.

— Creio que as respectivas cidades deste país possuem seu senhor ou senhora. Estou errada?

— Não, nesse caso seriam os nobres.

— Pelo visto então muitos nobres, ao invés de passarem os problemas até a corte, apenas os ignoram como se fossem fúteis.

— Onde estamos querendo chegar?

— Acho que uma solução para os problemas do povo, ou pelo menos para ajuda-los, seria que cada queixa fosse mandada para um representante. Depois este teria apenas o dever de manda-la até a corte, onde o rei poderia verificar a situação e ver o que poderia fazer.

— Mas é assim que funciona, porém é como a senhora disse, muitos ignoram.

— E ninguém faz nada? Não poderiam escrever alguma carta pessoalmente para a corte e...

Hannelore parou de falar e lembrou-se de um importante detalhe. Eram poucos os camponeses que sabiam ler e escrever, sua grande maioria nascia e morria para o trabalho, em consequência a expectativa de vida chegava a apenas meados dos quarenta anos. A educação era precária, pois apenas os nobres tinham condições de bancar bons tutores para suas crianças. Sentiu-se horrível, enquanto ela usava um par de brincos que poderia ser trocado por elegantes e caros sapatos italianos, crianças não tinham sequer um pedaço de pão em casa. As que tinham casas pelo menos.

— Hannelore — chamou a voz feminina, que vinha do alto das escadarias não tão distantes.

Hannelore olhou para o lado e viu a mulher que lhe chamava. Uma súbita emoção tomou conta de seu coração, sorriu imediatamente e ficou com as mãos postas sobre o rosto para tentar disfarçar sua alegria.

— Não, não pode ser... — dizia entre sussurros — É...

— Quem é ela? — perguntou Klaus, mas Hannelore nem prestava mais atenção nele.

A princesa rapidamente levantou-se e numa impetuosa nuvem de veludo rosa ao longo do jardim, foi correndo pelas escadarias até chegar e abraçar uma senhora vestida inteiramente de negro. Há alguns anos atrás ela era mais bela e de rosto mais alegre, porém agora estava um pouco mais velha e de olhar triste. Ainda sim, era ela. Rosa, sua amada Rosa.

Alguns anos atrás.

Hannelore Von Strauber, Princesa de Overath.

Dvorak – Romance for piano and violin

— Este seu vestido ficou lindo! — afirmava uma duquesa ruiva e orgulhosa.

Sua filha, Gisele, aparentava estar entediada com aqueles exageros de sua mãe. Mas o que podia fazer? Sua mãe não suportava ser contrariada. A menina trajava um vestido roxo de veludo e um capelo branco com bordados dourados.

— Hannelore!

A voz firme ao mesmo tempo grave de Angelika ecoou por todo aquele quarto até os corredores da mansão, um minuto se passou até uma criança, que aparentava ter seus oito anos, apareceu no quarto da filha da duquesa. Fez uma reverência segurando a barra de seu vestido branco e disse:

— O que deseja Vossa Graça? — perguntou a menina quase como num sussurro, porém falou corretamente. Geralmente quando a pequena Hannelore errava em seus tratamentos, Angelika fazia a mesma se curvar e repetir trinta vezes até acertar.

— Ajude minha filha a colocar seus sapatos e as joias, não demoro — e caminhou rumo à porta, Hannelore afastou-se fazendo uma vénia novamente. Angelika era a senhora do castelo, Hannelore apenas uma ninguém que vivia sob seu teto. Angelika não precisa pedir licença a uma criança que tinha os mesmos direitos a de um criado, ou abaixo de um.

Hannelore foi até o armário de Gisele, e quando abriu a porta e deparou-se com aqueles vários pares de sapatos dourados, rosas e prateados, olhou para baixo em direção aos seus. Corou um pouco, ficou constrangida. Os seus já estavam velhos e um pouco apertados.

— É o preto, com um laço branco — disse Gisele saindo de frente do espelho e sentando-se em sua cama.

