Abri meus olhos lentamente. Aquela luz me provocou uma dor de cabeça horrível! Quando por fim recuperei uma pouco da minha visão, estava num lugar completamente diferente da floresta. Um grande salão colorido e no centro se encontrava um cristal, melhor dito, uma grande cristal que brilhava uma bela cor azul. Aproximei-me do cristal sentindo um certo calor vindo dele. Estiquei minha mão até o cristal, estava tão perto quando escutei uma voz feminina.

–Mas o que está fazendo?

Olhei para trás assustada. Uma mulher de cabelos pretos, belíssimos olhos azuis e o que realmente me surpreendeu nela foi o fato de ter orelhas de raposa. Ela me olhava furiosa, notei que em sua mão ela trazia uma espécie de cajado com uma jaula.

–Mas quem diabos é você? Você faz parte dos Templários?

Eu estava tão assustada que não conseguia me mexer e muito menos falar. Templários? O que é isso? Ela se aproximou de mim, seus belos olhos azuis brilhavam como fogo e daquela jaula saiu fogo... fogo azul?

–Eu perguntei quem é você? Responda!

– E-eu... uh... –não encontrava uma só palavra. É como se minha voz tivesse me abandonado.

–Quer saber? Jamon, venha aqui! –chamou ela. Uma criatura gigante segurando um machado entrou no grande salão. –Leve esta garota para as celas.

A criatura me pegou pelo braço fortemente. Eu tentava fugir, porém ele era duas vezes mais alto e mais forte. Ele tinha uma cabeça de javali e mais massa muscular que um lutador mexicano. Eu me debatia com todas as minhas forças, mas claramente aquilo era perda de tempo. Passamos por lugares que nem me dei importância de ver, até chegar numa parte mais escura. Uma enorme escadaria que ia para baixo.

–Mas o que? –como aquele lugar era tão profundo?

A criatura foi me empurrando escada abaixo, minhas pernas imploravam para descansar, mas Jamon continuou me empurrando escada abaixo. O lugar não parecia acabar. Quando finalmente chegamos no final nem deu tempo para eu respirar que Jamon me puxou para outra sala. Nesta se encontrava celas penduradas no teto. Ele me colocou numa das celas e trancou a porta.

–Ei! Você não pode me deixar aqui! –disse, mas ele não me ouviu e foi-se embora.

Suspirei e deixei-me cair no chão de ferro da cela. Fechei os olhos e tentei processar tudo que eu consegui até o momento. Briguei com família, corri pra floresta, entrei num circulo de cogumelos, vaga-lumes, um grande cristal, uma garota com orelhas de raposa, uma criatura gigante e esta cela.

Que lugar é este? Onde é que diabos eu fui parar? Como eu vim parar aqui?

NO SALÃO DO CRISTAL

Miiko olhava o grande cristal, buscando saber se aquela garota tivesse roubado um pedaço dele. Ela já estava cheia de problemas com os cristais que desapareceram algum tempo, agora aquela garota que nunca vira na vida aparece? Ela tirou sua atenção do grande cristal quando a criatura parecida com um ogro entrou no salão.

–Por que você a deixou entrar? –perguntou furiosa.

–Jamon não a viu entrando. –defendia-se o ogro.

–Como não a viu?

–Jamon não viu.

Miiko suspirou fundo. Ninguém nunca conseguiu driblar a segurança de Jamon e ele nunca mentira na vida, então ele somente podia estar dizendo a verdade. Mas como aquela garota entrou no salão do cristal?

–Desculpe Jamon! –Miiko voltou a olhar o grande cristal.

“Isso não cheira nada bem” pensou Miiko.

NAS CELAS

Não sabia quanto tempo tinha se passado desde que aquela criatura me colocou aqui. A cada minuto ficava mais preocupada, assustada, nervosa... Fico me perguntando quanto tempo vou ficar aqui trancada, sozinha...?

Escutei passos vindos das escadas, me encolhi num canto. Uma sombra foi se aproximando de mim e foi ai que meu coração parou de bater... Uma mascara estranha, vestimenta preta com certas partes em vermelho... É ele, é o homem dos meus sonhos! Ele esta diante dos meus olhos!