— Esta bem senhorita — respondeu por cima do ombro.

Hannelore apenas esticou um pouco seus braços e retirou os sapatos de Gisele da prateleira. Sempre foi uma menina alta para a idade, comparada a Gisele, que mesmo sendo um pouco mais velha, parecia ser mais baixa. Quando chegou perto da pequena senhorita, abaixou-se e colocou os sapatos na menina.

— Hannelore, se eu pudesse daria esta roupa para você! — afirmou a criança. — Aposto que em ti, ficaria mui airosa.

— Eu? — perguntou surpresa. — Não, não. Eu usaria para que? Para limpar as escadarias? A fuligem da fogueira? Seria um desperdício — e sorriu. Sorriu para sua desgraçada infância sendo desperdiçada, desperdiçada para servir de empregada a uma duquesa que lhe explorava com toda sua ambição sem limites.

Rosa Hubberman, trinta anos, governanta do castelo, observou a cena de longe, estava próxima à porta e suspirou. Todo os criados tinham em mente que Hannelore provavelmente fosse uma criança bastarda, porém ninguém comentava em obediência aos duques e também por gostarem daquela criança que tratava todos bem. 

Não foi tão difícil chegar a uma hipótese sobre as origens da garota. Hannelore chegou ao Castelo Siegburg no colo de uma mulher de caracóis ruivos, enrolada em uma manta fofa e azul clara, a bebezinha tinha uma corrente de ouro em seu pulso, cujo pingente era um leão. Não conhecia nenhuma casa ducal, ou qualquer família que fosse naquela região, onde o símbolo do brasão era um leão, a maioria tinha uma torre, alguma ave, ou até mesmo uma flor. Não um leão. Entretanto, aquela correntinha do mais puro ouro provava que a menina não tinha o sangue de qualquer um. Mas do que adiantaria? Angelika roubou o caro objeto dias depois e trocou por vários vestidos franceses.

Rosa acreditava que Hannelore fosse fruto da relação de algum nobre com uma mulher de pouca estirpe. Era sempre assim. Talvez algum duque ou conde com alguma criada, ou mulher de baixa nobreza. Provavelmente tratava-se um homem de convicções muito religiosas e que prezava muito pelo nome para manchá-lo na lama por uma bastarda. No caso da progenitora, geralmente essas acabavam em um convento, morriam de parto, ou a família do progenitor masculino pagava algum homem para assumir a criança como se fosse sua. Isso acontecia muito nas famílias da alta sociedade, pelo menos na maioria.

Mas isso significava que a menina Hannelore tinha sangue nobre, porém infelizmente ninguém sabia ou se importava. Quem iria acreditar que uma menina que limpava quartos fosse de sangue azul?

Assim, com suas oito anos primaveras, os melhores amigos de Hannelore eram criados e lacaios, às vezes “amigos imaginários”. Não era raro que Rosa flagrasse a menina falando sozinha, como se estivesse vendo alguém de verdade, porém acreditava que aquilo era apenas mais uma de suas manias infantis e que logo isso acabaria.

A governanta do castelo ficava muito satisfeita em fingir ser mãe da pequena. Dizia que o marido infelizmente falecera de alguma doença a deixando grávida, as pessoas acreditavam, pois Rosa começou a trabalhar no castelo quando Hannelore vivia lá há apenas dois dias e ninguém tinha conhecimento dela ainda. Rosa amava muito Hannelore, como se a mesma tivesse saído de seu próprio ventre nunca utilizado. Hannelore era sua filha de coração! Sua princesinha.

No entanto, Hannelore tinha consciência de que tudo não passava de uma mentira. Ela é esperta e percebeu que entre Rosa e ela, não havia nenhuma semelhança. Rosa tinha cabelos castanhos bem lisos e olhos cor de mel. Hannelore tem cachos loiros e olhos verdes. Além disso, Angelika já fez questão de jogar em sua cara de que ela não passava de um desperdício no mundo, e Rosa precisava cometer o pecado da mentira por uma menina insignificante.

Naquela noite, Hannelore estava em seu pequeno quarto lendo um livro, junto á lareira que estava acesa. Um fogo intenso e aconchegante. Rosa entrou no quarto, o ranger da porta não foi o suficiente para tirar a atenção da menina naquele livro. A governanta segurava um embrulho, mas o deixou em cima da mesinha para se juntar a Hannelore.

— Vejo que estás a praticar suas leituras. Isto é bom — elogiou.

— Na realidade só estou vendo as figuras. Olhe só esta, uma cena da vida campestre, a igrejinha e as pessoas indo e voltando — respondeu a pequena apontando para os respectivos desenhos.

— Hannelore meu amor, eu desejo muito que aprenda a ler. Imagine! Poder ficar com o conhecimento em igualdade de pessoas das estirpes mais altas, ainda por cima sendo uma mulher.

— Então prefiro ficar apenas com o alfabeto, a alta classe é cruel e mesquinha — disse Hannelore fazendo uma careta. Rosa sorriu.

— Eu ajudo você — Rosa virou a página do livro, não havia figuras para distrair a mente infantil da menina. — Comece.

Hannelore encostou um pouco mais seu rosto ao livro. Tantas palavras, pequenas e grandes... Tudo parecia girar.

— Uma... lin, lin...

— Linda — corrigiu Rosa.

— Linda — repetiu Hannelore.

— Uma linda...

Rosa incentivou Hannelore a continuar, porém a menina olhava para o livro como se o mesmo fosse um monstro prestes a devorá-la.

— Não consigo Rosa, não consigo — por pouco fechou o livro, mas Rosa impediu.

A governanta ergueu-se e pegou o embrulho que trouxera consigo. Entregou o mesmo para Hannelore, que como qualquer criança, abriu sorridente e curiosa. Era um vestido. Não o mais bonito, pelo menos para um nobre, mas bonito para uma menina que estava acostumada a usar roupas costuradas e reaproveitadas de tecidos antigos. Um vestido de intenso tom azulado, com rendas brancas nas mangas e bordados dourados na saia.

— Rosinha, que lindo! — exclamou admirada. — Nunca vi algo tão bonito, azul é minha cor predileta.

— É um presente para Gisele, o aniversário dela se aproxima — respondeu Rosa tirando o vestido das mãos de Hannelore. O sorrido da loira sumiu imediatamente.

— Para Gisele...

— Sim, apenas moças da realeza podem usar esse vestido.

Não daquele tecido, mas Rosa precisava fazer Hannelore entrar em seu jogo.

— Rosinha, tu sempre falas para todos e aos céus que sou vossa princesinha — e fingiu sussurrar-lhe um segredo especial, apenas para a governanta. — Mesmo que não tenhamos o mesmo sangue.

E tapou a boca, como se alguém pudesse ouvir a conversa por entre as paredes de pedra. Riu, era uma doce risada de criança. Rosa agachou-se próximo a sua filha de criação.

— É a minha princesinha? Tem certeza? Pois uma princesa de verdade é determinada.

— E eu?

— Não é uma princesa. É uma menina comum — respondeu-lhe com tristeza.

— Não sou! Eu posso ser uma princesa.

— Então prove para si mesma — pediu firmemente e ficando de pé, com os olhos encarando a criança no chão.

— Mas se eu não conseguir.

— Não será por que não tentou. Hannelore, minha princesinha, você é especial, eu sinto isso. Ainda fará grandes coisas um dia! Tenho certeza.

— Eu? Uma menina que nem sabe ler.

— Todos os dias de nossa vida, o destino nos dá um momento precioso em que é possível mudar aquilo que nos deixa magoados e tristes. O momento em que um “sim” ou “não” pode mudar toda nossa história. Hannelore é vossa escolha decidir se quer ser diferente dos outros, uma verdadeira princesa, ou uma menina comum e corrente.