Ele tirou uma chave de um bolso e abriu a cela, deixou a porta da cela aberta enquanto deva as costas e ia sumindo nas sombras. Ele esta me ajudando! Sem hesitar, pulei da cela.Eu estava pronta para agradecer-lo, mas ele tinha desaparecido. e corri para a entrada. Eu tenho que sair desse lugar. Ao sair me encontrei numa espécie de estufa, queria ficar aqui contemplando as flores mas não posso. Fui correndo escadas acima. Até que em fim cheguei no corredor. Havia varias portas e não tenho nenhuma ideia de onde ir. Corri para o lado direito e me esbarrei em alguém.

–Desculpe, você esta bem?

Levantei meu olhar para o ver quem era. Um garoto! Cabelos pretos como as sombras, olhos cinza tempestade, eu poderia ficar ali, apreciando sua beleza se não fosse o fato que ele pertencia a este mundo.

–Nossa, mas você é linda. –disse ele com um sorriso malicioso no rosto.

Não esperei mais um segundo, empurrei-o pro lado e comecei a correr novamente.

Segui meu instinto e entrei no que parecia ser a dispensa. Que ótimo Samantha! Em vez de sair daqui vai pra dispensa. Minha barriga deu uma leve roncada, estou com fome! Eu bem que podia pegar uma fruta escondido, mas não vou fazer isso. Vai saber o que são essas frutas ou o que contem nelas.

Eu ia dar meia volta quando um homem vestido de branco, com cabelos longos e azuis e orelhas... pontudas? Bom, continuando, interrompeu meu caminho.

–Mas o que temos aqui? –disse o homem de cabelos azuis. –Estava pensando em roubar nossa comida?

–Do que você esta falando? Claro que não!

–Ezarel, você... mas o que? –aquela garota raposa entrou na dispensa seguida de três homens e Jamon. O garoto de cabelos pretos, um homem de cabelos platinados e outro com uma espécie de chifre de unicórnio. –O que esta fazendo aqui? Como saiu da cela?

–Espera, o que esta acontecendo, Miiko? –pergunto o garoto unicórnio.

–Essa humana estava na Sala do Cristal e agora esta aqui para roubar nossa comida!

–Ei, eu não roubei nada! –me defendi, mas minhas pernas estavam bambas.

–Ela tem razão. Quando cheguei aqui ela estava indo embora. –disse o azulado.

–Se ela não roubou a comida, na Sala de Alquimia desapareceu a Tulipa da Verdade que Ezarel estava estudando. –o platinado se fez presente.

–Com isso já me basta! Jamon leve ela de volta para as celas e se assegure que ela não fuja dessa vez. –ordenou Miiko.

Jamon foi se aproximando e eu dava passos para trás, mas acabei batendo em uma mesa.

–Não, eu não vou voltar para aquela cela. Eu não roubei nada, nem sei em onde estou! –tentei me defender, mas estava na cara que “Miiko” não ia acreditar.

–Miiko, podemos escutar o que ela tem a dizer pelo menos? Por favor! –pediu o garoto unicórnio colocando a mão no ombro de Miiko. –Talvez ela tenha uma explicação.

–Como você queira! –disse Miiko com desdém.

–Obrigado. Então jovem, pode nos dizer seu nome? –disse o garoto unicórnio. Por alguma razão eu fiquei um pouco aliviada por ter ele por perto.

– E-eu me chamo Samantha. –apresentei-me.

–Então Samantha, como foi que você veio para o nosso mundo?

–Eu não sei explicar...

–Ótimo, é perda de tempo ficar falando com essa... –Miiko foi interrompida pelo garoto unicórnio.

–Miiko, por favor! Bom, pode pelo menos nos dizer o que aconteceu?

–Bem, eu... –eu não sabia se podia contar para eles o que aconteceu, sendo que eu nem sei direito o que aconteceu. –Eu estava na floresta e me encontrei com um Circulo de Cogumelos e depois vaga-lumes começaram a me rodiar e não sai de mais nada, somente acordei naquele Salão.

O homem de cabelos azuis pareceu surpreso com o que eu tinha contado.

–Circulo de Cogumelos?

Eles começaram a discutir sobre esse assunto. Eu não entendia nada. Olhei para a saída da dispensa, tinha esperanças de sair se fininho, mas Jamon ficava de olho em mim. Droga!

–Bom, só tenho uma pergunta agora. –disse Miiko para mim. –Como foi que você saiu da cela?

–Alguém abriu a cela pra mim. –todos começaram a prestar atenção de repente. –Ele era alto e vestia uma roupa preta com certas partes em vermelho e uma mascara estranha. –eles ficaram incrédulos por algum motivo. Será que aquele homem não seguia as ordens de Miiko? Ou algo parecido?