A criança virou seu rosto para a lareira e ficou admirando as chamas durante alguns segundos. Sentiu mãos delicadas tocando-lhe os ombros, um momento de serenidade dominou seu coração. Hannelore olhou para o lado e viu uma jovem, que em vários aspectos parecia com ela, os olhos, o sorriso, os cabelos... Tudo. Era muito linda e aquela não tinha sido a primeira vez que se viam, e Hannelore sentia isso.

Tu és uma princesa, princesas não desistem. Honre vosso sangue. Se tu és uma princesa, jamais desista por um obstáculo em seu caminho, minha criança, seu coração é uma estrela que ainda vai brilhar muito um dia se escolheres o caminho correto. Não desista por uma pequena pedra no caminho.

— Hannelore, responda logo — repreendeu Rosa, mas sem ser grossa.

A bela dama sumiu. Hannelore piscou atônita, mas sentiu-se confiante e pegou o livro. Como em um passe de mágica, tudo parecia mais claro para a criança. Será que a dama misteriosa era alguma feiticeira?

— Pelo fim do século XIII, uma linda princesa aragonesa foi convidada por Jean de Bruyères, senhor de Puivert para ficar em seu magnífico castelo.

Rosa pôs a mão no coração e ficou boquiaberta. Hannelore leu em um tom tão elegante e correto, que a mesma ficou impressionada. Naquela época poucos dominavam a leitura tão bem, eram necessários meses de treinamento.

— Ela adorava as colinas da paisagem e, sobretudo, meditar olhando para o lago, sentada numa rocha em forma de cadeira esculpida como por arte de magia. ...

Hannelore viu novamente a dama, que apareceu sentada em sua cama, olhando diretamente para ela. Parecia incentivá-la a continuar com aquele olhar doce e meigo. Hannelore apenas assentiu e continuou. Andou de um lado para outro com aquele livro, não era mais tão assustador. Rosa às vezes olhava para trás, tentando descobrir o que Hannelore tanto espiava, mas não via nada. Realmente, era uma criança muito especial, às vezes a pequena parecia ver coisas que os outros não conseguem.

— E fez-se assim. Então, durante muitos e muitos anos, tudo pareceu radiante para o senhor e para a bela princesa — observou à senhora sentada na cama. Viu que ela inclinou a cabeça em reverência, Hannelore devolveu tal gesto e já era aplaudida por Rosa, que sorria orgulhosamente vendo sua menina. Lendo melhor que muitas filhas de duques espalhadas por aí. A dama invisível também aplaudia a menina, sorria e jogava vários beijos para ela.

— Meu amor, eu disse que você conseguiria. Que és uma menina muito inteligente, eu sabia, eu sabia.

Por fim, a jovem invisível colocou o dedo a frente dos lábios, pedindo silêncio a Hannelore, como se aquilo tudo tivesse de ser um segredo entre elas. A menina pequena sorriu concordando, e em seguida a mulher sumiu em uma luz branca.

Shhh — sussurrou.

— O que Hannelore?

— Nada, nada.

Caminhou com majestade, em volta do quarto, cumprimentando com um gesto de cabeça os seus súditos — algumas bonecas e Rosa — tudo em elegância. Fez uma reverência novamente a Rosa antes de braça-la e de voltar para a almofada, com as faces coradas. O vestido novo coube-lhe perfeitamente.

— Falta o colar! — respondeu apontando para o pescoço.

— Bem eu... — Rosa tirou um terço azul de seu pescoço e pede que Hannelore se aproxime.

— Não posso ficar com isto. É seu!

— Um dia tu me devolverás, mas no momento ele só vosso. Cuidará bem dele?

Hannelore confirmou com lindo sorriso e olhou para seu terço.

— Eu te amo tanto, Hannelore, não é a toa que vosso nome significa “iluminada e cheia de graça”.

— Promete que nunca vai me deixar?

— Sempre estarei em vosso coração?

— Para sempre.

— Então sempre seremos ligadas — e beijou o rosto da menina.

Rosa mentiu. Dois meses depois, a duquesa a despediu da mansão por algum motivo que todos os criados guardaram em sigilo. Rosa foi mandada para sua terra natal no reino vizinho, Overath, contudo por não ter para onde ir, instalou-se em um convento. Hannelore ficou novamente sozinha naquele castelo. Gisele era sua amiga, porém apenas quando sua mãe não estava por perto para lhe repreender de falar com uma criadinha. Quando a senhora do castelo estava perto, Gisele era proibida de ser simpática com aqueles que “nasceram inferiores”. Sem mãe, sem pai e sem amigos, pois alguns criados foram falecendo e outros substituíam. Entretanto Hannelore estava lá, agindo como uma verdadeira princesa. Preparada para tudo e para todos, sorrindo e lembrando que um dia toda tempestade acaba. E um dia, ela oficialmente tornou-se uma princesa, no entanto, a tempestade ainda aparentava estar longe de acabar.

 

Loreena McKennitt - La Serinissima

Teresa de Avis, Infanta de Portugal.

Lá estava ela sentada em sua cadeira, fazendo algo que adorava. Ler. Juntamente de suas damas de companhia, a filha do rei de Portugal apreciava a leitura de um poema, e seu autor, um menino a beira dos treze anos, estava de pé há um pouco de distância, apenas esperando a resposta sobre sua obra ansiosamente.

Tratava-se de uma bela princesa nascida e crescida em uma das cortes mais cultas da Europa. Um longo cabelo castanho moldava o rosto oval, sua pele era de cor entre a oliva e o claro, e seus olhos azuis fitavam o pergaminho com atenção. Seu pai acha-lhe muito parecida com a avó materna, a rainha de Castela.

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que se ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

 

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Quando terminou, enrolou o pergaminho e o pôs em cima da mesinha ao lado, algumas de suas aias suspiravam encantadas com as palavras do poema, deixando o autor um pouco encabulado. Teresa estendeu as mãos chamando o jovem Luís, que antes de segurar as mãos da princesa, fez uma reverência.

Teresa curvou os lábios em um sorriso.

— É um grande poeta, nunca antes havia apreciado tal obra. Senhor Luís de Camões, tenho fé de que vossas composições esmeradas serão de grande valor um dia.

— Acha mesmo, minha senhora? — o rosto da criança corou um pouco.

— Tenho certeza. Poderia pedir que compusesse mais poemas como este? Eles são de acalmar qualquer coração aflito.

Dessa vez foi à hora do pequeno artista alargar um grande sorriso, mas conteve perante a infanta, a inspiração e musa secreta de todos os seus trabalhos.

— Será uma grande honra para tão real donzela...

O som dos passos no piso de mármore interrompeu a fala do pequeno poeta, as damas curiosas olharam para trás e avistaram a rainha caminhando rumo àquela sala, todas trataram imediatamente de levantar-se de suas almofadas ornamentadas com fios dourados e rapidamente fizeram uma mesura.

— Minha tia — disse a princesa erguendo-se de sua cadeira e fazendo o mesmo gesto que suas damas.

— Teresa, minha sobrinha, eu preciso falar a sós com vosmecê — anunciou a rainha Maria.

Todos ali presentes saíram rapidamente da sala, apenas Luís tinha hesitado um pouco, pois não gostava de ficar longe da princesa, ainda sim, uma das damas o segurou pelos ombros lhe levando dali.

A infanta sabia por que motivo à rainha, sua tia e madrasta, queria falar com ela. É claro que sabia. Desde a assinatura do contrato matrimonial com um embaixador daquele reino distante. Ao mesmo tempo em que aguardava ansiosamente para isso, também se assustava um pouco. Seu casamento!

— Senhora, eu creio que estamos a falar das negociações de meu matrimônio com o rei de Hessen — respondeu graciosa.