–Estamos perdendo nosso tempo aqui com ela enquanto ele esta passeando por ai. –disse Miiko furiosa. – Jamon leve ela de volta para a cela!

–Que parte que eu não vou voltar para aquela cela não entendeu? –disse.

Todos ficaram calados de repente. Por favor, não me digam que é a primeira vez que alguém bota essa garota no lugar? Miiko rangeu os dentes e saiu da sala e Jamon foi junto dela. Os outros três rapazes saíram da sala também deixando somente o garoto unicórnio e eu sozinhos.

–Bem, acho que eu tenho que levar você para a cela...

–Sério? Quantas vezes eu preciso dizer que Não vou voltar para aquelas celas? –retruquei.

–... –suspirou- Ok, vamos fazer o seguinte: Se você me ajudar a encontrar a comida roubada, talvez Miiko mude de idéia e evite a cela.

–Acha que isso pode funcionar?

–Com certeza! Por certo, desculpe a mal-educação! Meu nome é Keroshane, mas pode me chamar de Kero.

–É um prazer Kero!

Kero e eu saímos da dispensa. Ele aparenta ser confiável, mas é melhor eu não abaixar a guarda.

–Então, Kero, onde estamos?

–Estamos em Eldarya, o Mundo das Fadas. Você certamente já ouviu falar de nós.

Espera... ele acabou de dizer “Mundo das Fadas”?

–Então você é um tipo de Tinkerbell?

–Hahaha, não iguais aos contos do seu mundo.

–Ah sim. E o que tem a mais a dizer para mim?

Kero começou a me falar um pouco mais sobre Eldarya e suas Guardas e seus lideres. Agora, graças a isso, sei o nome daqueles rapazes que estavam conosco algum tempo antes. O azulado se chama Ezarel, o platinado é Valkyon e o garoto bonitinho de cabelos pretos é Nevra... Eu falei bonitinho?

Nós chegamos no que parecia uma vilazinha. Kero me pediu para ajudar-lo a entrar a comida que havia desaparecido. Comecei a buscar por entre as plantas, até que achei um pedaço de pão. Chamei Kero que veio correndo em minha direção.

–Você é boa para encontrar essas coisas! –elogiou ele.

–Que nada. Foi sorte de principiante. –falei.

Voltamos ao QG enquanto ele me explicava o que era aquela vilazinha. O Refugio de Eel. Comecei a sentir que o estava incomodando com minhas perguntas idiotas, mas eu não tenho culpa se sou curiosa... ou tenho? Entramos na Sala do Cristal e Miiko estava lá com Nevra, Ezarel, Valkyon, Jamon e um homem que eu não conhecia. Ele tinha o cabelo loiro e uma franja preta. Alguma coisa em minha consciência dizia que eu conhecia aquele homem, mas da onde?

Foi então que ele olhou para mim e sorriu... esse sorriso... Por que sinto que o já conheço?

Miiko então notou minha presença. Nevra começou a sorrir, Ezarel ficou sério e Valkyin não tinha expressão alguma.

–Eu pensei que tinha mandado você para as celas! –rangeu Miiko.

–Ela me ajudou a encontrar a comida. –disse Kero rapidamente. –Ela é muito simpática e uma mãozinha a mais não faz mal.

–Kero, você acha que todo mundo é confiável? Só porque você passou lindos minutos com ela não quer dizer que ela é de confiança. –Miiko parecia mais furiosa do que antes.

A sala ficou completamente silenciosa. Eu olhava os rostos dos presentes naquele lugar, parece que ninguém esta a vontade de fazer Miiko ficar mais irritada.

–E por que não dar uma segunda chance? –disse o homem louro.

–O que? –gritou Miiko- Você esta ciente que ela é uma humana Leiftan?

–Nunca saberemos até ela fazer uma coisa de ruim. Kero disse que ela ajudou a encontrar a comida e que ela é simpática. Podemos dar uma segunda chance e talvez deixar-la entrar numa das guardas, não acham rapazes? –disse Leiftan.

–Eu concordo plenamente. –disse Nevra com um sorriso maroto.

–Se ela tiver a força necessária... –disse Valkyon.

–Tanto me importa! –disse Ezarel com desdém. Estou começando a me encher com esse azulado.

–Então está feito. –disse Leiftan- Ela ficara conosco e em uma das guardas.

–Como queiram! Mas ela vai responsabilidade de vocês. –Miiko saiu da Sala com Jamon atrás dela.

O que acabou de acontecer aqui?