— Querida sobrinha, seu matrimônio está planejado. Tu se casarás no próximo mês e se tornará rainha consorte de Maximiliano Von Kopper, rei de Hessen. É um país distante, fica em terras outrora germânicas, sei que já teve aulas sobre, mas volte a praticar seu germânico durante a viagem. Seu pai está preparando uma grande e bela escolta para te acompanhar, a fim de mostrar as riquezas da corte de Avis.

Portugal tornara-se um reino enriquecido pelas descobertas de novas terras e isso apenas aumentava o valor das princesas lusitanas no mercado de casamentos. Ora essa, seu pai era D. Manuel, o Venturoso, além disso, Teresa era neta dos poderosos reis católicos. Não nasceu para ser uma condessa ou duquesa, nasceu para ser rainha. Teresa tinha dezenove anos e seu futuro esposo já tinha quarenta e cinco. Seu casamento era demasiado cedo e ela é jovem demais para ele! Teresa não podia acreditar que em breve se tornaria rainha, logo o tratamento de “Alteza”, seria trocado por “Majestade”.

— Será uma aventura, senhora, mas sei que tudo dará certo. Eu preciso também de bons homens de fé para minhas confissões. 

— Claro, é claro, tratarei disso com toda cautela ainda hoje — e suspirou.

— Algum problema, Vossa Majestade?

Teresa observou sua tia caminhar até a grande janela do Paço da Ribeira, que dava uma bonita vista para o grande e majestoso oceano azul que rodeava Lisboa. Maria, a rainha de Portugal, era bonita, tinha cabelos loiros acobreados e olhos claros. Ela chegou ao palácio bem magra, porém após conceber cinco filhos em sete anos estava mais robusta. Nasceu como princesa da Espanha e quarta filha dos reis católicos. Sua irmã mais velha, D. Isabel, foi à primeira esposa de seu marido, o rei, deste casamento nasceu a Princesa Teresa, e no ano seguinte o Príncipe Miguel da Paz. O parto complicado deste último levou a morte de Isabel, depois Miguel pereceu aos dois anos. Entretanto a aliança entre os reinos da Península era algo de muita importância e por isso Maria casou-se com o Venturoso pouco tempo depois da morte da primeira rainha. Mesmo sendo tia, tem Teresa como sua filha e a ama muito.

— Sinto que meu querido primo não ficará satisfeito com vossa união — a rainha virou-se para Teresa, seu sorriso não estava mais em seu rosto, dando lugar a uma expressão de preocupação.

A rainha conhecia a briga histórica entre Hessen e Overath. Espanha, seu próprio país de origem, tinha diversas rivalidades com a França por causa dos territórios italianos. Seu primo em primeiro grau é rei de Overath e o futuro esposo de Teresa, é o rei de Hessen. Isso de certo modo lhe preocupava em nome de sua enteada. Além disso, há pouco tempo atrás, Teresa estava a apenas alguns contratos de se casar com o filho do seu primo, que havia anulado um contrato com uma princesa dinamarquesa na qual ela não lembrava o nome agora. Depois o príncipe faleceu, mas Maria teve o conhecimento que antes disso, o príncipe cancelou qualquer tipo de possíveis alianças com princesas estrangeiras para se casar com uma duquesa, herdeira de uma das famílias mais ricas do país.

— O pai do meu antigo prometido não tem nada haver com isto, sei que somos todos uma família, mas deveras ele ter permitido que seu único filho abandonasse uma infanta, por uma duquesa. Mas — e lembrou-se do que seu tutor sempre dizia. — Jamais guarde rancores, eles são como pedras quentes em vosso caminho, pedras quentes só a machucarão.

Teresa caminhou e ficou ao lado de sua madrasta, abriu um pouco a cortina para admirar o mar azul de seu amado país. Algumas caravelas com o estandarte desfraldado no topo do mastro estavam de partida em direção ao Brasil, uma terra cheia de riquezas há alguns anos descoberta. Esposas se despediam de seus amados, que iriam partir na longa viagem, e os sinos da igreja anunciavam o meio dia. Por um instante, a infanta percebeu que talvez aquela fosse à última vez que veria o oceano, pois tinha conhecimento de que Hessen ficava ao norte da Itália, oeste da Áustria e leste da Hungria. O mar ficava muito distante daquele país, porém soube que o país era rico em belos vales e rios de águas cristalinas.

Maria olhou para sua sobrinha, lembrava muito a personalidade de sua irmã, Catarina de Aragão. Mas Teresa também tinha a determinação da avó, a rainha católica. Isso lhe deixava muito orgulhosa, o sangue dos castelhanos e aragoneses falava mais alto em Teresa.

— Senhora, se o Senhor não quis que eu fosse rainha ao lado do herdeiro de Overath, assim foi. No entanto, sou Teresa de Avis, farei o meu melhor em meu novo reino e provarei que sou digna de ser Rainha de Hessen. Essa é a vontade de Deus, e ela sempre se concretiza.

“Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras” — Willian Shakespeare.

Celtic Circle, Lorena Macknnit - Skellig.

— Olhe só para você — dizia com a voz embargada e o rosto ainda molhado em lágrimas — esta tão bonita.

— Não acredito que estou lhe vendo de novo, senti tanto vossa falta — pegou a mão da monja e beijou como se fosse uma filha tomando a benção da mãe.

— Mocinha, eu sempre soube que você era especial, mas pensava que você era apenas a minha princesinha. Jamais imaginaria que tu foste à princesa deste país inteiro.

E apanhou a jovem pelo ombro, guiando a menina pelos corredores até ambas entrarem no quarto da freira, onde poderiam ter mais privacidade. Era simples, pintado em tons pastel, com uma cama de solteiro no centro, um guarda roupa aparentemente velho, uma janela com um vaso de margaridas e um altar para as preces do dia, além de haver uma mesinha cheia de livros e pergaminhos. Em cima da mesinha tinha um livro pequeno, que mais parecia um diário, contudo isso não chamou muito a atenção da princesa.

— Rosa, explique-me agora por que a senhora foi mandada embora? Nunca entendi isto.

— Sabia que iria querer saber disso — e sentou-se ao lado da menina. — Eu descobri que mandavam dinheiro para você, muito dinheiro, de algum guardião desconhecido. Dinheiro que era para ser investido em vossos estudos e fazê-la ter uma vida mais digna, com brinquedos, vestidos bonitos e alimentação adequada. O guardião desconhecido mandava tanto dinheiro para você, que os duques poderiam ter lhe casado com um senhor muito rico de alto patamar, pois o dote seria maravilhoso. Entretanto Lady Belshoff não lhe contava nada e nem lhe casava, pois se não perderia tudo que recebia apenas para ficar com você.

— Oh... — Hannelore desejou profundamente voltar ao castelo, apenas para pedir ao rei que punisse aquela mulher, prendê-la ou lhe cobrar uma multa altíssima pelos tratamentos dispensados a filha do rei. Ora essa Angelika era overatiana e mesmo casada com um austríaco poderia sim sofrer as... Respirou fundo, uma, duas, três vezes... Sinceramente, aquilo não adiantaria mais, além disso, não ganharia nada com isso e Angelika tinha filhos, bons filhos que não mereciam isso. Se fizesse algum mal à duquesa, estaria se igualando a ela, agindo como ela.

— Sei que isso aflige vosso coração, mas considere que Angelika foi apenas uma pedra em seu caminho. Não tem por que viver no passado, minha princesinha.

— Eu sei, eu sei, mas é complicado ter que suportar várias situações com um sorriso. Sinto que as pessoas devem me achar uma tonta, ou pior, tenho certeza!

Rosa riu, mas conteve-se.

— Deixe que pensem, a senhorita não deve satisfações a nenhuma delas. Se nem o nosso Salvador agradou a todos. Hannelore eu te conheço bem, se continuas com o mesmo coração de quando era uma criança, sei que és observadora e nunca da um passo maior que a perna sem antes reconhecer o terreno. Você é a herdeira do trono, a princesa deste país e tenho certeza que será uma magnifica rainha! Ninguém pode tirar-lhe isto.

— Acha mesmo?

— Já disse, tenho certeza — e tocou no rosto da moça, depois colocou a cabeça sobre o ombro de Hannelore. — Hannelore, Hannelore, precisa aprender a valorizar seus atributos, pois vários deles são raros hoje em dia.

Hannelore pensou nas palavras de Rosa. Determinação e fé em si mesma. Céus, como essas coisas lhe sumiam nas horas mais necessárias.

— Oh, quase me esqueço. Seu terço, Rosa, lembra que eu prometi que um dia lhe traria de volta.

— Ah, isso? Minha querida quando vim para cá ganhei vários, até posso te dar alguns. Pode ficar com este, não tem problema nenhum.

Rosa ficou de pé e caminhou até a mesinha de cabeceira, pegou o diário e deu a Hannelore.

— Seu diário? — perguntou Hannelore apanhando-o e notou que a capa empoeirada escondia uma bonita tonalidade de azul.

— Sei que o azul é sua cor preferida, este diário esta aqui há muitos anos. Pode ficar!

Antes que Hannelore dissesse algo, uma forte trovoada fez-se ouvir. Hannelore não temia esse tipo de barulho desde pequena, até por que quando Rosa saiu da mansão dos duques, ela precisou aprender a enfrentar muitas situações piores que esta. Mas neste casou o barulho pregou-lhe um susto, afinal estava distraída.

Alguns minutos mais tarde ela saiu do quarto da monja e foi para a sala principal, viu Nikolaus completamente encharcado, sentiu vontade de rir, mas talvez não fosse a hora certa. Lembrou que ele estava lá fora no jardim e com certeza, bem distraído para não ter notado que uma forte chuva estava por vir.

— Minha senhora — falou o Giuseppe, o chefe da guarda, ficando de joelhos, ele liderava a escolta que acompanhava a princesa. — Acabamos de ser informados que a forte ventania provocou a queda de duas árvores na estrada e nestas condições climáticas é muito trabalhoso e complicado fazer o trabalho de retira-las.

— Existe um vilarejo logo ali, Alteza, a senhora poderia dizer que os pagará caso trabalhem para tirar as duas árvores do caminho — disse Klaus se interferindo. Ele aparentava estar realmente preocupado e não era por menos, o céu enevoado, os trovões e o vento estavam tenebrosos.

— O Senhor Heidelberg esta certo, peço para um de meus soldados irem imediatamente convocar os homens mais fortes, seria uma honra fazer qualquer serviço para a princesa real — afirmou Giuseppe com firmeza.

— Não — respondeu Hannelore institivamente.

— Minha Senhora...

— Senhor Ziegler, eu tenho comigo vários florins, que a duquesa de Brauner deu-me para alguma necessidade. Faço questão de dá-los todos para os camponeses cumprirem este serviço amanhã, além de doar uma de minhas joias para este convento para fins de caridade a este vilarejo. Entretanto apenas amanha, nenhuma vida deve ser colocada em risco nessa tarde tão perigosa.

Rosa que observava de longe sua filha de criação acabou por sorrir, estava certa. Hannelore seria uma magnifica rainha um dia, apenas ela própria precisava reconhecer isto.


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Notas finais do capítulo

♥ Sim, sou uma girl de 16 anos apaixonada pelas princesas Disney. Problemas? Hahaha, eu adoro mesmo.

♥ Espero que tenham gostado minhas queridas, até a próxima. Lembram do diário mencionado, não esqueçam dele, pois ele virá a ser muito importante futuramente. Beijos.